domingo, 29 de junho de 2014

O Eneagrama

Conforme prometemos há tempos, vamos falar do Eneagrama. Ele é um mistério onde a Matemática se encontra com o Desconhecido (aliás aqui entre nós, a Matemática já é o Desconhecido): 
trata-se de uma figura de 9 pontos composta de dois circuitos sobrepostos: um com 3 pontos formando um triângulo e outro com 6 pontos formando uma figura como um circuito aparentemente irregular.
Ele parece ter sido apresentado no Ocidente, em sua forma atual, por Gurdjieff. O conhecimento do funcionamento do eneagrama era um dos mais importantes e era constantemente citado no sistema gurdjeffiano. Parece porém haver evidências de que tal símbolo já fazia parte do conjunto de conhecimentos que antigas ordens sufis utilizavam, ordens estas com as quais Gurdjieff entrou em contato durante seu aprendizado .
Gurdjieff dizia que o ensinamento que jaz sob o eneagrama é “completamente autônomo, independente de outros caminhos”, dando a impressão de permear a humanidade em vários lugares e épocas.
O eneagrama é um símbolo cuja representação gráfica é de um círculo dividido em nove partes. Essa figura encerra relações matemáticas simples e surpreendentes. Quando dividimos a unidade por 3, obtemos a sucessão infinita de 3, em uma dízima periódica, assim:
1/3 = 0.3333…
Se a isso somarmos mais uma terça parte obteremos:
1/3 + 1/3 = 0.6666…
Se repetirmos:
1/3 + 1/3 + 1/3 = 1
que também poderia ser expresso por 0.9999…
Esses 3 números – 3, 6 e 9 – dão origem ao triângulo do eneagrama que representaria a “Lei de Três”, uma das Leis básicas que fazem partem do sistema de Gurdjieff.
A Lei de Três relaciona-se diretamente com o fenômeno da Criação, com o Divino, com Deus, ou que nome tenha. Determina que todos os fenômenos podem ser compreendidos em termos de tríades geradoras que se expressaram em muitas tradições como o Pai-Filho-Espírito Santo, Brama-Shiva- Vishnu na Índia, Keter-Chokma-Binah na Cabala, Isis-Osiris-Horus no Egito, etc..
Essa Lei diz que a geração de todos os fenômenos pode ser explicada pela interação de 3 forças: uma de maior intensidade chamada de ativa que atua sobre a força de menor intensidade do conjunto que recebe o nome de passiva através da modulação e controle de uma força neutralizadora. A força passiva não é estática, ao contrário ela é atuante, mas possui uma intensidade menor que as outras duas. Gurdjieff refere-se à essas três forças usando os nomes de Santa Afirmação, Santa Negação e Santa Conciliação. Citando sua própria definição: “Todo novo surgimento provém de surgimentos anteriores através do ‘jarnel-miatznel’, quer dizer, através de uma fusão, cujo processo se realiza assim: o que está acima se une com o que está abaixo, com a finalidade de realizar por esta união, o que é mediano, o qual se converte, por sua vez em superior para o inferior seguinte, e no inferior para o superior precedente”.
Nada pode acontecer a não ser que essas três forças estejam presentes. Sem a neutralizadora, a ativa e a passiva ficam em inútil oposição e nada de novo pode surgir.
Em nosso estado atual de consciência somos praticamente cegos à força neutralizadora, pois estamos sempre presos a dualidades. Para que sejamos capazes de perceber mais do que essa dualidade é necessário um nível de percepção diferente da realidade (Técnicas do Quarto Caminho).
Costuma-se afirmar que as forças representadas pelos pontos 3, 6 e 9 são derivadas diretamente do Mundo de Uma Lei, ou seja, a própria emanação do Criador (o Raio de Criação). Elas contêm a mesma substância que dará origem ao Mundo de Três Leis. Assim, podemos afirmar que o triângulo dentro do eneagrama simboliza a ação do próprio Absoluto na realidade. O ponto 9 conteria a Força Ativa e representaria a ordem “Seja!”, a ordem primeira que dá origem aos seres; o ponto 3 representaria a harmonização do novo padrão estabelecido e atuaria como a Força Neutralizadora, enquanto que o ponto 6 (Força Passiva) “abriria um espaço” na realidade para que o novo evento pudesse vir à existência. Por isso, se diz que a Lei de Três está diretamente relacionada com a criação e é parte da natureza intrínseca do Raio de Criação em si.
Continuando, se agora dividirmos a unidade por 7 e somarmos outros sétimos sucessivamente, obteremos:
1/7 = 142857142857…
2/7 = 285714285714…
3/7 = 428571428571…
4/7 = 571428571428…
5/7 = 714285714285…
6/7 = 857142857142…
Os números 3, 6 e 9 não aparecem nessas dízimas, e a seqüência dos números sempre é a mesma: 142857. Essa seqüência dá origem a figura que acompanha o triângulo e representa a “Lei das Oitavas”.
Poderemos nos perguntar porque usar o número sete? Ao que parece, este número estaria associado à própria capacidade cerebral de discriminar e classificar os fenômenos, mas como já dissemos neste blog nas postagens a Lei de Três e A Lei de Sete, o 7 está ligado às leis da Manifestação que rege todos os fenômenos criados, da mesma forma que o  3 está ligado à Criação . Vemos a escala de sete notas musicais, as sete cores do arco-íris, os sete dias da semana, etc.. enfim, tudo o que está ligado á evolução dos fenômenos depois de criados.
É interessante observar na figura do Eneagrama que os dois circuitos do 3 e do 7 não se sobrepõem em nenhum ponto, e que os números que pertencem ao circuito da Criação (3, 6 e 9) não aparecem no da Manifestação (142857) e vice-versa. Por que?
Porque após criada, a criatura sai do ventre da Lei de 3, cai no mundo da Lei de 7, da Manifestação, regido pelo 7, ou Lei das Oitavas, e está por conta do acaso, da mecanicidade. Esse deve ser o significado da passagem do Gênesis e de todas as outras tradições "e no sétimo dia descansou", ou seja, O Criador deixou  de atuar diretamente após o sétimo dia em que ficou criando e deixou A Manifestação seguir o seu curso de evolução regido pela Lei do 7. 
A Lei das Oitavas mostra que todo o fenômeno evolui ao longo do tempo numa série de passos seqüenciais e que isso determina uma hierarquização. Essa seqüência no entanto, não é uniforme; existem períodos de aceleração e desaceleração, ou ainda, a energia que impulsiona o surgimento do fenômeno torna-se alternadamente mais forte e mais fraca.
Existe portanto, pontos cruciais nessa seqüência onde energias adicionais devem ser colocadas para que não ocorram desvios que podem acarretar a não concretização do fenômeno. A esses pontos dá-se o nome de “choques”. Quando uma energia adicional não é colocada no ponto de choque (choque adicional) ocorre um desvio na evolução do fenômeno que o distancia da sua concretização.
As Leis que determinam a seqüência dos eventos que compõem um fenômeno qualquer, já eram conhecidas em civilizações antigas e parece ter sido a origem da escala de sete tons da música. Logo, a lei das oitavas pode ser expressa como se segue:

Os choques correspondem aos semitons que representam o momento, no desenrolar do fenômeno, em que uma energia externa deve ser colocada. Se o primeiro choque for dado, a oitava se desenvolve naturalmente sem desvios até o Si. Nesse momento um novo impulso deve ser colocado para que a oitava alcance o próximo Dó. Gurdjieff dizia que qualquer evento dentro da Lei das Oitavas, vai evoluir, desde que a energia para os choques seja introduzida, de Dó para Ré, de Ré para Mi, para Fá, Sol, Lá, Si, Dó, sendo que este último Dó, por sua vez tem as mesmas características do Dó inicial, só que ele vai estar situado em uma dimensão energética ou numa qualidade acima.
A seqüência de dó a dó é chamada de “oitava humana” ou “oitava evolutiva” porque a  partir de um nível de energia inicial, o processo segue através de um conjunto de passos, até atingir um resultado que reflete o ato inicial num outro nível ou qualidade ou energia. Os momentos de choque receberam a energia necessária de tal forma que o processo chega ao Si final. Esse processo ocorre quando temos uma intenção inicial e chegamos ao final obtendo aquilo que havíamos proposto a nós mesmos no início.
Nesse caso, a qualidade do produto final costuma ser apenas suficiente para os padrões cotidianos e encontra-se dentro dos valores normais em termos de eficiência, bom gosto, criatividade, produtividade, etc. dependendo do evento que analisarmos.
Mas, devemos notar que a Lei das Oitavas afirma que o nível de energia que ocorre em um patamar é suficiente para que o Dó evolua para Ré, e para que o Ré evolua para Mi, mas a partir desse ponto, não existe mais energia suficiente intrínseca para que o processo siga em frente na sua exata dimensão. Se a energia adicional não for colocada, o processo tende a parar, o que é muito comum. Se for colocada energia mas esta for insuficiente, o processo pode seguir em frente mas em um nível mais baixo: de Fá passa para Sol, Sol para Lá, Lá para Si e aqui novamente temos uma outra parada. A partir desse ponto o processo decai de novo caso, seja colocada uma energia baixa, e chega a um outro patamar. Esse tipo de evolução de processos costuma ser chamado de “oitava natural”, pois acontece naturalmente onde existe pouca energia para manter o processo. É também chamada de “oitava do homem adormecido”. Aqui o produto será sempre degenerado ou inferior em relação à idéia inicial.
O esquema seria assim:

No entanto, ainda existe uma terceira possibilidade, onde no choque entre Mi e Fá existe um suprimento de energia extra, que é capaz de elevar a oitava para um nível acima em termos de qualidade. Nesse caso, damos o nome à essa oitava de “oitava do Trabalho” ou do “homem consciente”. A qualidade final do processo é notável e situa-se bastante acima do padrão comum. O esquema seria este:

