domingo, 30 de março de 2014

O Budismo Tenta Acordar os Adormecidos

O templo e a Natureza
Chegou o momento de agir. Vivemos hoje numa época de grave crise, confrontados com os desafios mais sérios que a humanidade alguma vez experimentou: as consequências ecológicas do nosso carma coletivo. 
A constatação unânime dos cientistas é esmagadora: as atividades humanas estão em vias de provocar um desastre ecológico em escala planetária. O aquecimento global, em particular, está acelerando-se a um ritmo mais rápido do que se previa, sendo hoje patente no Polo Norte. Durante centenas de milhares de anos, o Oceano Ártico esteve coberto por uma camada de gelo tão vasta como a Austrália que se encontra atualmente em rápido desaparecimento. Em 2007, o Grupo Intergovernamental de Especialistas em Evolução Climática (GIEC) previu que, por volta de 2100, o derretimento estival dos gelos seria total, mas é hoje evidente que corremos o risco de isso vir a suceder dentro de uma ou duas décadas. A vasta extensão de gelo da Groenlândia está também derretendo mais rapidamente do que se previra. O nível do mar vai aumentar pelo menos um metro ao longo deste século, o que provocará a inundação de inúmeras zonas costeiras, assim como de importantes áreas cultivadas de arroz de vital importância como o Delta do Mekong, no Vietnã. Por todo o mundo, os glaciares diminuem velozmente. Se as políticas econômicas atuais não mudarem, os glaciares do planalto tibetano, que alimentam os grandes rios que fornecem água a milhões de pessoas na Ásia, desaparecerão nos próximos trinta anos.
A Austrália e o Norte da China sofrem neste momento graves períodos de seca e uma diminuição das colheitas. Importantes relatórios, como o do GIEC, das Nações Unidas, da União Europeia e da União Internacional para a Conservação da Natureza, concordam em afirmar que, sem uma mudança de orientação coletiva, a diminuição das reservas de água e dos recursos alimentares, poderá provocar, entre outras consequências, situações de fome, conflitos motivados pela disputa dos recursos, assim como migrações maciças até meados do século – porventura, mesmo, até 2030, segundo o primeiro conselheiro científico do governo britânico.O aquecimento global desempenha um papel essencial em outras crises ecológicas, como o desaparecimento de numerosas espécies vegetais e animais que partilham a Terra conosco. Os oceanógrafos assinalam que metade das emissões de carbono devidas à utilização de combustíveis fósseis já terá sido absorvida pelos oceanos, o que aumentou a sua taxa de atividade em cerca de 30%. Esta acidificação perturba a calcificação das conchas e dos recifes de coral, ameaçando o desenvolvimento do plâncton, base da cadeia alimentar da maioria das espécies que povoam os oceanos.Os relatórios das Nações Unidas concordam com as tomadas de posição de eminentes biólogos que afirmam que a continuação da atual política de cegueira voluntária levará à extinção de cerca de metade das espécies terrestres atualmente existentes. Estamos transgredindo coletivamente o primeiro dos preceitos: “Não prejudicar os seres vivos”, e estamos a fazê-lo na maior escala possível. Somos incapazes de antecipar o impacto biológico sobre a vida humana que será provocado pelo desaparecimento desta infinidade de espécies que, imperceptivelmente, também contribuem para o nosso próprio bem-estar.
Muitos cientistas chegaram já à conclusão de que está hoje em causa a sobrevivência da própria civilização humana. Atingimos um momento crucial da nossa evolução biológica e social. Nunca na história a necessidade da contribuição do budismo para o bem de todos os seres se impôs com tamanha urgência. Por intermédio das quatro nobres verdades dispomos de um quadro que permite traçar um diagnóstico sobre a nossa situação atual e, assim, definir as grandes linhas de uma solução: as ameaças e catástrofes que nos assombram provêm em última instância do espírito humano, pelo que exigem uma fundamental mutação do nosso espírito. Se o sofrimento individual nasce do apego e da ignorância (dos três venenos: apego, ódio e ignorância), o mesmo sucede quanto ao sofrimento que experimentamos em escala coletiva. A urgência ecológica atual confronta-nos com o eterno sofrimento humano, de uma forma desmedida. Nós sofremos como indivíduos mas também como espécie, de um “eu” que se vê como separado não só dos outros mas também da própria Terra. Como diz Thich Nhat Hanh: “Nós estamos aqui para despertar da ilusão da nossa separação”. Devemos acordar e compreender que a Terra é tanto nossa mãe como nossa casa. Desde logo, o cordão umbilical que a ela nos liga não pode ser cortado. Se a terra adoece, nós também adoecemos porque somos parte integrante dela. As nossas atuais relações econômicas e tecnológicas com a biosfera não são viáveis. A fim de sobreviver às duras transformações que se avizinham, os nossos modos de vida e as nossas expectativas devem mudar. Isto supõe não só novos comportamentos, mas também novos valores. O ensinamento budista segundo o qual a saúde global das pessoas e da sociedade depende do bem-estar interior, e não apenas de indicadores econômicos, permite-nos definir as transformações pessoais e sociais que devemos empreender.
No plano individual, devemos adotar comportamentos que manifestem a nossa consciência ecológica no quotidiano, reduzindo assim a nossa pegada de carbono. Para aqueles que vivem em economias desenvolvidas, isto implica modernizar e isolar as casas e os lugares de trabalho para obter um melhor rendimento energético; reduzir o aquecimento no Inverno e o ar condicionado no Verão; utilizar lâmpadas e eletrodomésticos de baixo consumo; desligar os aparelhos elétricos que não estão em uso; conduzir carros que consumam o menos possível; diminuir o consumo de carne, favorecendo uma alimentação vegetariana, mais saudável e mais respeitadora do ambiente.
Estas iniciativas individuais, todavia, por si só, não são suficientes para evitar futuras catástrofes. Devemos igualmente empreender transformações institucionais, no plano tecnológico e no plano econômico. Logo que possível, devemos “descarbonizar” as nossas produções energéticas, substituindo as energias fosseis por fontes de energia renováveis que são ilimitadas, inofensivas e que estão em harmonia com a natureza. Devemos particularmente parar com a construção de novas centrais a carvão, uma vez que esta é, de longe, a fonte mais poluente e mais perigosa de emissões de carbono na atmosfera. Inteligentemente exploradas, as energias eólica, solar, das marés e geotérmica poderiam fornecer toda a eletricidade de que necessitamos sem prejudicar a biosfera. Cerca de um quarto das emissões de carbono mundiais são devidas ao desflorestamento, pelo que deveremos inverter o processo de destruição das florestas, em particular a faixa das florestas tropicais onde vive a maior parte das espécies animais e vegetais.
Torna-se hoje evidente que é igualmente necessário proceder a alterações significativas na organização do nosso sistema econômico. O aquecimento global encontra-se estreitamente ligado às monstruosas quantidades de energia que as nossas indústrias devoram a fim de dar resposta aos níveis de consumo que correspondem às expectativas de tantos de entre nós. De um ponto de vista budista, uma economia sã e duradoura deve reger-se pelo princípio da suficiência: a chave da felicidade encontra-se na satisfação e não numa multiplicação crescente de bens e produtos. O comportamento compulsivo que leva a um consumo crescente é expressão de apego, aquela disposição que o Buda identificou como sendo a principal causa do sofrimento.
No lugar de uma economia submetida à lei do lucro que requer um crescimento ilimitado para não falhar, devíamos fazer evoluir o mundo em direção a uma economia que promovesse um nível de vida satisfatório para todos, permitindo-nos assim desenvolver as nossas plenas potencialidades (incluindo as espirituais) em harmonia com a biosfera, que sustenta e nutre todos os seres, onde se incluem também as gerações futuras. Se os dirigentes políticos não são capazes de reconhecer a urgência desta crise mundial ou se ele não estão dispostos a considerar o bem estar a longo prazo da humanidade acima dos benefícios de curto prazo das companhias que exploram os combustíveis fosseis, talvez seja necessário que os contestemos mediante o desencadear de campanhas persistentes de ação cívica.
Diversos climatologistas, como o Dr. James Hansen, da NASA, definiram recentemente objetivos precisos a fim de evitar que o aquecimento global atinja um limiar crítico catastrófico. Para que a civilização humana seja viável, a taxa aceitável de dióxido de carbono na atmosfera deve ser inferior a 350 ppm (partes por milhão). O cumprimento deste objetivo é recomendado e apoiado pelo Dalai Lama, assim como por outras personalidades agraciadas com o Prêmio Nobel e por prestigiados cientistas. Na situação atual encontramo-nos nos 387 ppm, nível que aumenta ao valor de 2 ppm por ano.  É assim necessário não só reduzir as emissões de carbono mas também eliminar a excessiva quantidade de dióxido de carbono já presente na atmosfera.
Enquanto signatários desta declaração de princípios budista, nós reconhecemos o desafio urgente que o aquecimento global coloca. Juntamo-nos ao Dalai Lama para apoiar o objetivo dos 350 ppm. De acordo com os ensinamentos budistas, e conscientes da nossa responsabilidade individual e coletiva, comprometemo-nos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para atingir esse objetivo, nomeadamente (mas não só) através das ações individuais e sociais aqui sucintamente indicadas.
Dispomos apenas de um curto espaço de tempo para agir, para preservar a humanidade de uma catástrofe iminente e para assegurar a sobrevivência das diversas e belas formas de vida terrestres. As futuras gerações e as outras espécies que partilham a nossa biosfera, não têm voz para nos pedir que demonstremos a nossa compaixão, sabedoria e poder de cisão. Devemos escutar o seu silêncio. E devemos também ser a sua voz e agir em seu nome.

