Nos primórdios deste blog tocamos de leve nesse assunto: agora vamos aprofundar um pouco, mas sempre com simplicidade pois a gente desconfia de tudo o que é complicado, pois além de ser chato de ler, é sempre duvidoso na essência: a Verdade é sempre simples. Vamos então tocar na magia do Invisível, tagarelar, e praticar o nosso esporte favorito: sentar o pau nos cientistas arrogantes, ao mesmo tempo vítimas e réus do pecado capital do orgulho. Aliás, tempo atrás, lemos que o papa Gregório Magno que organizou o elenco dos 7 pecados capitais a partir da experiência prática do monge Evágrio Pôntico no deserto, teria dito que o orgulho era um pecado que valia por dois. Estava certo, um pecado solar vale mais mesmo (rsrs).
Antes de mais nada, porém, vamos falar de o que é transmutação e depois, transmutação biológica. Como dizia aquele mascate falante do passado, promovendo o seu produto na calçada da rua: “transmutação biológica é uma coisa que qualquer criança por mais analfabeta e ignorante, conhece. Veja aqui o cavalheiro... “ (rsrs). Aliás Fulcanelli, que entre outros livros, escreveu "O Mistério das Catedrais", disse, simbolicamente, como outros alquimistas, que "a transmutação é simples como coisa de mulher e brincadeira de criança".
Transmutação: é a transformação de qualquer coisa em outra diferente. O termo é mais aplicado cientificamente para os elementos químicos, como oxigênio, ouro, ferro, chumbo, etc., mas era aplicado também na Alquimia, quando afirma transformar metais comuns em ouro.
Então quando por exemplo o potássio é transformado em sódio, há uma transmutação. George Ohsawa, o fundador da Macrobiótica afirmou, nos anos 40, que isso acontecia dentro do ser humano no processo Yin-Yang, mas como não era um cientista, e não usou um Espectrógrafo de Massa num experimento “científico”, ninguém deu bola para ele. Foi a mesma coisa com Einstein, Louis Kervran e outros. Aliás Ohsawa e Kervran trocaram cartas sobre o tema (na época não havia email)
A transmutação é possível? Sim, é. Se considerarmos que toda a matéria conhecida (menos a anti-matéria que é outra história) é composta de átomos que tem prótons e nêutrons no núcleo e elétrons nas órbitas (como um sistema solar em miniatura), basta mudar o núcleo do átomo e pronto: surge outro elemento. Potássio vira sódio, ferro vira magnésio, chumbo vira ouro. Mas note bem: isso é diferente de combinar um átomo com outros, como por exemplo para formar substâncias como a água, a partir de oxigênio e hidrogênio. Este caso é uma combinação química comum e não transmutação (mas não menos fascinante) . Essa combinação de duas coisas formando uma terceira, ocorre nos átomos que se juntam (ligações atômicas), e não no núcleo de um átomo, entre prótons e nêutrons.
Mas você pergunta: Isso é magia? Sim e não: é aparentemente sim se considerarmos que essa sabichona chamada ciência ocidental não sabe de fato o que é a essência de coisas como por exemplo a luz, eletromagnetismo, gravidade, mas se aproveita e trabalha com seus efeitos conhecidos, sem fazer muita pergunta, porque não adianta fazer mesmo, se se usar o intelecto (e não a Presença integral) como ferramenta de busca da resposta. É a ferramenta que é inadequada, então tudo parece mágico... Por outro lado a resposta é não, se considerarmos que atrás de tudo está o Princípio da Vida que é mesmo um mistério insondável, só passível de ser conhecido pelos escolhidos entre os eleitos, depois de muita aplicação e de um vestibular brabo (rsrs), que dura muitas vidas.
Há duas formas de acontecer a transmutação de um elemento em outro: com muita energia, e com baixa energia. A primeira delas ocorre no núcleo do nosso Sol e estrelas do Universo, onde uma gigantesca pressão da gravidade do astro “esmaga” o núcleo dos átomos e os recombina formando novos elementos mais pesados a partir do hidrogênio, enquanto dure. Chama-se fusão nuclear ou fusão em alta energia e libera uma quantidade de energia emorme, que sustenta a vida como a conhecemos no sistema solar. Deve fazer um barulho dos diabos (rsrs). A segunda (que só agora os chamados cientistas estão começando a aceitar) nem tem nome científico. Frequenta mais os textos alternativos e esotéricos, e entre os cientistas “não convencionais” chama-se Transmutação em Baixa Energia. Ocorre silenciosamente em piloto automático dentro de nós humanos, animais e vegetais. O agente parece ser o mesmo Sol, o fornecedor gratuito da Vida, mas agindo indiretamente, como catalisador do processo.
Em nossa postagem anterior “O Sol, Poder e Quietude” nós dissemos:
“a segunda forma de gerar energia e vida, desta vez é a de baixa energia, que finalmente está sendo aceita pelo stablishment científico mundial. A ciência já constatou que a luz solar magicamente cria nos reino animal, vegetal e humano, sem fusão nuclear, transmutações biológicas insuspeitadas além da fotossíntese, que já é conhecida e aceita, mas que apesar de não ser uma transmutação, não é entendida de fato. É interessante observar que a molécula da clorofila que atua na fotossíntese é igual à da hemoglobina do sangue humano com a única diferença que a primeira tem um átomo de magnésio e a segunda tem um átomo de ferro. A ciência sempre achou que um era “substituído” por outro no metabolismo da digestão dos vegetais. Substituido ou transmutado? . É isso que é a Alquimia: elementos químicos transformando-se em outros elementos diferentes dentro de nós humanos, animais e plantas. Quem estiver interessado, leia o livro Transmutações Biológicas em Baixa Energia de Louis Kervran. Um livro corajoso que quase lhe custou a carreira no século passado, graças ao preconceito poderoso da arrogante comunidade científica da época. Graças a Deus a coisa está melhorando, vemos antropólogos, astrofísicos, cientistas, médicos, terapeutas, cada vez menos arrogantes e mais preocupados em conciliar os conhecimentos entre o Ocidente e Oriente, em entender e acreditar no Invisível.”
Luis Kervran foi considerado até hoje um “enfant terrible” pela chamada Ciência convencional, que não só quase destruiu sua carreira, mas até hoje não explorou esse filão misterioso, rico e generoso da verdadeira Alquimia Humana, animal e vegetal apresentada por ele e outros abnegados como Hipócrates, Hahnemann, Bach, Paracelso, G.W.Carver, e outros.
