domingo, 28 de outubro de 2012

O Karma, O Agora, e A Astrologia

Não há dúvida de que um indivíduo experimenta o karma de outras vidas. Ele experimenta também, nesta existência, o karma de suas atitudes do passado e é um criador de Carma em todos os momentos. É então, que se torna muito importante apreender o significado do momento, pois é disso que nasce o conceito do "O Agora". 
Um indivíduo pode passar toda sua existência procurando por aquilo que foi numa encarnação anterior. Ele pode ser suficientemente afortunado para descobrir, ou pode enganar a si mesmo com determinados pensamentos e, então, subconscientemente, criar as circunstâncias que provem para si mesmo que esses pensamentos são verdadeiros. Em ambos os casos, ele não está entrando em contato com o verdadeiro significado da existência, a menos que perceba que sua habilidade para se fixar no aqui e no agora a todo momento é onde se desenvolve sua maior capacidade de atuação. E é através desse desenvolvimento de sua capacidade de atuação que sua evolução se revela. 
É extremamente fácil culpar o karma de vidas passadas por nossos fracassos ou colocar nossa própria incapacidade de lidar com situações do dia-a-dia em inadequações do mapa. Mas isso nunca foi, nem deve se permitir que venha a ser um produto derivado de um raciocínio astrológico ou um dos efeitos da Astrologia como ciência profética. Se isso acontecer, a Astrologia está destinada ao fracasso, pois seu dom para a humanidade é ajudar o homem a ajudar a si mesmo, e não lhe dar desculpas por não conseguir.
O karma existe. É muito real. Mas não está além da habilidade do homem para lidar com ele e superá-lo. É importante perceber que o passado e o futuro têm menos a ver com a habilidade do homem de atuar e com seu prazer da vida do que com o que ele faz com "O Agora". Naturalmente, o passado e o futuro têm uma forte influência sobre como um indivíduo entende o "Agora", mas - e aqui está o detalhe fascinante - eles não precisam ter! Não há dúvida de que é extremamente difícil ignorar o ontem e não refletir a respeito do amanhã. E, indo mais longe, ignorar o minuto passado e não se preocupar com o minuto seguinte. Entretanto, com dedicação e disciplina é possível fazê-lo. 
Quando uma pessoa faz isso, não significa que o passado e o futuro não existam. Eles existem. Isso é uma realidade. Mas ela não se demora naquilo que já fez ou não conseguiu fazer, nem se preocupa com o que tem a fazer. Ela simplesmente faz, age, torna-se! Ela não tem como analisar suas ações porque isso significa voltar novamente ao seu passado; não tem tempo para se sentir insegura, porque isso significa se preocupar com seu futuro. Pelo contrário, ela tem todo o tempo do mundo para viver sua realidade presente. 
Ela estará vivendo seu Carma, mas não gastará anos lamentando seu destino ou tentando viver o Carma de outros em vez do seu. Ela pode aceitar fracassos e sucessos, pois eles são coisas passageiras que mudam sempre. Curiosamente, quando começa a viver dessa maneira, muitas das coisas que pensava serem karma começam a desaparecer porque eram, na realidade, nada mais do que pensamentos que absorveu de outros e que pensava serem seus. Progressivamente, começa a perceber o que é seu Carma na realidade, porque não está procurando descobrir, nem está procurando juntar seu karma com outros a ponto de nunca conhecê-lo. 
Esse modo de viver torna um indivíduo inacreditavelmente produtivo e criativo. 
O alcance desse resultado está além da imaginação; pois, o que acontece, na realidade, é que todas as áreas inúteis e dispersantes onde ele normalmente colocaria suas energias não mais o exaurem ou desviam da realidade do seu momento presente! Ele fica mais ativo, mais concentrado e mais consciente, não apenas de sua própria beleza interior, como de toda a beleza do mundo ao seu redor. 
Sempre que uma ideia se torna muito difundida na consciência do mundo, seu significado original muda. De fato, quanto mais uma ideia ganha aceitação, mais distante pode ficar de seu sentido, contexto e fonte original. Esse foi o caso do karma que não é nem mesmo uma ideia, um conceito ou um pensamento, mas, sim, uma Lei Cósmica. Quanto mais pessoas no mundo aceitam o fato de que essa lei existe, há uma tendência maior para que a própria lei seja deturpada, uma vez que cada pessoa a interpreta através de seu próprio nível de compreensão. 
Caso se perguntasse a mil pessoas o que é karma, a tremenda série de respostas seria surpreendente. Mais surpreendente ainda seriam as complexidades associadas à verdadeira essência dessa Lei Universal. 
A fim de compreender claramente o que é karma, podemos traçar seu significado a partir de três fontes básicas e, então, sintetizá-las numa combinação mais significativa do que é, na realidade, a verdadeira essência da Lei do Karma. 
Primeiro, temos as palavras de Gautama Buda, quando disse há muitos milhares de anos: "Você é aquilo que pensa, tendo se tornado naquilo que pensava." O que ele quis dizer com essa profunda afirmação? 
O homem está sempre questionando o que é. Na verdade, de momento a momento, o que ele é, muda. E são essas numerosas mudanças que o fazem perguntar a si mesmo se realmente existe nele alguma coisa imutável. Se um homem "é o que ele pensa" e seus pensamentos mudam de momento a momento e dia-a-dia, então ele também muda! Se um homem pensa "Estou faminto", então é isso que ele é no momento em que pensou. Quando não mais pensa assim, ele não é mais um produto de tal pensamento. Se um homem pensa "Estou cansado", "Eu sou mau", "Eu sou pobre", então ele é todas essas coisas. 
Isso acontece porque há uma tendência muito forte para que ele acredite que o que pensa é a verdade. Assim, tendo acreditado nos seus pensamentos a respeito de si mesmo, um indivíduo então se identifica com suas crenças e se torna, na realidade, tudo o que pensa. Se o mesmo tipo de pensamento é perpetuado por muitos anos, ele se torna ainda mais aceitável para a pessoa. Assim, tipos de pensamentos que se prolongam por um determinado caminho levarão uma pessoa a acreditar não apenas que está nesse caminho, mas que é o único caminho que pode ver
Vamos usar novamente a analogia do apetite, pois existem muitos tipos de apetite que, literalmente, todos nós já experimentamos de uma ou de outra maneira. Consideremos dois indivíduos que estão prontos para comer um pedaço de bolo. O primeiro olha com fixação para o bolo e instantaneamente tem pensamentos conflitantes: "Eu quero o bolo, mas sei que ele me fará engordar." Quando come o bolo, seu corpo assimilará o alimento com o mesmo nervosismo que provocou seu pensamento. Assim, uma tendência inconsciente a não querer admitir para si mesmo que comeu o bolo, juntamente com decepções psicológicas por tê-lo comido, ambos provenientes do pensamento original de que o bolo é prejudicial, cria uma situação na qual o contato entre o bolo e o corpo torna aquele em governante e este em governado. 
Entretanto, o segundo indivíduo, tencionando comer o bolo, olha para ele como uma fonte de alegria. É o alimento de Deus oferecido ao homem para preencher suas necessidades por sustento, beleza e vitalidade. Cada migalha daquele bolo se harmonizará com cada célula em seu corpo nas mais belas proporções, porque o corpo e o bolo estão em harmonia. Esse segundo tipo de indivíduo nunca parece ter excesso de peso, independente daquilo que come. O primeiro indivíduo pode ganhar diversas gramas com um único sorvete. Aqui podemos ver um exemplo perfeito do que Buda quis dizer com as palavras: "Você é aquilo que pensa, tendo se tornado naquilo que pensava." 
Assim, o primeiro princípio da Lei Cármica é baseado no pensamento. Como seria simples mudar nossa vida apenas mudando nossos pensamentos: Mas a verdade é que nenhum pensamento é uma ilha em si mesmo. Um pensamento sempre leva a outro que leva a outro, que leva a outro que finalmente leva o indivíduo em direção a seus pensamentos. Assim, é inevitável que, enquanto os anos passam, ele realmente se torne "tudo o no que pensava".
É interessante notar que quanto mais o indivíduo atribui a si mesmo uma determinada linha de pensamento, mais introduz em sua vida a espécie de indivíduos cujos próprios pensamentos multiplicam sua ideia original. Assim, ele nunca está sozinho em seu modo de pensar. Pelo contrário, pela tendência a dividir seus pensamentos com os outros, existe sempre um crescente conjunto de idéias na consciência popular que sustenta a ideia do indivíduo sobre quem ele é. Ele vibrará com aqueles que pensam como ele e se afastará assustado daqueles cujas crenças são diferentes. Toda vez que seus pensamentos a respeito de quem ele é são ameaçados, retrocederá para seu passado procurando justamente aqueles indivíduos cujos pensamentos presentes reforçarão tudo o que ele costumava ser. Essa  é uma das maiores fraquezas do homem - sua tendência a evitar superar padrões habituais de pensamento. 
Mesmo quando o homem está no caminho do crescimento espiritual, ele duvida de si mesmo toda vez que vê, nos outros, pensamentos semelhantes aos que ele próprio costumava ter. Isso acontece porque, quando acreditou muito nesses pensamentos, sentiu ser sua obrigação, seu dever e seu caminho. satisfazer seu sentimento de ser necessário e transferi-los para outros. Testando a exatidão de suas próprias idéias, ele tentou convencer os outros de que seus pensamentos eram válidos. 
Agora vem a parte mais interessante. Uma vez que muito do Carma é baseada nos efeitos daquilo que se pensou no passado, então, a fim de superar padrões de pensamentos obsoletos, um indivíduo deve considerar os efeitos que provocou nas vidas de outras pessoas ao tentar incutir-lhes seus próprios pensamentos passados. Em pequena proporção ele se tornou parte delas, pois, enquanto examinam e separam seus próprios problemas individuais, elas se dirigirão a muitas fontes à procura de suas respostas. E uma dessas fontes serão as palavras que ele lhes falou no passado. Por isso é cósmica, matemática e fisicamente impossível para qualquer indivíduo elevar-se completamente acima do seu próprio karma, até que cada um dos indivíduos, cujas vidas ele esteve em contato, tenha ficado acima de seus karmas da mesma maneira que ele os tocou! 
