quarta-feira, 30 de março de 2011

Japão, Kokorô

Após o desastre no Japão, muitos leitores pediram para falar algo aos buscadores sobre o assunto, do ponto de vista da busca interior, da meditação. A melhor coisa que ví e lí sobre o assunto foi a palavra da Monja Coen, conhecida monja budista que mora em São Paulo no Templo Busshinji, da tradição Soto Shu do Zen budismo japonês. Ela explica porque os japoneses estão surpreendendo o mundo com seu modo de fazer face às dificuldades, com compaixão:

"Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro.

Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência.
Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?

Outra palavra é gaman: aguentar, suportar.  Educação para ser capaz  de suportar dificuldades e superá-las.

Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo  de duas maneiras. A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima. A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas. Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros.
Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém.  Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se mantinha em sua área.  As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado.
Não furaram as  filas para assistência médica – quantas pessoas necessitando de remédios perdidos – mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone, receber atenção médica,  alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água.
Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte.
Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques.  Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam.  Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de "kansha no kokoro": coração de gratidão.

Sumimasen é outra palavra chave.  Desculpe, sinto muito, com licença.

Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver.  Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar falar com você, ou tocar à sua porta.  Desculpe pela minha dor, pelo minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao mundo.  Sumimasem.
Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas.
O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei.  Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico.  As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de  resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.
Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que “somos um só povo e um só país”.
Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas.  Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.
Aprendemos com essa tragédia  o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos: a vida é transitória,  nada é seguro neste mundo,  tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.
Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo  está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra.  O planeta tem seu próprio movimento e vida.  Estamos na superfície, na casquinha mais fina.  Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos.  O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos.  E isso já é uma tarefa e tanto.
Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.
Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.
Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar.
Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso dizer : todas.  Todas eram e são pessoas de meu conhecimento.  Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência.  Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem dos Budas.