Mas como Kervran provou que a sua teoria era correta? Como bom cientista testou, no século passado, a teoria dentro dos princípios aceitos pela ciência, ou seja, com um experimento que repete controladamente o fenômeno dentro de parâmetros aceitos oficialmente. Ele usou galinhas, vejam vocês: pegou vários ovos, cuja constituição química é conhecida, e os chocou isolados em ambiente controlado até nascerem os pintinhos (desculpem, pintainhos- rsrs). Alimentou-os só com água e aveia, também de composição conhecida. Então teoricamente sabia o resultado tanto dos diferentes elementos quanto das quantidades que deveriam haver no peso de cada frango. Não havia: sacrificados e icinerados, tanto os elementos quanto as quantidades eram outras.
Não há outra possibilidade: os elementos transmutaram-se em outros, mas de alguma forma inexplicável.
Segundo Salvatore de Salvo, estudioso do assunto, finalmente, em 1977 o Professor Kervran, junto com o Professor Komaki da Universidade de Tóquio, foram propostos para Prêmio Nobel, o que demonstra a importância da descoberta que, hoje, é finalmente ensinada em algumas Universidades com o nome de "Efeito Kervran".
Este texto é para você que é meio fora de esquadro como eu. A idéia de postar foi inspirada pela minha mudança para fora da cidade grande, num lugar de frente para a Mata Atlântica preservada. Como você vai ver, o texto é de uma energia “para cima”, não só uma bússola mágica para nos orientar com simplicidade nas dúvidas ecológicas de “estar no mundo”, como é um antídoto ideal para a amplificação desconfortável desses tempos bicudos que estamos vivendo.
Fala dos Devas, espíritos elementais da natureza, de poderes esquecidos pelo ser humano, fala de amor e ligação com a Natureza, mas sem esse modismo pegajoso da mídia que está ai trombeteando “salvar o planeta” sem saber o verdadeiro caminho e o significado interior profundo disso.
Faz parte de um livro excepcional e esquecido de Peter Tompkins, “A vida secreta das Plantas” (1967) uma pérola do Invisível, nos convidando a uma aventura do espírito.
Após 1962 a experiência amorosa de união com a Natureza em Findhorn, extremo norte da Escócia, teve sucesso, e a coisa evoluiu: A BBC fez um longo documentário de 2,5 horas com o mesmo nome (sobre o assunto, não sobre Findhorn) mostrando a insuperável inteligência das plantas, e o tema inspirou Stevie Wonder a compor o disco “Journey Through the Secret Life of Plants” ("Viagem através da Vida Secreta das Plantas"). Eckhart Tolle fez um vídeo e palestras, e hoje, 50 anos depois, há uma Findhorn Foundation com ecovilas espalhadas pelo mundo ensinando saúde, amor e boa relação com a Natureza. Vamos lá:
“A experiência mais avançada relacionada à comunicação com as plantas foi feita há tempos numa remota região ao norte da Escócia, com resultados mais espetaculares que os já obtidos por quaisquer outros meios. Numa nesga de areia varrida pelo vento, onde cresce o espinhoso tojo e que domina, erma, o esteiro de Moray, deitou raiz uma comunidade agrícola que talvez floresça numa das maravilhas da Era de Aquário.
A uns 4 quilômetros do castelo de Duncan, em Forres, em cujas ameias grasna o corvo, e bem ao sul da charneca onde as três feiticeiras predisseram a Macbeth que ele seria senhor de Glamis e Cawder, um ex-piloto da RAF convertido em hoteleiro decidiu fixar residência, com mulher e três filhos, num canto abandonado de uma área de camping, na baía de Findhorn — um montão de latas velhas, cacos de garrafas, espinhos e moitas de tojo.
Grandalhão mas delicado, polido como um diretor de escola inglês e vestido como um homem do campo, Peter Caddy, que uma vez já andou mais de 300 quilômetros pelo Himalaia, cruzando a Caxemira e penetrando no Tibete, se inclui desde a juventude entre os adeptos de uma filosofia cujo alvo é devolver ao planeta a beleza e a capacidade de se maravilhar com as coisas. Iluminado pelos ditames de sua consciência — ou, como prefere dizer, pela força de uma vontade criadora que lhe foi revelada por sua clarividente mulher Eileen, Caddy cortou todas as amarras e se mudou para Findhorn num dia nevoento de novembro de 1962. Em companhia do casal ia outra sensitiva, Dorothy Maclean, que abandonara a diplomacia canadense para estudar o sufismo.
Por algum tempo eles se dedicaram a mudar radicalmente de vida, desviando-se das preocupações mundanas e materialistas para entrarem no que Caddy chama de "um longo período de preparo". Durante esse período, planejavam abrir mão de tudo, inclusive de toda vontade pessoal, confiando-se a uma entidade que chamam de Força e Amor Ilimitados, cujos desígnios lhes são manifestos através de um mestre rosa-cruz falecido que reconhecem em carne e osso como o Dr. G. A. Sullivan e em espírito como Aureolus, ou Saint Germain, ou o Mestre do Sétimo Raio.
Na verdade, a área de camping de Findhorn, inóspita e sempre superlotada, era o último lugar do mundo em que o grupo pensaria se fixar. Durante alguns anos tinham passado por ali, sempre às carreiras, indo ou voltando para Forres. Mas uma força misteriosa, de repente, pareceu sobrepujar a sua aversão. Como que guiados por essa força, estacionaram seu velho trailer no local de sua nova residência — menos de 0,5 acre numa parte mais baixa do terreno, não muito longe do ponto onde se aglomeravam os trailers dos excursionistas de passagem. O canto escolhido por eles era constituído principalmente de areia, marcado por uma vegetação rasteira e escassa, exposto incessantemente ao vento e só sombreado por um cinturão de abetos.
Com a aproximação do inverno, a perspectiva era negra. Mas, mirando-se no exemplo dos monges, que costumavam construir eles mesmos seus mosteiros, pondo luz e amor em cada pedra assentada, o grupo de Caddy fez uma faxina em regra no velho e desengonçado trailer, varrendo, raspando, pintando tudo de novo, enchendo-o de vibrações de amor para anular as vibrações negativas que, a seu ver, eram inevitáveis em estruturas construídas por pessoas exclusivamente interessadas em dinheiro. Esse foi o primeiro passo para a criação de seu próprio centro de luz.