Isso nos leva à segunda interpretação do karma, que vem da Lei da Física de Newton: "Para toda ação deve haver uma reação igual e oposta." O homem às vezes é um ator, um agente, um criador de sua vida, enquanto outras vezes ele é receptivo e suscetível aos efeitos de tudo que criou, Assim, às vezes ele é um ator, enquanto outras é um reator. Entretanto, ele é parte da Lei de Causa e Efeito. 
Uma das maneiras mais interessantes de compreender isso vem de uma interpretação incorreta muito comum a respeito do "talento". Aqueles que não são talentosos freqüentemente consideram os que são como se possuíssem uma espécie de dom místico, um tipo muito especial de aura, uma dádiva. Mas o artista talentoso, exibindo sua pintura, sua escultura, sua música ou sua poesia, sabe que talento não é nenhuma dessas coisas. Ele toca bem uma canção porque durante milhares de horas e talvez centenas de meses treinou a si mesmo para se tornar perito no seu instrumento. 
É nesse ponto que podemos argumentar que, embora sejam necessárias milhares de horas para desenvolver um talento, alguns indivíduos tendem a mostrar logo desde o início uma facilidade maior em determinadas áreas do que outros. Existem estudantes de música que em suas primeiras aulas mostram uma percepção mais elevada a respeito do que é música do que normalmente se espera. Existem estudantes de arte que em sua primeira pintura superam de longe as expectativas de um principiante. Existem estudantes de Astrologia que em seu primeiro curso fazem perguntas que mostram conhecimento avançado, freqüentemente superior ao de seus professores, enquanto outros terão que fazer o curso inicial novamente a fim de desenvolverem uma compreensão básica do assunto. Esses fatos, em vez de negarem a Lei de Causa e Efeito, mostram ainda mais fortemente o conceito de reencarnação. Em poucas semanas torna-se muito fácil para um bom astrólogo saber qual dos seus alunos estudou Astrologia numa vida anterior, bem como quais alunos a estão conhecendo pela primeira vez. Entretanto, mesmo esses estudantes, com bastante empenho e anos de estudo, podem adquirir um dia aquilo que parecerá aos outros um tremendo talento astrológico. O domínio que finalmente terão sobre o assunto não virá como alguma dádiva mística, mas, sim, como o efeito direto de todos os seus esforços. 
Essa Lei de Causa e Efeito está atuando em todo lugar, mas o que parece ser menos óbvio é que o princípio científico correto: "Para cada ação deve haver uma reação igual e oposta", constante- mente se aplica à vida humana. Em nossos relacionamentos do dia-a-dia é fácil ver as reações às nossas ações, mas é muito mais difícil compreender que a soma total de reações que experimentamos é exatamente igual à das ações que executamos. Em outras palavras, durante toda a vida ação e reação devem sempre se equilibrar. Isso pode parecer falso porque é totalmente possível para o indivíduo A dar muito mais amor para o indivíduo B do que B é capaz de devolver para A. Nesse caso a Lei de Causa e Efeito parece duvidosa para o indivíduo A, que parece estar dando mais amor. Além disso, a reação proporcional a cada ação parece ainda mais fora de questão. Mas como o universo age de acordo com leis cósmicas muito específicas, o indivíduo A, cedo ou tarde, recebe mais amor dos indivíduos C, D ou E do que ele mesmo é capaz de dar. Quando a soma total de débitos e créditos dos relacionamentos humanos é feita, o resultado de cada coluna é sempre um saldo de igualdade. 
Percebendo essa espécie de efeito de bumerangue, a sociedade do mundo todo gosta de ensinar às suas crianças a Regra de Ouro: "Faça aos outros o que você gostaria que os outros fizessem a você." De modo mais simples, essa é apenas outra versão do mesmo princípio científico de que para cada ação podemos esperar uma reação igual e oposta. Se um indivíduo tenta elevar sua consciência através da meditação, contemplação ou qualquer outra forma de estudo esotérico, ele automaticamente se confrontará com todas as forças do mundo que tentarão diminuir sua consciência. Assim, quando uma pessoa começa a vibrar na direção de energias mais positivas, ela automaticamente se torna mais sensível e deve enfrentar as energias negativas que representam uma reação igual e oposta às suas ações. 
No famoso trabalho de Lao Tsu, Tao Tse Ching, é feita a pergunta: "O que é um bom homem?" E a resposta é: "O professor de um mau homem", e continua: "O que é um mau homem?" "A responsabilidade de um bom homem." Se o homem tenta intencionalmente ser "bom", será sempre confrontado com homens que estão tentando ser "maus". Se o homem evita a bondade em si mesmo, ele está inconscientemente atraindo para sua vida todos aqueles que lhe ensinarão a "bondade". Essa Lei de Ação e Reação, Causa e Efeito é difícil de se observar devido ao fator tempo. Normalmente esperamos que a reação siga a ação num- espaço de tempo razoável para que uma ligação lógica, visível possa ser feita entre as duas. "Quando o tempo entre ação e reação se prolonga por dias, meses ou anos, muitos indivíduos tentam explicar a Lei de Causa e Efeito com a palavra "coincidência". Essa palavra é o obstáculo que o homem precisa superar se quiser compreender a verdade universal. De qualquer lugar que um indivíduo retire sua compreensão, sejam suas raízes orientadas matemática, científica, filosófica ou religiosamente, ou encontradas em alguma mistura de todas elas, o fato é que a "coincidência" é impossível. Quando uma pessoa olha sua vida de um ponto de vista muito pessoal, torna-se fácil presumir que a coincidência existe em todo lugar, pois todos os seus desejos insatisfeitos a perturbam e ela tem pouca perspectiva de compreender qualquer coisa que não se relacione diretamente com a satisfação de seus desejos. Mas quando o homem sai de si mesmo e vê o mundo como ele verdadeiramente é, começa a perceber que, de fato, existem muitos mundos - e cada indivíduo está vivendo dentro das Leis de Causa e Efeito, Ação e Reação, a partir da perspectiva do que ele pode observar através de seu espaço. Assim, as pessoas falam umas com as outras, mas raramente falam umas para as outras. Contudo, isso é ação e provoca reação. A falta de entendimento que resulta disso faz com que cada indivíduo procure outros, que expliquem as idéias que ele não foi capaz de transmitir ou receber deles, que também estão vacilando em mundos em desarmonia com o seu. 
O homem nunca entende completamente o alcance de seu poder, pois percebe mais freqüentemente o mundo que ele mesmo criou do que a totalidade de palavras que compõem o universo. Se, na América, um homem compra um par de sapatos importados, ele está indiretamente ajudando a alimentar uma família de um país estrangeiro, que talvez nunca conheça. Entretanto, ele ajudou a melhorar a economia do país estrangeiro e, ao mesmo tempo, permitiu que a família que foi diretamente beneficiada com isso fizesse negócios em outro lugar, talvez comprando comida produzida por pessoas que ela, por sua vez, nunca conhecerá. As pessoas que produziram a comida podem, por sua vez, adquirir suas máquinas da América. E a parte fascinante de todo o ciclo fica clara quando se percebe que, provavelmente, algumas partes dessas máquinas tenham sido fabricadas nos Estados Unidos por uma companhia que paga um salário ao americano do começo, o que comprou o par de sapatos! Assim, através de uma série de mundos diferentes, formados por pessoas que talvez nunca se conheçam, cada uma se choca com a vida da outra para que a lei universal de Ação e Reação, Causa e Efeito, a Lei Cósmica do Karma seja cumprida. 
A terceira interpretação do karma vem de Edgar Cayce, o grande "Profeta Adormecido" que, através de suas enormes qualidades visionárias, foi capaz de ajudar milhares de indivíduos a encontrarem uma maneira de viver mais saudável e harmoniosa. Quase toda a obra de Cayce foi baseada na Lei do Karma. Em vez de expressá-la como Buda: "Você é aquilo que pensa, tendo se tornando naquilo que pensava", ou como o matemático Newton: "Para toda ação, existe uma reação igual e oposta", Cayce usou duas palavras para descrever essa fascinante lei cósmica. Ele a chamou "Encontrar o Ser". O que ele quis dizer com isso? Como encontramos a nós mesmos? Estaria Cayce se referindo a um espelho através do qual cada indivíduo usa suas experiências de vida e as pessoas que fazem parte dela a fim de "ver a si mesmo"? O que Cayce descobriu é que a melhor maneira de conhecer o homem é olhar a maneira como ele olha para si mesmo. O espelho não mente, mas mostra o que está lá verdadeiramente. Embora não seja a realidade do homem, é um reflexo suficientemente poderoso de sua realidade para que ele acredite que é tudo o que existe. As pessoas gostam de saber o que os outros pensam a seu respeito. Elas procuram aprovação e evitam a desaprovação das fontes externas. Assim, as condições externas na vida de um indivíduo são simplesmente o reflexo de tudo que brota do seu interior. O homem constantemente procura ver a si mesmo através dos olhos dos outros. Curiosamente, quanto mais o faz, menos ele é verdadeiramente ele mesmo. Mas, através de hábitos de gerações, essa parece ser a maneira mais natural para o homem aprender; ou, mais claramente, para o homem ter a ilusão de que está aprendendo. 