Mãos em prece (gassho)
Monja Coen

domingo, 27 de março de 2011

O mundo mágico tolteca de Don Juan e Castaneda

Don Juan, o índio yaqui mexicano, nagual e xamã, dizia que o “fato energético”, era o alicerce do conhecimento dos xamãs do México Antigo, e significava que “cada nuance do cosmo é uma expressão de energia”. Nós vemos as coisas no mundo, mas atrás delas, no Invisível, elas são energia. Tudo é energia. A partir do seu nível de xamãs, de onde “viam a energia diretamente como ela flui no Universo”, eles chegaram à conclusão (que é também um fato energético) de que o cosmo inteiro é composto de duas forças gêmeas que são ao mesmo tempo opostas e complementares entre elas. Eles chamavam essas duas forças de “energia animada e energia inanimada”. É o Ying e Yang do Taoismo.
Eles viram que a energia inanimada não tem consciência. Consciência, para os xamãs, é uma condição vibratória da energia animada. Don Juan dizia que os xamãs do México antigo foram “os primeiros a ver que todos os organismos da Terra são possuidores de energia vibratória”. Eles os chamavam de "seres orgânicos", e viram que os próprios organismos determinam o grau da força de coesão e os limites dessa energia. Eles também viram que existem conglomerados de energia vibratória, energia animada, que têm uma coesão própria, livres das amarras de um organismo. Eles os chamavam de "seres inorgânicos", e os descreviam como pedaços de energia com coesão própria,  que são invisíveis ao olho humano, "energias cônscias de si mesmas" e que possuem uma unidade determinada por uma força aglutinadora diferente da força aglutinadora de um organismo.
Os xamãs da linhagem de Don Juan viram que a condição essencial da energia animada, orgânica ou inorgânica, é "transformar a energia no universo como um todo, em dados sensoriais", ou seja, dados percebidos pelos 5 sentidos e depois transformadas em "informações úteis no mundo em que vivemos". Essa é a função dos seres orgânicos e inorgânicos. No caso de seres orgânicos, estes dados sensoriais “brutos” são então transformados em um sistema no qual “a energia como um todo é classificada”, e há um produto final designado e percebido, para cada classificação, qualquer que ela possa ser. Em resumo, o sistema transforma qualquer energia nova e impensável que chega do "mar escuro da consciência" para nós, em algo conhecido no nosso mundo rotineiro. Temos então uma “consciência de segunda mão”. Depois disso há ainda um filtro chamado “desnate” pelo qual eu elimino determinados aspectos de uma dada percepção, que então já chega a mim “interpretada”, graças ao filtro do aprendizado social, e fico com uma cópia barata e simplificada dela.
De acordo com a lógica dos xamãs, no caso de seres humanos, “o sistema de interpretação de dados sensoriais é o conhecimento deles sobre o mundo que os rodeia”. Eles sustentam que esse conhecimento humano pode ser temporariamente interrompido, já que ele é apenas um sistema classificatório no qual o produto final, ou “o que é o mundo” é gerado a partir da interpretação de dados sensoriais. Quando essa interrupção ocorre, os feiticeiros afirmam que “a energia pode ser percebida por nós diretamente enquanto flui no universo”, sem interpretação nenhuma. É um fato chocante que pode ser o êxtase que os místicos em busca da divindade experimentam. Os feiticeiros descrevem o ato de perceber a energia diretamente como um feito semelhante a “ver com os olhos”, embora estes estejam minimamente envolvidos no processo.
Perceber a energia diretamente permitiu aos feiticeiros da linhagem de Don Juan “ver” os seres humanos como “conglomerados de campos de energia que têm a aparência de bolas luminosas”. Esse é o “ver” dos feiticeiros videntes. Eles se auto identificaram como feiticeiros, mas como dissemos nas postagens A Auto Importância e no Pássaro da Liberdade, quem já leu a obra de Carlos Castaneda e outros, percebe que eles “são buscadores sofisticadíssimos dos segredos da percepção humana com o objetivo prático de se libertar de suas amarras. O que os feiticeiros toltecas sabiam sobre os conceitos complexos da Consciência, Percepção e Atenção, as ciências atuais da Psicologia e Parapsicologia estão hoje apenas começando a arranhar”, com todo o respeito. Observar os seres humanos dessa maneira levou esses xamãs a conclusões energéticas extraordinárias. Eles notaram que “cada uma dessas bolas luminosas está individualmente conectada a uma massa energética de proporções inconcebíveis que existe no universo; uma massa que eles chamaram de o Mar Escuro da Consciência (ou A Águia)”. Eles observaram que cada bola individual está ligada ao mar escuro da consciência por um ponto que é ainda mais luminoso que a própria bola luminosa. Esses xamãs o chamaram de “ponto de aglutinação”, porque perceberam que “é neste local, fora do corpo, que a percepção é aglutinada, e acontece”. O fluxo de energia como um todo é transformado, nesse ponto, em dados sensoriais, e “esses dados são então interpretados e formam o mundo que chamamos de mundo, e que nos rodeia”.