Como nenhum dos pioneiros de Findhorn tinha emprego, e o pouco dinheiro de que dispunham só daria para passar o sombrio e ingrato inverno escocês, eles sonhavam com a primavera, pensando em plantar então uma horta, tanto para terem uma fonte de alimentação saudável quanto para aumentarem à sua volta a camada protetora de luz.
Caddy se debruçou dias e noites sobre livros de horticultura, mas todos lhe pareceram contraditórios em suas recomendações. Escritos principalmente por especialistas radicados na costa sul da Inglaterra, onde o clima é mais ameno, eles nunca se aplicavam a seu caso. Quando a Páscoa se fez próxima, anunciando um renascimento da terra, o solo árido c quase sem vida que os rodeava nenhuma indicação deu de que era bom para uma horta. Caddy, que nunca tivera plantado nada na vida, sentiu-se como Noé, cuja missão fora fazer uma arca antes de chegar a água. Só havia então um jeito: ou eles se entregavam de vez a seu guia ou voltavam, frustrados, para o mundo dos negócios. Uma regra básica de vida lhes fora ensinada pelos mestres rosa-cruzes: "Amar o onde estou, amar quem comigo está, amar o que estou fazendo".
Para ouvir o arcanjo que ensinava tudo a eles, Eileen se levantava à meia-noite e meditava regularmente por várias horas, embrulhada num capotão contra o rigoroso frio escocês e se refugiando no único lugar que lhe garantia uma tranqüilidade absoluta — o banheirinho gélido do trailer. Uma vez ela leu num livro que a gente recebe seu nome espiritual num momento da vida e só então pode começar um trabalho espiritual sério. Em 1953 sentiu uma coisa incrível: a palavra "elixir" pareceu agarrar de repente na testa dela. Eileen adotou esse nome e desde então nunca o guia a deixa desprotegida.
No seu ataque de clarividência, Elixir viu sete bangalôs de cedro amontoados no meio de um jardim maravilhoso, bem tratado que era uma beleza. Como a visão foi se materializar naquele lugar horroroso que era o parque de campina, ninguém sabe. No entanto todos punham fé na clarividência da mulher.
Fazer uma horta parecia impossível, além da força deles. A terra era pura areia, não prestava para nada, só dava uma grama que espetava. O guia espiritual tinha dito a Elixir que quando a gente enfia uma pá no chão passa as vibrações da gente para ele. Foi aí que Peter Caddy saiu explorando o local, achou turfa, cavou, fez um montão. Do lado fez outro monte, pura areia e cascalho. Com a pá, virou e revirou o monte de turfa: era preciso que ela ficasse bem impregnado mesmo, para agir como nutriente. Depois misturou a turfa e a areia, e fez os canteiros.
Obteve uma horta de 3 por 4 metros. O problema agora era arranjar um meio de regá-la, porque o solo arenoso retinha a água. Mas eles deram um jeito, usando um vaporizador muito fino e regando seguidamente por um longo tempo, com uma paciência enorme, para que a umidade não se fosse. Depois de muito trabalho os canteiros ficaram prontos para semear. Segundo os entendidos do local e os livros disponíveis, na terra de Findhorn não crescia nada, senão talvez rabanete e alface. Isso era uma perspectiva meio sem graça para uma família que antes passava bem, quando eles tinham o hotel, comendo carne ou pato com vinho tinto do bom.
Felizmente Elixir fora avisada pelo guia de que o homem estava comendo a comida errada, bebendo a água errada, pensando errado, engordando seu corpo físico e se esquecendo do de luz. Eles tinham de passar a comer coisas saudáveis, tinham de se concentrar na horta: as verduras e frutas, com o mel e o germe de trigo, seriam a base da alimentação de uma nova era de corpos refinados.
Usando dessa vez o cabo da pá, Caddy fez as covinhas para suas sementes de alface, plantando-as a uns 30 centímetros uma da outra. Para se sentarem ao solo e apreciarem a horta crescendo, os findhornianos precisavam de uma cerca, que os protegesse do vento que não parava de soprar do esteiro, e de um patiozinho acimentado. Areia eles tinham à vontade. Só faltava o cimento — e o dinheiro.
A madeira para a cerca improvisada apareceu por milagre: foi dada por um morador das vizinhanças que estava reformando a garagem. Mal a cerca ficou pronta, apareceu outro vizinho e disse que uns sacos de cimento tinham caído de um caminhão na estrada. Em pouco tempo tiveram um pátio cercado de onde olhar — não mudas de alface crescendo, mas sim uma montoeira de pragas se fartando.
Que fazer? O guia de Elixir era contra os inseticidas químicos. Mas um vizinho passou por acaso e deu a Caddy uma informação preciosa: ali perto havia um monte de cinza e cinza era ótimo para espantar insetos.
Caddy espalhou-a com cuidado no chão e nem se lembrou do vento, que de noite distribuiu cinza para todos os lados — inclusive dentro do trailer: ficaram sujos os cabelos, os livros e a roupa. Felizmente choveu e a água acamou a cinza. No fim de maio eles já estavam comendo rabanetes e alfaces deliciosos.
Como o guia de Elixir também avisara que os fertilizantes químicos são tóxicos, a solução era obter um composto orgânico, se quisessem variar mais a horta. Não foi difícil. Um vizinho doou palha podre, outro doou esterco. Um amigo que tinha cavalos até permitiu que eles fossem andando atrás dos animais, de balde e pá na mão. Alga era o que não faltava: o mar estava cheio. Como que caído do céu, um fardo de um caminhão de feno, tombando quase na entrada do parque, serviu para cobrir o composto.
Estimulados por essa "assistência supramundana", os findhornianos se encheram de gratidão. Um deles escreveu: "Podíamos ter sido negativistas e dizer que a terra não prestava, como era o caso. Em vez disso, pegamos no pesado e concentramos o pensamento no trabalho". Caddy trabalhava o dia todo, botando suor e radiações na terra, disposto a obter verduras que garantissem boa parte da alimentação do grupo nos próximos meses. Isso, junto com o ar puro, sol e banhos de mar, o clima saudável e a água pura, permitiria que eles purificassem o corpo e o enchessem de energia, tornando-se mais capazes de absorver energias cósmicas.