Nas conversas mais normais, mundanas, do dia-a-dia que as pessoas têm umas com as outras, é muito fácil ver que os indivíduos estão quase sempre falando consigo mesmos enquanto dão a impressão de falarem com os outros. Existe sempre a conversa exterior acompanhada da conversa interior que o indivíduo está tendo com ele próprio ao mesmo tempo, perguntando constantemente o que o outro indivíduo está dando ou tirando dele, o que ele mesmo está dando ou tirando, e quanta aprovação está recebendo por seus esforços. Se um indivíduo vive sua vida dessa maneira, é muito difícil conhecer seu karma? Se os amigos que escolhe são verdadeiros, então ele está sinceramente preocupado em encontrar a si mesmo. Se, por outro lado, ele tem amigos por conveniência, que são mais diplomáticos do que verdadeiros, então ele não está encontrando a si mesmo. Isso se baseia no fato de que os indivíduos tendem a procurar fora um apoio para a integridade de suas crenças e de seu comportamento. Em vez de olhar, em particular, em seu próprio espelho, ele tende a procurar os espelhos que refletirão as facetas de si mesmo, que está pronto para ver. Assim, quando uma mulher casada se associa a muitas amigas que são, em grande parte, ou divorciadas ou solteiras, mais do que com as casadas, torna-se muito fácil ver em que direção ela está se inclinando. Se a maioria dos amigos de um homem são indivíduos bem-sucedidos nos negócios, em vez daqueles que evitam responsabilidades, então torna-se fácil ver o grau de sucesso para o qual está sé dirigindo. Se uma criança tem muitos amigos com metas definidas, isso também diz muito a respeito da criança. Assim, no processo de encontrar a si mesmo, de acordo com a definição de Carma dada por Edgar Cayce, há uma grande tendência de que a antiga história sobre esposas, de que: "Pássaros da mesma espécie se reúnem", tenha um forte elemento de verdade. 
A definição de encontrar a si mesmo, entretanto, não acaba aqui. Ela se baseia no fato de que dentro de cada indivíduo existem também ações e reações. Somente quando as duas se equilibram é que a pessoa é capaz de se reunir ao centro do seu ser. Só então ela verdadeiramente encontra a si mesma. 
De acordo com Ouspensky, existem diferentes "eus" dentro de um indivíduo, cada um tentando ter um domínio momentâneo sobre os outros. Ele os compara a uma roda-gigante, onde, num dado momento, um "eu" está no alto e no controle, e, no momento seguinte, outro "eu" está no alto tentando ter igual controle. O exemplo perfeito está na compra de um automóvel, quando o "eu" em controle no momento, impulsivamente, decide comprar o objeto desejado através de um plano de pagamento que todos os outros "eus" terão que pagar. Mas o verdadeiro "eu" não é nenhum desses. Pelo contrário, é o centro da roda, a parte de um indivíduo que é capaz de ver e finalmente compreender todas as outras personalidades divergentes que puxam em direções diferentes em épocas diferentes. Assim, de acordo com Cayce, para encontrarmos a nós mesmos precisamos aprender como ficar no centro de nossa roda para que, em vez de olharmos para a vida através de uma serie de espelhos experimentais, sejamos capazes de emitir a pura essência que vem da melhor unidade que podemos alcançar com nosso ser singular, divino e onisciente. 
Vemos, então, três diferentes facetas do triângulo kármico. Primeiro, nas palavras de Buda: -"Você é aquilo que pensa, tendo se tornado naquilo que pensava." Segundo, das leis matemáticas de Isaac Newton: "Para toda ação( em sua vida) existirá (uma época em que você experimentará) uma reação igual e oposta." E terceiro, dos estudos de Edgar Cayce, o processo através do qual encontramos a nós mesmos. Em todos os três casos, o karma se apresenta como as sutis influências do conflito do Yin e Yang. O pensamento é o que impulsiona a ação. A ação provoca reação. Através do processo de ação e reação o homem finalmente é capaz de desenvolver um terceiro "eu superior", que é capaz de ver as constantes batalhas entre seus comportamentos Yin e Yang de um ponto de observação muito mais claro. E, desse ponto de observação, o centro da roda-gigante de Ouspensky, a verdadeira essência do ser, através do qual o homem pode ver a verdade a respeito de si mesmo. Somente este tipo de percepção permite que vagarosamente nos desobriguemos das leis da interação Cármica. 
A analogia da pirâmide ou do triângulo é uma das mais antigas e místicas conhecidas pelo homem. O triângulo possui dois pontos na base e um no topo. O homem tem duas pernas mas apenas uma mente que, se ele quiser unificar, deve orientar a coordenação de ambas. Em todos os ensinamentos da Ioga sempre há uma referência a respeito de como o homem em seu ser inferior, dividido pelo Yin e Yang, ou pelas influências positivas e negativas que vê no mundo ao seu redor, luta consigo mesmo. Primeiro ele é um, depois ele é o outro. Mas somente aprendendo e treinando é que ele desenvolve a terceira parte de si mesmo, o topo do triângulo que olha para as duas outras identidades que ele criou, através de um ponto de vista cósmico. A Ioga chama este ponto mais alto do triângulo de o Eu Impessoal. Apenas através do desenvolvimento desse Eu Impessoal, em sua unidade de mente, é que o homem é capaz de finalmente  conhecer a si mesmo. E, desse conhecimento, finalmente, vem uma plenitude que é o resultado de realmente ter "encontrado a si mesmo" e, ainda mais importante, aceitado a si mesmo! Esse ponto no alto do triângulo não pode existir sozinho. É o transbordamento de anos de luta entre os dois pontos opostos na base do triângulo. 
Durante séculos a Astrologia se concentrou na qualidade Yin e Yang na natureza do homem, os efeitos positivos e negativos de energias planetárias e a relação entre os dois. É fácil ver o mundo como uma profusão de forças positivas e negativas porque existem diferenças entre noite e dia, amor e ódio, conceitos de certo e errado, idéias de bem e mal, e uma profusão de outras dualidades que vêm se mostrando constantemente. Mas existe também uma visão mais ampla e multifacetada das coisas, que não vê a dualidade como uma abundância de forças opostas. Essa visão não se baseia em termos de positivo e negativo, bem e mal, certo e errado, aqui e lá, ontem e amanhã, e todas as outras divisões nas quais nossa percepção das coisas pode se desviar da verdade. Pelo contrário, existe uma percepção que, embora veja as dualidades positivas e negativas, também vê tanto valor no negativo quanto no positivo. Ela não valoriza o futuro mais ou menos do que o passado; não vê o dia acima da noite, nem a noite acima do dia. O mais polêmico e surpreendente a respeito desse ponto de vista da percepção é que ele não, favorece o bem acima do mal, nem o mal acima do bem. Pelo contrário, a realidade é vista como os dois lados de uma mesma moeda, ambos necessários para que a moeda seja completa. 
Existe uma razão muito simples para que a maioria das pessoas nunca alcance esse ponto de vista. Desde que um indivíduo absorva sua mente com problemas de dualidade, ele vive uma consciência oprimida. O mundo não está lhe permitindo ser tudo o que ele sente que poderia ser. De momento a momento, enquanto continua trocando identificações do positivo para o negativo e outra vez voltando, ele procura culpar tudo o que se opõe ao que acredita ser o caminho para a satisfação de seus desejos. Ele culpará sua infância, sua religião, seu sexo, seus professores, seu trabalho, seus amigos e a sociedade em que vive por mantê-lo dentro de todas as restrições que ele acredita serem as causas dos conflitos que sente dentro de si mesmo. O que ele não percebe é que, ao ver as coisas dessa maneira, está fazendo tudo que pode para violar os três princípios básicos que formam a Lei do Karma. Ele está criando pensamentos desarmoniosos que o impedem de ser a espécie de criador que deseja ser. Ele reclama dos efeitos de seus pensamentos que o colocam fora de harmonia com o segundo princípio do Carma ou da Lei de Causa e Efeito. E, finalmente, por tentar constantemente ver a si mesmo através dos olhos dos outros, está fazendo tudo o que pode para realmente evitar encontrar a si mesmo na verdadeira luz de sua compreensão divina. Por que, então, o homem continuamente faz tudo que, no fim, o impede de ser uma só coisa consigo mesmo? A resposta não é de todo mística, mas, na verdade, é tão obviamente simples que, na procura da humanidade pela verdade, ela freqüentemente passa desapercebida. Se o homem não tivesse nada do que reclamar, se não tivesse problemas no mundo exterior para culpar por impedir seu progresso, se tivesse todas as suas necessidades financeiras e de sobrevivência satisfeitas, o que ele faria consigo mesmo? É muito mais fácil ser uma rolha boiando na água, esperando que a correnteza nos mova para lá e para cá e culpar essa correnteza por tudo o que nos impede de progredir, do que realmente assumir a responsabilidade de nos tornarmos tudo o que poderíamos ser. 
Quando Shakespeare disse: "Ser ou não ser, eis a questão", o mundo mal compreendeu o que ele quis dizer com isso. Essa falta de compreensão não acaba simplesmente porque se é um estudante de Astrologia, o que é a primeira porta para a compreensão. Dificilmente existe um estudante de Astrologia que uma vez ou outra não procure colocar a culpa pelas circunstâncias em sua vida em um ou outro aspecto que está se iniciando em seu horóscopo. Assim, a natureza do homem é sempre tentar conseguir algum bode expiatório fora de si mesmo para aquilo que ele não está querendo encarar como sua própria verdade. Esse olhar para fora do "eu", por razões, efeitos e causas, ocasiona o que Shakespeare teria chamado de um estado de "não ser". Mas, no momento em que um indivíduo decide que, quer "ser", então ele começa verdadeiramente "a encontrar a si mesmo" como a causa e o efeito, o líder e o discípulo, a fonte e o reflexo. Em essência, ele começa a se tornar seu próprio guardião. E, nesse ponto, ele pode começar a compreender o verdadeiro significado do karma, pois, na verdade, a única coisa comum a todos os eventos, circunstâncias e pessoas em sua vida é Ele mesmo! 