Através dos diagramas fica claro que existem várias possibilidades, onde, por exemplo, o choque entre Mi e Fá pode acontecer e o choque entre Si e Dó não, o que acarreta uma gama muita grande de variações. No entanto, o elemento básico e mais importante que atua como energia nos momentos de choque é a atenção. Muitas vezes será a qualidade da atenção que definirá os processos. É necessário estar atento à evolução do processo e principalmente, estar atento nos momentos chaves, onde o choque se faz presente. E além disso, é necessário ter atenção suficiente para perceber qual a qualidade do choque. Muitas vezes a energia necessária está no próprio ambiente à nossa volta e para percebe-la é necessário desenvolver uma certa sensibilidade à realidade, tentando perceber as nuances e sutilezas. Às vezes é necessário uma energia de ordem física, às vezes, emocional ou intelectual. É necessário treinar essa capacidade de discriminação sutil para que a energia produzida no momento seja realmente útil.
Subir na oitava em ambos os choques não é muito comum. Esse aumento de qualidade e a geração de um produto especial, só é possível para as pessoas muito bem treinadas. É muito raro mas é possível. Todas essas alternativas existem. E isso pode ser aplicado para qualquer evento. Podemos analisar a negociação de um contrato usando esse modelo; estabelecer a planta de um escritório ou de um prédio. Podemos definir com antecipação se queremos um resultado aceitável, razoável ou se queremos um resultado excepcional. E então, devemos definir precisamente quais são os pontos em que deveremos colocar energia para atingir as metas que desejamos. Não adianta colocar energia antes ou depois do momento preciso porque isso não modificará substancialmente o resultado.
Sabemos que a energia necessária entre os pontos Mi e Fá é a metade da necessária entre os pontos Si e Dó. Gurdjieff, em seu livro ‘Relatos de Belzebu a seu neto’, chama ao primeiro choque de “mdnel-inn-mecânico-coincidente” e ao segundo de “mdnel-inn-voluntariamente-realizado”. A diferença entre eles parece residir no fato de que a energia para que o primeiro choque aconteça, tem uma maior chance de ser provida pelo próprio ambiente, mas a energia para o segundo choque deve necessariamente vir da pessoa envolvida com o processo.
“A estrutura do Universo é tal que nenhum processo, causal ou intencional, poderá chegar ao seu termo exceto em condições ambientais planejadas”, afirmava Gurdjieff.
Essa proposição pode ser observada em todos os eventos. Isso acontece porque na vida cotidiana as coisas sempre acontecem por si mesmas e carregam os indivíduos na direção que o acaso determina. “Condições ambientais planejadas” significam ou implicam em atenção para com os atos e suas consequências e para com os sinais que a realidade constantemente nos dá, para que sejamos capazes de escapar da lei do acidente.
Por isso, o estudo da Lei das Oitavas e do eneagrama deve ser sempre experiencial.
Implica em uma atitude de maior responsabilidade frente aos eventos que desencadeamos. Esse estudo nos conduz a perceber os momentos em que devemos estar mais atentos para desencadearmos os choques corretamente, de forma a garantir que o desenrolar do fenômeno aconteça a contento. E ainda, ajuda-nos a cumprir os objetivos que muitas vezes iniciam-se com um forte impulso, mas que aos poucos esmorecem, ou se desviam. Por exemplo, começamos empolgados com a idéia de trabalharmos sobre nós mesmos e terminamos perdidos em ilusões intelectuais, arrogância, etc.. Muito pouco acaba por sobrar do objetivo inicial até que, em momentos determinados, percebemos o quanto nos afastamos dele e tentamos começar tudo de novo.
A necessidade pelo estudo destas Leis era sempre bastante enfatizado na Escola Gurdjieffiana. A compreensão e a utilização consciente de suas premissas eram, em si mesmas, princípios que poderiam libertar o ser dos processos mecânicos da máquina.
Segundo Gurdjieff (1991) o estudo das Leis Cósmicas terminaria por gerar em nós a “propriedade divina” da “imparcialidade”. Para compreender melhor esse termo, sugerimos a leitura do tópico “Técnicas do Quarto Caminho: a Auto-observação”.
Se observarmos o desenho do eneagrama com atenção perceberemos que o segundo choque está, aparentemente no local errado, pois ele deveria estar entre Si e Dó e no entanto, ele aparece entre Sol e Lá.
Na verdade, depois que uma oitava se iniciou, se o primeiro choque for corretamente dado, nesse ponto (número 3) começará o desenvolvimento de uma segunda oitava paralela à primeira, onde o ponto 6 da primeira oitava (choque) corresponderia ao ponto 3 da segunda oitava, o ponto de choque (Ouspensky 1993) – veja figura abaixo. Sempre que iniciamos um evento muitas outras oitavas paralelas se desenvolvem, levando-nos, se tudo der certo, a uma espiral em direção a objetivos cada vez mais amplos. Por exemplo, o estudo de um livro muito difícil mas muito importante, pode gerar uma segunda oitava paralela, por exemplo, da formação de um grupo que se dispõe a estudálo.
Desse estudo outras oitavas podem se desenvolver com as propostas de trabalhos práticos que o grupo pode executar com a finalidade de experienciar as idéias do livro.
Uma outra oitava pode surgir se o grupo decidir fazer um trabalho que leve as idéias do livro para fora do contexto do grupo, por exemplo, através de uma peça teatral. Uma outra oitava surgiria então envolvendo as pessoas que entrariam em contato com essa peça, culminando em outra oitava da formação de um novo grupo de estudos, por exemplo, e assim por diante.

Até agora falamos apenas do percurso “externo” do eneagrama que vai do ponto 1 seqüencialmente até o ponto 9 (ou de Dó a Dó). Existe porém um segundo caminho que é o caminho “interno” cuja seqüência é a interna, ou seja a dos números que formam a dízima periódica 142857. Esse caminho indica a direção e o fluxo de influências dentro da própria estrutura.
O caminho externo, portanto, é fundamentado pela Lei das Oitavas, enquanto que o interno o é, pela Lei de Três. Analisando cada ponto em separado, pelo caminho interno, notamos que ele se liga à outros 2 pontos. Cada um desses pontos irá interagir com o ponto de análise, de forma a complementar o evento, seja mandando ou recebendo energia. O ponto central é o local onde as informações são recebidas, elaboradas e enviadas para o próximo ponto, gerando uma energia adicional que dará condições para a continuação do processo.
Podemos tentar entender isso usando o eneagrama dos dias da semana. Cada dia liga-se, pelo caminho interno, à outros 2 pontos. Assim, na segunda feira eu recebo as influências dos acontecimentos da sexta feira da semana passada e que repercutirão na próxima quarta feira. Portanto, o ponto central é o Neutralizador do processo, uma vez que é aí que se pode interferir e causar modificações, colocando ou retirando energia para que a oitava (caminho externo) se feche.
Se o ponto central é o ponto onde devemos interferir, isso significa que ele representa o momento presente. E neste instante, temos a possibilidade de estarmos interligados com o passado e o futuro ao mesmo tempo. Assim, dizemos que cada evento ocorre simultaneamente no passado-presente-futuro. Devemos compreender que o passado já se foi e que o futuro ainda não existe. Assim sendo, o único momento que realmente conta é o momento presente; ele existe como uma continuação do passado e poderá evidentemente, determinar os acontecimentos futuros. Com a ajuda do eneagrama podemos localizar que lugar do passado e do futuro devemos analisar, interferir ou não, para realizar algo desejado, com eficiência e com o menor dispêndio de energia possível. A energia que sobra, poderá então ser utilizada para os pontos de choque das oitavas paralelas.
O eneagrama também é usado associado à técnica dos “Movimentos” (ver Técnicas do Quarto Caminho). Gurdjieff enfatizava muito essa técnica onde os Movimentos eram feitos em grupo e seguiam o caminho interno, externo ou ambos, dependendo do Movimento. Um exemplo disso é o Eneagrama das Emoções onde a cada ponto se associa um postura física com a geração de uma emoção, sendo que nos pontos de choque as emoções associadas são caracterizadas por uma “estranheza” em termos das emoções do Centro Motor. Geralmente são emoções não-polares e possibilitam a oportunidade do indivíduo desenvolver novas “atitudes emocionais” frente a si mesmo e à realidade. Além da seqüência externa das emoções temos também uma interna, onde observamos como cada emoção influencia e é influenciada pela emoção seguinte.
Além disso, o eneagrama também está associado a cerimônia de “Giros Dervixes” em algumas Ordens Sufis, onde 9 dervixes se situam nos 9 pontos do eneagrama. Os praticantes desse tipo de ritual buscam compreender o eneagrama através da “dança consciente”, pois é durante a prática que surgem a eles os insights básicos que revelam os segredos desse símbolo.
Inicialmente, o eneagrama parece ter sido usado apenas em situações de aprendizado, seja pelos indivíduos envolvidos, por grupos ou para analisar a própria estrutura da Escola ou ensinamento. Atualmente, com a crescente divulgação dos trabalhos de Gurdjieff e de seus discípulos, o eneagrama passou a ser aplicado em outras áreas tais como, a psicologia, com a teoria dos “tipos psicológicos” (com Oscar Ichazo, Claudio Naranjo) ou em atividades empresariais. Porém ele pode ser aplicado em todos os fenômenos observados pois segue leis que permeiam a vida como um todo, apesar de isso ser apenas um subproduto. O principal é o conhecimento de Si Mesmo.
Vários autores se dedicaram intensamente ao estudo desse símbolo e suas aplicações práticas, como por exemplo I.B. Popoff (1978) e J.G.Benett (1983).

domingo, 22 de junho de 2014

O Eclipse solar de 29/04/2014

Na postagem A Cruz Cardinal - Tensão Coletiva à Vista.... falamos dos dois eclipses inseridos nesse período abrangido pela cruz, cujas influências se adicionavam aos seus efeitos da fundo. Resolvemos não postar nada sobre os eclipses, mas mudamos de ideia a partir do fato de que os eclipses, principalmente o solar, agregam um elemento de incerteza e imprevisibilidade nos fenômenos até outubro de 2014. Então vamos falar um pouco para os interessados nos eclipses .
No dia 29 de abril de 2014 (terça feira) ocorreu então o eclipse solar, no grau 8 de Touro, às 3:14 hs, e as tendências desse fenômeno terão validade até 23 de outubro. Touro está ligado à capacidade de mantermos o foco e a persistência, simbolizando uma semente que precisa ser regada e adubada com constância.
Como o próprio fenômeno simboliza algo incomum, o período do eclipse também tende a sinalizar acontecimentos inesperados e reviravoltas. As pessoas podem mudar de comportamento, situações podem se inverter, bem como pode haver descobertas."Como o próprio fenômeno simboliza algo incomum, o período do eclipse também tende a sinalizar acontecimentos inesperados e reviravoltas. As pessoas podem mudar de comportamento, situações podem se inverter, bem como pode haver descobertas."
Por isto, tende a ser uma fase de mexidas (mudanças). E elas tendem a acontecer nos assuntos regidos pelos signos envolvidos com o eclipse - no caso do eclipse solar, Touro - e também no Mapa Astral da pessoa, pelas casas nas quais eles acontecem.
Por exemplo, na Casa nove do Mapa pode ser um indicativo de que o indivíduo precisará se manter fiel (Touro) às suas aspirações (Casa nove), além de fazer algo de concreto por elas. Se ocorrer na Casa doze, pode trazer uma temática do sacrifício (casa doze) que constrói (Touro), como é o caso de estudos que nos obrigam a ficarmos isolados por um tempo (algo ligado à casa doze), a fim de atingirmos um objetivo.
Os eclipses estão dentre os fenômenos astronômicos que mais despertam a curiosidade. Imagine o impacto que o Sol ou a Lua sendo ocultado causava no passado, especialmente quando o eclipse era total. Eclipses ocorrem quatro vezes por ano. Quando a Lua é eclipsada, denomina-se de eclipse lunar. Quando o Sol é ocultado, trata-se de eclipse solar. Os eclipses podem ser de visibilidade total ou parcial. São muito observados na Astrologia Mundial, ramo que se ocupa de previsões para regiões e países. As áreas onde os eclipses são totais são consideradas como mais prováveis de os efeitos astrológicos do eclipse serem mais visíveis. E que efeitos seriam estes?
OCULTAÇÃO PRODUZ DÚVIDAS
O eclipse mexe com a ordem natural das coisas. Quando a Lua era totalmente ocultada, por exemplo, provocava nos povos antigos um misto de angústia e curiosidade. O próprio ato de ocultar está ligado a um mistério. Assim, o significado primordial do eclipse é a incerteza. Tudo parece ficar incerto, em suspense, cerca de três semanas antes e depois do eclipse.
O eclipse também gera uma tensão inconsciente, até por juntar Sol e Lua, dois planetas essenciais na Astrologia. Em razão desta tensão, situações críticas têm mais chance de transbordar. Exemplo: em um relacionamento já com problemas, na época do eclipse pode ocorrer uma crise mais séria. É mais difícil manter a racionalidade (Sol) e o balanço emocional (Lua) neste período, que requer um esforço muito maior para se obter equilíbrio e raciocinar. Há uma forte tendência à precipitação, que pode gerar acontecimentos.
ECLIPSE DA LUA TERÁ VALIDADE ATÉ 8 DE OUTUBRO
Na madrugada do dia 15 de abril ocorreu também um eclipse total da Lua em todo o território brasileiro. Porém, mesmo quando esteve totalmente encoberta pela sombra da Terra, a Lua não desapareceu do céu: apenas ficou menos brilhante e coloriu-se de um tom avermelhado, naquilo que se chama de "Lua vermelha" ou "Lua de sangue". A explicação para o fenômeno tem a ver com o fato de que a atmosfera da Terra atua como uma grande lente, cuja particularidade é espalhar mais a luz azul. Isto explica, por exemplo, porque o Sol fica mais avermelhado ao entardecer.
O fenômeno gerou discussão na Internet, tanto pelo tom da Lua, como por ser o início de uma tétrade - que é um conjunto de quatro eclipses totais da Lua em um espaço de dois anos. A tétrade chama a atenção porque não ocorre com frequência. No nosso século, acontecerão somente oito. A de abril de 2014 foi a segunda. A terceira irá ocorrer entre os anos de 2032 e 2033. Todo fenômeno astronômico que não é frequente produz expectativas, especulações e superstições também, especialmente esta tétrade que coincide com o Pessah Judaico, cujo calendário é sabidamente lunar.
O eclipse lunar de 15 de abril ocorreu no grau 25 de Áries. Seus efeitos durarão até a ocorrência do próximo eclipse lunar, no dia 8 de outubro."O eclipse lunar de 15 de abril ocorreu no grau 25 de Áries. Seus efeitos durarão até a ocorrência do próximo eclipse lunar, no dia 8 de outubro."
Ao ativar o eixo Áries/Libra, vai levantar reflexões ligadas à individualidade, autonomia e coragem, ou seja, aquilo que depende de você (Áries), mas também sobre relacionamentos e parcerias (Libra). Como se trata de um eclipse lunar, instigará a ter novas posturas e atitudes em relação a isto. Em razão de o Sol estar em Áries, cobrará mais aquilo que depende de você, ao estilo: "o que eu posso/devo fazer para mudar isto?".
COMO SE PREPARAR PARA UM ECLIPSE?
Como o eclipse é detonador de situações de crise, pode ser potencialmente complicado para circunstâncias precárias e que envolvam algum tipo de dependência. Por isto, pede mais cuidado e que se evitem comportamentos imprudentes, a menos que você tenha aquilo que se chama de plano de contingência para lidar com imprevistos.
Por exemplo, se você está alugando um quarto e a relação com o proprietário não estiver muito boa, pode ser que de uma hora para outra se agrave, devido a algum acontecimento que vai gerar divergência. E você poderá ter que procurar um novo lugar. Se você estiver no limite das finanças, esta situação ficará ainda mais complicada se você não puder fazer a mudança de pronto ou não tiver programado para onde ir.
Devido ao aumento da tensão emocional em época de eclipse, pode ser um bom momento para procurar por terapia e aconselhamento."Devido ao aumento da tensão emocional em época de eclipse, pode ser um bom momento para procurar por terapia e aconselhamento."
No entanto, tudo é mais delicado, também. É como se o inconsciente estivesse em ebulição e as coisas não ficassem totalmente claras.
DIFERENÇAS DE SIGNIFICADO ENTRE ECLIPSE SOLAR E LUNAR