Quando Castaneda pediu a Don Juan para explicar como esse processo de transformação do fluxo de energia em dados sensoriais ocorria, ele respondeu que a única coisa que os xamãs sabem a respeito disso é que a imensa massa de energia chamada mar escuro da consciência (ou A Águia) abastece os seres humanos com o que quer que lhes seja necessário para converter essa transformação de energia em dados sensoriais, e que tal processo não poderia jamais ser decifrado devido à imensidão da sua fonte original.
O que os xamãs do México antigo descobriram quando focalizaram seu “ver” no mar escuro da consciência foi a revelação de que “o cosmo inteiro é feito de filamentos luminosos que se estendem infinitamente”. Os xamãs os descrevem como "filamentos luminosos que vão em todas as direções sem jamais tocar uns nos outros". Eles viram que existem filamentos individuais, e que, ao mesmo tempo, esses filamentos se agrupam em massas inconcebivelmente colossais.
Outra dessas massas de filamentos, além do mar escuro da consciência que os xamãs observaram e apreciaram por causa de sua vibração, era algo que eles chamaram “Intento”. E chamaram de “intentar” o ato de xamãs individuais focalizarem sua atenção nessa massa. Eles viram que “o universo inteiro era um universo de intento, e intento, para eles, era o equivalente a Inteligência”. Uma outra forma de chamar a Consciência.
O universo, portanto, era para eles um universo de suprema inteligência. A conclusão, que se tornou parte do mundo de conhecimento deles, foi que a energia vibratória, consciente de si própria, era inteligente ao extremo. Eles viram que a massa de intento no cosmo era responsável por todas as mutações possíveis, todo tipo de variações que aconteciam no universo, “não por causa de circunstâncias cegas e arbitrárias, mas por causa do intentar feito pela energia vibratória, no nível do próprio fluxo de energia”.
Don Juan salientou que no mundo da vida cotidiana que vivemos, "os seres humanos realizam intento e intentar, através da maneira pela qual eles interpretam o mundo". Don Juan, por exemplo, alertou Castaneda para o fato que “meu mundo cotidiano não era regido pela minha percepção, mas pela interpretação da minha percepção”. Ele deu como exemplo o conceito corriqueiro de "universidade", que àquela época era um conceito de suprema importância para Castaneda. Ele disse a ele  que universidade não era algo que se podia perceber com os sentidos, porque nem minha visão, nem a audição, nem o paladar, nem os sentidos táteis ou olfativos forneciam alguma pista sobre universidade. "Universidade acontecia, e fazia sentido somente no meu intentar", e para que eu pudesse construí-la ali, precisava de tudo que sabia pelo aprendizado social como uma pessoa civilizada, de uma forma consciente ou subliminar.
O fato energético de o universo ser composto de filamentos luminosos deu origem à conclusão dos xamãs de que "cada um desses filamentos que se estendem infinitamente é um campo de energia". Eles observaram que os filamentos luminosos, ou melhor dizendo, os campos de energia de tal natureza, convergiam e passavam através do ponto de aglutinação. Já que o tamanho do ponto de aglutinação no ser humano foi determinado como sendo o equivalente a uma bola de tênis moderna, somente um número finito de campos de energia, mas ainda assim numa quantidade incalculável, convergiam e passavam através daquele ponto.
Quando os feiticeiros do México antigo viram o ponto de aglutinação, descobriram o fato energético de que “o impacto dos campos de energia que passavam através do ponto de aglutinação era transformado em dados sensoriais”; dados que eram então interpretados e transformados no mundo da vida cotidiana que vemos. Estes xamãs atribuíram a homogeneidade do conhecimento entre os seres humanos ao fato de que "o ponto de aglutinação de toda a raça humana está localizado no mesmo lugar nas respectivas esferas luminosas energéticas que nós somos: na altura das omoplatas, à distância de um braço por trás delas, nos limites da bola luminosa."
Suas observações sobre ver o ponto de aglutinação levaram os feiticeiros do México antigo a descobrirem que "o ponto de aglutinação mudava de posição sob condições de sono normal ou extrema fadiga, doença ou ingestão de plantas psicotrópicas". Esses feiticeiros viram que "quando o ponto de aglutinação estava numa nova posição, um feixe diferente de campos de energia passava através dele, forçando o ponto de aglomeração a transformar estes campos de energia em dados sensoriais e interpretá-los, trazendo como resultado um outro mundo novo e real para se perceber, mundo esse diferente do que usualmente conhecemos". Esses xamãs afirmavam que cada novo mundo que surgia dessa maneira era um mundo totalmente inclusivo, real e abrangente, diferente do mundo da vida cotidiana, mas absolutamente similar a ele no fato de que “se podia viver, ter filhos, e morrer nele”.