Redigido por David Loy (mestre zen) e pelo venerável Bhikkhu Bodhi (mestre da tradição Theravada), com a contribuição científica do Dr. John Stanley. Esta declaração tem como seu primeiro subscritor Sua Santidade o Dalai Lama.  

domingo, 23 de março de 2014

Não Dá Para Acreditar: Eu Sou feliz

Osho, um mestre nada convencional
Nota da redação: Este blog está corrigindo uma lamentável falha hoje: está finalmente publicando algo do Osho (conhecido por Rajneesh no meu tempo):

- "Meu médico insistiu para que eu viesse vê-lo', disse o paciente ao psiquiatra. 'Não sei o porquê - pois eu sou feliz no casamento, tenho segurança no meu trabalho, muitos amigos, nenhum problema...'   

- 'Hmmmm,' disse o psiquiatra, procurando por seu caderno de anotações, 'e há quanto tempo você vem se sentindo assim?'


"Felicidade não é algo fácil de se acreditar. Parece que o homem não pode ser feliz. Se você falar sobre sua tristeza, depressão e miséria, todo mundo irá acreditar. Isso parece ser natural. Mas se você falar sobre a sua felicidade, ninguém acreditará em você - isso parece ser não-natural.
Sigmund Freud, depois de quarenta anos de pesquisas a respeito da mente humana, trabalhando com milhares de pessoas, observando milhares de distúrbios mentais, chegou à conclusão de que a felicidade é uma ficção: o homem não pode ser feliz. No máximo, nós podemos fazer coisas um pouco mais confortáveis, e isso é tudo. No máximo, nós podemos tornar a infelicidade um pouco menor, e isso é tudo. Mas, feliz, o homem não pode ser.
Isso parece ser muito pessimista, mas se olharmos para o homem moderno, veremos que é exatamente assim; parece que isso é um fato.
Buda diz que o homem pode ser feliz, tremendamente feliz. Krishna canta canções sobre a felicidade suprema - sat chit ananda (ser, consciência, êxtase). Jesus fala a respeito do Reino de Deus. Mas como você pode acreditar em tão poucas pessoas, as quais podemos contar nos dedos, contra toda a massa, milhões e milhões de pessoas ao longo dos séculos, que permanecem infelizes, caminhando mais e mais em direção à infelicidade. Toda a vida dessas pessoas é uma história de miséria e nada mais. E depois vem a morte! Como acreditar naquelas poucas pessoas?
Ou elas estão mentindo, ou elas estão enganadas. Ou elas estão mentindo por algum motivo, ou elas são meio malucas, enganadas pelas próprias ilusões. Elas devem estar vivendo para satisfazer um desejo. Elas queriam ser felizes e começaram a acreditar que elas eram felizes. Mais do que um fato, isso parece uma crença, uma crença desesperada, Mas como aconteceu dessas poucas pessoas se tornarem felizes?
Se você deixar o homem de lado, se você não prestar muita atenção ao homem, então Buda, Krishna, Cristo irão parecer que são mais verdadeiros. Se você olhar para as árvores, se você olhar para os pássaros, se você olhar para as estrelas, então verá que tudo está vibrando em tremenda felicidade. Parece que a felicidade é a matéria-prima com a qual a existência é feita. E somente o homem é infeliz.
No fundo, alguma coisa está errada. 
Buda não está enganado, nem está mentindo. E eu digo isso a você, não com base na autoridade da tradição; eu digo isso a você com base na minha própria autoridade. O homem pode ser feliz, mais feliz que os pássaros, mais feliz que as árvores, mais feliz que as estrelas, porque o homem tem algo que nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhuma estrela tem. O homem tem consciência. 
Mas quando você tem consciência, então duas alternativas são possíveis: ou você pode tornar-se infeliz, ou você pode tornar-se feliz. A escolha é sua. As árvores simplesmente estão felizes porque elas não podem ser infelizes. A felicidade delas não é liberdade; elas têm que ser felizes.  Elas não sabem como ser infelizes, não existe outra alternativa.
Esses pássaros gorjeando nas árvores, eles são felizes. Não porque eles tenham escolhido ser felizes; eles simplesmente são felizes porque eles não conhecem outra maneira de ser. A felicidade deles é inconsciente. Ela é simplesmente natural. 
O homem pode ser tremendamente feliz, e tremendamente infeliz. Ele é livre para escolher. Essa liberdade é um risco. Essa liberdade é muito perigosa, porque você se torna responsável. E algo aconteceu com essa liberdade. Alguma coisa está errada. O homem está, de uma certa maneira, de cabeça para baixo. 
Você veio até a mim, procurando por meditação. A meditação é necessária somente porque você não escolheu ser feliz. Se você tivesse escolhido ser feliz, não haveria nenhuma necessidade de meditação. A meditação é medicinal: se você está doente, então o medicamento é necessário. Os Budas não precisam de meditação. Uma vez que você começou a escolher a felicidade, uma vez que você decidiu que você tem que ser feliz, então nenhuma meditação é necessária. A meditação começará a acontecer naturalmente, por ela mesma.
A meditação é uma função do estar feliz. A meditação segue o homem feliz como uma sombra: em qualquer lugar que ele for, qualquer coisa que ele estiver fazendo, ele estará meditativo. Ele estará intensamente centrado.
A palavra 'meditação' e a palavra 'medicação' têm a mesma raiz; e isso é muito significativo. A meditação também é medicinal. Você não carrega vidros de remédios nem receitas médicas se você estiver com saúde. Naturalmente, quando você não está com saúde, você tem que ir ao médico. Ir ao médico não é uma grande coisa para ficar fazendo alarde. A pessoa deve se sentir feliz se o médico não for necessário.
Existem muitas religiões, porque existem muitas pessoas infelizes. Uma pessoa feliz não precisa de religião. Uma pessoa feliz não precisa de templo, nem de igreja, porque para uma pessoa feliz, todo o universo é um tempo, toda a existência é uma igreja. Uma pessoa feliz não tem nada parecido com uma atividade religiosa, porque toda a sua vida já é religiosa. 
Qualquer coisa que você fizer com felicidade será uma prece; seu trabalho se tornará um culto, a sua própria respiração terá um esplendor, uma graça. Não que você repita constantemente o nome de Deus - somente as pessoas tolas fazem isso - porque Deus não tem nome algum, e por repetir algum suposto nome você simplesmente tornará estúpida a sua mente. Por repetir o Seu nome você não irá a lugar algum. Um homem feliz simplesmente vê Deus em todo lugar. E você precisa de olhos felizes para ver Deus. 