Texto extraído do livro "O Carma do Agora", do grande astrólogo cármico Martin Schulman

domingo, 21 de outubro de 2012

A Atenção e as Duas Naturezas

Dr. Conge - um raro buscador
Na página  "Quem escreve? Porque?deste blog, contei que no passado participei de um Grupo em Sampa, que de 1970 a 1984 foi orientado  pelo Dr. Michel Conge na França, ele discípulo de Gurdjieff. Um período de ouro. 
Michel Conge nasceu em Pau, sudoeste da França em 1912. Cedo decidiu devotar-se à “procura do real atrás das aparências”. Sua questão levou-o primeiramente à medicina. Enquanto trabalhava como médico-biólogo no Instituto Pasteur em Paris encontrou o escritor René Daumal que o introduziu a Jeanne de Salzmann. Ela logo o convidou a se juntar a G.I.Gurdjieff. Iniciando em 1948, encorajado por Gurdjieff e Madame de Salzmann, Conge reuniu à sua volta e de sua esposa, Gilles, um núcleo de homens e mulheres cuja busca ele acompanhou e dirigiu até sua morte em 1984.
A palestra abaixo foi dada por Michel Conge em Santiago do Chile em 06 de agosto de 1966. Extraída de “Record of a Search –Working with Michel Conge in France” de Ricardo Guillon. 
A forma do texto é corriqueira, mas não se enganem, é profunda e exige uma leitura com atenção e às vezes com intervalos a fim de metabolizar cada frase. Aliás ela fala de nada mais que A Atenção (rsrs).
Vamos à palestra do Dr. Conge (como ele era conhecido):

"Eu não pretendo dar uma palestra formal, mas prefiro olhar de perto certas idéias que pertencem ao ensinamento de Gurdjieff. Então eu falarei especialmente àqueles que têm procurado por vários anos ou por vários meses e, tendo se familiarizado com estas idéias, sentem sua verdade. Por exemplo, se eu falar a respeito de liberdade ou liberação, é óbvio que pensa que é livre, consciente, tem vontade e pode fazer qualquer coisa que ela queira na vida.
Apenas aquele ser ao qual a vida mostrou o status de dependência dele e que compreendeu que as coisas são feitas através dele – e não por ele – pode realmente querer tornar-se livre e alcançar a Consciência.
Este ensinamento abrange ideias que são muito desagradáveis de ouvir – por exemplo, que nós somos mecânicos. Esta é uma pílula amarga ao nosso amor-próprio, embora seja verdade, e é relativamente fàcil acatar uma ideia assim: nosso ser pode ser comparado a uma mansão com quatro andares, mas nós ocupamos apenas o porão, um lugar escuro no qual somos mantidos prisioneiros, quando há coisas muito importantes nos outros níveis. Inicialmente pode-se pensar que há algo depressivo nesta ideia  Entretanto, se eu estou querendo olhar a minha vida e todos os fracassos que eu experimentei, posso reconhecer que esta perspectiva explica muitas coisas e, no final, oferece grande esperança: eu percebo que se eu pudesse ocupar todos os cômodos da minha mansão, minha vida mudaria. Da mesma forma, quando nos é dito “Eu não sou o que eu sou”, há nisto um convite à totalidade, que me dá coragem.
Meu desejo esta noite é que nós possamos vir a sentir que uma visão ampla da natureza humana é necessária para um trabalho real sobre Si Mesmo.
Se nós falamos em liberação, questões logo surgirão do tipo ‘por que’ da minha escravidão e de ‘como’ da minha liberação.
A fim de nos ajudar a alcançar uma visão ampla, todos ensinamentos oferecem a ideia de escada, embora ela não seja sempre facilmente reconhecida nos textos antigos, os quais são freqüentemente incompletos ou distorcidos pelos copistas. A constituição dos seres humanos não é plana, mas consiste de níveis, andares. O ser humano não corresponde a apenas um nível do universo, mas a muitos. É algumas vezes dito neste ensinamento que um ser humano completo, desenvolvido, de verdade, tem sua cabeça ao nível das estrelas e seus pés na terra, e isto sugere não apenas um símbolo, mas uma verdadeira escada, indicando uma direção, um reto caminho.
Nós precisamos compreender que as duas naturezas do homem estão inscritas nesta escada: na parte superior da escada, a natureza mais alta; na parte inferior, a natureza ordinária na qual nós vivemos todo o tempo e na qual o centro de gravidade de nossa existência inteira se encontra.
Entre estes dois níveis há um intervalo, um espaço que não pode ser ligado. Muitos textos antigos falam deste intervalo; por exemplo, no Velho Testamento, o esforço entre Jacó e o Anjo que tem lugar precisamente no meio de um rio, num banco de areia. É válido considerar todos os elementos da estória: no banco mais alto, o irmão mais velho e, no banco mais baixo, o irmão mais novo que vem com toda sua família, suas cabeças de gado, suas riquezas, e vem com medo. E o esforço, no qual uma nova força aparece na forma de um Anjo, um mensageiro de Deus – a terceira força (Gênesis 32 a 38, creio).
Consciência e vontade, que são realidades pré-existentes, pertencem à natureza mais alta. Todas as manifestações ilusórias – mentira, imaginação, mecanicidade – correspondem à natureza mais baixa, que recebe apenas pálidos raios de consciência filtrados pelo intervalo.
Nós encontramos no Evangelho – na parábola de Cristo no poço do qual a mulher samaritana vem pegar água – esta ideia de que a fonte da vida reside em uma natureza mais profunda. Intervalo, poço, rio - todas imagens simbólicas que fazem-nos compreender que a água da vida deve ser procurada além de onde esperamos encontrá-la (João 4:12-14 19-21, creio.).
Ao preparar esta conversa, eu me recordei de uma estória Zen da antiga China, a qual é válido contar pelo fato de ser muito simples e clara. Um discípulo veio ao seu mestre com a seguinte questão: “Eu gostaria de compreender a natureza humana”. A resposta do mestre foi pegar uma pá, cortar uma minhoca em dois pedaços em um único golpe e justapor as partes tentando, em vão, reuni-las.
Este é exatamente nosso problema: como religar as duas naturezas que constituem nosso ser?
Para conseguir isto, nós devemos absolutamente ter acesso ao conhecimento daqueles que, através dos tempos, tornaram-se conscientes, aqueles que conseguiram esta união e procuraram transmitir todo seu verdadeiro conhecimento – conhecimento que não pertence ao nível da vida ordinária e não pode ser encontrado em universidades.
Este conhecimento diz-nos que a natureza mais alta procura unir-se à natureza mais baixa. Mas como nós somos agora, esta natureza mais alta não pode mais ser encarnada em nós, devido ao intervalo intransponível. A natureza mais baixa também tenta unir-se à natureza mais alta, mas, ao final, perde-se em tentativas que cegamente movem-se em círculos.
Nenhuma natureza é capaz de se unir com a outra, pois um elemento conector de uma densidade, vitalidade ou qualidade de vibração intermediária falta entre ambas.
Quando chegamos a este ponto, se não recebemos a ajuda do conhecimento objetivo e toda a informação prática e teórica oferecida pelo ensinamento, nós estamos perdidos. Para resolver este problema, necessitamos acesso a uma ciência, a ciência do ser, e devemos pedir, e aprender como pedir, esta ciência.
Na verdade, deixados por nós mesmos, podemos tentar resolver o enigma intelectualmente. Mas mesmo se nós chamarmos nossa qualidade de pensamento mais inteligente, não podemos encontrar nosso caminho a esta união, embora o pensamento seja um instrumento que deve eventualmente ser útil. Ou podemos chamar nosso sentimento, mas igualmente será falho. O mesmo é verdade se nós acreditamos que podemos encontrar a chave do problema no corpo, no instinto. As funções são instrumentos, mas o segredo será encontrado numa qualidade inteiramente diferente. Ela é encontrada na Atenção, esta substância viva tão pouco e pobremente compreendida, embora cada um de nós tenha acesso a ela. Eu posso sempre estar atento.
E a ideia fundamental é: Eu sou a Atenção. Onde minha atenção está, lá eu estou. Se minha atenção é fraca, eu sou fraco; se ela é mecânica, eu sou mecânico; se ela é livre, eu sou livre.
É claro que alguém pode também dizer “Eu sou consciência”; mas isto não é verdade para mim hoje. Será apenas verdade quando minhas duas naturezas tiverem, finalmente, se unido. Então a consciência viverá no meu ser inteiro e eu saberei que eu sou consciência e a consciência sou eu.
Devemos então retornar à atenção e compreender que da mesma forma que eu sou um ser dividido em dois, a atenção em mim é, também, dividida em duas. Há uma atenção mais alta, escondida, inacessível, sobre a qual eu não tenho mais poder do que sobre minha consciência. É, deste modo, inútil tentar qualquer coisa em relação a esta atenção, que é livre, pura, não engajada, una.
E há uma atenção que corresponde à minha natureza mais baixa, mas esta atenção encontra-se ‘caída’ e fragmentada, dividida em correntes divergentes. Eu posso conhecer esta atenção muito melhor do que eu a conheço hoje. Posso reconhecer a mim mesmo nela e, graças a isto, encontrar a mim mesmo (lembrar de mim mesmo). Isto penetra nas minhas funções, que são seus canais ‘obrigatórios’. E agora eu começo a compreender por que é dito que o autoconhecimento é, ou começa, com o conhecimento da máquina. Esta máquina, meu corpo, minha psique, foram-me dados de modo que eu possa tentar reconhecer a mim mesmo enquanto ‘atenção’, e estas três correntes de atenção podem se agrupar neste nível mais baixo.
Eu devo compreender que nesta natureza mais baixa cada corrente de atenção pode aparecer em graus de intensidade diferentes. Eu preciso aprender que a atenção pode se manifestar de maneiras completamente instáveis e errantes. Por exemplo, no meu funcionamento intelectual a atenção errante deixa a si mesmo ser varrida por tudo que a atrai; palavras, imagens, lembranças e cada evento no meu dia podem varrê-la, cada um de seu próprio jeito. Eu saio à rua; as vitrines, as pessoas constantemente tomam esta atenção. Ela não tem maior estabilidade do que uma borboleta. Saia para andar com a intenção de pensar a respeito de seus próprios assuntos. Um cachorro late para você e toma toda sua atenção. Este cachorro é mais forte do que você. Tanto melhor para a força deste homem, que pensou que era consciente, pensou que era mestre de sua própria vontade. E o que ocupa lugar no intelecto também ocupa nas funções emocionais e motoras.
Às vezes, quando um problema ou grande dificuldade surge, minha atenção pode ser concentrada, condensada; sua qualidade muda, ela adquire mais força, é sustentada por um elemento de desejo ou interesse. Não mais errática, ela é capturada: um motivo especialmente forte a tomou.
Há, entretanto, uma espécie de atenção muito diferente, uma atenção que é mais consciente, mais voluntária. Algumas vezes, em ocasiões raras, eu descubro o gosto dela.
Se isto ocorre no meu pensamento, eu vejo que meu pensamento se torna claro. E se isto ocorre no meu sentimento, eu conheço o sentimento de ser completamente livre das minhas emoções habituais. Em relação ao meu corpo, posso também experimentar de uma maneira nova o que está acontecendo ao seu nível.
O que é importante é aprender que cada um destes graus ou qualidades de atenção corresponde a um dos três níveis dos meus centros, pois cada centro consiste de três níveis:

  • um nível motor ou mecânico,
  • um nível emocional,
  • um nível intelectual.

O conhecimento da correspondência entre cada gosto específico de atenção e cada um destes níveis é um enorme segredo. Se eu aprender a reconhecer e ver isto, o caminho na direção da unificação ou reunificação da atenção se torna aparente. Mas eu tenho que compreender que estes três caminhos devem ser experimentados simultaneamente. Para praticar, é bom trabalhar primeiro em um centro, depois em outro. Entretanto, no nível da minha natureza ordinária, o retorno à atenção reunificada é possível apenas quando os três centros essenciais da minha natureza mais baixa se encontrarem, ou seja, quando estiverem nos seus níveis mais altos. Apenas neste momento a atenção efetivamente adquire uma nova característica: ela se transforma em atenção verdadeiramente voluntária, atenção consciente. Eu não estou dizendo que isto é consciência ou vontade, mas seu caráter consciente e voluntário ajuda-me a compreender que há algo agora nesta atenção regenerada que pode corresponder às propriedades da natureza mais alta.
Mesmo assim, esta união não é, ainda, possível. Entretanto, eu prossigo vivendo minha vida e compreendo que, graças ao esforço de desengajamento, todos estes esforços ao nível de cada função permitem que a atenção adquira propriedades que estavam faltando antes. E eu compreendo ambos, a razão para este nascimento no corpo e o significado do esforço de retornar à origem.
Ao nível do centro intelectual, a atenção adquire um poder de visão. É como uma luz que sustenta tudo no seu campo de iluminação.
Ao nível do centro emocional, a atenção adquire um calor que estava faltando, graças ao qual o esforço pode ser sustentado por um momento sem enfraquecer.
Ao nível do corpo, a atenção é sustentada por um novo fenômeno, que leva muitos anos para compreender bem: uma sensação de Si Mesmo, uma sensação que não é nem agradável nem desagradável. Eu sei que eu estou aqui
  • por esta visão,
  • por este sentimento,
  • por esta sensação,
e estes são os sinais que antecedem a descida da Consciência e Vontade.
Mas isto ainda não é suficiente. Se for verdade que, graças à sensação, a atenção se beneficia de um suporte sólido que evita que ela vagueie, e se, devido a este novo sentimento e clareza, a atenção pode evitar o estado cativo, eu ainda preciso me familiarizar melhor com fontes adicionais de ajuda. E eu as encontrarei na descoberta das impressões conscientes de Mim Mesmo.
Eu estou realmente dizendo conscientes, impressões intencionais de mim mesmo, do que vive no meu ser. Eu sei tudo sobre impressões, eu as recebo todo o tempo – impressões não intencionais, mecânicas, oriundas do ambiente. Cada coisa, cada pessoa que eu vejo, a temperatura desta sala, toda a comida que eu como – tudo isto causa impressões. Mas se é verdade que estas impressões permitem-me viver, e se é verdade que eu poderia morrer neste mesmo instante se eu parasse de recebê-las, é também verdade que estas impressões lentamente me destroem. Elas capturam minha força de atenção, elas me empurram à reação.
Qual é o significado de impressões conscientes e intencionais de si mesmo?
É, em primeiro lugar, a impressão de mim mesmo recebendo as impressões mecânicas da vida, o impacto da vida, e devo fazer o esforço para experimentar isto freqüentemente. Aqui minha atenção encontra um suporte de modo a não se perder.
Mas eu devo descobrir impressões mais profundas – não ainda as impressões reais e diretas da minha natureza mais alta, mas, de preferência, das partes mais altas dos centros mais baixos.
E, finalmente, uma terceira espécie de impressão – de mim mesmo conhecendo a impressão desta vida profunda e, ao mesmo tempo, recebendo as impressões mecânicas da vida.
Isto ilumina o conceito bem conhecido do Bhagavad Gita – o campo de ação, o conhecedor do campo e aquele que conhece, ao mesmo tempo, o campo e o conhecedor do campo. É exatamente a mesma coisa.
Muito mais poderia ser dito sobre a questão da atenção. Por exemplo, a ideia da mudança de sinais, baseado no conceito de relatividade. O nível mais baixo de cada centro deveria ser passivo e, em relação a ele, o nível mais alto deveria ser ativo. Isto seria normal. Mas no meu modo habitual de ver precisamente o oposto ocorre. Se nós retornarmos à ideia de duas naturezas, a natureza mais alta deveria ser ativa, no comando, e a natureza mais baixa deveria ser passiva, a serviço. Na verdade a natureza mais alta permanece passiva e a agitada natureza mais baixa roga, para si, o papel ativo; e isto porque não há nada que as reconcilie.
É o mesmo em cada um dos meus centros. Mas eu posso compreender que quando eu tento libertar minha atenção, ela aparenta ser ativa (eu aparento ser ativo) em relação ao mecanismo que se torna passivo. Progressivamente, eu vejo a permutação de sinais revelada.
Finalmente, se os níveis mais altos dos centros de tornarem ativos, um grande evento pode acontecer: toda esta natureza, agora unificada e ordenada, pode começar a servir à natureza mais alta. A ordem de sinais é revertida.
Melhor ainda, como eu liberto a mim mesmo das funções e como minha atenção, carregada com novo poder, reveste cada uma das funções, eu descubro que uma nova estrutura está, gradualmente, tomando forma, permeada de qualidades de pensamento, sentimento e sensação que eu não conhecia anteriormente. Esta estrutura – um novo corpo se formando, condensando, organizando – é o elemento intermediário anteriormente perdido capaz de unir as naturezas alta e baixa.
A partir daquele momento, pode-se falar em Vigilância, quer dizer, uma capacidade de viver um esforço de tal modo que o sinal não mais reverta e a ligação verdadeiramente ocorra.
Tudo isto eu devo, agora, tentar viver e carregar na intimidade do meu coração, protegendo-o contra todas as coisas que possam destruí-lo."