Para xamãs como Don Juan Matus, "o exercício mais importante de intentar, resulta no movimento voluntário do ponto de aglutinação", para que ele atinja áreas predeterminadas no conglomerado total de campos de energia que compõem um ser humano. Isso significa que depois de milhares de anos de investigação, os feiticeiros da linhagem de Don Juan descobriram que existem posições-chave no interior da bola luminosa total que é o ser humano, onde o ponto de aglutinação pode estar localizado e onde o bombardeio resultante dos campos de energia sobre  o ponto pode produzir um mundo totalmente novo e real.
Don Juan me assegurou que "isso é um fato energético e que a possibilidade de viajar para qualquer um desses mundos, ou para todos eles, é a herança de todos os seres humanos". Ele disse que "estes mundos estão lá à vontade, da mesma forma que as questões às vezes estão pedindo para serem perguntadas, e que tudo o que um feiticeiro ou um ser humano precisa para chegar até esses mundos é intentar o movimento do ponto de aglutinação".
Outro item relacionado ao intento, mas transposto para o nível do intentar universal, era, para os xamãs do México antigo, o fato energético de que estamos sendo continuamente puxados, empurrados e testados pelo próprio universo. Para eles era um fato energético que "o universo em geral é predatório ao máximo, mas não predatório no sentido em que entendemos esse termo: o ato de saquear ou roubar, agredir ou explorar os outros em benefício próprio. Para os xamãs do México antigo, a condição predatória do universo significava que “o intentar do universo é estar continuamente testando a consciência”. Eles viram que "o universo cria quantidades incalculáveis de seres orgânicos e de seres inorgânicos". Exercendo pressão sobre todos esses seres, o universo os força a expandir a própria consciência deles, e dessa forma "o universo se esforça para se tornar mais consciente de si próprio". No mundo cognitivo dos xamãs, portanto, “a consciência é o resultado final”.
Don Juan Matus e os xamãs de sua linhagem consideram consciência como “o ato de estar deliberadamente consciente de todas as possibilidades perceptivas do homem”, não apenas as possibilidades perceptivas ditadas por qualquer determinada cultura, cujo papel parece ser o de restringir a capacidade perceptiva de seus membros. Don Juan sustentava que liberar a capacidade perceptiva total dos seres humanos não interferiria de nenhuma forma em seu comportamento funcional. Na verdade, o comportamento funcional poderia se tornar um resultado extraordinário, porque iria adquirir um novo valor. A função, o propósito, nessas circunstâncias, se torna uma necessidade das mais prementes. Livre das idealidades e das falsas metas, o homem só tem a função como sua força guia. Os xamãs chamam isso de “impecabilidade”. Para eles, ser impecável significa “dar o seu melhor, e mais um pouco, mas sempre economizando energia”. Eles então obtinham a função ao "ver a energia diretamente, conforme ela flui do universo". Se a energia flui de uma certa maneira, seguir o fluxo da energia é, para eles, ser funcional, pragmático. Função é, portanto, o denominador comum através do qual os xamãs encaram os fatos energéticos de seu mundo de conhecimento.
O exercício de todas as unidades de conhecimento dos feiticeiros permitia a Don Juan e a todos os xamãs de sua linhagem chegarem a conclusões energéticas estranhas que, à primeira vista, pareciam fazer sentido apenas a eles e às suas circunstâncias pessoais, mas que, se examinadas com cuidado, podiam ser aplicadas a qualquer um de nós. De acordo com Don Juan, a culminação da busca dos xamãs é algo que ele considerava como sendo o fato energético supremo, não apenas para os feiticeiros, mas para todos os seres humanos da Terra. Ele o chamava de “jornada definitiva”.
"A jornada definitiva é a possibilidade que a consciência individual, ampliada ao seu limite máximo pela adesão do indivíduo ao mundo de conhecimento dos xamãs, poderia ser sustentada além do ponto no qual o organismo é capaz de funcionar como uma unidade coesiva, o que quer dizer “além da morte”". Essa consciência transcendental era compreendida pelos xamãs do México antigo como sendo a possibilidade de que a consciência dos seres humanos ultrapassasse tudo que é conhecido, e chegasse, dessa forma, ao nível de energia que flui no universo. Xamãs como Don Juan Matus definiam sua busca como “a busca de se tomar, no final, um ser inorgânico”, significando que "essa energia cônscia de si mesma continuava após a morte, atuando como uma unidade viva, mas sem um organismo, um corpo como o conhecemos". Eles chamavam esse aspecto da cognição deles de liberdade total, um estado no qual a consciência existe livre das imposições de socialização e sintaxe".