Se você quer ser feliz, então comece a fazer escolhas naturais. Há muitas ocasiões em que você terá que ser desobediente - seja!  Haverá muitas ocasiões em que você terá que ser rebelde - seja!  Não há nenhum desrespeito implícito nisso. Seja respeitoso com seus pais. Mas lembre-se de que a sua mais profunda responsabilidade é com o seu próprio ser. 
Todo mundo está sendo empurrado e manipulado. Ninguém sabe qual é o seu destino. O que você realmente sempre quis fazer, foi deixado de lado. E como você pode ser feliz? Alguém que poderia ter sido um poeta, tornou-se simplesmente um emprestador de dinheiro. Alguém que poderia ter sido um pintor, tornou-se um médico. Alguém que poderia ter sido um médico, um belo médico, é agora um homem de negócios. Todo mundo está fora do lugar. Todo mundo está fazendo alguma coisa que nunca quis fazer; daí a infelicidade.
A felicidade acontece quando a sua vida se encaixa com o que você é, quando se encaixa tão harmoniosamente que qualquer coisa que você fizer será pura alegria. Então, de repente, você descobrirá que a meditação segue você. Se você ama o trabalho que está fazendo, se você ama a maneira como está vivendo, então você está meditativo. Então nada irá desviar você. Quando você se desvia de certas coisas, isso simplesmente demonstra que você não está realmente interessado naquelas coisas.
Nós temos nos desviado por motivos não naturais: dinheiro, prestígio, poder. Ouvir o pássaro cantar não vai lhe dar dinheiro. Ouvir o pássaro cantar não vai lhe dar poder e prestígio. Observar uma borboleta não irá ajudá-lo economicamente, politicamente, socialmente. Essa coisas não lhe trarão remuneração, mas essas coisas irão fazê-lo feliz.
Uma pessoa verdadeira tem coragem de se voltar para as coisas que a fazem feliz. Se com isso ela permanecer pobre, ela permanecerá pobre; ela não reclamará disso, ela não guardará nenhum rancor. Ela dirá: 'Eu escolhi o meu caminho, eu escolhi o cantar dos pássaros e as borboletas e as flores. Eu posso não ser rico, tudo bem, mas eu sou rico porque eu sou feliz.' 
Esse tipo de homem não necessita de qualquer método para se centrar, por que não é preciso, ele está centrado. Seu centramento está por toda a sua vida. Vinte e quatro horas por dia ele está centrado. 
Em qualquer lugar que você vê dinheiro, você já não é mais você mesmo. Em qualquer lugar que você vê poder e prestígio, você já não é mais você mesmo. Em qualquer lugar que você vê respeitabilidade, você já não é mais você mesmo. Imediatamente você esquece tudo - você esquece os valores intrínsecos de sua vida, a sua felicidade, a sua alegria, o seu deleite. 
Você sempre escolhe algo do lado de fora, e você barganha com algo do lado de dentro. Você perde o interior e ganha o lado de fora. Mas o que você vai fazer com isso? Mesmo se você tiver todo o mundo aos seus pés, mas se você tiver perdido a si mesmo; mesmo se você tiver conquistado todas as riquezas do mundo, mas se você tiver perdido seu próprio tesouro interior, o que você fará com tudo aquilo? Essa é a miséria.
Se você puder aprender uma coisa comigo, então que essa coisa seja: esteja alerta, consciente a respeito de seus próprios motivos mais internos, a respeito de seu próprio destino mais interno. Nunca perca você mesmo de vista, de outra maneira você será infeliz. E quando você estiver infeliz, as pessoas irão dizer: 'medite e você se tornará feliz!' Elas dirão: 'Esteja centrado e você se tornará feliz; ore e você se tornará feliz; vá ao templo, seja religioso, seja um cristão ou um hindu, e você será feliz'. Tudo isso é tolice.
Seja feliz! e a meditação virá em seguida. Seja feliz, e a religião virá em seguida. Felicidade é a condição básica. As pessoas se tornam religiosas somente quando elas estão infelizes; então a religião delas é falsa. Tente entender porque você está infeliz. 
Muitas pessoas vêm a mim e dizem que elas são infelizes, e elas querem que eu lhes dê alguma meditação. Eu digo: primeiro, a coisa básica é compreender porque vocês estão infelizes. E se vocês não removerem todas as causas básicas de sua infelicidade, eu posso lhes dar uma meditação, mas isso não vai ser de grande ajuda, porque as causas básicas permanecem aí.
Um certo homem poderia ter sido um grande e belo dançarino, mas ele está sentado num escritório arquivando fichas. Sem qualquer possibilidade para a dança. O homem poderia ter curtido dançar sob as estrelas, mas ele segue simplesmente acumulando contas bancárias. E ele diz que está infeliz: 'me dê alguma meditação.' Eu posso dar a ele, mas o que essa meditação irá fazer? O que se espera que ela possa fazer? Ele vai permanecer o mesmo homem: acumulando dinheiro e sendo competitivo no mercado. A meditação poderá ajudar da seguinte maneira: poderá fazer com que ele fique um pouco mais relaxado para seguir fazendo essas tolices, e de uma maneira ainda melhor. 
Então, o meu chamado é somente para aqueles que são realmente ousados, aqueles que desafiam o demônio, aqueles que estão prontos para mudar os seus próprios padrões de vida, aqueles que estão prontos para apostar tudo - porque na verdade você nada tem para apostar: somente a sua infelicidade, a sua miséria. Mas as pessoas se agarram até mesmo a isso.
O que mais você tem para apostar? Só a miséria. E o único prazer que você tem é falar a respeito dela. Observe as pessoas falando a respeito de suas misérias: quão felizes elas se tornam! Elas pagam por isso: elas vão aos psicanalistas para falar a respeito de suas misérias - e elas pagam por isso! Alguém as escuta atentamente, e elas se sentem felizes. 
As pessoas seguem falando a respeito de suas misérias, repetidamente. Elas até mesmo exageram, elas enfeitam, elas fazem com que as suas misérias pareçam ainda maiores. Elas fazem com que elas pareçam maiores do que a duração de suas vidas. Por que? Você nada tem para apostar. Mas as pessoas se apegam ao conhecido, ao que é familiar. A miséria é tudo o que elas têm conhecido; isso tem sido a vida delas. Nada têm a perder, mas com tanto medo de perder...
Comigo, a felicidade vem primeiro, a alegria vem primeiro. A atitude celebrativa vem primeiro. Uma filosofia afirmativa de vida vem primeiro. Curta! E se você não puder curtir o seu trabalho, mude. Não espere! Porque todo o tempo que você está esperando, você está esperando por Godot. E Godot nunca vem. A pessoa simplesmente espera, e desperdiça sua própria vida. Por quem e por que você está esperando?