No eclipse lunar, a Lua é eclipsada. A Lua para a Astrologia tem a ver com o passado e com o sentido de segurança, é isto que fica mais precário nesta fase. As pessoas ficam com mais medo e mais reativas. Saber desta maior insegurança pode ser um importante diferencial para lidar com pessoas e situações. O eclipse lunar também pode fazer as pessoas saírem da sua zona de segurança (Lua). Algo em que se apoiavam ou com o que contavam pode ser temporária ou definitivamente alterado. Exemplo: a empregada da casa comunica que vai precisar pedir demissão porque quer morar com a filha em outro estado. Independente de como estava a relação, o sentido do habitual (Lua) é que está sendo mexido.
No eclipse solar, o Sol é que fica obscurecido. O Sol, na Astrologia, rege o futuro e o poder de escolha. A Lua se sobrepõe ao Sol, por isto eclipses solares podem trazer um retorno do passado."No eclipse solar, o Sol é que fica obscurecido. O Sol, na Astrologia, rege o futuro e o poder de escolha. A Lua se sobrepõe ao Sol, por isto eclipses solares podem trazer um retorno do passado."
É possível que seja a volta de um antigo amor ou o retorno de algum hábito de outra época (positivo, como caminhar ou correr, ou negativo, como fumar). O ex-patrão pode fazer uma proposta de retorno. A pessoa pode resolver sair do aluguel e voltar a morar com os pais. Ou então eventos menores, como possibilidade retomar um contato com um velho amigo que aparece para visitar.
Apesar de o eclipse ter uma atuação particularmente forte nas imediações da data em que ocorre, em Astrologia se diz que um eclipse ainda tem cerca de seis meses para se manifestar em pequenos ou grandes eventos, até que venha outro de mesma natureza (solar ou lunar), ocorrendo em novo grau, acionando a mesma casa ou não.

Extraído do site Constelar

domingo, 15 de junho de 2014

A Roda Da Vida - 2

Na postagem A Roda da Vida falamos deste conceito no budismo. Hoje vamos continuar a partir de textos didáticos e simples dos lamas Samten e Chagdud compilados por Kalma Tenpa Dharguye:

A Roda da Vida (sânsc. Bhavachakra), também conhecida com a Roda da Existência, Roda do Devir e do Vir-a-ser, foi criada pela extinta escola Sarvastivada, precursora do buddhismo Mahayana. Este diagrama geralmente é encontrado nas portas de entrada dos monastérios tibetanos. Suas ilustrações representam simbolicamente a os doze elos da existência interdependente, os seis reinos da existência cíclica e os três venenos da mente. Segundo a tradição, a Roda da Vida foi desenhada pela primeira vez na época do Buda Shakyamuni. Depois de pedir um conselho ao Buda, o diagrama teria sido desenhado por ordem do rei Bimbisara de Magadha. Ele o enviou ao rei Udayana em retribuição a um manto de jóias preciosas que tinha recebido de presente. O rei Udayana teria atingido uma profunda realização espiritual após estudar este diagrama.

A assustadora figura que segura a roda é Yama, o demônio da morte da mitologia indiana. Aqui, sua terrível presença simboliza a impermanência; nenhum ser vivo pode escapar de suas garras. Entretanto, o Buda está flutuando no céu e apontando para a lua cheia; isto representa que os seus ensinamentos apontam o caminho para a liberação.

A maioria das pessoas vive negando a morte; praticantes budistas vivem com a constante consciência de sua existência. A morte, para eles, é uma poderosa diretriz para encontrar o significado essencial da vida. Na prática Vajrayana tibetana, os símbolos da morte — copas de crânio, tambores de crânio, trombetas de fêmur, malas [rosários] de osso, dançarinos em indumentárias que simbolizam esqueletos — nos relembram nitidamente de sua proximidade. A utilização de tais implementos durante os rituais não quer dizer que os praticantes Vajrayana sejam insensíveis à morte, ou que não se aflijam com a morte de familiares e amigos, porém o cheiro e a textura de ossos envelhecidos, por exemplo, evocam o pensamento: "Sim, eu também terminarei como ossos espalhados ou cinzas num cemitério. Possa eu usar bem este corpo e não desperdiçar o tempo que me resta". (Chagdud Khadro, Práticas Preliminares do Budismo Vajrayana)

Na borda da roda, doze ilustrações representam os “Doze elos da existência condicionada”:

3 ELOS DA VIDA PASSADA:

  • Uma velha mulher cega, andando com uma bengala, representa a ausência de visão ou ignorância;
  • Um oleiro fazendo um pote representa as formações mentais;
  • Um macaco pulando de galho em galho representa a consciência;
7 ELOS DA VIDA ATUAL:

  • Um barco com duas pessoas representa o nome e forma;
  • Uma casa com seis janelas representa o conjunto dos seis sentidos;
  • Um casal se abraçando representa o contato;
  • Um homem ferido por uma flecha no olho representa a sensação;
  • Um homem tomando uma bebida representa o desejo;
  • Um homem ou um macaco agarrando uma fruta em uma árvore representa o apego;
  • Uma mulher grávida representa a existência;
2 ELOS DA VIDA FUTURA:

  • Uma mulher dando à luz representa o nascimento;
  • Uma pessoa carregando um cadáver representa o envelhecimento e morte.
A parte principal da roda é dividida em seis partes, representando os seis reinos da existência cíclica (sânsc. samsara).

Na parte de baixo, estão os três reinos inferiores:
  • seres dos infernos (sânsc. naraka, nairayika);
  • fantasmas famintos (ou espíritos carentes, sânsc. preta);
  • animais (sânsc. tiryak, tiryagyona).

Na parte de cima, estão os três reinos superiores:
  • deuses (sânsc. deva);
  • semideuses (ou deuses invejosos, titãs, sânsc. asura);
  • humanos (sânsc. manushya).

Existem seis reinos onde nós podemos ter renascimento, um deles é o reino humano. Cada reino tem um âmbito de experiência específico, ainda assim podemos vivenciar em corpo humano — embora com muito menos intensidade — as experiências dos seis reinos. Por exemplo, o reino dos infernos é vivido por nós através da experiência de que todas as pessoas que nos cercam são ruins, o filho, o marido, o chefe... Para todo lado que olhamos as coisas são difíceis e só há sofrimento. Através da raiva e da aversão nos conectamos com esse reino. No reino dos seres famintos há uma experiência de carência incessante, eles têm sempre muito pouco diante do que sentem que necessitam. Nos conectamos a essa experiência através da avareza e aquisitividade. Assim como nos infernos, esses seres também não praticam. Os seres nos infernos dizem: "estou sofrendo, tudo é horrível, como eu vou praticar?" Os seres famintos dizem "eu preciso disso e disso, como posso praticar?". Depois há o reino dos animais, eles não praticam porque tão logo eles estejam com suas necessidades satisfeitas, de barriga cheia, dormem. Assim, também não ouvem o Dharma.

Entre os reinos superiores, há os deuses. Não é o reino de Deus, mas dos deuses. No reino humano isso corresponde àqueles que andam de carro importado, jatinho, não tem problemas de dinheiro, desfrutam de todas felicidades do mundo material. Os deuses têm corpos específicos sutis, se deslocam no espaço e produzem benefícios para os seres humanos em dificuldades. O problema é que são benefícios condicionados, e não do tipo que produz liberação. Esse reino é o que os seres humanos buscam em seus sonhos, é a sua perdição... Vivemos almejando chegar lá, trabalhando para isso, ou sonhando com isso. Nos conectamos com esse reino através do orgulho.

Já os semi-deuses têm poder, mas são competitivos e invejosos; passam o tempo todo combatendo. A conexão se dá através da inveja. Os deuses não praticam porque estão imersos em facilidades e felicidades, então, por quê praticar? Os semi-deuses, como estão sempre guerreando, também não têm tempo para praticar.
 (Padma Samten, Prática na Vida Cotidiana)
  
Não é um processo que necessariamente precise ser monitorado. As ações se desenrolam do seu próprio modo, sem que ninguém controle o resultado. Não é como se alguém tivesse que contabilizar tudo para que cada qual fosse parar no reino certo, etc. As ações de cada ser determinam as experiências futuras desse ser. [...]

A idéia de que podemos vivenciar estes reinos de sofrimento que chamamos de infernos deixa muitas pessoas céticas ou enraivecidas. Elas não acreditam em inferno; pensam que este conceito não passa de uma tática que algumas religiões empregam para assustar e controlar as pessoas. Em certo sentido, é verdade que o inferno não existe. Se fizermos uso de toda a tecnologia do mundo para tentar chegar ao centro da Terra, nunca acharemos o inferno. No entanto, muitos seres estão sofrendo no reino dos infernos neste exato momento.

O inferno é o fluxo dos enganos e fantasias da mente, dos pensamentos e interações raivosos, e das palavras e ações nocivas que eles produzem. Se não forem controlados, não há como deixarmos de vivenciar o inferno. [...] Algumas pessoas experimentam o inferno mesmo enquanto contam com um corpo humano. Muitas delas ocupam nossos hospitais. [...] Poderíamos estar sentados no mesmo quarto que elas, e não enxergar nada do que sofrem. Ao mesmo tempo, podemos estar bem ao lado de um grande meditador que vivencia o céu, a terra pura, sem que nós mesmos enxerguemos isso. [...]