domingo, 20 de março de 2011

Contemplar – 1 (a natureza da mente)

Para se falar de meditar, ou contemplar, é preciso entender um pouco da natureza da mente, e de alguns pontos iniciais que formam a paisagem necessária para a compreensão.
No início deste blog falamos da dádiva que é acreditar no invisível. A gente porém, ao contrário, só acredita nas impressões trazidas pelos 5 sentidos, arquivadas pela memória, e operadas por algo racional que chamamos erroneamente de mente. Essa limitação é algo como um computador simples com um software rudimentar.
Nós temos uma grande dificuldade em imaginar uma outra dimensão da realidade graças a essa construção limitada que produzimos   e operamos, e que achamos que é tudo, todo o universo.
O que é a mente?  O que é necessário para compreendê-la?
A tradição budista tibetana afirma há milhares de anos, que são necessárias 3 coisas para que a gente compreenda a verdadeira natureza da mente: um mestre autêntico, um discípulo autêntico, e também uma linhagem autêntica, ou seja uma corrente de transmissão do Ensinamento que não foi interrompida. Particularmente para mim isso faz todo o sentido, pois mesmo sem saber se tinha um mestre autêntico, passei como discípulo pelo processo de uma linhagem que cortou sua ligação com a corrente de transmissão no meio do caminho. Um desastre.
O discípulo precisa achar essa abertura, alimentá-la constantemente, aumentar a sua visão, disposição, entusiasmo e respeito. Isso vai mudar a atmosfera de sua mente e torná-lo aberto à sua apresentação a ele. Eles chamam isso de devoção. Sem ela o mestre mostra a natureza da mente, mas o discípulo não reconhece. Eles dois tem que formar uma dupla de corações e mentes, e o método utilizado por milhares de anos é o mesmo que formou o mestre no passado e possibilita agora que ele continue a corrente de transmissão.
O mestre simplesmente desperta o discípulo para a presença viva da iluminação que já está dentro de nós esperando ser despertada. É disso que trata a lenda da Bela Adormecida. O discípulo então reconhece a inseparatividade entre ele, o mestre, entre a mente de sabedoria do mestre e a natureza da mente do aluno. E os dois não mais se separam. Surge então uma imensa gratidão, respeito e assombro, que o mestre Dudjom Rinpoche chama de “a homenagem da visão”.
“A mente é a base universal da experiência” e a grande descoberta do Budismo, como diz Sogyal Rinpoche, é que “a vida e a morte estão na mente, e em nenhum outro lugar”. Há dois aspectos dela que se sobressaem: um é a mente ordinária, pensante, dualista, discursiva, que só funciona de fora para dentro, a partir de um ponto de referência ou estímulo externo.  Chama-se “sem”. É esperta como um político corrupto, desconfiada, cética e engenhosa nos jogos de engano. A outra é a verdadeira essência da mente, que é absoluta, intocada pela mudança e pela morte. É chamada “Rigpa” , a verdadeira raiz da compreensão, o conhecimento do conhecimento. É o que os santos e os padres do deserto do Cristianismo Esotérico tocaram em suas experiências de êxtase.
Nós, que vivemos essa era de ceticismo e descrédito de tudo, achamos que nunca chegaremos a isso, que  “isso é para o Buda”, mas ele trouxe, quando se iluminou, uma mensagem simples e inspiradora de que “a iluminação está ao alcance de todos”. A nossa natureza búdica está sempre presente, seja como for a nossa vida. É um céu, independente das nuvens passageiras que o estão cobrindo.
Mas por que é tão difícil perceber a natureza da mente? Os ensinamentos nos falam em 4 erros:
•    “Ela está próxima demais”, e muito rente a nós para ser reconhecida. Como o nosso próprio rosto.
•    “É profunda demais para ser sondada” pelos meios comuns de que dispomos.
•    “É fácil demais para acreditarmos nela”. O que precisamos fazer é “não fazer” (rsrs), somente repousar na consciência  pura da natureza da mente, que está sempre presente, à nossa disposição.
•    “É maravilhosa demais” e vasta demais para caber no nosso jeitão estreito de pensar.
Se isso é verdade e ensinado no Tibet, uma cultura tranqüila e centrada na busca da iluminação, o que se dirá da nossa civilização moderna, com as armadilhas dispersivas dessa cultura dedicada à busca da ilusão...
Não existem informações gerais sobre a natureza da mente na nossa cultura. Só vemos teorias centradas em estudos biológicos do corpo e cérebro, com uma parafernália de equipamentos de “última geração”, buscando a “rebimboca da parafuseta” para colocá-la na mídia como um trunfo da ciência. Os escritores, intelectuais e filósofos falam pouco e mal disso, e o assunto não faz parte da cultura popular com nas culturas orientais. A nossa crença é de que só é real o que percebemos com os 5 sentidos. Como foi apresentado na postagem O pânico, a cura, o mestre, quando foi que vimos no ocidente um garoto de 9 anos interessado e motivado pelos pais a meditar?
Temos alguns vislumbres da natureza da mente mas a nossa cultura não tem contexto para nos ajudar a entender. Vivemos fora do centro energético, na beirada de uma galáxia, num sistema solar minúsculo, num pequeno planeta, no lado ocidental não dedicado ao invisível, e como se não bastasse, em pleno Kali Yuga (mais rsrs). Nossa escolha foi essa. É por isso que temos que “fazer o máximo, o tempo todo”, como disse Don Juan a Castaneda. Esse blog é uma minúscula tentativa de ajudar nesse sentido.
Como fazer para mudar isso? É simples. Nossa mente tem um interruptor com duas posições: olhar para fora e olhar para dentro. Vamos olhar para dentro. Como? Só olhar, sem fazer nada. No máximo tentando como apoio a atenção sobre a respiração. Ainda tem muito assunto ainda neste blog sobre isso no futuro.  Aguardem...

