Para se falar de meditar, ou contemplar, é preciso entender um pouco da natureza da mente, e de alguns pontos iniciais que formam a paisagem necessária para a compreensão.
No início deste blog falamos da dádiva que é acreditar no invisível. A gente porém, ao contrário, só acredita nas impressões trazidas pelos 5 sentidos, arquivadas pela memória, e operadas por algo racional que chamamos erroneamente de mente. Essa limitação é algo como um computador simples com um software rudimentar.
Nós temos uma grande dificuldade em imaginar uma outra dimensão da realidade graças a essa construção limitada que produzimos e operamos, e que achamos que é tudo, todo o universo.
O que é a mente? O que é necessário para compreendê-la?
A tradição budista tibetana afirma há milhares de anos, que são necessárias 3 coisas para que a gente compreenda a verdadeira natureza da mente: um mestre autêntico, um discípulo autêntico, e também uma linhagem autêntica, ou seja uma corrente de transmissão do Ensinamento que não foi interrompida. Particularmente para mim isso faz todo o sentido, pois mesmo sem saber se tinha um mestre autêntico, passei como discípulo pelo processo de uma linhagem que cortou sua ligação com a corrente de transmissão no meio do caminho. Um desastre.
O discípulo precisa achar essa abertura, alimentá-la constantemente, aumentar a sua visão, disposição, entusiasmo e respeito. Isso vai mudar a atmosfera de sua mente e torná-lo aberto à sua apresentação a ele. Eles chamam isso de devoção. Sem ela o mestre mostra a natureza da mente, mas o discípulo não reconhece. Eles dois tem que formar uma dupla de corações e mentes, e o método utilizado por milhares de anos é o mesmo que formou o mestre no passado e possibilita agora que ele continue a corrente de transmissão.
O mestre simplesmente desperta o discípulo para a presença viva da iluminação que já está dentro de nós esperando ser despertada. É disso que trata a lenda da Bela Adormecida. O discípulo então reconhece a inseparatividade entre ele, o mestre, entre a mente de sabedoria do mestre e a natureza da mente do aluno. E os dois não mais se separam. Surge então uma imensa gratidão, respeito e assombro, que o mestre Dudjom Rinpoche chama de “a homenagem da visão”.
“A mente é a base universal da experiência” e a grande descoberta do Budismo, como diz Sogyal Rinpoche, é que “a vida e a morte estão na mente, e em nenhum outro lugar”. Há dois aspectos dela que se sobressaem: um é a mente ordinária, pensante, dualista, discursiva, que só funciona de fora para dentro, a partir de um ponto de referência ou estímulo externo. Chama-se “sem”. É esperta como um político corrupto, desconfiada, cética e engenhosa nos jogos de engano. A outra é a verdadeira essência da mente, que é absoluta, intocada pela mudança e pela morte. É chamada “Rigpa” , a verdadeira raiz da compreensão, o conhecimento do conhecimento. É o que os santos e os padres do deserto do Cristianismo Esotérico tocaram em suas experiências de êxtase.
Nós, que vivemos essa era de ceticismo e descrédito de tudo, achamos que nunca chegaremos a isso, que “isso é para o Buda”, mas ele trouxe, quando se iluminou, uma mensagem simples e inspiradora de que “a iluminação está ao alcance de todos”. A nossa natureza búdica está sempre presente, seja como for a nossa vida. É um céu, independente das nuvens passageiras que o estão cobrindo.
Mas por que é tão difícil perceber a natureza da mente? Os ensinamentos nos falam em 4 erros:
• “Ela está próxima demais”, e muito rente a nós para ser reconhecida. Como o nosso próprio rosto.
• “É profunda demais para ser sondada” pelos meios comuns de que dispomos.
• “É fácil demais para acreditarmos nela”. O que precisamos fazer é “não fazer” (rsrs), somente repousar na consciência pura da natureza da mente, que está sempre presente, à nossa disposição.
• “É maravilhosa demais” e vasta demais para caber no nosso jeitão estreito de pensar.
Se isso é verdade e ensinado no Tibet, uma cultura tranqüila e centrada na busca da iluminação, o que se dirá da nossa civilização moderna, com as armadilhas dispersivas dessa cultura dedicada à busca da ilusão...