Se você puder ver o ponto, que você está miserável dentro de um certo padrão de vida, e que todas as velhas tradições dizem: Você está errado. Eu gostaria de dizer que o padrão é que está errado. Tente entender a diferença na ênfase: Você não está errado! É só o seu padrão, a maneira de viver que você aprendeu é que está errado. As motivações que você aprendeu e aceitou como suas, não são suas. Elas não irão realizar o seu destino. Elas vão contra a sua essência, elas vão contra o que lhe é elementar.
Lembre-se disso: ninguém mais pode decidir por você. Todos os mandamentos deles, todas as ordens deles, todas as moralidades deles, são simplesmente para matar você. Você tem que decidir ser você mesmo. Você tem que tomar sua vida em suas próprias mãos. De outra maneira a vida vai seguir batendo em sua porta e você nunca estará lá; você estará sempre em algum outro lugar.
Se você tinha que ser um dançarino, a vida virá por aquela porta, porque ela pensa que você é um dançarino. Ela bate na porta, mas você não está lá; você é um bancário. E como a vida vai saber que você se tornou um bancário? Deus vem a você da maneira que ele quer você seja; ele conhece apenas aquele endereço. Mas você nunca é encontrado lá, você está sempre em algum outro lugar, escondendo-se atrás da máscara de alguém que não é você, com os trajes de alguém que não é você e usando o nome de alguém que não é você. 
Como você espera que Deus possa encontrá-lo? Ele segue procurando por você. Ele sabe o seu nome, mas você abandonou aquele nome. Ele conhece o seu endereço, mas você nunca morou lá. Você permitiu que o mundo desviasse você. 
Por que na cabeça de todo mundo surge essa idéia de que a meditação traz felicidade? De fato, sempre que eles encontram uma pessoa feliz, eles encontram uma mente meditativa, essas duas coisas estão associadas. Sempre que eles encontram uma bela atmosfera meditativa circundando um homem, eles sempre descobrem que ele estava tremendamente feliz; vibrante com a alegria, radiante. Essas coisas se tornaram associadas. E eles pensam que a felicidade vem quando você está meditativo. E é exatamente o oposto: a meditação é que vem quando você está feliz.
Mas ser feliz é difícil e aprender a meditar é fácil. Ser feliz significa uma drástica mudança em sua maneira de viver, uma mudança abrupta, porque não há nenhum tempo a perder. Uma mudança súbita, um repentino estrondo de trovão (a sudden clash of thunder), uma descontinuidade.
Isso é o que eu entendo por sânias: uma descontinuidade com o passado. Um repentino estrondo de trovão, e você morre para o velho e então, revigorado, você recomeça do bê-a-bá. Você nasce de novo. Você começa de novo a sua vida, como você começaria se os padrões não tivessem sido impostos a você pelos seus pais, pela sociedade, pelo Estado; como se ninguém tivesse desviado você. Mas você foi desviado.  
Você tem que deixar de lado todos os padrões que foram impostos a você, e você tem que encontrar a sua própria chama interior.
Não se preocupe muito com o dinheiro, porque ele é o maior desvio da felicidade. E a ironia das ironias é que as pessoas pensam que elas serão felizes quando elas tiverem dinheiro. Dinheiro nada tem a ver com felicidade. Se você é feliz e você tem dinheiro, você pode usá-lo para a felicidade. Se você é infeliz e tem dinheiro, você usará aquele dinheiro para mais infelicidades. Porque o dinheiro é simplesmente uma força neutra. 
Eu não sou contra o dinheiro, lembre-se. Não me interprete mal. Eu não sou contra o dinheiro, eu não sou contra nada. Dinheiro é um meio. Se você for feliz e você tiver dinheiro, você se tornará mais feliz. Se você for infeliz e tiver dinheiro, você se tornará mais infeliz, por que o que você fará com o seu dinheiro? O dinheiro vai realçar o seu padrão, seja qual ele for. Se você for miserável e tiver poder, o que você fará com o seu poder? Você irá envenenar a si próprio ainda mais com o seu poder, você se tornará mais miserável. 
Mas as pessoas seguem atrás do dinheiro como se o dinheiro fosse trazer felicidade. As pessoas seguem procurando por respeitabilidade como se respeitabilidade fosse lhe dar felicidade. As pessoas estão prontas a qualquer momento, para mudar os seus padrões, para mudar os seus caminhos, desde que haja mais dinheiro disponível em algum outro lugar. 
Uma vez que o dinheiro esteja ali, então de repente você não é mais você mesmo, você está pronto para mudar.
Esse é o caminho do homem mundano. Eu não digo que pessoas mundanas são aquelas que têm dinheiro. Eu chamo de pessoas mundanas aquelas que mudam os seus motivos por causa do dinheiro. Eu não digo que as pessoas que não tem dinheiro não sejam mundanas. Elas podem ser simplesmente pobres. Eu digo que as pessoas não são mundanas quando elas não mudam seus motivos por causa de dinheiro. Só por ser pobre não equivale a ser espiritual. E só por ser rico não é equivalente a ser um materialista. O padrão materialista de vida é aquele em que o dinheiro predomina acima de tudo. A vida não materialista é aquela em que o dinheiro é simplesmente um meio; a felicidade predomina, a alegria predomina, a sua própria individualidade predomina. Você sabe quem você é, e para onde está indo, e você não está se desviando. Então, de repente, você vê que a sua vida adquiriu uma qualidade meditativa. 
Mas em algum ponto do caminho, todo mundo se perdeu. Você foi educado por pessoas que não se realizaram. Você foi educado por pessoas que não tinham saúde. Você pode sentir pena delas. Eu não estou lhe dizendo para ser contra elas. Eu não as estou condenando, lembre-se. Simplesmente sinta compaixão por elas. Os pais, os professores do colégio e da universidade, os chamados líderes da sociedade, eles foram pessoas infelizes. Eles criaram um padrão infeliz em você.
E você ainda não assumiu a sua própria vida. Eles viveram segundo uma interpretação errada, e essa foi a miséria deles. E você também está vivendo segundo uma interpretação errada. 
A meditação ocorre naturalmente a uma pessoa feliz. A meditação ocorre naturalmente a uma pessoa alegre. A meditação é muito simples para uma pessoa que pode celebrar, que pode curtir a vida. Mas você tem tentado isso de uma outra maneira, e assim não é possível."