Embora grandes meditadores consigam vislumbrar outros reinos, nós não temos prova absoluta sequer de que o nosso mundo fenomênico humano exista além das nossas mentes individuais e coletivas. Ainda assim, da mesma forma que tomamos nossos sonhos como reais enquanto estamos dormindo, consideramos real o nosso reino humano. E os cinco outros reinos são tão reais para os seres que neles existem quanto a nossa experiência é para nós. O inferno parece tão real para um ser no inferno, o reino dos fantasmas famintos tão real para um fantasma faminto, quanto o reino humano para nós. Em última análise, o sofrimento provém não dos fenômenos desses reinos, mas do fato dos seres conferirem realidade a eles. Assim, não é contraditório dizer que nossa experiência é real ou verdadeira, e ao mesmo tempo falsa. Nem é contraditório dizer o mesmo de qualquer outro reino. Se insistirmos que o reino humano é real, então todos os demais reinos são reais, porque os seres que neles existem os experimentam como reais. [...]

Quando tomamos consciência do sofrimento e das limitações da existência cíclica, passamos a ter motivação para encontrar uma saída, da mesma forma que, quando nos damos conta de que estamos doentes, buscamos algum remédio. Ao compreender que a virtude e a não-virtude determinam se a nossa experiência será de felicidade ou tristeza, prazer ou dor, cabe-nos uma escolha: podemos mudar nossas ações e cultivar qualidades virtuosas, buscando a liberação para nós mesmos e para os outros seres, ou podemos continuar a criar não-virtude, perpetuando sofrimento sem fim.
 (Chagdud Tulku Rinpoche, Portões da Prática Budista)
  
No centro da roda há três animais que representam os três venenos (sânsc. klesha) da mente, a origem dos seis reinos e dos doze elos: o desejo (apego) é representado por um galo; o ódio (aversão) é representado por uma serpente; e a ignorância (conhecimento errôneo), a fonte dos outros dois venenos, é representada por um porco ou javali. O galo e a serpente geralmente aparecem saindo da boca do porco, indicando que o apego e a aversão surgem da ignorância. Ao transcendermos estes três venenos, podemos nos libertar do sofrimento dos seis reinos e extinguir os doze elos que nos prendem a ele.

Ao redor do círculo com estes três animais, há dois semicírculos que representam a virtude e a não-virtude. O semicírculo negro representa o karma negativo, que conduz aos reinos inferiores. O semicírculo branco representa o karma positivo, que conduz aos reinos superiores.

Observando a roda da vida, é possível contemplar os quatro pensamentos que transformam a mente: a preciosidade do nascimento humano, a impermanência, o karma e o sofrimento. Esta contemplação é muito eficaz para despertar a compaixão, o amor, a alegria e a equanimidade.

Os humanos têm maior vantagem. As nossas felicidades e sofrimentos não são tão duradouras. E quando cruzamos de uma felicidade para uma infelicidade, buscamos os ensinamentos. Isso é a vida humana comum. Ainda assim ela é muito rara. Se compararmos a nossa vida com outros seres, eles são muito mais numerosos. O corpo humano é raro e improvável. Como nós somos geridos pelo karma, o nosso renascimento é construído pela nossa condição kármica. Nós não conseguimos dirigir esse processo. É como a tartaruga cega, que a cada cem anos vêm à superfície do oceano, de águas revoltas, onde há um aro boiando. O renascimento humano é tão improvável quanto esta tartaruga, justamente no momento em que sobe à superfície, conseguir colocar sua cabeça dentro do aro que estava boiando.

A nossa condição humana hoje é favorável. Os seres humanos têm a possibilidade de praticar. Temos a liberdade de olhar nossos impulsos e perceber aspectos mais sutis. Temos tempo livre. Isso significa méritos. Já a "vida humana preciosa" tem características peculiares que transcendem em muito a vida humana típica. Quando vivemos em épocas em que os seres de luz não se manifestam, nos sentimos perdidos e a vida parece sem sentido. Na época atual os seres de sabedoria vieram; vieram e deram ensinamentos que foram guardados e transmitidos. Esses ensinamentos chegaram até nós e estamos numa região onde esses ensinamentos existem. Além disso, temos sensibilidade para ouvi-los. Dizem que há uma vida humana preciosa quando, além desses fatores, estamos engajados em transformar a nossa vida a partir dos ensinamentos dos seres de sabedoria. Se estivéssemos sob domínio de seres negativos, ou se tivéssemos um modo de ação incorreta, não conseguiríamos ouvir os ensinamentos. Se não estamos sob essas condições, isso completa as características da vida humana preciosa. Se a vida humana é numerosa como as estrelas no céu noturno, a vida humana preciosa é tão rara quanto estrelas que são vistas no céu diurno. A pessoa está engajada em produzir benefícios para todos os seres.

O segundo pensamento é sobre a impermanência. Todas as coisas são impermanentes. Nós estamos sempre buscando o que é estável, mas nos enganamos. Onde estão os meus amigos "inseparáveis" da escola? A gente nem sabe onde eles estão hoje. Onde está a casa da nossa infância? A nossa mãe, pai, irmãos? O primeiro namorado, que foi maravilhoso, mas sumiu. A nossa experiência é de instabilidade e transformação constantes. Se diz no buddhismo que o planeta Terra vai desaparecer. O que dizer então das nossas pequenezas? Estamos aqui por um curto espaço. Esse ensinamento vem para aprendermos a olhar com o olho correto à cada momento. O olho incorreto é pensar que tudo é estável. Quando entendemos a preciosidade da nossa vida, e a usamos para produzir benefícios aos outros seres, este é o sinal de que os ensinamentos produziram as transformações que buscávamos. A seguir, o karma. Estamos sujeitos a impulsos internos com os quais não podemos lidar. Esses impulsos produzem as dez ações não-virtuosas ou as correspondentes dez ações virtuosas. As ações virtuosas vão produzir experiências favoráveis — isso também é karma, karma favorável ou positivo, mérito. São experiências de felicidade condicionada. O karma se manifesta em quatro níveis: imediato, a curto, médio e longo prazo. Por exemplo, se desejamos que alguém morra, naquele exato instante estamos esquecidos da nossa condição búddhica, luminosa, perfeita, e isso já é sofrimento. O de curto alcance, é que de novo e de novo vemos a morte de alguém como solução para nossos problemas. O de médio alcance vai se prolongar por essa vida e por outras: a pessoa não se sente digna, sente-se impura por dentro, inferior, e tem uma marca de aversão pelos outros.

Pior que pensar é planejar como fazer. Aí a perturbação se intensifica. A pessoa vai ter sentimentos mais perturbadores, pode começar a ter pesadelos. Se fez isso e executou, a experiência que é muito intensa, vai haver uma intranqüilidade muito grande. E se o ser morreu, é pior ainda. Ela vai se sentir perseguida. Por um longo tempo vai sofrer. Então temos essas quatro etapas kármicas que acompanham cada ação.

Nós temos uma multiplicidade de possibilidades tanto positivas quanto negativas. Tanto uma quanto outra são condicionadas, podem flutuar, estamos sempre pulando de um ponto para outro. Estamos presos nisso, é automático. Esses impulsos estão a nosso serviço, mas quando eles começam a andar por si, são karma. Temos vários mecanismos condicionados, o nosso cabelo cresce, as unhas crescem, sem que a gente faça alguma coisa. E por causa do karma surge a etapa seguinte, o quarto pensamento, que é o sofrimento. Sempre que operamos com referenciais duais, o sofrimento é inevitável. Aí surge o pensamento final que é: eu gostaria de me liberar disso, revelar minha natureza luminosa, usar de forma positiva as relações que estou vivendo, beneficiar os seres.

Em meio às confusões do mundo e tendências kármicas, toda vitória que podemos ter é como vitória no campo de futebol, frágil, impermanente. Agora mudamos, queremos descobrir a nossa natureza completa. Quando olhamos na vida, a nossa vontade de mudar é testada várias vezes, isso é prática espiritual. Aí nossa paisagem ao redor se transforma de samsara, lugar de sofrimento e enganos, em terra pura, que é onde praticamos, recebemos ensinamentos e nos sentimos protegidos pelos seres de sabedoria.

Os Budas olham o que chamamos de samsara e vêem a perfeição que ali existe. Somos como formigas num palácio, não conseguimos reconhecê-lo com nossos olhos de formiga. Há, então, uma longa etapa de transformação dos nossos olhos, até que possamos reconhecê-lo. Em geral, não conseguimos perceber o valor do benefício real que estamos recebendo. Paralelamente ao processo de transformação das tendências kármicas, o Buda ensinou a prática ininterrupta das "quatro qualidades incomensuráveis", que são o método positivo de manifestação no cotidiano solucionando as confusões e conflitos.

A primeira é a compaixão, o desejo que os seres realizem sua natureza interna e se livrem de suas complicações. Essencialmente é o desejo que o outro supere suas dificuldades e possa melhorar. Atenção: compaixão é diferente de ‘pena’. Quando temos pena, estamos validando a imagem que a pessoa faz de si mesmo, e justamente por isso ela está mal. Compaixão é reconhecer no outro a sua natureza estável, perfeita, de luz, sua condição verdadeira, quebrando o encanto dos jogos que estão produzindo as complicações. A segunda é o amor, o desejo que o outro seja feliz, completamente. Não exclui ex-maridos, ex-esposas, ex-sócios... Depois a alegria, a capacidade de se alegrar com as alegrias e vitórias dos outros, pequenas ou grandes. É um poderoso antídoto contra a inveja. Finalmente a equanimidade: perceber as flutuações das alegrias e tristezas da vida; num momento se tem uma grande alegria, em outro aquilo mesmo vira uma grande tristeza. Surge uma serenidade estável frente a essas flutuações e uma fé permanente, inabalável na natureza de todos os Buddhas, que é a sua própria natureza.

O Buddha ensinou também os meios de produzir felicidade nas relações humanas: casamento, namoro, filhos, trabalho, estudo. Em primeiro lugar, ao invés de pensar ‘o quê vou obter do outro’, pensar ‘o que posso oferecer’. Alegrar-se em oferecer! Se estivermos na dependência do comportamento do outro para obter felicidade, eventualmente pode até funcionar, mas quando surgir a impermanência e o outro flutuar, entramos em crise. S.S. o 14º Dalai Lama, prêmio Nobel da Paz, sempre brinca, ‘que tipo de amor é o de vocês, aquele que só existe se o outro sorrir?’ Esse tipo de amor está baseado em quanto estamos recebendo e, por isso, é frágil. Praticando assim, podemos usar a vida cotidiana como caminho espiritual, superando os conflitos internos e trazendo benefícios a todos os seres. Alegria!
 (Padma Samten, Prática na Vida Cotidiana)

Lembre-se que, nos infernos inferiores, os seres queimam como o sol, e que nos infernos superiores, eles congelam. Lembre-se de como os fantasmas e espíritos sofrem com a fome, a sede e o ambiente. Lembre-se de como os animais sofrem as conseqüências de sua estupidez. Abandone as causas kármicas de tais misérias e cultive as causas da alegria. A vida humana é rara e preciosa; não faça dela uma causa para o sofrimento. Tome cuidado; use-a bem.
(Nagarjuna, citado em Path to Enlightenment)

Adaptado da página: www.dharmanet.com.br


domingo, 8 de junho de 2014

Por Que Existe Vida?

Por Que Existe Vida? 
- Osho, eu nunca fui capaz de encontrar resposta para essa pergunta. É uma pergunta estúpida, mas mesmo assim eu queria muito saber a resposta.
Você poderia nos dizer qual é o propósito da criação? Por que a vida existe? Por que todas as coisas existem? Eu não acredito que seja acidental.