Os findhornianos plantaram tomate, pepino, espinafre, salsa, aspargo, abóbora e mostarda. Como defesa contra um dálmata que costumava incomodá-los, ergueram uma muralha viva com várias espécies de amora cercando a horta. As plantas cresceram depressa e a horta, ultrapassando a área perto do trailer, acabou cobrindo 2 acres. Cada pedaço de terra recebeu sua parte de turfa e composto; cada pedacinho foi revolvido com pá várias vezes.
Os resultados, já tão surpreendentes no segundo mês, espantaram os vizinhos. Não sabendo do espírito que animava os Caddy, não podiam entender o que se passava, sobretudo quando seu repolho e sua couve-de-bruxelas foram os únicos a resistir na região a uma onda de praga que infestou as raízes das plantas. Também em termos de quantidade, sua plantação, comparada à média da região, deu um rendimento notável.
Os findhornianos já podiam se dar ao luxo de comer mais de vinte espécies vegetais numa salada; o que produziam dava para presentear os vizinhos com salsa, espinafre, alface, rabanete. No jantar, costumavam comer dois ou três legumes colhidos na hora, na sua horta sem fertilizantes, e preparados logo em seguida. Faziam cozidos deliciosos com cenoura, cebola, alho, alcachofra, abóbora, batata, alho-porro, pastinaga, couve-nabo, couve, rábano, aipo, temperados com uma enorme variedade de ervas.
Elixir foi alertada para concentrar a mente em cada ingrediente, quando fazia uma salada ou uma ratatouille, pois seus pensamentos e sentimentos eram importantes para a continuação do ciclo da vida. Ela tinha de gostar de tudo o que fazia, fosse descascar uma cenoura ou limpar ervilha, e considerar como uma coisa viva cada vegetal em sua mão. Nada se perdia na cozinha. As cascas e o lixo iam parar no composto e no solo, aumentando assim as vibrações da vida. O maior problema do grupo era, em suas idas eventuais à cidade, ter de comer a comida normal. Elixir se tornou tão sensitiva que o contato com as vibrações danosas da chamada civilização lhe era insuportável.
Em pleno verão, desde que passaram a colher framboesa, amora e morango, podiam fazer geleia e guardar sempre uma boa quantidade. Também faziam picles em casa, com repolho-roxo e pepino. Numa garagem recém-construída, armazenaram batatas, cenouras, beterrabas, chalotinhas, alho e cebolas. Durante o inverno, preparavam a terra para a estação seguinte e plantavam mais frutas; chegaram a ter ao todo mais de vinte espécies, inclusive maçã, pera, ameixa, cereja, abricó, framboesa, amora. Em maio de 1964, já floriam as primeiras fruteiras.
Caddy calculou que oito repolhos-roxos, com um peso médio de 1,50 a 2 quilos, dariam para as necessidades do grupo na estação seguinte. Mas, para surpresa de todos, um só repolho veio a pesar 18 quilos, enquanto outro chegou aos 22. Um pé de brócolos, plantado por engano como couve-flor, atingiu uma altura tão incrível que continuou a dar por se-manas; e era tão pesado que não foi fácil segurá-lo, quando finalmente foi arrancado.
Fortaleceu-se pouco a pouco em Caddy a crença de que, por trás do que acontecia em Findhorn, devia existir algum objetivo superior; de que talvez eles estivessem envolvidos numa misteriosa aventura pioneira, uma experiência mais ampla de vida em comunidade; de que a horta talvez fosse o núcleo para a realização de um modo novo de ser na Nova Era, uma espécie de curso preparatório para a compreensão de que a vida é um Todo.
Em junho de 1964, quando o consultor agrícola do condado apareceu para pegar umas amostras do solo para análise, seu primeiro comentário, logo que deu uma olhada na terra, foi de que ela precisaria de pelo menos 60 gramas de sulfato de potássio por metro quadrado. Caddy disse que não acreditava em fertilizantes artificiais, que estava feliz usando composto e cinza. O consultor não se deixou convencer.
Seis semanas depois, quando ele voltou com os resultados da análise feita em Aberdeen, confessou, não sem espanto, que a análise não demonstrara deficiências na amostra. Todos os elementos necessários, inclusive alguns elementos vestigiais, estavam presentes. O espanto do consultor foi tal que pediu a Caddy para tomar parte num programa de rádio sobre a horta; um agricultor experiente, mas que usasse apenas o sistema convencional dos fertilizantes químicos, debateria com Caddy, enquanto o próprio consultor atuaria como mediador. Mas Caddy diz que, na época, lhe parecia ainda prematuro expor publicamente o assunto, do ponto de vista espiritual, e de novo atribuiu o sucesso ao estéreo e ao composto orgânico.
Nessa época eles já cultivavam 65 espécies de verduras e legumes, 21 de frutas e mais de quarenta ervas, quer culinárias, quer medicinais. Dorothy Maclean, após um período em que também recebera orientação espiritual extraordinária, tinha adotado o nome de Divina. Veio a saber que as ervas aromáticas, por seus comprimentos de onda únicos, podiam ser de grande valia para o homem, afetando nossas funções em diferentes partes da anatomia e da psique; umas eram boas para feridas, outras para a vista, outras ainda para as emoções. Dorothy compreendeu que, elevando a qualidade de suas próprias vibrações, poderia eventualmente abrir as portas para um novo reino do espírito na vida vegetal. Tornou-se claro para ela que o pensamento, a paixão, a cólera humana, como a afeição e a doçura, tinham efeitos de longo alcance sobre as plantas; que estas, de fato, eram supersensíveis à massa do que nos passa pela mente e afeta sua própria energia. Os estados de espírito negativos e venenosos têm um efeito depressor sobre as plantas, tal como as freqüencias felizes e transmissoras de ânimo têm um efeito benéfico. Ocorreu-lhe ainda que os efeitos negativos podiam regressar às pessoas através do que comiam, por elas mesmas infestado de vibrações más. Assim, o ciclo se perpetuava, ora em declínio vicioso, levando a mais miséria, mais doença e dor, ora numa ascensão que era toda esperança, levando a mais luz e alegria.