 OSHO - A Sudden Clash of Thunder  (Tradução: Sw. Bodhi Champak) - Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça. Todos os direitos reservados.

domingo, 16 de março de 2014

Os Fardos do Passado

Jiddu Krishnamurti, signo de touro e ascendente aquário, foi um filósofo,escritor, e educador indiano que estudou temas como revolução interior, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e mudanças na sociedade global. Enfatizou a necessidade de uma revolução na psique humana que não poderia ser conseguida por nenhuma entidade externa seja religiosa, política ou social mas que só poderia ocorrer através do autoconhecimento, meditação e rejeição de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.
Vegetariano desde que nasceu, aos treze anos passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava um dos grandes Mestres do mundo, e estaria destinado a se tornar o 'Instrutor do Mundo', acontecimento que vinha sendo aguardado pelos teosofistas. Após fundada a Ordem Internacional da Estrela do Oriente, com Krishnamurti como chefe, ele um dia a dissolveu, frente aos discípulos atônitos. Era um iconoclasta, um revolucionário desapegado e descomprometido.
Suas palestras e escritos não se ligam a nenhuma religião específica, nem pertencem ao Oriente ou ao Ocidente, mas sim ao mundo na sua globalidade:
"Afirmo que a Verdade é uma terra sem caminho. O homem não pode atingi-la por intermédio de nenhuma organização, de nenhum credo (…) Tem de encontrá-la através do espelho do relacionamento, através da compreensão dos conteúdos da sua própria mente, através da observação. (…)"
Durante o resto da existência, foi rejeitando insistentemente a imagem de guia espiritual que alguns tentaram lhe atribuir. Continuou a atrair grandes audiências por todo o mundo, mas recusando qualquer autoridade, não aceitando discípulos e falando sempre como se fosse de pessoa a pessoa. O cerne do seu ensinamento consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só pode acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos, foram por ele constantemente realçadas. Chamou sempre a atenção para a necessidade urgente de um aprofundamento da consciência, para esse "vasto espaço que existe no cérebro onde há inimaginável energia". 
A educação foi sempre uma da preocupações de Krishnamurti. Fundou várias escolas em diferentes partes do mundo onde crianças, jovens e adultos pudessem aprender juntos a viver um quotidiano de compreensão da sua relação com o mundo e com os outros seres humanos, de descondicionamento e de florescimento interior. Faleceu em 1986, com a idade de noventa anos. As suas palestras e diálogos, diários e outros escritos estão reunidos em mais de sessenta livros.