- "Patrick, a pergunta é certamente estúpida...  Você está absolutamente certo a respeito disso. E a pergunta não é respondível. Qualquer pessoa que respondê-la irá somente criar alguns questionamentos a mais em você. Você não foi capaz de encontrar qualquer resposta porque não existe resposta. A vida é um mistério, por isso essa pergunta não pode ser respondida. Você não pode perguntar o porquê. Se o porquê for respondido, a vida deixa de ser um mistério. 
        Esse é todo o esforço da ciência: destruir o mistério da vida. E a maneira é encontrar respostas para todos os porquês.  E a ciência acredita, naturalmente com arrogância e ignorância, que um dia ela será capaz de responder a todos os porquês. Isso não é possível. Mesmo se nós respondermos a todos os porquês, o último dos porquês permanecerá: por que a vida existe, afinal? Qual o significado da existência? Qual é o propósito de tudo isso? Essa pergunta é a última e ela não pode ser respondida.
        Se alguém lhe der uma resposta, ela simplesmente irá criar um novo questionamento. E respostas já têm sido dadas... Algumas pessoas acreditam que Deus criou o mundo porque queria ajudar a humanidade. Agora, que tipo de resposta é essa? Ele criou a humanidade para ajudar a humanidade. Qual era a necessidade de criar? Alguns outros dizem que Deus criou o mundo porque ele estava se sentindo muito solitário. Se Deus estava se sentindo mal muito só, então não existe qualquer possibilidade de alguém se tornar um Buda.
        E se Deus de repente começou a se sentir solitário, então o que ele estava fazendo antes de criar o mundo? Por toda a eternidade ele tem estado só... então de repente , num dia, numa manhã, ele ficou enlouquecido, ou o que? De repente ele começou a se sentir solitário depois do almoço. E qual era a necessidade de criar todo o mundo? Apenas uma mulher já teria sido o suficiente!
        E agora, como ele está se sentindo hoje? Muito cheio de gente? Gente em demasia pelas ruas? Deve estar planejando destruir o mundo em breve. Sobre que tipo de Deus você está falando? O seu Deus é uma pessoa que pode se sentir solitário?
        Todas essas são respostas tolas para perguntas tolas. 
        Então existem pessoas que dirão: isso é um jogo de Deus, a sua brincadeira. Ele não poderia ter ficado sentado em silêncio? Que espécie de jogo é esse? Adolf Hitler e Mussolini e Joseph Stalin e Mao-Tse-Tung, Gengis Khan, Tamurlaine, Nadir Shah... Brincadeira de Deus? Seis milhões de judeus assassinados por Adolf Hitler, e Deus está brincando com um jogo? Por que ele não vai jogar golfe? ou xadrês? Por que torturar pessoas? Tanta miséria no mundo e esses tolos seguem dizendo que isso é brincadeira de Deus? Crianças que nascem paralíticas, cegas, surdas, mudas... Brincadeira de Deus? Que espécie de Deus é esse? Ou ele não é Deus, ou pelo menos ele não é divino. Ele deve ser muito mau.
        Essas perguntas não ajudam. Elas criam mais perguntas. Patrick, o máximo que eu posso dizer é que a vida não tem propósito algum, ela não pode ter qualquer propósito.
        Todos os propósitos estão no meio da vida. Sim, um carro tem um propósito: ele pode levá-lo de um lugar ao outro. O alimento tem um propósito: ele pode nutri-lo, ele pode mantê-lo vivo. Uma casa tem um propósito: ela pode lhe dar abrigo quando está chovendo e quando está quente. As roupas têm propósito... Todos os propósitos estão dentro da vida, mas a vida em si mesma não pode ter qualquer propósito porque ela não é um meio para algum fim. Um carro é um meio, a casa é um meio.
      A vida não tem qualquer objetivo, a vida não está indo para lugar algum. A vida está simplesmente aqui! Ela nunca foi criada. Esqueça essa idéia de criação. Isso cria muitas perguntas estúpidas na mente. Ela nunca foi criada, ela sempre esteve aqui e ela sempre estará aqui. Com formas diferentes, de maneiras diferentes, a dança continuará. Ela é eterna. Ais dhammo sanantano - assim é a lei última.
        Não há qualquer propósito e essa é a beleza da vida. Se houvesse alguns propósitos, então a vida não seria tão bonita, então haveria uma motivação, então ela seria como um negócio, então ela seria muito séria. Olhe para as rosas, para as flores de lótus, para os lírios. Qual o propósito? O lótus de manhã cedo, o sol nascendo, o cuco começando a cantar...Qual o propósito? Isso não é intrinsecamente lindo? Todas as coisas precisam de propósitos fora de si mesmas?
        A vida é intrinsecamente linda. Ela não tem qualquer propósito extrínseco. Ela não é propositada. Ela é exatamente como uma canção de um pássaro na escuridão da noite, ou o som da água, ou o som do vento passando através dos pinheiros...
        O homem é voltado para objetivos. E porque a sua mente é voltada para objetivos, ela cria perguntas como esta: "Qual o objetivo da vida? Deve haver algum objetivo." Mas se alguém disser, "esse é o objetivo da vida", então você irá perguntar: "Qual o objetivo desse objetivo? Por que nós devemos alcançá-lo? A que propósito ele irá servir?" E se alguma outra pessoa disser "Esse é o objetivo desse objetivo", as mesmas perguntas irão surgir novamente e você vai voltar ao mesmo ponto, ad infinitum. 
      Você me pergunta: "Você poderia nos dizer qual é o propósito da criação?"
      O mundo nunca foi criado. A palavra "criação" não é correta. O mundo sempre esteve aqui, ele é eterno. Não existe criador. Deus não é o criador do mundo. Deus é a própria energia criativa da existência. É mais criatividade do que um criador. Ele não é o poeta, mas sim a poesia; não o dançarino, mas a dança; não a flor, mas a fragrância.
        Você me pergunta: "Por que a vida existe?"
        Essas perguntas parecem muito filosóficas, e podem torturá-lo muito, mas elas são absurdas. É como perguntar "Qual o sabor da cor verde?" Isso é irrelevante. A cor verde não tem qualquer sabor. Cor e sabor não estão relacionados absolutamente. "Por que a vida existe?" Veja que as palavras "vida" e "existência" significam a mesma coisa. Isso é tautologia. Você está perguntando: "Por que a vida é vida?" Assim fica mais claro para você. Mas quando você pergunta "Por que a vida existe?", as palavras enganam você.
        Você está perguntando "Por que a vida é vida?". Você está perguntando "Por que uma rosa é uma rosa?" Você ficaria satisfeito se uma rosa fosse uma margarida? Então você poderia perguntar "Por que uma margarida é uma margarida?" De que maneira você fica mais satisfeito? 
        Se a vida não existir, você ficará mais satisfeito? Simplesmente imagine você mesmo sem o corpo, sem a mente, um fantasma perguntando "Por que a vida não existe? O que aconteceu com a vida? Por que ela desapareceu?". Essas perguntas sempre irão persistir e perseguir você.
        A vida é um mistério. Não existe qualquer porquê, qualquer propósito, qualquer razão. Ela está simplesmente aqui. Aproveite-a ou abandone-a, mas ela está simplesmente aqui. E estando ela aqui, por que não aproveitá-la? Por que desperdiçar seu tempo filosofando? Por que não dançar, cantar, amar e meditar? Por que não se aprofundar mais e mais nessa coisa chamada "vida"?  Talvez no centro mais profundo você irá saber a resposta. Mas a resposta vem de uma tal maneira que ela não pode ser expressada. É como um homem mudo que experimenta açúcar. É doce, ele sabe que é doce, mas ele não consegue falar.
        Os Budas sabem, mas eles não conseguem dizer. E os idiotas não sabem e seguem falando, seguem dando respostas a você. Os idiotas são muito espertos nesse sentido de encontrar, de fabricar, de manufaturar respostas. Faça qualquer pergunta e eles terão uma resposta para você.
        Quando Gautama Buda costumava viajar por este país de um lugar a outro, alguns poucos discípulos iam à frente e anunciavam na cidade: "Buda está chegando, mas por favor não façam aquelas onze perguntas". E uma daquelas onze perguntas era "Por que a vida existe?". Uma outra era "Quem criou o mundo?" Naquelas onze perguntas, toda a filosofia estava contida. Na verdade, se você abandonar aquelas onze perguntas, nada sobra para ser perguntado. 
        Buda costumava dizer que essas eram perguntas inúteis. Elas não eram respondíveis, não porque ninguém soubesse a resposta. Elas eram irrespondíveis pela própria natureza das coisas. 
        Um grande filósofo, Maulingaputta, veio até Buda e começou a fazer algumas perguntas... Perguntas após perguntas. Buda ouviu silenciosamente por meia hora. Maulingaputta começou a se sentir um pouco embaraçado porque Buda não estava respondendo, ele estava simplesmente sentado ali, sorrindo, como se nada tivesse acontecido, e ele havia formulado perguntas tão importantes, tão significativas.
        Finalmente Buda disse: "Você realmente quer saber a resposta?"
        Maulingaputta disse: "Se eu não quisesse, por que eu teria vindo até você? Eu viajei pelo menos mil milhas para vê-lo"..."Por que eu teria vindo de tão longe? Foi um longo sofrimento. Parece que eu estive viajando por toda a minha vida! E você está perguntando se eu realmente quero saber a resposta?"
        Buda disse: "Eu estou perguntando de novo: você realmente quer a resposta? Diga sim ou não, porque irá depender muito disso".
        Maulingaputta disse "Sim!"
        Então Buda disse: "Por dois anos sente-se silenciosamente ao meu lado, não pergunte, não questione, não converse, simplesmente sente-se silenciosamente por dois anos ao meu lado. E após dois anos você poderá perguntar o que você quiser e eu prometo que irei respondê-lo."
        Um discípulo, um grande discípulo de Buda, Manjusri, que estava sentado na sombra de uma outra árvore, começou a rir muito alto e começou a rolar pelo chão. Maulingaputta disse: "O que aconteceu com esse homem? Você está falando comigo, você não dirigiu uma simples palavra a ele, ninguém disse nada para ele... Estará ele contando piadas para si mesmo?"
        Buda disse: "Vá lá e pergunte a ele".
        Ele perguntou a Manjusri. Manjusri disse"Senhor, se você quiser realmente fazer a pergunta, faça-a agora. Essa é a maneira dele enganar as pessoas. Ele me enganou. Eu costumava ser um filósofo tolo, exatamente como você. A resposta dele foi a mesma quando eu cheguei. Você viajou mil milhas e eu havia viajado duas mil milhas."
        Manjusri era certamente o maior filósofo, o mais conhecido do país. Ele tinha milhares de discípulos. Quando ele chegou, com ele vieram mil discípulos. Um grande filósofo chegando com seus seguidores.
        E Buda disse, "Sente-se silenciosamente por dois anos." E eu me sentei silenciosamente por dois anos, mas então eu não podia fazer uma pergunta sequer. Aqueles dias de silêncio... Devagar, devagar, todas as perguntas foram se desfazendo. E uma coisa eu vou dizer a você: ele manteve sua promessa, ele é um homem de palavra. Após os exatos dois anos, eu tinha me esquecido completamente, eu tinha perdido a noção do tempo, por que quem vai se preocupar em lembrar? Na medida em que o silêncio ficou mais profundo, eu perdi toda a noção de tempo."
        "Quando os dois anos se passaram, eu nem estava me dando conta disso. Eu estava curtindo o silêncio e a presença dele. Eu estava bebendo a presença dele. E isso foi tão incrível. Na verdade, no fundo do meu coração eu não queria nunca que aqueles dois anos fossem concluídos, porque uma vez que eles se concluíssem, ele iria dizer: "Agora ceda o lugar para alguma outra pessoa sentar ao meu lado, e você afaste-se um pouco. Agora você já é capaz de estar só, você não precisa tanto de mim. Exatamente como uma mãe afasta a criança quando ela pode comer e digerir por si mesma e não precisa mais se alimentar do peito materno. Assim, Manjusri disse, eu estava esperando que ele se esquecesse de toda essa história a respeito dos dois anos, mas ele se lembrou. Exatamente após os dois anos, ele me disse: "Manjusri, agora você pode formular as suas perguntas". Eu olhei para dentro de mim e não havia nenhuma pergunta, nem ninguém para formular perguntas, era um silêncio total. Eu ri, ele riu, ele deu um tapinha nas minhas costas e disse, "Agora, afaste-se um pouco."
        "Assim, Maulingaputta, é por isso que eu comecei a rir, porque agora ele está de novo aplicando o mesmo golpe. E esse pobre Maulingaputta vai se sentar por dois anos silenciosamente e vai se perder para sempre, nunca mais será capaz de formular uma pergunta sequer. Por isso, Maulingaputta, eu insisto: se você quer realmente perguntar, pergunte agora!"
        Mas, Buda disse: "Minhas condições têm que ser atendidas."
        Então, Patrick, a minha resposta para você é a mesma: atenda às minhas condições, medite, sente-se silenciosamente, simplesmente esteja aqui e todas as perguntas irão desaparecer. Eu não estou interessado em respondê-lo. Eu estou interessado em dissolver as suas perguntas. E quando todas as perguntas desaparecerem, aquele que pergunta também desaparecerá, ele não pode existir sem as perguntas. Quando nenhuma pergunta mais existir, nem aquele que pergunta... quantas bênçãos, quanto êxtase! Neste exato momento, você nem pode imaginar, você nem pode sonhar, você nem pode compreender. Então, todo o mistério da vida se abrirá, mistérios e mais mistérios... e isso não tem fim."