domingo, 14 de outubro de 2012

Busca Interior e Política


O Padre Eterno também vota (rsrs)
O título parece uma contradição: busca interior e política. Qual é a forma de conciliar a ação normal e corriqueira no mundo exterior, e a busca interior? Conciliar o Espirito e a chamada "concretude" do mundo? 
Há um grande leque de formas de se viver no mundo, desde o desapego do secreto Dzogchen, do qual falamos em O Sonho - Visão Budista e Corpo de Glória, Corpo de Arco-Iris, Terceira Atenção, que afirma que “não há que mudar nada no mundo, porque não vemos a verdadeira realidade, e o que chamamos de mundo é ilusório”, e no outro extremo o caminho transformador da ação, do guerreiro que arregaça as mangas e age.
As pessoas tem me perguntado com frequência sobre como, juntamente com a busca interior, encarar o mundo exterior nas miudezas concretas, esse palco do braço horizontal da cruz: como enfrentar os relacionamentos, o dinheìro, a vocação, família, amor, amigos, inimigos, mudanças, enfim as 12 casas terrenas do zodíaco. Viver o interior e o exterior com presença e atenção simultaneamenteé o grande nó do ser humano. Tenho resistido apesar  da vontade de falar sobre isso, mesmo porque gente muito mais  sábia, competente e capaz já falou, desde que o mundo é mundo. Só pra escolher um dentre milhões, quem já leu o livro “O Profeta” do Gibran Kalil Gibran? Simples e no alvo. Fala com propriedade e clareza desses temas exteriores e como se colocar interiormente frente a eles.
Nos últimos dias vários me perguntaram sobre como enfrentar, em termos concretos e práticos, como buscador da evolução do espírito, a política, os políticos, o voto, as escolhas... enfim, o lixão que está aí, como todos neste mundo estão vendo. Participar ou ignorar?  Perguntam, é claro, influenciados pelo fato de a política e políticos brasileiros estarem atualmente na berlinda,  estressados, e na mira da Justiça e da imprensa sérias, graças aos últimos acontecimentos do julgamento do chamado Mensalão, ou “compra de políticos da oposição pra obter apoio na votação dos temas importantes do partido que está no poder”. Como encarar isso interiormente? Então não resisti e vou colocar a boca no trombone, que também não sou de ferro, ora essa (rsrs). Mas tendo sempre como pano de fundo a visão das tradições autênticas do planeta, que formaram no ser humano responsável o que Gurdjieff chamava de consciência moral. Notem que eu não disse religiões, mas tradições. Há uma grande diferença qualitativa e de conteúdo entre as duas coisas . Tradição é o círculo mais esotérico e interior, religião é o mais exotérico e portanto exterior, secular e corriqueiro.
A rigor acho 99% da política, políticos e partidos, não confiáveis, mas antes de pensar em como se colocar frente ao tema político e qual é a melhor posição política num certo referencial, a primeira coisa que me ocorre claramente é considerar e avaliar um problema anterior, camuflado, aparentemente inocente e útil, de difícil solução e que poucos percebem, e que desafiou a humanidade toda desde as assim chamadas sociedades primitivas nas sua experimentação e escolhas: a representatividade. Ela é o X da questão, uma solução e um problema simultaneamente, à medida que a sociedade cresce e se sofistica. 
O rapaz índigo Matias de Stefano diz que a humanidade na Terra vem experimentando e resolvendo os problemas e contradições desde o início pelo método de tentativa e erro, e vai continuar fazendo isso e agregando conhecimento à aventura de viver neste planeta. Às vezes erra e retrocede, às vezes acerta e a gente avança, e vai ser assim sempre. Não há uma linha contínua ascendente, há só o experimentar, dentro das condições de espaço e tempo. Acho isso incrivelmente bem colocado, mas o grande problema nosso é o apego humano atávico e natural ao resultado da ação, ao sucesso. É isso que nos aprisiona, angustia e frequentemente nos faz tomar partido e sermos competitivos, opositores e agressivos . De fato como dizia Don Juan deveríamos, na experiência, agir por agir sem o olho na recompensa. Parecido com o Dzogchen. Não é fácil...
O grande pepino da representatividade é que quando eu, pelas razões que forem, dou a uma outra pessoa uma parcela ou todo o meu direito ou poder para que ela em meu nome o exerça por mim, o problema já começou. Eu junto os meus demônios com os do meu representante, e não as minhas virtudes com as dele. É só olhar para o que está aí à nossa volta. Não importa que o representante seja uma pessoa, uma entidade, o Estado. É sempre a mesma coisa. 
Não há formas de, ao dar a parcela do meu poder para alguém agir em meu nome, cobrar efetivamente que as suas decisões sejam como seriam as minhas. E se fossem, talvez fosse pior, falíveis que somos aos 7 pecados capitais. Mas voltando, as decisões dos representantes nunca serão as mesmas minhas pelo direito que lhe dei ao votar, pelo menos não totalmente. É uma questão de matemática, de estatística, de probabilidade: na melhor das hipóteses não há duas pessoas ou instituições que tenham as mesmas opiniões sobre tudo, como espelhos uma da outra. Mesmo que o representante seja honesto, ele pode concordar com você no item segurança, ou impostos, mas não no item educação ou transportes. Em se tratando de políticos e representados então, não há a menor possibilidade de representatividade. Esqueça. O político não tem ideais, só interesses. 99% deles só querem exercer o poder como resultado do apego natural do ser humano, do pecado capital do orgulho, e nós entramos na deles. Se elegeu, te esqueceu. A mola propulsora deles é o apego à auto imagem misturado ao do poder, do dinheiro... A gente pode encarar o mundo de uma forma zen, mas não é cego. No caso da política, vi há alguns anos a entrevista de um presidente de uma grande agência global de publicidade dizer sabiamente: “Os políticos só pensam em duas coisas: em si mesmos e nas próximas eleições”. Ponto. E não se iludam que as “plataformas ideárias dos partidos” resolvam isso para você, porque "os partidos são um degrau a mais de representatividade além do representante político, entre você e o mundo, como se já não bastasse" 
Os partidos não são necessários. Você nunca pensou nisso?  Pois é. É a força do hábito, cumpadre e cumadre. Sempre foi assim, né? Se pensar melhor, os partidos não deveriam existir. Eles são aglomerados confusos, indistintos, ávidos, mentirosos e perigosos  de “busca do poder a qualquer preço”, e são todos farinha do mesmo saco (veja o partido que nos governa e todos os outros), e como qualquer ser no universo, ao serem criados, os partidos não querem mais morrer, graças aos interesses e a energia dos seus criadores colocada neles, partidos. A carta 15 do Tarot fala exatamente disso. Veja a imagem dela lá no Tarot de Marselha: os dois seres humanos embaixo criaram algo que os acorrentou. Esse é o Diabo, the true, que passa a dirigi-los. A criação passa a dirigir o criador. Leiam sobre essa carta no livro Meditações Sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarot. É de uma sabedoria cristalina sobre a natureza mágica da criação dos seres, entidades, grupos, filosofias, idéias, anseios, desejos e o escambau. Nada que foi criado quer morrer, por pior que seja...
E tem mais: hoje com o desenvolvimento e a popularização da informática, o barateamento natural do computador, os projetos de acesso fácil a ele pelos pobres, os aplicativos incríveis, nem os políticos são necessários entre você e o que você gostaria para a sociedade. Fazer leis é uma coisa muito importante para ser deixada nas mãos de políticos. Deve ser deixada nas mãos da sociedade civil, assessorada por alguns doutos juristas. Chega de representantes. Basta um computador ou celular, e você pode votar lá da praia, da beira do rio pescando, ou de uma plataforma no espaço. E mais: pode votar uma vez por mês, ou por semana ou por dia, em alguns segundos, sobre uma diversidade incrível de temas importantes. Um plebiscito único a cada vez. O Brasil tem uma experiência única e campeã no mundo sobre o voto eletrônico que supera os países mais ricos inclusive os EUA cujo sistema  de voto, conteúdo e forma, é da idade da pedra. Então só falta o voto informático. Já pensou? Você poder votar toda semana sobre o que você deseja do Estado e Governo, nos níveis municipal, estadual, e federal, sobre a sua rua, cidade, país, em termos de temas como educação, segurança, economia, impostos, prioridades, etc. É isso aí. Queremos o PSIU – Plebiscito Semanal Informático Único!
Mas o problema não se restringe só à política. É estendido para outras áreas como a religião, associação de classes, os sindicatos, e a rigor para qualquer área do relacionamento humano desde o casamento até a torcida organizada de futebol. Qualquer tipo de representante,  religioso, político, sindical, é farinha do mesmo saco, apesar de os primeiros exibirem maneiras sacerdotais e seu ar sagrado, e os outros se mostrarem como salvadores imprescindíveis dos votantes. Com raras exceções de um mestre autêntico, eu passo o meu poder como uma bola redondinha ao líder religioso e ele o devolve a mim como uma bola quadrada, me castrando com a sua visão do mundo que sei lá de onde veio, e com os interesses mais obscuros e inconfessáveis por trás. É uma prisão com o meu consentimento. Vocês observaram ano a ano como os lideres religiosos, pastores, padres e outros estão ficando mais seculares, interesseiros e negociantes, perdendo a antiga compostura e dando opiniões nas amplas entrevistas na mídia, tentando conduzir o voto dos  fiéis sonsos, conforme os interesses mundanos das “plataformas religiosas” que seguem, tentando conduzir não só votos como as mentes? Só não perdem para os políticos que são mais agressivos, venais e corruptos  e buscam o poder descaradamente a qualquer preço. A religião quer voltar a se unir ao Estado ou governo, mas para comandá-lo. As duas instituições, quando perdem a eleição, tentam conduzir o rebanho que votou neles para outros políticos, sejam até do partido opositor, conforme os interesses dos partidos. Uma geléia geral. Tudo gado. Já pensou no que significa isso? É o ó do borogodó! 
Mas voltando: o representante religioso, sindical ou classista é também o mesmo Demônio da carta 15 do Tarot. Pau neles também.
Vejam os sindicatos, outra entidade que faz a mesma coisa. Você se sindicaliza e dá parte do seu poder a uma cúpula e um líder que, como os políticos, só quer o poder político a qualquer custo. Sindicalismo e política é a união da fome com a vontade de comer, um casamento explosivo e danoso entre gatos do mesmo saco. Você e os seus interesses profissionais ou de classe são irrelevantes para eles. É só olhar em volta e ver.
O sindicalismo sempre foi uma das maiores matrizes da corrupção no mundo. Nos EUA criaram e desenvolveram a máfia nos já poderosos setores portuário e de construção civil. Até na Polônia nos anos 70 e 80 o aparentemente austero e aplaudido sindicato socialista Solidariedade e seu líder Lech Walessa, que serviram de modelo aos líderes sindicais brasileiros em ascenção na época, foram pegos com a boca na botija. Um escândalo inacreditável naqueles anos mais ingênuos. Alta corrupção. Quem gosta de História que veja. Os sindicalistas brasileiros então, no embalo, juntando-se com a “Igreja Progressista”, líderes estudantis (hoje ex-ministros corruptos) e os “intelectuais de esquerda” (eu não entendo como um intelectual pode ser de esquerda ou direita) fundaram o Partido dos Trabalhadores, cuja bandeira era a honestidade. Uma vestal incorruptível, ao contrário dos outros partidos que, sabemos, eram corruptos também, mas não se fingiam de honestos, daí o desencanto de muitas figuras sérias que deixaram o partido. O resto você já sabe. O ex-ministro mais forte dele, condenado por corrupção, sempre se declarou stalinista, porém (pasmem) "um arauto da Democracia". É possível? Aos que não sabem, Stalin sempre foi historicamente conhecido como um genocida, culpado da morte de 4 a 10milhões de pessoas, em grande parte russos. Te'sconjuro, sô!
Uma pena, para um partido que realmente fez algo bom em termos de resgate econômico da classe pobre e sem cultura no Brasil, se bem que de forma clientelista, do tipo “toma lá, dá cá”: eu dou uma Bolsa-Qualquer em dinheiro e você, pobre, dá o seu voto. Não precisava disso.... Mas fica a perguntinha incômoda: o verdadeiro chefão não sabia de nada? Novamente? O Ministério Público parece que vai dar uma olhadinha nisso... Se fosse um diretor de uma empresa, já estaria demitido ou preso, no mínimo por não saber de nada.
Então você, que é esperto pergunta:  “Como resolver o problema enganador e perigoso da representatividade?” Eu não sei. Dei umas idéias acima, mas acho que temos que começar a experimentar as soluções como a humanidade tem feito até hoje, como disse o Matias de Estefano. Mas mesmo que você se envolva nisso para tentar fazer mudanças, aja como no Dzogchen, sem apego ao resultado, “agindo só por agir”, porque além de tudo ser ilusório, o resultado da ação pode não acontecer do jeito que você gostaria, ou pode demorar mais que a sua vida, já que é uma experiência no tempo. Conselho: apesar do possível empenho ou entusiasmo na ação, não se pode deixar arranhar pelo apego ao resultado. O apego emocional faz mal ao fígado, rins e coração, no mínimo...