Não existem informações gerais sobre a natureza da mente na nossa cultura. Só vemos teorias centradas em estudos biológicos do corpo e cérebro, com uma parafernália de equipamentos de “última geração”, buscando a “rebimboca da parafuseta” para colocá-la na mídia como um trunfo da ciência. Os escritores, intelectuais e filósofos falam pouco e mal disso, e o assunto não faz parte da cultura popular com nas culturas orientais. A nossa crença é de que só é real o que percebemos com os 5 sentidos. Como foi apresentado na postagem O pânico, a cura, o mestre, quando foi que vimos no ocidente um garoto de 9 anos interessado e motivado pelos pais a meditar?
Temos alguns vislumbres da natureza da mente mas a nossa cultura não tem contexto para nos ajudar a entender. Vivemos fora do centro energético, na beirada de uma galáxia, num sistema solar minúsculo, num pequeno planeta, no lado ocidental não dedicado ao invisível, e como se não bastasse, em pleno Kali Yuga (mais rsrs). Nossa escolha foi essa. É por isso que temos que “fazer o máximo, o tempo todo”, como disse Don Juan a Castaneda. Esse blog é uma minúscula tentativa de ajudar nesse sentido.
Como fazer para mudar isso? É simples. Nossa mente tem um interruptor com duas posições: olhar para fora e olhar para dentro. Vamos olhar para dentro. Como? Só olhar, sem fazer nada. No máximo tentando como apoio a atenção sobre a respiração. Ainda tem muito assunto ainda neste blog sobre isso no futuro. Aguardem...
No início deste blog falamos da dádiva que é acreditar no invisível. A gente porém, ao contrário, só acredita nas impressões trazidas pelos 5 sentidos, arquivadas pela memória, e operadas por algo racional que chamamos erroneamente de mente. Essa limitação é algo como um computador simples com um software rudimentar.
Nós temos uma grande dificuldade em imaginar uma outra dimensão da realidade graças a essa construção limitada que produzimos e operamos, e que achamos que é tudo, todo o universo.
O que é a mente? O que é necessário para compreendê-la?
A tradição budista tibetana afirma há milhares de anos, que são necessárias 3 coisas para que a gente compreenda a verdadeira natureza da mente: um mestre autêntico, um discípulo autêntico, e também uma linhagem autêntica, ou seja uma corrente de transmissão do Ensinamento que não foi interrompida. Particularmente para mim isso faz todo o sentido, pois mesmo sem saber se tinha um mestre autêntico, passei como discípulo pelo processo de uma linhagem que cortou sua ligação com a corrente de transmissão no meio do caminho. Um desastre.
O discípulo precisa achar essa abertura, alimentá-la constantemente, aumentar a sua visão, disposição, entusiasmo e respeito. Isso vai mudar a atmosfera de sua mente e torná-lo aberto à sua apresentação a ele. Eles chamam isso de devoção. Sem ela o mestre mostra a natureza da mente, mas o discípulo não reconhece. Eles dois tem que formar uma dupla de corações e mentes, e o método utilizado por milhares de anos é o mesmo que formou o mestre no passado e possibilita agora que ele continue a corrente de transmissão.
O mestre simplesmente desperta o discípulo para a presença viva da iluminação que já está dentro de nós esperando ser despertada. É disso que trata a lenda da Bela Adormecida. O discípulo então reconhece a inseparatividade entre ele, o mestre, entre a mente de sabedoria do mestre e a natureza da mente do aluno. E os dois não mais se separam. Surge então uma imensa gratidão, respeito e assombro, que o mestre Dudjom Rinpoche chama de “a homenagem da visão”.
“A mente é a base universal da experiência” e a grande descoberta do Budismo, como diz Sogyal Rinpoche, é que “a vida e a morte estão na mente, e em nenhum outro lugar”. Há dois aspectos dela que se sobressaem: um é a mente ordinária, pensante, dualista, discursiva, que só funciona de fora para dentro, a partir de um ponto de referência ou estímulo externo. Chama-se “sem”. É esperta como um político corrupto, desconfiada, cética e engenhosa nos jogos de engano. A outra é a verdadeira essência da mente, que é absoluta, intocada pela mudança e pela morte. É chamada “Rigpa” , a verdadeira raiz da compreensão, o conhecimento do conhecimento. É o que os santos e os padres do deserto do Cristianismo Esotérico tocaram em suas experiências de êxtase.
