domingo, 26 de junho de 2011

Contemplar - 2 (o "não fazer")

Hoje pela manhã o buscador aqui, começou a meditar da maneira habitual, mas com uma intenção nova, que tem tentado ultimamente com assiduidade. Aliás, aqui entre nós, meditação (mediar, estar no meio, fazer a conexão) apesar de ser uma palavra forte e apropriada, não parece ser a melhor palavra. Contemplar soa melhor, porque ela toca algo inefável na Consciência, uma qualidade do Ser que é encantadora, sem a qual o caminho fica mais lento e difícil: uma “imobilidade ativa", um “não-fazer lúcido”, atento. É simplesmente “não fazer” o que se faz normalmente, só contemplar... os toltecas o consideram uma disciplina clara, precisa e mágica para aingir o que chamam de Segunda Atenção. Hoje eu percebo que contemplar sem agir, é a porta secreta para o Invisível, que é a casa da busca interior do Ser.
E lá estava eu... apoiado interiormente na intenção do tripé imprescindível para abrir a porta do Ser:

  • atenção no vai-e-vem da respiração,
  • “ocupar” o espaço do meu corpo sentindo as sensações, e...bingo!
  • esvaziar o mental: o silêncio interior.
Quando você raramente consegue a façanha desse instante fugidio, dessa geometria interior, pensa assim: “ganhei a batalha”. - Nã... nã... nã... aí é que começa a verdadeira batalha: manter a coisa...
Na verdade é um campo de batalha diário, e contraditoriamente silencioso, mas não menos real que uma batalha nas trincheiras. Lembra-me uma frase de Fernando Pessoa; “O esforço que fez Napoleão para conquistar a Europa, eu faço todo dia para levantar da cama”.
Eu sempre inicio pelo primeiro, "a atenção á respiração". Por que? Aí tem uma malandragem. Porque é o mais fácil, porque é apoiado num “fazer”, e o fazer é só o que sabemos fazer (rsrs) com facilidade, não depende de outra coisa senão dar a ordem e tentar manter a intenção, não perder o fio do novelo. Mas mesmo sendo o mais fácil, exige atenção e disciplina. Não desista. Se perdeu o fio, volte. Com paciência, interesse, intenção. O sucesso aqui é contado não por quanto tempo eu consigo ficar ligado no vai-e-vem da respiração sem interrupção, mas em quantas vezes eu me perco e, pacientemente, volto. Na boa.
Mas tem mais coisa, aliás muito mais coisas... Eu tenho que, mesmo sem fazer nada, coordenar nas entrelinhas o “controle” das três ações dessa “trindade”, mantendo um distanciamento interno que atua, sem se envolver nelas, sem me atirar afoito em nenhuma. Não me pergunte como se faz isso. È um fazer sem fazer. Sutil como o equilíbrio na corda bamba. É um mistério. A gente só consegue fazer, fazendo. Lembra um pouco aquele personagem do circo que mantém um número enorme de pratinhos girando em cima das varetas, sem deixar cair nenhuma... um espanto: “ôÔpa... vai cair aquela ali... consegui... e tem a outra... chíí, tem mais duas... acertei... vixe, caiu tudo!”. Só dá certo na hora em que ele consegue se livrar do apego, abrindo mão do resultado. É quando o buscador só está ali pela diversão do corpo, mente e espírito, e mais, o compromisso sério da proposta. Resumindo: abrir mão do resultado, e ao mesmo tempo buscá-lo com afinco... pensamento, emoção e corpo. Fácil, não é?...
Posto isso, enquanto eu percebo que uma parte da minha Atenção, essa coisa misteriosa, está “manobrando” a respiração sem atuar, só na intenção, outra parte está ligada em um “fazer”, sintonizado à sensação do corpo, que na verdade é um não-fazer. Eu explico: a atitude correta é a Atenção tentar ser uma antena que registra uma vasta gama de todo e qualquer sinal vindo do corpo (sensação, emoção, pensamento), mas a atitude justa é não tentar procurar ou “agarrar” nada, só receber. Por isso é um não-fazer. Uma antena que se preze não faz nada. Só recebe, sem o esforço de ir buscar. A Atenção foi feita para isso, mas o problema é que ela convive misturada com o ego, lá dentro de nós, e o ego se julga dono de tudo, só quer agarrar, e com isso obscurece ou mesmo cega a Atenção. Nós é que temos que separar o joio do trigo e, delicada e mansamente, tentar isolar a ação do ego, tirando o ar dele numa boa, sem briga. Cada dia a gente aprende uma sutileza para lidar com esse sujeitinho.
Muito bem, ainda falta um pé do tripé. Deixamos para o final porque é o mais sutil, manhoso, esperto e difícil de trabalhar: o Silêncio Interior do mental, o vazio: nada de pensamento. Não tem passado e não tem futuro. È o mais difícil de trabalhar. Por que? Porque mais que a sensação do corpo, o silêncio do mental é um profundo não-fazer. É o “não-fazer do falar”. Para conseguir atingi-lo você tem que cancelar a força absurda do diálogo interno implantado não-sei-por-quem em nossa mente como uma sutileza diabólica do nosso funcionamento: ele leva a vantagem de ser um piloto-automático. É como a gravidade, simplesmente está lá todo o tempo. Não faz nenhum esforço e portanto não descansa. Vacilou, ele vence, introduzindo-se de mansinho como uma sombra. A âncora de que eu preciso é a atenção na respiração. Ela permite um distanciamento não para se contrapor ao pensamento que surge com aparência inocente, mas sim para contemplá-lo nascendo, passando
disfarçado, e não embarcar na carona deliciosa e envolvente que ele é. - Mas, e se eu embarcar sem perceber? 
Ao notar que embarquei, sem culpa eu retorno ao eixo, como Ulysses ao ouvir o canto das sereias...
Don Juan falava a Castaneda textualmente (sobre o diálogo interno, que é o inimigo do silêncio do mental) no livro “Porta para o Infinito” e até ensinava como antídoto a ele “uma maneira correta de andar”:

  • "- Já lhe disse que o diálogo interno é o que nos prende à terra.  O mundo é isso e aquilo somente porque falamos conosco dizendo que ele é isso e aquilo. A passagem para o mundo dos homens de conhecimento se abre depois que o guerreiro aprende a parar o diálogo interno. Modificar nossa concepção do mundo é o ponto nevrálgico do conhecimento - disse ele. - E parar o diálogo interno é o único meio de conseguir isso”. Pag. 20
  • “A vidência só ocorre quando o guerreiro consegue parar o diálogo interno. Hoje, você parou sua conversa à sua vontade, lá no mato. E você “viu”. Pag. 30
  • “- Como você sabe, o ponto nevrálgico do conhecimento é o diálogo interno; esta é a chave de tudo. Quando um guerreiro aprende a pará-lo, tudo se torna possível; os planos mais rebuscados se tornam exeqüíveis. O caminho para todas as experiências fantásticas e sobrenaturais que você teve recentemente foi o fato de você conseguir parar de falar consigo mesmo”. Pag. 86
 Já que você está na sintonia, veja um vídeo do Heckhart Tolle sobre  Meditar, ou Contemplar. Copie e cole na sua barra de endereços do Google:
https://www.youtube.com/watch?v=X5vrPIR2pMM  






5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Preto, muito bom o que escreveu! O Castaneda ainda se referiu a esse incessante dialogo interno como o `Bobby`...nao PARA nunca...e quando a gente começa a conseguir dar um tempo dele...entre um moço mais sofisticado ainda...o `Seymour`. A chave... Cultivar o Silencio Interior!!!!!bj Patricia

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  3. Vamos falar sobre Seymour...Sempre ligada hein cumadre?

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  4. Nossa, que legal encontrar seu blog!
    É muito bom ler as experiência de outros buscadores! É animador e mostra que não estamos sozinhos nesta missão.

    A meditação atualmente é a minha religião. Não há nada de mais efetivo e que realmente transforma o meu Ser, do que a meditação!

    Com amor,
    Flor

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  5. Oi Flor Baez
    Legal o seu entusiasmo. Meditar é mesmo O caminho.
    Sem contra indicações e efeitos colaterais. Só Equilíbeio e lucidez.
    Abraço

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