NOTA: Segue comentário recebido 12 horas após a postagem, de uma leitora lá das Gerais: 
"Oi Arnaldo,
Incrível o seu texto e a sincronicidade!
Pela primeira vez tive que fazer um trabalho de assessoria de imprensa para uma campanha municipal e fiquei muito abalada fisica e mentalmente com as pessoas que convivi, com as situações, e muitas vezes fiquei me perguntando: - meu Deus, por que estou passando por isso?
Parece que minha vida é estar no meio de pessoas adormecidas. Foi um trabalho muito cansativo, por todos esses motivos que você citou no texto e por minha descrença no "segmento".
Foi um desafio me manter equânime, sem me deixar levar pelo furacão. Ainda estou me recuperando...
Sempre maravilhoso te ler, amigo Arnaldo!
Abraços

Flor"

Ela está falando da corja que toca a nossa política. Se as pessoas sérias não ocuparem esses lugares, eles continuarão lá!


sábado, 6 de outubro de 2012

Pandora e Prometeu, Adão e Eva, Lúcifer e outros "causos"

 A mitologia grega é pura astrologia ocidental, pelo menos no que se refere aos personagens maiores, os deuses do Olimpo, e nos traz uma versão similar à bíblica no que se refere à origem do sofrimento, através do mito de Pandora. Mas antes de entender esse mito, vale a pena começar a narrativa com a história de Prometeu e seu irmão Epimeteu, relacionados a Pandora.
Na mitologia grega, Prometeu e Epimeteu são dois titãs, que pertencem ao grupo dos antigos deuses, ou seja, os que governavam antes dos deuses olímpicos, mais conhecidos graças à Astrologia. Conta a lenda que as criaturas foram feitas da terra, do limo e do fogo e depois de prontas, foi dada a tarefa a estes dois irmãos de distribuir os atributos às espécies. Epimeteu atribuiu então a cada animal uma série de habilidades: a uns dava força, a outros agilidade, a outros asas, chifres, veneno, etc. Quando chegou na última criatura, o homem, já havia distribuído todos os dons entre os outros animais. Recorreu então a seu irmão, Prometeu, que decide roubar o fogo dos deuses e doá-lo à humanidade. Em represália, Zeus manda acorrentar Prometeu em uma rocha e uma águia (ou abutre) vem todos os dias para devorar o seu fígado. À noite, como Prometeu é imortal, o fígado se regenera e no dia seguinte novamente o seu fígado é devorado. Prometeu permanece nesse sofrimento até o dia em Héracles (ou Hércules) o liberta.
Os deuses decidem castigar também a humanidade por ter se apropriado do fogo sagrado. Para tanto, criam Pandora, a primeira mulher e cada deus deposita um de seus atributos nela e a enviam a Epimeteu, que a toma como esposa, apesar das advertências do irmão para não aceitar presentes dos deuses. Junto com Pandora, enviam uma caixa fechada, que dizem a ela que não deve abrir. Mas uma bela noite, tomada pela curiosidade, Pandora decide abrir a caixa e de dentro dela saem todos os males do mundo, como a fome, a doença, a guerra e o sofrimento. E depois de sair todos os males, sai de dentro da caixa uma pequena estrela que representa a esperança.
O nome “Prometeu” significa “aquele que prevê” ou “que pensa antes de fazer” e Epimeteu “aquele que pensa depois”, ou seja, Prometeu é o símbolo daquele que é precavido, prudente e ponderado, enquanto que Epimeteu é o seu oposto, ou seja, é a espontaneidade, a imprudência e a impetuosidade. Ambos representam a natureza humana, em seu antagonismo intelecto x instinto, razão x impulso.
Tal como o Criador faz a criação à sua imagem, Epimeteu dá os atributos aos animais, que são justamente a expressão instintiva da natureza, enquanto que Prometeu dota os homens com a capacidade do raciocínio, da abstração e da metodologia. Mas ele ainda dá algo mais aos homens, que é algo que ele, por si só, não possui: o fogo sagrado. O fogo sagrado é o que diferencia o ser animal do ser espiritual e ao receber esse presente, o homem passa a desfrutar da possibilidade de ser como os deuses.
No Gênesis bíblico, o fogo sagrado corresponde à árvore do conhecimento do bem e do mal, de onde provém a sabedoria e que tem suas raízes compartilhadas com a árvore da vida. No Gênesis, o homem é expulso por ter comido da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois “se tornou como um de nós” (Deus, ou melhor, os Elohim) e caso comesse da árvore da vida, se tornaria ainda imortal. No mito grego, o fogo sagrado é o que separa os deuses dos homens e ao recebê-lo, podem realizar prodígios que antes só poderiam ser feitos pelos deuses.
No mito judaico, ao comer do fruto proibido o casal é expulso do paraíso e lançado ao mundo. No mito grego, ao receber o fogo sagrado são castigados com o recebimento dos males do mundo, o que em síntese é a mesma coisa.
Na mitologia grega, Pandora (que significa bem dotada) foi a primeira mulher que existiu na Terra. Criada por Zeus (Júpiter) para castigar os homens pela ousadia do titã Prometeu em roubar aos céus o segredo do fogo, ela surgiu para o mundo como resultado da participação de vários deuses em sua formação: o primeiro a colaborar nesse sentido foi Hefesto (Vulcano), que moldou sua forma a partir de argila; depois dele, Afrodite (Vênus) deu-lhe beleza; em seguida, Febo (Apolo) incutiu-lhe talento musical; Ceres (Deméter) ensinou-lhe a arte da colheita; Atena (Minerva) concedeu-lhe a habilidade manual; Mercúrio (Hermes), dotou-a do dom da persuasão; Poseidon (Netuno) forneceu-lhe um colar de pérolas e a certeza de não se afogar, além de outros mais. São as qualidades olímpicas dadas ao ser humano. Ao final, Zeus (Júpiter), após arrematar a obra dando-lhe uma série de características pessoais, enviou-a para a Terra, onde ela foi dada como presente a Epimeteu, irmão de Prometeu.
Sobre esse episódio, diz a lenda que antes de ele acontecer o titã Prometeu e seu irmão, pertencentes a uma raça gigantesca que antecedeu o homem sobre a Terra, foram encarregados pelos deuses de fazer tanto a criatura humana como os animais, dando a cada um deles as necessárias condições de preservação no ambiente onde viveriam. Epimeteu encarregou-se imediatamente da tarefa atribuindo a cada bicho os dons e atributos de que ele precisaria para sobreviver (como velocidade, rapidez, valentia, asas, garras, dentes, guelras, etc.), mas quando chegou o momento de produzir o homem, que deveria ser superior aos demais seres que com ele compartilhariam a vida terrena, já não dispunha mais dos recursos de que precisava para fazer isso. Desorientado e sem saber como proceder, ele então recorreu ao irmão, que para socorrê-lo subiu ao céu com a ajuda de Atena (Minerva) e lá acendeu sua tocha no carro de Hélios, o deus-sol, trazendo o fogo para o homem e dando-lhe, assim, o recurso com que poderia subjugar as outras espécies vivas.