Nós, que vivemos essa era de ceticismo e descrédito de tudo, achamos que nunca chegaremos a isso, que “isso é para o Buda”, mas ele trouxe, quando se iluminou, uma mensagem simples e inspiradora de que “a iluminação está ao alcance de todos”. A nossa natureza búdica está sempre presente, seja como for a nossa vida. É um céu, independente das nuvens passageiras que o estão cobrindo.
Mas por que é tão difícil perceber a natureza da mente? Os ensinamentos nos falam em 4 erros:
• “Ela está próxima demais”, e muito rente a nós para ser reconhecida. Como o nosso próprio rosto.
• “É profunda demais para ser sondada” pelos meios comuns de que dispomos.
• “É fácil demais para acreditarmos nela”. O que precisamos fazer é “não fazer” (rsrs), somente repousar na consciência pura da natureza da mente, que está sempre presente, à nossa disposição.
• “É maravilhosa demais” e vasta demais para caber no nosso jeitão estreito de pensar.
Se isso é verdade e ensinado no Tibet, uma cultura tranqüila e centrada na busca da iluminação, o que se dirá da nossa civilização moderna, com as armadilhas dispersivas dessa cultura dedicada à busca da ilusão...
Não existem informações gerais sobre a natureza da mente na nossa cultura. Só vemos teorias centradas em estudos biológicos do corpo e cérebro, com uma parafernália de equipamentos de “última geração”, buscando a “rebimboca da parafuseta” para colocá-la na mídia como um trunfo da ciência. Os escritores, intelectuais e filósofos falam pouco e mal disso, e o assunto não faz parte da cultura popular com nas culturas orientais. A nossa crença é de que só é real o que percebemos com os 5 sentidos. Como foi apresentado na postagem O pânico, a cura, o mestre, quando foi que vimos no ocidente um garoto de 9 anos interessado e motivado pelos pais a meditar?
Temos alguns vislumbres da natureza da mente mas a nossa cultura não tem contexto para nos ajudar a entender. Vivemos fora do centro energético, na beirada de uma galáxia, num sistema solar minúsculo, num pequeno planeta, no lado ocidental não dedicado ao invisível, e como se não bastasse, em pleno Kali Yuga (mais rsrs). Nossa escolha foi essa. É por isso que temos que “fazer o máximo, o tempo todo”, como disse Don Juan a Castaneda. Esse blog é uma minúscula tentativa de ajudar nesse sentido.
Como fazer para mudar isso? É simples. Nossa mente tem um interruptor com duas posições: olhar para fora e olhar para dentro. Vamos olhar para dentro. Como? Só olhar, sem fazer nada. No máximo tentando como apoio a atenção sobre a respiração. Ainda tem muito assunto ainda neste blog sobre isso no futuro. Aguardem...
Oi Preto, acompanho o blog há algum tempo, e gostaria de saber se você já conheceu o Santo Daime. Se a resposta for sim, gostaria de saber sua opinião.
ResponderExcluirFiz o comentario porque em muito lugares essa "ferramenta"(chá) é usada para meditação e principalmente para olhar para dentro...
Obrigado, e parabéns pelo blog.
Abraços
Oi Francisco
ExcluirExperimentei uma vez, mas sem orientação de um mestre. Considero um assunto a ser aprofundado. Acredito na magia disso. Um abraço
Oi Francisco
ResponderExcluirConheci já há uns 40 anos, mas não experimentei ainda apesar de muitos amigos já terem provado. Nem sei porque. Uma hora vou experimentar, sim.
Abraço
Nossa que texto legal.
ResponderExcluirQue maravilha sobre a Bela adormecida,
Eros e Psique de Fernando Pessoa.
Lindo dimais. Vamos olhar pra dentro sim...
Beijos di mim
Luara
Obrigado, com certeza, estais ajudando muito. "Vós" que também "sou".
ResponderExcluirRISOS DE FELICIDADE
oi Preto,
ResponderExcluirGostei da sua disposição,
Qual foi essa linhagem que houve a quebra na transmissão?
Foi a linhagem de dois "hasnamusses" de São Paulo que cortaram a ligação com Dr. Conge-Gurdjieff
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