sábado, 12 de março de 2011

A impermanência

A impermanência é um complô, ou uma dádiva. Depende de como se olha a coisa: complô, se não queremos mudanças, dádiva se buscamos a evolução através de todas as experiências possíveis ao humano, como sugere o carroussel mutável do zodíaco. É através das nossas experiências mais a de todos os seres orgânicos e inorgânicos, que O Mar Escuro da Consciência (ou A Águia), gera a si mesmo a todo instante, segundo os videntes do Antigo México. E todas as outras tradições concordam.
È uma palavra estranha: "não permanência". Para os budistas é familiar, mas para os ocidentais não muito, porque os ocidentais se consideram “imortais” e, portanto, mais permanentes, quase eternos.
O conteúdo por trás da palavra é “tudo muda, nada permanece”.
Aliás, curiosamente, só há no Universo apenas uma lei que não muda. É a lei de que tudo muda, nada é permanente. Daí a preocupação que todos nós temos com o futuro, ou seja o que vem por aí.
Nós porém, na contra mão, queremos tão desesperadamente que as coisas continuem iguais, que passamos a acreditar nesse faz-de-conta de que elas vão permanecer iguais. E quando muda, é um auê...muito "ai meu Deus", muito sofrimento.
O I Ching, o livro das mutações, considerado o mais antigo já escrito no planeta, só trata disso, e na esteira dele vem todas as técnicas e artes adivinhatórias de todas as culturas conhecidas: Astrologias, Tarô, bola de cristal, Cafeomancia, Cartomancia, Cruz Celta, Dadomancia, Eneagrama, Grafologia, Numerologia,  Kabalah, Quadrado Mágico, Quiromancia, Runas, borra de café, tripas de animais...o diabo. A quantidade delas já mostra o interesse das pessoas. O curioso é que todas essas técnicas tem duas vertentes: a mais nobre, do “conhecer a si mesmo”, e o subproduto menos nobre “prever o futuro”. Vocês já sabem qual é a mais procurada...
A rigor se nós conseguíssemos viver no Agora, não se precisaria saber o futuro, porque ele não existe como coisa concreta em si, determinada, é só uma conseqüência de o que fazemos no presente. Se pensarmos bem, a razão dessa angústia com o futuro é que a principal e mais assustadora conseqüência da Impermanência, é que “nós somos seres que vamos morrer”, como disse Don Juan. Todos, sem exceção. A receita para o sofrimento decorrente da idéia da morte é trabalhar o apego. A cada instante.
A idéia da morte é um tabu para os ocidentais em geral. Como dissemos na postagem A Morte Como Conselheira, inspirada na obra do xamanismo tolteca de Castaneda, “a morte é sempre a dos outros e não a minha”. Somos como crianças que fecham os olhos no jogo de esconde-esconde e pensamos que assim ninguém pode nos ver. E vivemos alegremente o samsara, esse mundo das ilusões. Hipnotizados por essa coisa ilusória mas convincente que é variedade de percepções, nós vagamos perdidos nesse círculo vicioso do samsara”.
Talvez a razão mais profunda de termos medo da morte é que não sabemos quem somos. Nossa “identidade individual” depende do nosso nome, documentos, biografia, amigos, família, lar, emprego, cartão de crédito, etc.. Nisso apoiamos nossa segurança. Se isso for retirado, quem somos? É por isso que queremos barulho, agitação e atividade para não ficarmos em silêncio frente a esse ser desconhecido e estranho que há em nós.
O que chamamos de personalidade é apenas um fluxo mental. Para onde foi o se sentir bem de ontem? As circunstâncias mudam, as influências também, e nós mudamos junto. Somos impermanentes como as influências. O grande problema é que nos achamos imortais, pela forma que agimos.
Montaigne disse que “não sabemos onde a morte nos espera: então vamos esperá-la em toda a parte. Praticar a morte é praticar a liberdade. Quem aprendeu a morrer, desaprendeu a ser escravo”.
A sociedade moderna é uma celebração de tudo que nos afasta da Verdade. É a promoção do samsara e de suas distrações. Ele se alimenta da ansiedade e depressão que ele mesmo produz, num círculo vicioso sutil, que só conseguimos perceber na meditação. Mas viver a sério não é só meditar como se vivêssemos no Himalaia. Temos que trabalhar e ganhar o pão, mas sem nos deixar dominar por esse moedor de carne que é o trabalho das 8 às 6, e portanto ter um significado mais profundo da vida. O segredo da vida equilibrada é a simplicidade e disciplina.
Disciplina é fazer o apropriado, ou seja numa época complexa, simplificar as nossas vidas, mesmo quando vivenciamos o êxtase das experiências interiores.
É preciso deixar as coisas irrelevantes, e buscarmos a simplicidade: trabalhar, consumir e desperdiçar menos. Em resumo, diminuir a bagagem, o que já é um exercício de morrer, por causa de nosso apego. Como disse Armando Torres no livro “Encontros com o Nagual,” estamos de passagem, somos viajantes temporários e estamos num mundo-prisão”. Vamos embora sem levar nada". Nem ao menos o corpo e a mente comum. Em tibetano, LÜ (corpo) significa “algo que se deixa para trás”. E ele continua cutucando: "Você sabia que a árvore de que será feito o seu caixão, provavelmente já foi cortada?"
O mundo é seguro até que a morte nos expulsa do abrigo. O que será que  acontece então conosco, se nada sabemos de uma realidade além do mundo? Ao perdermos o corpo, a mente permanece? (esse macaco louco onde pensamentos desconexos surgem de não-se-sabe-onde).  E podemos confiar nela? Se não, em quem confiar? O que é que sobrevive à morte? Você sabe? Não? Que fria hein, cumpadre (ou cumadre - rsrs)... Pense bem: você vai para um lugar desconhecido, sem bagagem, ninguém lhe deu instruções sobre quem ou o que vai encontrar, nem como agir, nem que língua falam, nunca foi a um seminário sobre o assunto, não sabe nem o que vai levar – corpo, mente, posses e dinheiro seguramente não – e você está aí nessa calma de senador da república? Como dizia o Gil, “se oriente, rapaz”...Uma dica: O Livro Tibetano do Viver e do Morrer do lama tibetano Sogyal Rinpoche, versão do “Bardo Thodol -  Livro Tibetano dos Mortos” adaptado à cultura ocidental. A impermanência é paradoxalmente a única coisa que podemos manter. O nosso último bem. Leve-a com você.
Se dedicarmos à meditação e à morte um décimo do tempo que dedicamos à energia sexual, preocupação, pressa e ganhar dinheiro, a iluminação virá em pouco tempo (rsrs)
Precisamos nos sacudir e perguntar de fato: E se eu morrer esta noite, o que vai ser? Pois nunca se sabe o que vem primeiro – amanhã ou a próxima vida. Alguns mestres tibetanos dormiam com os copos emborcados na cabeceira. Não sabiam se iriam usá-los novamente. Eles conviviam com a morte iminente.
Duas perguntas do lama tibetano:
•    Estou me lembrando a todo instante que eu e tudo à minha volta estamos morrendo e portanto trato a todos com compaixão?
•    Isso me faz a cada segundo buscar a compreensão, a iluminação?