Divina diz ter entendido que a contribuição mais importante dada por um homem a uma horta — mais importante mesmo que o composto e a água — é a radiação que põe no solo enquanto o cultiva e se mostra, por exemplo, em forma de amor; e que cada membro de um grupo tem algo a dar em termos de radiação, seja alegria, seja força. Tudo o que ocorre a um ser humano através dessa ou daquela inspiração de novo sai modificado em comprimento de onda, em matiz ou timbre, pela vontade da pessoa envolvida; qualquer um pode aperfeiçoar a qualidade do que emite e aumentar a radiância de seu comprimento de onda.
Ao mesmo tempo, Divina compreendeu que o solo e as plantas são constantemente afetados por radiações vindas da própria terra e do cosmo, cada qual contribuindo para sua fertilidade e sem cuja intervenção tudo seria estéril; tais radiações eram mais importantes que os elementos químicos ou os organismos microbióticos, sujeitando-se fundamentalmente à mente humana. O papel do homem parecia ser o de um semideus: cooperando com a natureza, seu poder de realizações no planeta tinha tudo para vir a ser ilimitado.
Na primavera de 1967, Elixir — que ainda recebia a orientação geral para a aventura — foi advertida de que a horta tinha de ser ampliada ainda mais e, pelo plantio das flores mais variadas, transformada num lugar de beleza. O centro devia aumentar com a construção de novos bangalôs. A visão que tinha tido logo na chegada a Findhorn já começava a materializar-se. Como que por milagre, o dinheiro necessário surgiu e com ele os bangalôs de cedro, em madeira bruta, logo cercados por impecáveis jardins.
Em 1968, quando Findhorn recebeu a visita de um grupo de especialistas em jardinagem e agricultura, todos se surpreenderam, observando que nunca tinham visto uma horta tão uniforme no rendimento por setor. Nas novas bordaduras de plantas anuais, a cor e o tamanho das flores foram um enigma para os visitantes, considerando-se a pobreza do solo e o rigor do clima nórdico. Numa visita efetuada na Páscoa, Sir George Trevelyan, que durante 24 anos dirigiu a famosa Fundação de Educação de Adultos, em Attingham, pôde admirar a qualidade dos narcisos e jacintos, plantados em canteiros revestidos por flores de porte menor, mas grandes e belas como nunca vira. Achou que as raízes comestíveis eram melhores que quaisquer outras que já comera. Espantou-se também vendo as mais variadas fruteiras em flor, bem como um castanheiro novo já com mais de 2 metros e folhas graúdas e cheias de viço. Aqui e ali espaçavam-se arbustos, vegetando entre as dunas varridas pelo vento.
Na qualidade de membro da Associação do Solo, Sir George já entendia bastante dos métodos orgânicos para saber que aquilo tudo não podia ser atribuído só ao revigoramento de um solo pobre pelo composto. Havia uma incógnita, pensou ele, e se Findhorn mudara tanto, em tão pouco tempo, até o Saara poderia virar um jardim.
Em junho de 1968, Armine Woodehouse, da Associação Radiônica, que fora dona de um caminhão de vender verduras, por vinte anos, no País de Gales, visitou Findhorn e ficou encantada com o que viu, sobretudo ao notar a areia cuidadosamente forrada pelo composto e o vento que não parava de fustigar a horta. Os morangos, a seu ver, fariam inveja a qualquer plantador profissional. Uma coisa a intrigou em especial: o áster e a prímula, que gostam de umidade, se dando tão bem em solo seco.
A visita de Elizabeth Murray, uma jardineira orgânica e também membro da Associação do Solo, deu-se em julho de 1968. A radiância das árvores, das flores, das frutas, dos legumes e verduras, tudo lhe pareceu extraordinário. A seu ver, o composto perdia muito de seu valor misturado à areia, e não era possível que só isso explicasse o rendimento tão notável, superior a tudo o que conhecia em termos de tamanho, gosto e qualidade. Ela também não se convencia de que só o composto e o carinho tivessem feito o milagre.
A irmã de Lady Eve, Lady Mary Balfour, que se descreve como "uma modesta jardineira da escola orgânica", passou um dia em Findhorn, em setembro de 1968, e escreveu: "O tempo estava sempre cinza e úmido, mas a impressão que me ficou é que o lugar era banhado de luz, o que talvez se deva ao brilho extraordinário das flores que eu vi, massas compactas de cor nos canteiros".
Lady Cynthia Chance, seguidora da escola biodinâmíca, estranhou quando Peter Caddy lhe disse que não precisava recorrer aos métodos de Rudolf Steiner, pois tinha um modo espiritual mais direto de obter os mesmos resultados. Um especialista agrícola das Nações Unidas e professor de várias universidades, R. Lindsay Robb, ao visitar Findhorn pouco antes do Natal, declarou que "o vigor, a saúde e a floração, em pleno inverno, num lugar tão árido, não podem ser explicados apenas pelo uso correto do composto, nem mesmo pela aplicação dos métodos mais aperfeiçoados de cultivo; deve haver outros fatores, de natureza mais vital".
A essa altura Peter Caddy ergueu uma ponta do véu e revelou a Sir George Trevelyan o segredo de seu sucesso em Findhorn.
Disse que Dorothy Maclean, ou Divina, tinha entrado em contato direto com os Devas ou criaturas angelicais que controlam os espíritos da natureza, vistos pelos videntes em seu contínuo trabalho de nutrir as plantas. Sir George, um iniciado no estudo da astrologia, do ocultismo e das ciências herméticas, respondeu já saber que um grupo de sensitivos se encontrava em ligação com o mundo dos devas e que Rudolf Steiner, na verdade, tinha baseado nisso a descoberta de seus métodos biodínâmicos. Longe de zombar da explicação de Caddy, dispôs-se a ser uma testemunha e afirmou que a investigação consciente de tais mundos é da maior importância para nossa compreensão da vida, sobretudo no que tange às plantas.
Sem perda de tempo, Peter Caddy enfeixou numa série de folhetos a verdadeira origem da experiência de Findhorn. Divina deu descrições detalhadas das mensagens por ela recebidas diretamente dos devas, que esquematizou em sua hierarquia, onde cada qual corresponde a uma fruta ou verdura, a uma flor ou uma erva silvestre. Aqui estava uma caixa de Pandora mais fenomenal que a aberta em Nova York por Backster.
Findhorn logo se desenvolveu numa comunidade com mais de cem adeptos. Jovens líderes espirituais dedicaram-se a pregar o evangelho de uma Nova Era, cujos princípios passaram a ser ensinados numa escola fundada na comunidade. O que tinha começado como uma hortinha milagrosa transforma-se agora num centro de luz para a Era de Aquário, visitado anualmente por pessoas de todos os continentes.