OSHO - The Book of the Books - Tradução: Sw. Bodhi Champak

domingo, 1 de junho de 2014

Como É "O Outro Lado"?

Sri Yuktéswar e Yogananda
Em postagens anteriores como O Segredo da Vida Equilibrada e também O Roubo da Couve Flor, ambas de uma qualidade, graça e simplicidade imperdíveis, falamos desta figura ímpar que foi Sri Yuktéswar, mestre de Yogananda que é também outra grande figura conhecida, yogue e autor de livros, entre eles Auto Biografia de um Yogue Contemporâneo.
Após sua morte, Yuktéswar materializou-se para seu discípulo Yogananda e respondeu-lhe todas as perguntas sobre o destino do homem após a “morte”. Um relato raríssimo sobre o “outro lado” como você nunca ouviu antes. Uma das descrições mais completas e detalhadas sobre  as diversas dimensões pelas quais a alma  humana viaja rumo ao Infinito. É uma jóia rara esse texto de Yogananda. Vamos lá: 

"Sentado em meu leito no hotel de Bombaim, às três horas da tarde de 19 de junho de 1936 - uma semana após a visão de Krishna, fui interrompido em minha meditação por uma luz beatífica. Ante Meus olhos abertos e atônitos, o quarto inteiro transformou-se num mundo estranho; a luz do sol transmutava-se num esplendor sobrenatural. Sentindo-me arrebatado em ondas de êxtase, contemplei a figura dele Sri Yuktéswar, em carne e osso! 
- Meu filho! - exclamou o Mestre com ternura e um sorriso de anjo sedutor.
Pela primeira vez em minha vida não me ajoelhei a seus pés para saudá-lo, mas avancei no mesmo instante para apertá-lo em meus braços, avidamente. Momento divino! A angústia dos meses anteriores extinguiu-se, fez-se imponderável se comparada à beatitude torrencial que me inundou então.
- Mestre meu, bem-amado de meu coração, por que me deixou? - atribuo esta incoerência ao meu excesso de alegria. - Por que permitiu que eu fosse a Kumbha Mela? Com que amargura venho me recriminando por me haver afastado de sua presença! 
- Eu não quis interferir, você era feliz em sua expectativa de conhecer o local de peregrinação onde encontrei Babaji pela primeira vez. Deixei-o apenas por breve momento; não estou com você de novo? 
- Mas é o senhor de verdade, Mestre, o mesmo Leão de Deus? Está usando um corpo igual ao que enterrei sob as cruéis areias de Puri? 
- Sim, meu filho, sou eu mesmo. Este é um corpo de carne e osso. Embora eu o veja como etéreo, para a sua vista é físico. Com os átomos cósmicos, criei uma forma inteiramente nova, exatamente igual ao corpo-físico-de-sonho-cósmico que você depositou sob as areias-de-sonho de Puri, em seu mundo-de-sonho. Em verdade, ressuscitei - não na Terra, mas num planeta astral. Seus habitantes estão melhor capacitados que a humanidade terrena para seguir os meus elevados padrões espirituais. Você e seus entes queridos, os que alcançaram o êxtase, para lá irão algum dia; estaremos todos juntos.
- Imortal guru, conte-me ainda mais! 
O Mestre teve um riso breve, cheio de jovialidade. 
- Por favor, querido - disse ele. - Não quer afrouxar um pouco o seu abraço? - Só um pouquinho! 
Eu o estivera abraçando com uma pressão de polvo. Percebi o mesmo débil, aromático e natural odor que fora característico de seu corpo terreno. O emocionante contato de sua carne divina ainda persiste nas faces internas de meus braços e nas palmas das mãos, sempre que relembro aquelas horas gloriosas.
- Como os profetas são enviados à Terra para ajudar os homens a esgotarem seu carma físico, assim Deus me enviou a um planeta astral com a missão de salvador - explicou Sri Yuktéswar. - Esse globo chama-se Hiranyaloka ou “Planeta Astral Iluminado”. Lá estou auxiliando seres adiantados a se desembaraçarem de seu carma astral e a se libertarem, portanto, dos renascimentos astrais. Os residentes em Hiranyaloka têm elevado desenvolvimento espiritual; todos adquiriram, em sua última encarnação terrestre, o poder, conferido pela meditação, de abandonar conscientemente o corpo na hora da morte. Ninguém poderá entrar em Hiranyaloka se não tiver experimentado na Terra, não apenas savikalpa samadhi (dissolução da Consciência em Brahma) mas também o estado superior de êxtase, nirvikalpa samadhi (não dualidade, e unidade com O Todo).
 “Os habitantes de Hiranyaloka já ultrapassaram as esferas astrais ordinárias para onde quase todas as pessoas da Terra devem ir ao morrer; nelas destruíram muitas sementes cármicas relativas a suas ações passadas no mundo astral. Apenas devotos adiantados realizam com eficiência esse trabalho redentor nas esferas astrais. Então, o fim de livrarem inteiramente sua alma de todos os traços de carma astral, a lei cósmica impeliu estas criaturas de aspiração mais alta a renascerem em novos corpos astrais em Hiranyaloka, o céu ou sol astral, onde me encontro para ajudá-los. Vivem também em Hiranyaloka seres quase perfeitos vindos do mundo causal superior.”
Minha mente encontrava-se, a essa altura, em tão perfeita sintonização com a de meu guru, que ele me comunicava suas imagens-palavras, em parte através da linguagem e em parte pela transmissão de pensamento. Assim eu recebia, rapidamente, seus tablóides de ideias.
- Você leu nas Escrituras - continuou o Mestre - que Deus encerrou a alma humana em três corpos, sucessivamente: o corpo causal ou de ideias; o sutil corpo astral, sede das naturezas mental e emocional do homem; e o grosseiro corpo material. Na Terra, o homem está equipado com os sentidos físicos. Um ser astral age através de sua consciência e sentimentos, e de um corpo feito de vitatrons. Um ser em corpo causal paira no beatifico reino das ideias. Meu trabalho relaciona-se com aqueles seres astrais que estão se preparando para entrar no mundo causal.
- Mestre adorável, por favor, fale-me ainda mais sobre o cosmos astral. 
Embora eu tivesse afrouxado um pouco o meu abraço a pedido de Sri Yuktéswar, meus braços ainda continuavam a rodeá-lo. Tesouro acima de todos os tesouros, meu guru se rira da Morte para chegar até mim! 
- Existe uma infinidade de esferas astrais, fervilhantes de seres, começou o Mestre. - Seus habitantes usam veículos astrais, ou massas de luz, para viajar de um a outro planeta - mais depressa que as energias elétricas ou radioativas.
“O universo astral, composto de diversas vibrações sutis de luz e calor, é centenas de vezes maior que o cosmos material. A criação física inteira, como sólida barquinha, está dependurada do gigantesco aeróstato luminoso que é a esfera astral. Assim como numerosos sóis e estrelas físicas vagam pelo espaço, existem também, no astral, incontáveis sistemas solares e estelares. Seus planetas contam com sóis e luas mais belos que os físicos.
Os luminares astrais se parecem com as auroras boreais - a aurora do sol astral deslumbra mais que os tênues raios do despontar da lua astral. E dias e noites são muito mais longos que os da Terra.
"O universo astral é, pois, infinitamente belo, limpo, puro e ordenado.
Não existem planetas mortos nem terrenos estéreis. Os defeitos, lamentados na Terra, lá estão ausentes: ervas daninhas, bactérias, insetos, serpentes.
Ao contrário das estações e climas variáveis do globo terrestre, os planetas astrais mantêm uma temperatura uniforme de eterna primavera, caindo, às vezes, neve de luminosa alvura e chuvas de luz multicolorida. Lá, sobejam lagos opalinos, mares rebrilhantes, e rios com os matizes do arco-íris.
“O universo astral ordinário - não o céu sutilíssimo de Hiranyaloka - é povoado por milhões de seres astrais, vindos, mais ou menos recentemente, da Terra; e também por miríades de fadas, sereias, peixes, animais, duendes, gnomos, semideuses e espíritos, todos residindo em diferentes planetas astrais de acordo com suas qualificações cármicas. Reservam-se várias moradas planetárias ou regiões vibratórias para espíritos bons e para espíritos maus. Os bons podem viajar livremente, mas as entidades prejudiciais estão confinadas a zonas restritas. Aqui, os seres humanos vivem na superfície da terra, os vermes no interior do solo, os peixes na água e os pássaros no ar; lá, também, os seres astrais se encaminham a regiões vibratórias adequadas a seus diferentes estágios de evolução.
“Entre sombrios anjos caídos, expulsos de outros mundos, surgem atritos e declaram-se guerras com bombas “vitatrônicas” ou raios vibratórios da mente, mântricos. Estes marginais habitam regiões de trevas densas, no cosmo astral inferior, saldando as dívidas de seu mau carma.