Os seus amigos estabeleceram fundações, na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina e na Índia, assim como Centros de Informação, em muitos países do mundo, onde se podem colher informações ele e a sua obra. As fundações têm carácter exclusivamente administrativo e destinam-se não só a difundir a sua obra mas também a ajudar a financiar as escolas experimentais por ele fundadas.
Ele vai falar dos fardos do passado, da mente tranquila, realização, disciplina, silêncio, verdade e realidade. Fácil, não?
Vamos lá:

"Na vida que em geral levamos há muito pouca solidão. Mesmo quando estamos sós, nossa vida está tão repleta de influências, de conhecimentos, de memórias e experiências, de ansiedade, aflição e conflito, que nossa mente se torna cada vez mais embotada e insensível, funcionando numa monótona rotina. Estamos sós, alguma vez? Ou estamos transportando conosco todas as cargas de ontem?

Conta-se uma história interessante de dois monges que, caminhando de uma aldeia para outra, encontraram uma jovem sentada à margem de um rio, a chorar. Um dos monges dirigiu-se a ela, dizendo: "Irmã, por que choras?" E ela respondeu: "Estás vendo aquela casa do outro lado do rio? Eu vim para este lado hoje de manhã cedo e não tive dificuldade em vadear o rio; mas, agora ele engrossou e não posso voltar; não há nenhum barco". "Oh!" diz o monge, "isto não é problema" - e levantou nos braços a jovem e atravessou o rio, deixando-a na outra margem. E os dois monges prosseguem juntos a jornada. Passadas algumas horas, diz o outro monge: "Irmão, nós fizemos o voto de nunca tocar numa mulher. O que fizeste é um horrível pecado. Não sentiste prazer, uma sensação extraordinária, ao tocar uma mulher?" - E o outro monge responde: "Eu a deixei para trás há duas horas. Tu ainda a estás carregando, não é verdade?"

É isso o que fazemos. Carregamos nossos fardos a todas as horas; nunca morremos para eles, nunca os deixamos para trás. É só quando dispensamos a um problema toda a nossa atenção e o resolvemos imediatamente, sem o transportarmos para o dia seguinte, o minuto seguinte - é só então que há solidão. Então, ainda que estejamos numa casa cheia de gente, ou viajando num ônibus, temos solidão. E essa solidão denota uma mente nova, uma mente inocente.

Ter silêncio e espaço interiores é muito importante, porque implica liberdade para existir, mover-se, atuar, voar. Afinal de contas, a bondade só pode florescer onde há espaço, assim como a virtude só pode medrar quando há liberdade. Podemos ter liberdade política, mas, interiormente, não somos livres e, por conseguinte, não há espaço. Nenhuma virtude, nenhuma qualidade valiosa, pode funcionar ou medrar sem esse vasto espaço interior. E o espaço e o silêncio são necessários, pois apenas a mente que está só, livre de influências, de disciplinas, do controle de uma infinita variedade de experiências, é capaz de encontrar-se com algo totalmente novo.

Cada um de nós pode verificar diretamente que só há possibilidade de clareza quando a mente se encontra em silêncio. No Oriente, a finalidade da meditação é produzir um estado mental capaz de controlar o pensamento, o que é a mesma coisa que recitar constantemente uma oração para quietar a mente, esperando-se que, nesse estado, se compreenderão os problemas do indivíduo. Mas, a menos que sejam lançadas as bases, ou seja que se esteja livre do medo, livre do sofrimento, da ansiedade e de todas as armadilhas que armamos para nós mesmos, não vejo possibilidade de a mente ficar realmente quieta. Esta é uma das coisas mais difíceis de transmitir. A comunicação entre nós requer, não só que compreendais as palavras que estou empregando, mas também que ambas as partes, vós e eu, estejam tensas ao mesmo tempo, nem um momento mais cedo ou mais tarde, e sejam capazes de encontrar-se no mesmo nível. Essa comunicação não é possível quando estais interpretando o que estais lendo de acordo com vossos próprios conhecimentos, vosso prazer ou vossas opiniões, ou quando estais fazendo um tremendo esforço para compreender.

Um dos piores tropeços na vida - parece-me - é essa luta constante para alcançar, conseguir, adquirir. Desde a infância somos educados para adquirir e realizar; as próprias células cerebrais criam e exigem esse padrão de realização, a fim de terem segurança física, mas a segurança psicológica não se encontra no campo da realização. Exigimos segurança em todas as nossas relações, atitudes e atividades, mas, como já vimos, não existe realmente essa coisa chamada segurança. Se descobris, por vós mesmo, que não há nenhuma forma de segurança em qualquer espécie de relação - se percebeis que, psicologicamente, nada existe de permanente, esse percebimento vos proporciona uma maneira totalmente diferente de considerar a vida. É essencial, naturalmente, a segurança exterior - teto, roupa, comida - mas essa segurança exterior é destruída pela exigência de segurança psicológica.