Keneth Ring em seus livros conta uma frase dita por um homem numa experiência de quase morte: ”há coisas que cada pessoa foi enviada à Terra para realizar e aprender. Por exemplo, partilhar mais amor, ser mais amorosa com os outros. O que você fez em benefício da espécie humana, para mostrar que está quites com a vida?” Foi isso que uma luz perguntou a ele, quando estava do lado de lá... Então temos ainda muito trabalho do lado de cá...


Texto baseado em O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Sogyal Rinpoche 




domingo, 6 de março de 2011

O Timo, chave da Energia Vital

O timo, esse desconhecido, faz parte das 7 glândulas de secreção interna que temos. Elas são chamadas assim porque não tem um duto que joga o seu produto no organismo, o que é feito através do sangue diretamente, e/ou mesmo por transmissão de energia. As sete glândulas (Pineal, Pituitária, Tireóide, Timo, Pâncreas, Supra-Renais, e Sexuais) como não podia deixar de ser, tem correspondência estreita com outros conjuntos de sete elementos que permeiam a criação do nosso universo como, as 7 camadas da aura, os 7 chakras, as 7 cores do espectro de luz, as 7 notas musicais, as 7 epístolas às 7 igrejas (citadas no livro bíblico das Revelações ou Apocalipse), os 7 níveis do Raio de Criação ensinados por Gurdjieff, as 7 virtudes, os 7 pecados capitais, a Lei do 7 (também chamada de Lei da oitava) e por aí afora...
O timo tem uma estreita correspondência energética com o 4º chakra (Anahata) de 12 pétalas. É o chakra do coração, de cor verde, ligado ao elemento Ar, o Amor, relacionamentos, respiração, compaixão. Seu significado em sânscrito é “inatacável, ileso” ( vale a pena vê-lo clicando aqui: “Os Chakras Iluminados”). É o chakra que une céu e terra, mente e corpo, masculino e feminino e ao ser acionado pela energia da kundalini ao ser despertada, produz a ligação com o coração universal.
O timo, em termos médicos, é um dos pilares que sustenta o nosso sistema imunológico produzindo entre outras coisas um exército de agentes (linfócitos-T) que reconhecem e destroem as ameaças ao organismo e à integridade das células  sadias . É a inteligência que distingue o amigo do inimigo em nível celular, e portanto importantíssimo nesses tempos de Aids e doenças auto imunes.
Sonia Hirsch, escritora (que entre outros escreveu “O Manual do Herói”, um livro interessante e de bem com a vida), da qual sou fã de carteirinha, jornalista e batalhadora bem humorada na área de saúde alternativa, diz:
“No meio do peito, bem atrás do osso esterno, onde a gente toca quando diz Eu, fica essa pequena glândula. Seu nome em grego, thymos, significa energia vital. Precisa dizer mais? Precisa, porque o timo continua sendo um ilustre desconhecido.
Ele cresce quando estamos contentes, encolhe pela metade quando nos estressamos e mais ainda se adoecemos. Esta característica iludiu durante muito tempo a medicina, que só o conhecia através de autópsias e sempre o encontrava encolhidinho. Supunha-se que atrofiava e parava de trabalhar na adolescência, tanto que durante décadas os médicos americanos bombardeavam timos adultos perfeitamente saudáveis com mega doses de raios-x, achando que seu tamanho “anormal” poderia causar problemas.
Mais tarde a ciência demonstrou que, mesmo encolhendo após a infância, continua totalmente ativo: é um dos pilares do sistema imunológico, junto com as glândulas adrenais e a espinha dorsal, e está diretamente ligado aos sentidos, à consciência e à linguagem. Como uma central telefônica por onde passam todas as ligações, faz conexões para fora e para dentro. Se somos invadidos por micróbios ou toxinas, reage produzindo células de defesa na mesma hora.
Mas também é muito sensível a imagens, cores, luz, cheiros, sabores, gestos, toques, sons, palavras, pensamentos. Amor e ódio o afetam profundamente. Idéias negativas têm mais poder sobre ele do que vírus ou bactérias  já que não existem em forma concreta, o timo fica tentando reagir e enfraquece, abrindo brechas para sintomas de baixa imunidade como herpes, por exemplo. Em compensação, idéias positivas conseguem dele uma ativação geral de todos os poderes, lembrando a fé que remove montanhas.
Um teste simples pode demonstrar essa conexão. Feche os dedos polegar e indicador na posição de OK, aperte com força e peça para alguém tentar abri-los enquanto você pensa “estou feliz”. Depois repita pensando “estou infeliz”. A maioria das pessoas conserva a força nos dedos com a idéia feliz e enfraquece quando se pensa infeliz. (Substitua os pensamentos por uma bela sopa de legumes ou um lindo sorvete de chocolate para ver o que acontece...)
Este mesmo teste serve para lidar com situações bem mais complexas. Por exemplo, o médico precisa de um diagnóstico diferencial - seu paciente tem sintomas no fígado que tanto podem significar câncer quanto abscessos causados por amebas. Usando lâminas com amostras, ou mesmo representações gráficas de uma e outra hipótese, testa a força muscular do paciente quando em contato com elas e chega ao resultado. As reações são consideradas respostas do timo e o método, que tem sido demonstrado em congressos científicos ao redor do mundo, já é ensinado até na Universidade de São Paulo (USP), a médicos acupunturistas.
(Nota da redação: esse teste recebeu o nome de BDORT – “Bi-Digital O-Ring Test”, ou "teste do anel com dois dedos em forma de 'o' ". É muito usado na medicina alternativa como forma de diagnóstico quando a medicina alopática falha. Mais informações no Google, é claro. Ele funciona mesmo (Eu escriba aqui, já fiz para testar comidas e bebidas boas e ruins para mim).
O detalhe curioso é que o timo fica encostadinho no coração, que acaba ganhando todos os créditos em relação a sentimentos, emoções, decisões, jeito de falar, jeito de escutar, estado de espírito... “Fiquei de coração apertadinho”, por exemplo, revela uma situação real do timo, que só por reflexo envolve o coração. O próprio chakra cardíaco, fonte energética de união e compaixão, tem muito mais a ver com o timo do que com o coração – e é nesse chakra que, segundo os ensinamentos budistas, se dá a passagem do estágio animal para o estágio humano.
“Lindo!”, você pode estar pensando, “mas e daí?” Daí que, se você quiser, pode exercitar o timo para aumentar sua produção de bem-estar e felicidade.
Como? Pela manhã, ao levantar, ou à noite, antes de dormir.
Fique de pé, os joelhos levemente dobrados. A distância entre os pés deve ser a mesma dos ombros. Ponha o peso do corpo sobre os dedos e não sobre o calcanhar, e mantenha toda a musculatura bem relaxada.
Feche qualquer uma das mãos e comece a dar pancadinhas contínuas com os nós dos dedos no centro do peito, marcando o ritmo assim: uma forte e duas fracas. Continue por três a cinco minutos, respirando calmamente enquanto observa a vibração produzida em toda a região torácica.
O exercício estará atraindo sangue e energia para o timo, fazendo-o crescer em vitalidade e beneficiando também pulmões, coração, brônquios e garganta. Ou seja, enchendo o peito de algo que já era seu e só estava esperando um olhar de reconhecimento para se transformar em coragem, calma, nutrição emocional, abraço.
Ótimo. Íntimo. Cheio de estímulo. Bendito timo”.