“Em vastos reinos acima da lúgubre penitenciária astral, tudo é resplandecente e formoso. O cosmo sutil, por sua natureza, acha-se mais sintonizado com a vontade de Deus e com Seu plano de perfeição que a Terra. Todo objeto astral manifesta-se primordialmente pela vontade declarada dos seres astrais. Estes possuem o poder de modificar ou realçar a graça e a forma de qualquer objeto já criado pelo Senhor. A Seus filhos astrais, Ele deu a liberdade e o privilégio de modificarem ou aperfeiçoarem à vontade o cosmo astral. Na Terra, para transformar um sólido em líquido ou alterar-lhe a forma, é preciso submetê-lo a processos físicos ou químicos, enquanto os sólidos astrais são convertidos em líquidos astrais, gases astrais ou energia atômica astral, apenas e instantaneamente, pela vontade de seus habitantes.
"A Terra mergulha nas sombras das guerras e dos assassínios, rios, continentes, nos mares e no ar - continuou meu guru. - Nos domínios astrais, porém, observa-se uma igualdade e harmonia felizes. Os seres astrais desmaterializam suas formas e voltam a materializá-las, à vontade. Flores, peixes ou outros animais podem se metamorfosear temporariamente em homens astrais. Todos os seres do astral são livres para assumir qualquer forma e podem facilmente conversar entre si. Nenhuma lei natural, fixa, definitiva, os limita: a qualquer árvore astral se pode pedir, por exemplo, que produza mangas astrais, flores ou, separadamente, qualquer outro objeto, com êxito. Existem certas restrições cármicas mas nenhuma distinção se faz, no mundo astral, quanto ao desejo de possuir esta ou aquela forma. Tudo vibra com a luz criadora de Deus.
Ninguém nasce a partir de uma mulher; seres astrais, por meio de sua vontade cósmica, materializam sua prole em formas expressivamente esculpidas, astralmente condensadas. Quem recentemente desencarnou no mundo físico integra-se numa família astral por convite, atraída por tendências mentais e espirituais semelhantes.
“O corpo astral não está sujeito ao frio e ao calor, ou a outras condições da natureza. Sua anatomia inclui um cérebro astral ou o “lótus de mil pétalas de luz”e seis centros despertos no sushumna ou eixo astral-cérebro-espinal. Do cérebro astral, o coração retira energia cósmica e luz, enviando-as aos nervos astrais e às células do corpo astral ou “vitatrons”. Os seres astrais podem alterar suas formas por energia “vitatrônica” ou por santas vibrações mântricas.
“Em muitos casos, o corpo astral é uma cópia exata da última forma física. A face e a figura de uma pessoa astral assemelham-se aos que possuía durante a mocidade em sua última jornada terrena. Às vezes, alguém, como eu, prefere conservar a aparência que tinha em sua velhice”. - O Mestre, a quintessência da juventude, riu jovialmente.
“Ao contrário do mundo físico tridimensional, só conhecido por meio dos cinco sentidos, as esferas astrais são perceptíveis ao sexto sentido, a intuição, que inclui os demais. Os seres astrais veem, escutam, cheiram, saboreiam e apalpam por meio da multisciente sensação intuitiva. Possuem três olhos, dois dos quais parcialmente fechados. O terceiro e principal olho, verticalmente colocado na testa, está aberto. Os seres astrais têm todos os órgãos externos dos sentidos - olhos, ouvidos, nariz, língua e pele - mas empregam o sentido da intuição para experimentar sensações através de qualquer parte do corpo; podem ver por meio do ouvido, do nariz ou da pele, escutar pelos olhos ou pela língua, saborear através dos ouvidos ou da pele, e assim por diante. 
"O corpo físico do homem encontra-se exposto a inúmeros perigos e facilmente se machuca ou se mutila; o etéreo corpo astral pode, às vezes, ser cortado ou esmagado, mas cura-se instantaneamente por mera expressão da vontade.
- Gurudeva, todas as pessoas astrais são belas? 
- A beleza no mundo astral é uma qualidade do espírito e não se aquilata pela conformação exterior - respondeu Sri Yuktéswar. - Os seres astrais, por isso, atribuem pouca importância às feições. Eles têm o privilégio, entretanto, de se revestirem, à vontade, de corpos astralmente materializados, novos e coloridos. Assim como os homens mundanos envergam novo traje para acontecimentos de gala, também as pessoas etéreas encontram oportunidade de se adornar com formas esculturais.
“Festas de regozijo nos planetas astrais superiores, como Hiranyaloka, ocorrem quando um ser, por seu adiantamento espiritual, liberta-se do mundo astral e acha-se preparado assim para ingressar no céu do mundo causal. Nessas ocasiões, o Pai Celestial Invisível e os santos n'Ele imersos, materializam-se em corpos de Sua própria escolha e participam das celebrações astrais. Para agradar a Seu devoto bem-amado, o Senhor assume a forma sob a qual este mais O adora. A quem O cultuou com devoção, Deus aparece como Divina Mãe. Para Jesus, o aspecto de Pai Infinito sobrepassava todas as demais concepções. A individualidade conferida pelo Criador a cada uma de Suas criaturas faz que todo tipo de demanda, concebível ou inconcebível, ponha à mostra a versatilidade do Senhor! “ - Meu guru e eu rimos felizes.
“Amigos de vidas passadas facilmente se reconhecem uns aos outros no mundo astral - continuou Sri Yuktéswar, em sua encantadora voz de flauta. Rejubilando-se com o caráter imortal da amizade, eles experimentam a indestrutibilidade do amor, de que tantas vezes se duvidou, na hora das tristes e ilusórias separações na Terra.
“A intuição dos seres astrais perfura o véu e observa as atividades humanas na Terra; o homem, ao contrário, não pode ver o mundo astral, a menos que seu sexto sentido esteja desenvolvido. Milhares de habitantes da Terra vislumbraram momentaneamente um ser astral ou um mundo astral. Os residentes adiantados de Hiranyaloka permanecem, em geral, despertos em êxtase durante os longos dias e noites astrais, ajudando a resolver problemas intricados de governo cósmico e de redenção de filhos pródigos, almas apegadas à Terra. Quando os seres de Hiranyaloka dormem têm, às vezes, visões astrais semelhantes ao sonho. Suas mentes, como de hábito, estão absortas no estado consciente da mais elevada beatitude - nirbikalpa.
“Os habitantes de todas as regiões dos mundos astrais ainda estão sujeitos a agonias mentais. As mentes hipersensíveis dos seres mais adiantados, em planetas como Hiranyaloka, sentem dor aguda se algum erro é cometido, de percepção da verdade ou de conduta. Estes seres mais evoluídos esforçam-se para harmonizar cada um de seus pensamentos e atos com a perfeição da lei espiritual.
As comunicações entre os habitantes astrais efetuam-se inteiramente por telepatia e por tele-visão astrais. Lá se desconhecem a confusão e a incompreensão oriundas da palavra oral e escrita, que os moradores da Terra estão obrigados a suportar. Exatamente como os homens numa tela de cinema parecem mover-se e participar de atividades ao longo de uma série de cenas luminosas, sem respirar de verdade, também os habitantes do mundo astral andam e trabalham como imagens de luz inteligentemente guiadas e coordenadas, sem necessidade de retirar forças do oxigênio. O homem depende de sólidos, líquidos, gases e energia para a sua subsistência; os moradores do astral alimentam-se principalmente de luz cósmica.”
- Mestre meu, os seres astrais comem alguma outra substância? Eu sorvia seus maravilhosos esclarecimentos com a receptividade de todas as minhas faculdades - mente, coração e alma. "As percepções superconscientes da verdade são permanentemente reais e imutáveis, enquanto as experiências e impressões fugazes dos sentidos são apenas temporária e relativamente verdadeiras; a memória que delas o homem conserva logo perde a vivacidade". As palavras de meu guru imprimiram-se de modo tão indelével no pergaminho de meu ser que, a qualquer momento, transferindo minha mente para o estado de superconsciência, posso reviver com nitidez a divina experiência.
“Legumes de textura luminosa são abundantes nos solos astrais - respondeu ele. - Os moradores do mundo astral consomem vegetais e bebem o néctar que jorra de gloriosas fontes de luz e que flui nos regatos e rios astrais. Exatamente como na Terra é possível extrair do éter as imagens invisíveis dos homens, torná-las visíveis por meio de um aparelho de tele-visão e, posteriormente, dissolvê-las de novo no espaço, assim também os invisíveis projetos estruturais de plantas e legumes, criados por Deus e flutuantes no éter, condensam-se num planeta astral pela vontade de seus habitantes. Do mesmo modo, nascidos da fantasia insubmissa destes seres, jardins inteiros de perfumada flora materializam-se para retornar mais tarde à invisibilidade etérea. Se os moradores de planetas celestiais, como Hiranyaloka, estão quase livres da necessidade de comer, ainda mais excelsa é a existência incondicionada de almas quase completamente livres no mundo causal, cujo único alimento é o maná da bem-aventurança.
“Um ser astral liberto da Terra encontra-se com uma multidão de parentes, pais, mães, esposas, maridos e amigos, havidos em diferentes encarnações na Terra, à medida que essas criaturas regressam, de tempos em tempos, a várias regiões do cosmo astral. Por isso, sente-se confuso ao tentar saber a quem amar especialmente; aprende assim a dedicar amor divino e igual a todos, como filhos e expressões individualizadas de Deus. Embora a aparência externa dos seres queridos possa haver mudado, menos ou mais, de acordo com o desenvolvimento de novas qualidades na última vida, o ser astral emprega sua infalível intuição para reconhecer todos aqueles que uma vez conheceu em outros planos dá existência, e para recebê-los com alegria ao chegarem a seu novo lar astral.
Em virtude de cada átomo na criação estar dotado de individualidade inextinguível, um amigo astral será reconhecido, seja qual for o traje de que se revista, assim como na Terra se descobre, observando-se atentamente, a identidade de um ator, apesar da caracterização que o disfarça.
“O espaço de tempo em que um ser se demora no mundo astral é mais longo que na Terra. Em média, o período de vida de um ser astral adiantado é de quinhentos a mil anos, medido segundo os padrões de tempo terreno.
Determinadas sequóias sobrevivem à maioria das árvores durante milênios; certos jogues vivem várias centenas de anos embora a maior parte faleça aos sessenta anos; alguns seres astrais ultrapassam o período médio de vida astral. Os visitantes do mundo astral nele residem por períodos mais curtos ou mais prolongados de acordo com o peso de seu carma físico, que os atrai de regresso à Terra dentro de um prazo específico.
“O ser astral não tem de lutar dolorosamente contra a morte, no momento de desprender-se de seu corpo luminoso. Muitos, não obstante, sentem-se um pouco nervosos à ideia de se despojarem do invólucro astral para continuarmos apenas com o mais sutil, o causal. O mundo astral acha-se livre da morte, da doença e da velhice indesejável - três pavores que são a maldição da Terra, onde o homem permitiu à sua consciência identificar-se quase inteiramente com um frágil corpo físico, exigindo o socorro constante do ar, do alimento e do sono a fim de subsistir.
“A morte física caracteriza-se pelo desaparecimento da respiração e pela desintegração das células orgânicas. A morte astral consiste na dispersão dos vitatrons, unidades de energia de que depende a vida dos seres astrais. Na morte física, o homem perde consciência carnal e torna-se cônscio de seu corpo sutil no mundo astral. Experimentando a morte astral, a seu devido tempo, um ser passa, da consciência de nascimento e morte astrais, à de nascimento e morte físicos. Estes ciclos periódicos de alojamentos astrais e físicos constituem o destino inelutável de todos os seres não-fluiníriados. Conceitos de céu e inferno, -nas Escrituras, às, vezes despertam no homem memórias de sua longa série de experiências no agradável reino astral e no decepcionante mundo terrestre, revolvendo arquivos mais profundos que a subconsciência. “
- Bem-amado Mestre - supliquei - pode descrever com maiores detalhes a diferença entre renascimento na Terra e renascimento nas esferas astrais e causais? 
"O homem, enquanto alma individualizada, tem um corpo essencialmente causal - explicou Sri Yuktéswar. - Esse corpo é a matriz das 35 ideias concebidas por Deus, forças de pensamento causal, fundamentais para que, delas, Ele pudesse formar posteriormente o sutil corpo astral, de 19 elementos, e o denso corpo físico, de 16.
“Os 19 integrantes do corpo astral são mentais, emocionais e vitatrônicos.
São eles: inteligência; ego; sentimento; mente (consciência dos sentidos); mais cinco instrumentos de conhecimento, réplicas sutis dos sentidos da visão, audição, olfato, paladar e tato; mais cinco instrumentos de ação, correspondentes mentais das capacidades executivas de procriar, excretar, falar, caminhar e executar atividade manual; e mais cinco instrumentos de força vital, com poder de realizar as funções orgânicas de cristalização, assimilação, eliminação, metabolismo e circulação do sangue. Este sutil envoltório astral de 19 elementos sobrevive à morte do corpo físico, composto de 16 elementos metálicos e não-metálicos.