Penetrar em outros mundos e outras vibrações além do espectro eletromagnético pode ser um longo passo à frente para explicar os mistérios incompreensíveis aos físicos, que se limitam ao estudo do que vêem com os olhos físicos e seus instrumentos. No mundo etéreo do vidente, que pretende ter dominado a arte da visão astral, abrem-se novas perspectivas quanto às plantas e seu relacionamento com o homem, a Terra, o cosmo. O crescimento vegetal, como já o asseverara Paracelso, pode de fato ser afetado fortemente pela posição da Lua e dos planetas, pela relação desses com o Sol e outras estrelas do firmamento.
Tornam-se menos estranhos conceitos como "a planta-protótipo de Goethe" ou a visão animista de Fechner, que a cada vegetal concedeu uma alma. A convicção de Burbank de que. o homem, com a ajuda da natureza, consegue tudo o que quer, ou a de Carver, para quem os espíritos naturais enchem as matas e participam de seu crescimento, talvez tenham de ser revistas à luz das descobertas dos teosofistas e de videntes tão extraordinários como Geoffrey Hodson. A sabedoria tradicional, tal como pormenorizada por videntes como Helena P. Blavatsky e Alice A. Bailey, lança uma luz nova sobre a energia dos corpos, humanos ou vegetais, bem como sobre a relação das células individuais com todo o cosmo.
O segredo por trás do composto biodinâmico de Pfeiffer, cuja eficácia foi cientificamente comprovada, revela-se uma maravilha homeopática baseada na criação fantástica das misturas orgânicas de Rudolf Steiner, feitas em chifres que ele enterrava cheios de excremento de boi e bexigas de veado contendo folhas de urtiga e camomila. A abordagem da vida vegetal feita pela antroposofia, ou ciência espiritual, de Steiner é de deixar perplexos os cientistas.
Esteticamente, o mundo dos devas e dos espíritos naturais é ainda mais cheio de sons, cor e perfume do que as criações de Scriabin e Wagner; seus gnomos, ninfas e ondinas, seus espíritos do fogo, da terra, da água e do ar são mais reais que o Santo Graal e a busca eterna que engendrou. O Dr. Âubrey Westlake, autor de "Padrão de Saúde," ao considerar nosso estado, descreve-nos presos num "vale de conceitos materialistas, recusando-nos a acreditar que haja algo mais além do mundo físico que nossos sentidos apreendem. Pois, como habitantes de uma terra de cegos, rejeitamos os que viram, com sua visão espiritual, o mundo supra-sensível no qual estamos mergulhados, desmentindo tais fatos como fantasias e sempre propondo explicações científicas mais sérias".
A atração do mundo supra-sensível do vidente, ou dos mundos que esse mundo encerra, é grande demais para passar em branco, além de ter implicações profundas para a sobrevivência do planeta. Enquanto o cientista moderno tropeça no segredo das plantas, o vidente vai longe e propõe soluções incríveis, mas que fazem mais sentido que o palavreado empoeirado dos acadêmicos. Mais que isso, ele dá um sentido filosófico à totalidade da vida. O mundo supra-sensível dos homens e das plantas, de que este livro só deu uma ideia, será explorado em outro, A vida cósmica das plantas.”
"Como um grande número de pessoas no Ocidente não conhece a tradição Bön, vou contar um pouco da sua história:
Como acontece com a história de qualquer tradição, povo ou país, existem muitas versões do passado. A tradição oral afirma que a religião Bön teve início há mais de dezessete mil anos, mas os estudiosos modernos acreditam que ela começou muito depois. Em ambos os casos, a tradição Bön é reconhecida como a tradição nativa do Tibete e a origem de muitas tradições espirituais.
O Yungdrung Bön (Bön Eterno) foi o primeiro caminho completo de libertação espiritual no Tibete. Começou com o Buda Tonpa Shenrab, nascido na família Mushen a noroeste do Tibete. Outros afirmam que era na terra mítica de Shambhala,
A tradição afirma que Bön tinha três "portas" ou origens¨:
- A primeira era em Tazig Olmo Lung Ring.
- A segunda ficava na Ásia Central, possivelmente concentrada na região onde estava situada a antiga Pérsia. Os historiadores acreditam que a religião Bön estava espalhada pela Ásia Central antes de o Islã chegar e dominar as culturas locais, e que muitas antigüidades encontradas na Ásia Central, consideradas budistas, são na verdade Bön.
- A terceira era o reino de Zhang Zhung, que englobava uma grande parte do que é hoje o Tibete ocidental.
Os ensinamentos começaram na primeira porta, espalharam-se através da segunda e finalmente foram ensinados em Zhang Zhung e no Tibete.
Conta a lenda que Tonpa Shenrab chegou à terra que é hoje o Tibete meridional em busca de cavalos roubados por um demônio. Ele visitou a montanha sagrada Kong-po, que os peregrinos ainda circundam no sentido anti-horário, à maneira Bön. Quando Tonpa Shenrab chegou, encontrou um povo primitivo cuja prática espiritual se baseava no apaziguamento de espíritos por meio do sacrifício de animais. Ele pôs um fim ao sacrifício, ensinando o uso de formas animais feitas com farinha de cevada nas oferendas, prática até hoje comum entre os tibetanos de todas as tradições.
Como no caso de todos os budas, Tonpa Shenrab ensinava de acordo com a capacidade dos alunos. Ao perceber que o povo de Zhang Zhung não estava preparado para os ensinamentos superiores da libertação, ele só ensinou os veículos inferiores, xamanistas, e rezou para que, por meio da perseverança, da devoção e da aplicação, eles se preparassem para os veículos superiores do Sutra, do Tantra e do Dzogchen. E com o tempo, todos os ensinamentos de Tonpa Shenrab chegaram a Zhang Zhung.
Séculos mais tarde, durante o período do segundo rei tibetano, Mu Khri Tsenpo, muitos ciclos de ensinamentos Bön, tântricos e Dzogchen, foram traduzidos do Zhang Zhung para o tibetano. Embora os ensinamentos já existissem no Tibete há séculos, por transmissão oral, esta era a primeira vez que eram registrados na linguagem escrita tibetana. Durante muito tempo, Zhang Zhung e a linguagem Zhang Zhung foram considerados apenas míticos pelos estudiosos ocidentais, mas essa visão está sendo reavaliada à medida que mais fragmentos da linguagem Zhang Zhung são descobertos.