O meu amigo Pepe (José Alvares Mosig), médico e pesquisador da USP, em um artigo brilhante, diz o seguinte sobre o Timo:
“Foi citado na Grécia por Platão, Sócrates e Aquiles. Para Platão, thymos é a parte da alma que denota o orgulho, a indignação, a vergonha e a necessidade de reconhecimento. É um atributo guerreiro, um aspecto da vida interior que dá significado à beligerância. Sem thymos o homem não é mais do que um animal muito inteligente, com cérebro e necessidades físicas, mas sem autonomia moral. Para Platão, thymos coexiste em nós com a razão e os desejos, sendo que, às vezes, nos leva a agir de uma maneira não razoável. Fechando com chave de ouro esta investigação sobre a etimologia de timo, fiquei estarrecido ao me deparar com o Livro 2 da “República”, e mais especificamente com o capítulo sobre “o Caráter e a Educação dos Guardiães”, em que Platão escreve: “A cidade luxuosa (nosso corpo) terá necessidade de um exército e portanto, de uma classe de especialistas, chamados ‘Guardiães’ (phylakes), os defensores da polis (cidade). A justiça será um dos seus objetivos mais importantes. Para realizarem bem o seu trabalho, os ‘Guardiães’ deverão ser dotados de vigor físico, de thymos, da capacidade de se comportar gentilmente com aqueles conhecidos e agressivamente com aqueles desconhecidos.” Uma bela descrição do thymos no nosso peito, tanto da entidade anímica, como do timo físico, berço e educador dos guardiães da identidade molecular do indivíduo”.
Como vocês vêem, o timo é como nós, um desconhecido mas importante (rsrs)



Essa postagem foi transcrita, com adaptações e acréscimos, de dois artigos. Um da escritora de saúde alternativa e jornalista Sonia Hirsch, (http://www.correcotia.com/) e outro do meu amigo Pepe, médico e pesquisador, ambos citados acima.