O espaço e o silêncio são necessários para ultrapassarmos as limitações da consciência, mas, como pode ficar quieta uma mente que está perenemente ativa em seu próprio interesse? Podemos discipliná-la, controlá-la, moldá-la, mas essa tortura não torna a mente quieta; só a torna embotada. Evidentemente, o mero cultivo do ideal de ter uma mente quieta é sem valor, porque, quanto mais a forçamos, mais estreita e estagnada ela se torna. Qualquer forma de controle, tal como a repressão, só produz mais conflito. Assim, o controle e a disciplina exterior não constituem o caminho certo, e tampouco tem algum valor uma vida não disciplinada.

A vida de quase todos nós é exteriormente disciplinada pelas exigências da sociedade, pela família, por nosso próprio sofrimento, nossa própria experiência, pelo ajustamento a certos padrões ideológicos ou factuais, e essa forma de disciplina é a coisa mais maléfica que existe. A disciplina deve ser sem controle, sem repressão, sem nenhuma forma de medo. Como pode nascer essa disciplina? Não é - primeiro disciplina, depois liberdade; a liberdade está bem no começo, e não no fim. Compreender essa liberdade, que significa estar livre do ajustamento que a disciplina impõe, é disciplina. O próprio ato de aprender é disciplina (aliás, a própria raiz da palavra disciplina significa aprender), o próprio aprendizado transforma-se em clareza. A compreensão de toda a natureza e estrutura do controle, da repressão e da complacência, requer atenção. Não é necessário impor disciplina para estudar, pois já o ato de estudar cria sua própria disciplina, sem repressão de espécie alguma.

Para rejeitarmos a autoridade (referimo-nos à autoridade psicológica e não à autoridade da lei), rejeitarmos a autoridade de todas as organizações religiosas, de todas as tradições e da experiência, temos de ver por que, normalmente, obedecemos; temos, com efeito, de estudar isso. Esse estado exige que nos achemos livres da condenação, da justificação, da opinião, da aceitação. Ora, não podemos aceitar a autoridade, e estudá-la; isso é impossível. Para se estudar toda a estrutura psicológica da autoridade, cumpre exista liberdade dentro de nós mesmos. E quando a estamos estudando, estamos rejeitando toda a sua estrutura, e quando rejeitamos, essa própria rejeição é a luz da mente livre da autoridade. A negação de tudo o que tem sido considerado valioso - como a disciplina externa, a liderança, o idealismo - é estudá-lo; então, esse próprio ato de estudar não só é disciplina, mas a negação dela, e a própria negação é um ato positivo. Assim, estamos negando todas as coisas consideradas importantes para promover a quietação da mente.

Como vemos, não é o controle que leva à quietação. Tampouco está quieta a mente ao ter um objeto que de tal maneira a absorve que ela se perde nesse objeto. Isso é como dar a uma criança um brinquedo interessante; a criança se torna quieta, mas, tire-se-lhe o brinquedo e ela volta a fazer travessuras. Todos nós temos os nossos brinquedos que nos absorvem, e, por isso, pensamos que estamos muito quietos; mas, se um homem se dedica a uma certa forma de atividade, científica, literária ou qualquer outra, o brinquedo apenas o absorve e ele não está, em absoluto, totalmente quieto.

O único silêncio que conhecemos é o silêncio que vem quando cessa o barulho, o silêncio que vem quando o pensamento cessa; mas isso não é silêncio. O silêncio é coisa toda diferente, como a beleza, como o amor. Esse silêncio não é o, produto de uma mente quieta, não é o produto de células cerebrais que, tendo compreendido toda a estrutura, dizem: "Pelo amor de Deus, fica quieto!"; são, então, as próprias células cerebrais que produzem o silêncio, e isso não é silêncio. Tampouco é o silêncio produto da atenção em que o observador é o objeto observado; não há então atrito, mas isso não é silêncio.

Estais esperando que eu vos descreva o que é esse silêncio, a fim de poderdes compará-lo, interpretá-lo, levá-lo e enterrá-lo. Ele é indescritível. O que pode ser descrito é o conhecido, e o estado livre do conhecido só pode tornar-se existente quando há um morrer todos os dias para o conhecido, para os insultos, as lisonjas, para todas as imagens que tendes formado, para todas as vossas experiências: morrer todos os dias, para que as células cerebrais se tornem novas, juvenis, inocentes. Mas, essa inocência, esse frescor, essa "qualidade" de ternura e delicadeza não produz o amor; não é a "qualidade" da beleza ou do silêncio.

Aquele silêncio, que não é o silêncio do fim do barulho, é só um modesto começo. Ê como passar por um túnel estreito para se chegar a um oceano imenso, vasto, extenso - a um estado imensurável, atemporal. Mas isso não se pode compreender verbalmente, a menos que se tenha compreendido toda a estrutura da consciência e o significado do prazer, do sofrimento e do desespero, e as próprias células cerebrais se tenham tornado quietas. Então, talvez alcanceis aquele mistério que ninguém pode revelar-vos e nada pode destruir. Uma mente viva é uma mente quieta, uma mente viva é uma mente que não tem centro algum e, por conseguinte, não tem espaço nem tempo. Essa mente é ilimitada, e esta é a única verdade, a única realidade."


J.Krishnamurti - Por que você não muda? Qual seria sua Resposta?