“Deus concebeu diferentes ideias dentro de Si Mesmo, e na tela de Seus sonhos fez a projeção delas. Assim nasceu Ma
ya, a Sonhadora Cósmica, gigantesca e interminavelmente ataviada com seus ornamentos de relatividade.
“As 35 categorias ideativas do corpo causal encerram, elaboradas por Deus, todas as complexidades de suas 19 réplicas astrais e 16 físicas. Pela condensação de forças vibratórias, a princípio sutis e depois grosseiras, Ele produziu o corpo astral e finalmente a forma física do homem. De acordo com a lei da relatividade, segundo a qual a Simplicidade Prístina veio a ser desconcertante multiplicidade, o cosmo causal e o corpo causal são diferentes do cosmo astral e do corpo astral; o cosmo físico e o corpo físico, igualmente, diferem, em suas características, daquelas outras formas de criação.
“O corpo carnal é feito de sonhos materializados, solidificados, do Criador. Dualidades sempre caracterizam a vida na Terra: saúde e doença, prazer e dor, ganho e perda. Os seres humanos encontram limitação e resistência na matéria tridimensional. Quando a doença ou causas diversas abalam severamente o desejo de viver, intervém a morte; cai ao chão, temporariamente, o pesado sobretudo da carne. A alma, porem, continua aprisionada nos corpos astral e causal. A força de coesão que mantém unidos os três corpos é o desejo. O poder dos desejos irrealizados é a raiz de toda a escravidão do homem.
“Desejos físicos radicam-se no egoísmo e nos prazeres dos sentidos. A compulsão ou a tentação da experiência sensorial é mais poderosa que a força do desejo referente a apegos astrais e percepções causais.
“Desejos astrais concentram-se em prazeres de tipo vibratório. Os seres astrais deliciam-se com a etérea música das esferas e extasiam-se com a visão do universo inteiro criado como expressão inesgotável de luz cambiante. Também cheiram, saboreiam e tocam a luz. Assim, seus desejos relacionam-se com seu poder de condensar todos os objetos e experiências em formas de luz ou em pensamentos condensados ou sonhos.
“Desejos causais são realizações do intelecto. Os seres quase livres, alojados apenas no corpo causal, vêem o cosmo inteiro como projeções das ideias - sonhos de Deus; tudo experimentam em puríssimo pensamento.
Consideram o gozo de sensações físicas e deleites astrais, por isso, grosseiros e sufocantes para a requintada sensibilidade da alma. Os seres causais realizam seus desejos, materializando-os instantaneamente. As almas que se cobrem somente com o delicado véu do corpo causal, podem materializar universos, à semelhança do Criador. Tendo todos os mundos uma só textura, a do sonho cósmico, uma alma, na diáfana veste causal, tem vastos poderes de realização.
“Sendo invisível por natureza, a alma só pode ser percebida pela presença de seu corpo ou corpos. A mera presença de um corpo significa que sua existência se tornou possível devido a desejos irrealizados.
“Enquanto a alma do homem se encontra encerrada em um, dois, ou três frascos corporais, tampados hermeticamente com as rolhas da ignorância e dos desejos, não pode mergulhar no oceano do Espírito.
Destruído o denso receptáculo físico pelo martelo da morte, seus dois outros invólucros - o astral e o causal - ainda persistem e impedem que a alma se una, com absoluta consciência, à Vida Onipresente. Quando se alcança, através da sabedoria, a ausência do desejos, seu poder desintegra os dois vasos remanescentes. A diminuta alma do homem emerge, livre afinal, unificada com a Amplidão Imensurável.”
Pedi a meu divino guru que me desse maiores esclarecimentos sobre a superior e misteriosa esfera causal.
“- O mundo causal é indescritivelmente sutil - respondeu ele. Para entendê-lo, o homem teria de possuir poderes de concentração tão extraordinários que o habilitariam a fechar os olhos e visualizar, como se existissem unicamente em ideias, os cosmos astral e físico em toda a sua vastidão: o aeróstato luminoso com sua sólida barquinha. Se, por meio desta concentração sobre-humana, ele pudesse reconverter em ideias puras esses dois cosmos, com todas as suas complexidades, alcançaria então o mundo causal: a fronteira de fusão entre a mente e a matéria. Ali, percebem-se todas as coisas criadas - sólidos, líquidos, gases, eletricidade, energia, os seres todos: deuses, homens, animais, plantas, bactérias, como formas de consciência; exatamente como um homem, ao fechar os olhos, percebe que ele existe, apesar de seu corpo ser invisível aos seus olhos físicos, uma presença mental, uma ideia apenas.
“Tudo o que um ser humano apenas imagina, um ser causal converte em realidade. Um homem dotado de grande imaginação e inteligência é capaz - em sua mente, apenas - de saltar de planeta em planeta, de deixar-se cair interminavelmente num abismo de eternidade, de subir como um foguete ao pálio de galáxias, e de incidir como um holofote sobre as vias-lácteas e os espaços constelados, Os seres do mundo causal, porém, gozam de liberdade muito maior: projetam seus pensamentos, objetivando-os instantaneamente, em esforço, sem qualquer obstrução material ou astral, e sem limitação cármica.
“Os seres causais sabem, por experiência própria, que o cosmo físico não se compõe primordialmente de elétrons, nem o cosmo astral se constitui basicamente de vitatrons, mas, em realidade, ambos se originam de diminutas partículas do pensamento de Deus, fendidas e fragmentadas por maya, a lei da relatividade que intervém para separar, aparentemente, a criação de seu Criador.
“No mundo causal, as almas se reconhecem umas às outras como fragmentos individualizados do Espírito beatífico; seus objetos pensados são os únicos que as rodeiam. Os seres causais percebem que a diferença entre seus corpos e pensamentos é uma ideia, simplesmente. Assim como o homem, fechando os olhos, pode visualizar uma ofuscante luz branca ou uma névoa azul desbotada, os seres causais também, por intermédio exclusivo de seu pensamento, enxergam, ouvem, cheiram, saboreiam e apalpam; eles criam tudo, ou tudo dissolvem, pelo poder de sua mente cósmica.
“Tanto a morte como o renascimento no mundo causal ocorrem em pensamento. O alimento delicioso dos seres causais é um só, a ambrosia do conhecimento eternamente novo. Bebem dos mananciais de paz, vagam pelo solo sem trilhas das percepções, nadam no oceano sem praias da beatitude. Oh, contemple! Seus brilhantes corpos-pensamentos passam zunindo vertiginosamente por trilhões de planetas criados pelo Espírito, por recentes borbulhas de universos, por moradas estelares de sábios, e por sonhos espectrais de áureas nebulosas, no seio azul-celeste do Infinito! “Muitos seres permanecem durante milhares de anos no cosmo causal.
Então, depois de êxtases progressivamente mais profundos, a alma se libera do pequeno corpo causal e incorpora-se à imensidão do cosmo causal.
Todos os estanques remoinhos de ideias, as ondas particularizadas de poder, amor, vontade, alegria, paz, intuição, calma, autodomínio e concentração, fundem-se no inesgotável Oceano de Beatitude. Não mais a alma fruirá sua ventura como onda individualizada de consciência; agora mergulha no Oceano Cósmico único, na totalidade das ondas - e é riso eterno, comoção, pulsação perene.
“Quando uma alma rompe o casulo dos três corpos, escapa para sempre à lei da relatividade, e converte-se no inefável Sempre-Existente.
Eis, a borboleta da Onipresença, com estrelas e luas e sóis rebrilhando em suas asas! A alma expandida no Espírito paira sozinha na região da luz sem luz, da treva sem treva, do pensamento sem pensamento; inebriada com seu êxtase beatífico, imersa no mesmo sonho de Deus, o da criação cósmica.”
Uma alma livre! - exclamei com reverência.
Quando uma alma se livra, finalmente, das três ânforas de ilusões corpóreas - prosseguiu o Mestre - unifica-se com o Infinito sem qualquer perda de individualidade. Cristo conquistara sua liberdade derradeira, antes mesmo de nascer como Jesus. Em três etapas de seu passado, simbolizadas aqui na Terra pelos três dias de morte e ressurreição, ele alcançara o poder absoluto de subir aos céus em Espírito.
“O homem não desenvolvido submete-se a incontáveis encarnações terrestres, astrais e causais, a fim de desprender-se de seus três corpos. Um mestre que conquista a liberdade final pode escolher, se há de voltar à Terra como profeta, para ajudar outros seres humanos a regressarem a Deus, ou se, como eu, há de residir no cosmo astral. Lá, um redentor carrega, em parte, o peso do carma dos habitantes e assim os ajuda a abreviar seu ciclo de reencarnações no cosmo astral, a fim de partirem definitivamente para as esferas causais  Ou, então, uma alma liberada pode entrar no mundo causal para ajudar seus habitantes a encurtarem seu prazo no corpo causal e assim conquistarem a Liberdade Absoluta.”
- Mestre ressurrecto, quero saber mais a respeito do carma que obriga as almas a regressarem aos três mundos. - Eu poderia ouvir meu Mestre onisciente, pensei, por toda a eternidade. Nunca em sua vida terrena eu fora capaz, em tão pouco tempo, de assimilar tanto de sua sabedoria. Agora, pela primeira vez, eu obtinha percepção clara e definitiva das casas enigmáticas no tabuleiro de xadrez da vida e da morte.
“- O carma físico, ou seja, os desejos do homem, devem ser completamente esgotados antes que se torne possível sua residência permanente nos mundos astrais - esclareceu meu guru com sua voz emocionante. - Dois tipos de moradores vivem nas esferas astrais. Os que ainda possuem carma físico insatisfeito e devem, por isso, reabitar um corpo denso a fim de saldar suas dívidas cármicas, classificam-se, após a morte física, mais como visitantes temporários do mundo astral que seus moradores permanentes.
“Após a morte astral, seres que não expiaram seu carma físico, não têm permissão de entrar na excelsa esfera causal das ideias cósmicas, mas estão obrigados a viagens de ida e volta entre os mundos astrais e físicos, alternativamente conscientes de seu corpo físico de 16 elementos grosseiros e de seu corpo astral de 19 elementos sutis. Contudo, uma criatura não-desenvolvida, depois de cada perda de seu corpo terreno, permanece a maior parte do tempo no profundo estupor do sono da morte e dificilmente tem consciência do formoso reino astral. Terminado o descanso astral, regressa ao plano físico para novas lições, acostumando-se gradualmente, através de repetidas viagens, aos mundos de sutil textura astral.
“Ao contrário, residentes normais, isto é, há longo tempo no universo astral, livres para sempre de todos os anseios materiais, já não precisam regressar às vibrações grosseiras da Terra. Eles só têm carma astral ou causal para esgotar. Na morte astral, transferem-se para o mundo causal infinitamente mais sutil e delicado. No fim de certo prazo, determinado pela lei cósmica, estes seres evoluídos voltam, então, a Hiranyaloka ou a um planeta astral de idêntica elevação onde renascem em novo corpo etéreo para redimir os remanescentes de seu carma astral.
“Meu filho, agora você pode compreender melhor que ressuscitei, por decreto divino - continuou Sri Yuktéswar - como um redentor de almas reencarnadas no astral, especialmente das que baixam da esfera causal e não das que sobem da Terra. Estas últimas, se ainda conservam vestígios de carma físico, não sobem aos mais altos planetas astrais como Hiranyaloka.
“Muitos habitantes terrestres não aprenderam, através do olho desenvolvido pela meditação, a apreciar as alegrias e vantagens superiores da existência astral e, por isso, após a morte, desejam regressar aos prazeres limitados e imperfeitos da Terra; assim também muitos seres astrais, durante a normal desintegração de seus corpos sutis, não chegam a vislumbrar o excelso estado de alegria espiritual no mundo das ideias; demorando-se em recordar a felicidade astral mais grosseira e de vistosos adornos, eles anseiam revisitar o paraíso astral. Esses seres devem redimir-se do pesado carma astral que possam obter, após a morte astral, residência permanente no mundo causal, o das ideias, este, aliás, tão superficialmente secionado de sua origem, o Criador.
“Só quando um ser não deseja mais experiências no cosmo astral, tão agradável à vista, e já não sente a tentação de voltar a ele, é que permanece no mundo causal. Completando ali a obra de redimir-se do carma causal ou sementes dos desejos passados, a alma aprisionada faz saltar a última das três rolhas da ignorância e, emergindo da derradeira ânfora do corpo causal, mistura-se ao Eterno.”

Do livro: Autobiografia de um Yogue Contemporâneo- Paramahansa Yogananda