Segundo a tradição, os sete primeiros reis tibetanos teriam morrido sem deixar um corpo físico, o que é um sinal de grande realização espiritual. Alguns estudiosos acreditam que eles alcançaram o "corpo de luz", um sinal de iluminação específico do Dzogchen, o que sugere que os ensinamentos Dzogchen já existiam no Tibete naquela época. Os eruditos budistas acreditam que a tradição Dzogchen veio da Índia, e o Bön de fato reconhece que uma das tradições Dzogchen chegou ao Tibete através desse país, embora os principais ciclos de ensinamento Dzogchen tenham se originado em Zhang Zhung.
Os principais ensinamentos Bön estão incluídos em Os Nove Caminhos, ou os Nove Veículos. Trata-se de nove categorias de ensinamentos, cada uma com uma visão característica, bem como práticas e resultados próprios. Por exemplo, os veículos inferiores estão relacionados à medicina, à astrologia, à adivinhação e assim por diante. Acima deles estão os ensinamentos do Sutra e do Tantra. Finalmente, o veículo superior é o ensinamento Dzogchen, a Grande Perfeição. Existem tradicionalmente três versões dos Nove Caminhos, conhecidas como Tesouros do Sul, do Centro e do Norte. Neste livro, as informações sobre xamanismo derivam fundamentalmente do Tesouro do Sul. O Tesouro do Centro é muito próximo dos ensinamentos do Budismo Nyingma. O Tesouro do Norte foi perdido. Cada Tesouro abrange alguns aspectos dos ensinamentos do sutra, do tantra e do Dzogchen. Além disso, há quinze volumes que contêm as principais biografias do Buda Tonpa Shenrab.
Segundo estatísticas chinesas, Bön é o segundo grupo mais populoso do Tibete e os Bön-po são encontrados em todas as regiões do país. Os antigos ensinamentos ainda são seguidos por praticantes de yoga monásticos e leigos e, já no século XX, houve mestres Bön que alcançaram o "corpo de arco-íris". Este é o sinal supremo da completa realização na tradição Dzogchen: na hora da morte, o praticante de grande aperfeiçoamento liberta os cinco elementos que constituem o corpo. Ele os dissolve na sua essência, que é a pura luz elementar. Durante o processo, a substancialidade do corpo se dissipa numa exibição de luzes multicores, o que explica o nome de corpo de arco-íris. Às vezes o cadáver desaparece, ficando apenas o cabelo e as unhas. Seja como for, a aparição do corpo de arco-íris é o sinal de que o praticante alcançou o mais elevado nível de realização e não está mais limitado pelos dualismos matéria e mente ou vida e morte.
Depois que os chineses dominaram o Tibete, um rigoroso programa de treinamento para monges Bön teve início no mosteiro Menri, em Dolanji, H. P., na Índia, e no mosteiro Tristsen Norbutse, em Kathmandu, no Nepal. Esse treinamento foi realizado graças ao árduo trabalho de S. S. Lungtok Tenpa’i Nyima Rinpoche, Lopon Tenzin Namdak Rinpoche e dos monges mais antigos. O programa educacional conduz ao grau Geshe. A primeira turma formada fora do Tibete (Nota:da qual fez parte Tenzin Wangyal Rinpoche, autor deste texto), graduou-se em 1986.
Muitas das tradições Bön, ao lado de várias tradições budistas tibetanas, foram perdidas durante a dominação chinesa. Muitas outras tradições estão ameaçadas. No entanto, a religião Bön e o Budismo do Tibete estão lançando raízes no Nepal e começando a se espalhar pelo mundo.
Como alguns leitores talvez saibam, há muitas interpretações incorretas da religião Bön, mesmo entre budistas tibetanos. O Bön teve o destino de muitas religiões nativas, destino esse semelhante ao das religiões da Europa e das Américas quando o Cristianismo foi introduzido. Uma nova religião que se espalha numa cultura, muitas vezes garante seu crescimento referindo-se à religião nativa em termos negativos, como algo a ser superado e rejeitado.
Notei que muitos tibetanos, até mesmo altos lamas que não estão familiarizados com a tradição ou a literatura Bön, costumam passar adiante opiniões negativas mal informadas sobre essa tradição. Eu não entendo essa atitude. É claro que esse preconceito não é dirigido apenas à tradição Bön o preconceito existe entre as escolas do Budismo Tibetano também. Acrescento essa observação para todos os alunos de Bön, para que saibam desse triste preconceito antes de depararem com ele. Agora que as formas de espiritualidade tibetanas estão saindo do Tibete para o resto do mundo, espero que a tacanhice do preconceito seja deixada para trás.
Por sorte, há muitos budistas tibetanos, leigos e monges, chefes de família comuns e altos lamas, que são herdeiros do movimento não-sectário que floresceu no Tibete no século XIX. A mais eminente voz tibetana que defende hoje em dia a tolerância e a compreensão é a de Sua Santidade, o Décimo Quarto Dalai Lama, que reconheceu formalmente a tradição Bön como uma das cinco principais tradições do Tibete. Em várias ocasiões, ele ofereceu apoio a S. S. Lungtok Tenpa'i Nyima Rinpoche e a Lopon Tenzin Namdak Rinpoche, pedindo que trabalhem para preservar a antiga herança Bön como um tesouro para todos os tibetanos.
No Ocidente, as pessoas adotam uma atitude mais aberta diante da tradição Bön na medida em que aprendem mais a seu respeito. Em seus textos e tradições elas encontram um equilíbrio entre estudo e prática, entre fé e questionamento crítico. Elas também descobrem que a tradição Bön, enraizada em tempos anteriores à história registrada, desenvolveu tradições de xamanismo, filosofia e debate, monasticismo, transmissões tântricas e yogas, bem como os mais elevados ensinamentos da Grande Perfeição. Embora este livro ( A Cura Através da Forma da Energia e da Luz) seja basicamente para praticantes, espero que os estudiosos tenham uma idéia da profundidade e da variedade das tradições espirituais Bön.
As práticas do caminho espiritual, quando feitas com o entendimento e a aplicação corretas, trazem resultados. Os resultados desenvolvem a fé. Quando é forte e baseada na certeza, a fé favorece a prática. A fé e a prática juntas conduzem à sabedoria e à felicidade. É meu sincero desejo que este livro contribua para o bem estar e o progresso espiritual de todos os que o lerem."