Zeus irritou-se com a atitude de Prometeu, e desejando puni-lo pela audácia cometida, enviou-lhe a recém-acabada Pandora, mas o titã a recusou polidamente. Em seguida ela foi oferecida a Epimeteu, que apesar da recomendação do irmão no sentido de que desconfiasse sempre dos presentes dados pelo deus maior, a aceitou de bom grado e casou-se com ela. Para alguns autores, a primeira mulher levava consigo uma caixa que continha todos os males do mundo, tais como doenças do corpo (cólicas, reumatismo, gota, etc.) e do espírito (inveja, despeito, vingança, etc.); para outros, no entanto, era Epimeteu que possuía uma caixa onde guardava certos sentimentos malignos que preferira não dar ao homem quando o estava preparando. Uma terceira versão sustenta que por ordem de Zeus, Prometeu foi preso e condenado a ficar acorrentado no alto de uma montanha, aonde, todos os dias, uma águia ou abutre gigante vem comer-lhe as vísceras, que são regeneradas à noite, ficando fadado, portanto, a sentir dores por toda eternidade. Antes, porém, ele deixou com seu irmão uma caixa contendo todos os males que poderiam atormentar o homem, pedindo-lhe que a olhasse com cuidado e não deixasse ninguém se aproximar dela. Atendendo a essa recomendação, Epimeteu havia colocado duas gaiolas com gralhas no fundo da caverna onde morava, escondendo a caixa entre elas. Desse modo, caso alguém se aproximasse sem que ele o percebesse, as gralhas fariam um barulho insuportável, alertando-o sobre o intruso..
Mas, Pandora, seduzindo-o, conseguiu convencê-lo a tirar as gralhas da caverna alegando que não se sentia bem com as aves por perto porque tinha medo delas. Epimeteu atendeu à esposa, e mais tarde, após tê-la amado, caiu em sono profundo. Valendo-se da oportunidade Pandora foi até a caixa e a abriu, permitindo que males como mentira, doenças, inveja, velhice, guerra e morte e outros mais, de lá saíssem em turbilhão, de forma tão assustadora que ela entrou em pânico e fechou o estojo antes que o último deles conseguisse escapar: o que acaba com a esperança
Uma outra versão diz que a intenção de Zeus quando mandou Pandora para a Terra, era a de agradar aos homens, e que seu presente de casamento à moça foi uma caixa onde cada um dos deuses havia colocado um bem. Infelizmente, porém, Pandora abriu a caixa sem querer, e todos os bens escaparam e desapareceram, com exceção da esperança, jóia preciosa que fortifica o homem e lhe dá condição de enfrentar todos os males com que a vida o maltrata.
Também existe uma grande semelhança entre Pandora e Eva. Ambas são a primeira mulher e ambas são vítimas de uma armadilha. A primeira armadilha é a história de que “de tudo você pode comer, menos daquilo lá”. Dizer isso para uma criança (inocente), por exemplo, já é o suficiente para aguçar a sua curiosidade. Mas colocar ainda alguém lá, instigando, dizendo “você não tem curiosidade de saber por que será que não pode comer…?”, convenhamos, é uma situação impossível de se vencer. O mesmo acontece com Pandora. Os deuses dizem pra ela: “Leve a caixa, mas não abra!” Isso nos faz inferir que a queda era parte do drama da existência, condição sem a qual não se poderia chegar algum dia à verdadeira sabedoria. Para subir, é necessário primeiro baixar, diz o postulado hermético.
Os gnósticos do século II, considerados como grandes hereges por parte da igreja, faziam uma interpretação muito distinta da que hoje fazemos do Gênesis. Eles diziam que a serpente, na verdade, é o próprio Demiurgo, o Deus do Velho Testamento (assim como a árvore, a maçã e ainda o querubim que ficou na porta, com a espada de fogo). O mais curioso é que em nenhum momento a serpente mentiu para Eva, pois Deus supostamente não queria que se comesse da maçã porque quando eles comessem, enxergariam como Deus (fato que depois é confirmado no mesmo texto).
Ambos os textos ainda deixam uma ponta de esperança à humanidade. O querubim bíblico não barra a porta eternamente, mas apenas protege a árvore da vida para que a impureza humana não a alcance. Igualmente, ao libertar os males do mundo, Pandora fez surgir na natureza humana a esperança, que é a fonte do ânimo para lutar e triunfar sobre todos os males. Isso nos faz entender que no momento em que somos lançados ao sofrimento é que inicia o trabalho de purificação e ascensão.
Prometeu e Epimeteu simbolizam a natureza humana, de origem divina, porém confinada à experiência mundana, uma vez que não vivem no Olimpo. Essa natureza é dual: ela pode ser racional e sensata (Prometeu), porém também pode ser inconsequente (Epimeteu). Pela natureza sensata nos foi dado o direito de desfrutar do fogo sagrado. O fogo é símbolo do instinto procriador, sexual. Mas o fogo sagrado é mais do que isso. Ele é roubado dos Céus para ser entregue aos homens, seres que podem fazer um uso racional dele. Ainda assim, é fogo, mas é divino. Representa esse mesmo impulso sexual voltado para a sublimação da natureza humana em algo superior, divino. Novamente comparando ao Gênesis, o homem foi feito à imagem e semelhança do Criador, o que significa que a ele foi dado o poder de criar e esse poder reside nas gônadas sexuais. Mas a criação não se restringe a criar uma nova vida apenas, pois foi dito “crescei e multiplicai-vos”. “Crescer” refere-se a aprender a manejar sabiamente o fogo sagrado, em prol do auto-aperfeiçoamento.
Prometeu, ao tomar o fogo sagrado para a espécie humana (que na verdade é ele próprio a essência dessa natureza, junto com Epimeteu), é castigado pelos deuses, assim como Adão, que é expulso do Éden e a partir de então deve lavrar a terra com o suor de seu trabalho. Prometeu é acorrentado à dura rocha e a ave de rapina vem devorar seu fígado todos os dias e à noite, o fígado se regenera. Prometeu, simbolizando o aspecto mais racional e sensato da essência humana, é acorrentado à rocha (a matéria, o corpo carnal, com seus desejos e paixões) e o abutre dos desejos vem devorar o seu fígado (que os gregos – assim como os chineses – acreditavam ser a morada dos desejos). Em outras palavras, o sacrifício de Prometeu é submeter-se, como ser racional, às paixões humanas, consequência natural da tomada do fogo sagrado, pois mesmo sendo sagrado, ele arde e queima. À noite, ou seja, no momento em que há o repouso da atividade humana, o fígado se recompõe dos ataques passionais, para novamente ser atacado no dia seguinte. Ele só será liberto no dia em que encontrar-se com o messias grego (Hércules) e novamente encontramos um paralelo bíblico, pois o Cristo veio para redimir os pecados de Adão.
Epimeteu, em contrapartida, não sofre com o “crime” de Prometeu, pelo contrário, ele desfruta das núpcias com sua amada, dada pelos deuses. Epimeteu bem poderia ser comparado ao louco do Tarô, ou ao Dionísio grego. Prometeu sofre porque sua sensatez é limitada pela condição humana. Epimeteu se deleita com essa natureza. Um último paralelo, também profundamente significativo, poderia ser traçado entre Prometeu e Lúcifer, o anjo caído, pois foi condenado pela ousadia de querer tornar-se “como deus”… mas não seria exatamente essa a proposta da jornada humana?