• Este texto é do grande e jovem mestre vivo da tradição xamânica Bön-Budista, Tenzin Wangyal Rinpoche, incansável viajante, que veio duas vezes ao Brazil e fundou o Instituto Ligmincha, já presente em todo o mundo, incluindo São Paulo. O livro, uma pérola do Ensinamento, chama-se "A Cura através da Forma, da Energia, e da Luz". Imperdível.
Temos o prazer e a dor de viver num mundo dual que é esse nível de evolução onde estamos: bom e mau, mocinho e bandido, homem e mulher, dia e noite, capitalismo e comunismo, ditadura e democracia, e por aí afora. A lição de casa é harmonizar os opostos para passar para o segundo ano, coisa que deve levar no mínimo algumas vidas (rsrs).
Na busca interior também é assim. Temos duas formas de estar no mundo: agindo e contemplando. É claro que isso é uma forma didática de apresentar a coisa. A rigor temos que conciliar as duas no Agora. A nossa tarefa é estar presente e contemplar na ação, ao mesmo tempo em que ela ocorre. Temos que “agitemplar”, ou contemplagir” (rsrs), Coisa de gente “louquinha”
Sempre se falando didaticamente, contemplar na ação já é um segundo estágio, pois o primeiro é só “contemplar na calma”, ou seja o que vulgarmente chamamos de meditar, seja na posição que for. Qualquer pessoa que já tentou meditar conhece a dificuldade de centrar a atenção no seu interior mesmo que seja por alguns segundos, pois a “tarefa” é sabotada pelo diálogo interno e pelos apelos e acenos de uma mente ocidental que nunca aprendeu nada sobre o vazio. Contemplar na ação é a segunda fase de dificuldade mas pode perfeitamente ser o ponto de partida, ou seja a vítima age e observa ao mesmo tempo em que está agindo. Nesse ponto ela toma contato com o mistério da Atenção. A gente se pergunta “que coisa é essa que observa a ação e ao mesmo tempo observa a si mesmo num estado além da mente e sem a participação habitual dela?” Quem já fez os complicados movimentos Gurdjieffianos e por um instante se flagrou íntegro internamente observando–se na ação corporal, sabe exatamente do que se trata isso.
O Cristianismo monástico apontava essas duas abordagens da realidade, a contemplação e a ação, comparando as formas com que Maria e Marta atuavam ao lado de Jesus Cristo. A primeira era uma contemplativa que apreendia o mundo olhando com os olhos do corpo e da alma, a segunda uma ativa, lidando com a concretude da vida, e que reclamava da atuação da primeira. É sempre assim: o ativo sempre julga e critica o contemplador quieto e recolhido. A grande Santa Teresa D’Ávila, uma contempladora soberba sofreu essa discriminação de seus pares e contemporâneos de uma forma aguda e impiedosa. O mesmo fato ocorreu com outros verdadeiros santos cristãos, mesmo estando já recolhidos em mosteiros ou isolados da turba em florestas ou desertos. Acho que é um viés que temos de valorizar a ação, o movimento. o convívio. O show da vida tem para nós mais charme que o recolhimento observador, e isso tudo agravado pela síndrome da incompreensão do desconhecido que leva as pessoas em torno a segregar os “diferentes”, no caso os contemplativos. A Inquisição é o resultado desse comportamento intolerante levado ao extremo.
Os toltecas do Antigo México também “viam”, com seus olhos de videntes, que os discípulos eram ou sonhadores ou espreitadores, cada um com uma atuação diferente, mas empenhados na mesma causa: atingir o que chamavam de liberdade total. A Espreita e o Sonho são os dois pilares, as duas disciplinas dessa busca dos chamados “bruxos” toltecas, nome impróprio para definir esses formidáveis “homens de conhecimento” do Antigo México, que nos deixaram através de monumentos e dos 15 livros de Castaneda e discípulos, um legado inestimável de conhecimento interior.
O sonhador, discreto, arredio e inacessível, estabelece uma conexão estreita entre o sonho lúcido e a vigília e então passa a viver conscientemente nos dois mundos como se fossem o mesmo. Executa proezas sofisticadíssimas e inacreditáveis de percepção, cura, ubiqüidade e transformação física que sequer podemos imaginar.
Já o espreitador tem uma natureza prática e dada ao convívio e relacionamento com o outro. Ele organiza sua vida concreta e material com praticidade e com uma visão real do mundo que o cerca, Esse palco é o seu campo de atuação. Observa, aprende e age discretamente, “na moita”, sem se expor, conseguindo os seus objetivos interiores ou exteriores gastando o mínimo de energia. Tem uma visão real do mundo, sem ilusões e fantasias. Isso é o que eles chamavam de impecabilidade. Don Juan dizia que, no relacionamento com o outro, “nunca se deve bater de frente”, mas sempre não perder o foco do objetivo proposto, seja lá o que for. Um desafio para o ego cheio de apego. Esse princípio da espreita, de ficar atrás da cena, é altamente valorizado no taoísmo chinês e gerou a arte marcial do Tai Chi onde a força do golpe do adversário é apanhada num movimento “sem resistência” e é envolvida num gesto redondo e acolhedor, mente vazia de pensamentos, sem raiva, medo ou apego, aproveitando-se a força do adversário para dominá-lo. Puro Yin Yang.
Os sonhadores e espreitadores correspondiam no universo dos homens de conhecimento toltecas aos contemplativos e ativos do cristianismo. As duas tradições conheciam bem essa dualidade como um divisor da natureza e atuação dos buscadores, um contraponto gerador de atritos internos e externos imprescindíveis ao desenvolvimento interior do ser que está na busca.
Gurdjieff conceituava o espreitador com o nome de “obyvatel”, uma palavra russa que pode ser traduzida livremente por “dono de casa”, um servidor sem ego, um tipo que deliberadamente sustentava sua família, agregados ou outras pessoas de forma séria mas não sizuda, responsável, realista, pés no chão, e que se ria das pessoas que se julgavam importantes e acreditavam que “faziam as coisas acontecerem”.
Se contemplarmos o símbolo do Ying Yang poderemos ter uma compreensão da atuação dessas duas naturezas se complementando no Agora e formando a Unidade.
Um abraço