domingo, 9 de março de 2014

O Estado Natural da Mente

Nas postagens "Sun Gazing - A Medicina Gratuita do Futuro" e "A Roda da Vida", citamos este tulku ( que significa reencarnado, em tibetano) que fixou-se nos EUA e é um dos responsáveis pela difusão do budismo tibetano no ocidente, como são Trung Pa, Tenzin Wangyal Rinpoche e tantos outros. A palavra está com ele:
"Os que não estão acostumados à meditação entendem, não raro, que ela é uma coisa estranha, inusitada, não natural - uma experiência exótica a ser realizada - ou que a meditação é uma coisa diferente da pessoa que medita, ou que é, pura e simplesmente, outra faceta da psicologia ou da filosofia oriental, que deve ser pesquisada, estudada e explorada. A meditação, todavia, não é algo estranho, separado ou externo. A meditação é o estado natural da mente, e a natureza inteira da mente pode ser a nossa meditação.
A meditação começa quando permitimos ao nosso corpo e à nossa mente que se relaxem de um modo profundo e pleno... o que fazemos ao vivenciar o sentimento que vem com o simples soltar, sem mesmo haver dito a nós mesmos para fazê-lo. Quando deixamos tudo ser exatamente como é, e atentamos para o silencio das nossas mentes - isso passa a ser a nossa meditação. Este silêncio não é apenas a ausência do som nem mesmo a liberdade da distração; é a abertura plena, a presença da mente. Quando simplesmente permanecemos silenciosos no interior do momento - sem nos apegarmos à segurança, sem tentarmos compreender os nossos problemas - tudo o que resta é percepção.
A meditação é o processo do auto-descobrimento. Em certo nível, a experiência da meditação nos mostra os padrões das nossas vidas - a maneira com que carregamos nossas características emocionais desde a infância. Em outro nível, porém, ela nos liberta desses padrões, facilitando para nós a visão dos nossos potenciais interiores.
Quando examinamos, olhando para trás, os padrões dos nossos pensamentos, podemos, às vezes, observar e identificar as decepções criadas por nossas auto-imagens.
Podemos aprender a enxergar através das atitudes e do faz-de-conta da mente e através de todas as nossas explicações e escusas. Podemos compreender que estamos apenas disputando jogos e que estamos longe do genuíno conhecimento de nós mesmos.
Estamos sempre fixando limites e restrições arbitrárias a nós mesmos, olhando para o mundo e vivenciando-o a partir de pontos de vista rígidos; achamos que uma experiência não-relacionada com nossos sentimentos ou projeções não tem valor. Mas, quando passamos além da objetivação de conceitos, além do dualismo, além do espaço e do tempo, o que teremos a perder? Se perdermos alguma coisa, perderemos, quando muito, nossos medos, nossas idéias-fixas, o nosso tenso apego a um "eu" imaginado e à imaginada segurança desse "eu". O estado de espírito natural nada tem para perder. É só por causa da nossa alienação de nós mesmos que deixamos de compreender antes que podemos ficar dentro da atenção, que é a nossa natureza intrínseca, nosso próprio lar.
Embora "falemos" a respeito da nossa natureza intrínseca, isso não significa necessariamente que a vivenciamos. Ao invés disso, quase todos somos continuamente surpreendidos no processo de gerar idéias e explicações... de modo que a nossa mente prossegue nesse curso, interminavelmente. O "eu" está se associando com várias emoções, sentimentos, conceitos e reflexões psicológicas. O ego está sempre esperando para perguntar-nos se realizamos alguma coisa; de modo que temos de "responder" a nós mesmos o tempo todo - e nos vemos fora da nossa experiência, olhando para dentro.
Conquanto tentemos, com todo o nosso empenho, ser atentos e perceptivos, nossos diálogos interiores e projeções criam obstáculos que estragam a imediação da nossa experiência. Quanto mais tentamos interpretar uma experiência e vesti-la com palavras, tanto mais nos apartamos dela. Quedamo-nos com conceitos "fixos" e opiniões dualísticas acerca do mundo, de modo que nossas respostas e reações a situações cotidianas não fluem de um estado natural. É como se fôssemos viver no meio de um formoso jardim de flores - e, não obstante, não déssemos atenção a ele. Podemos gastar anos e anos explicando, pensando e analisando, sem nunca descobrir esse estado natural.
Compreender esse estado mental é difícil, porque acreditamos que nossos pensamentos, emoções e sentimentos são "meus"; julgamo-los em relação com a "minha" situação, a "minha" vida. Mas pensamentos e sentimentos não são "eu". Um pensamento simplesmente é associado a outro pensamento, que depois se associa a um terceiro. Cada pensamento envolve várias palavras e imagens, como as imagens de uma fita de cinema, que se movem continuamente, para a frente e para trás, de tal sorte que a série de imagens ocupa a nossa percepção e drena a nossa energia. Finalmente, perde-se a percepção. Ficamos como crianças que assistem a um desenho animado - perdidas ali, com os olhos arregalados pregados à tela.
Quando observamos as nossas mente, vemos que a nossa consciência se fixa com facilidade em pensamentos ou em entradas sensoriais. Por exemplo: quando ouvimos de repente o bater de uma porta ou o guinchar do tráfego, nossas mentes projetam imediatamente uma imagem ou conceito; e, associada a essa idéia ou imagem, há uma experiência de tons de sentimentos muito preciosos e exatos. Estando dentro do momento imediato, é possível entrar "dentro" dessa experiência. Nesse momento descobrimos certo tipo de atmosfera ou ambiente interior que não tem forma, nem formato, nem característica específica, nem estrutura. Não há palavras, imagens, conceitos ou posições para manter - visto que qualquer posição - uma posição de manutenção, uma posição de exame ou uma posição "além"- ainda estaria se referindo a algo que se encontra, em última análise, relacionado conosco como o sujeito. Por conseguinte, para libertar-nos dos padrões dualísticos da nossa mente é importante passar "além" das compreensões e crenças relativas, olhar "para dentro" e, tanto quanto possível permanecer dentro do primeiro momento da experiência.
Visto que a mente, em sua verdadeira natureza, não tem dualidade, não está separada da unidade de tudo o que existe, nossas vidas tornam-se a nossa meditação. A meditação não é uma técnica para fugir deste mundo - é um bom amigo e um bom professor que podem guiar, amparar e ajudar a nossa mente a tocar diretamente nosso ser mais íntimo, sem paredes que nos separem da nossa percepção, da nossa inspiração e da nossa intuição. Através dessa experiência podemos estabelecer contato com a nossa própria inteireza.
Por conseguinte, a qualquer momento podemos fazer amizade com a meditação; e, na visão que nasce da meditação, experimentamos toda a existência como plena e bela - pois tudo tem beleza, o modo com que trabalhamos, pensamos, falamos - cada situação tem o seu próprio valor inerente e o seu significado. Quando trazemos a luz da meditação para a nossa vida, esta se torna mais rica, mais significativa e mais expressiva, e somos capazes de lidar aberta e diretamente com todas as situações.
Essa percepção natural é simples e direta, aberta e receptiva, imediata e espontânea, sem obscurecimento; não há medo nem sentimento de culpa, não há problema sem desejo de escapar ou de ser de outro modo. "Natural" quer dizer "não-fixo", quer dizer não ter expectativas, nem compulsões, nem interpretações, nem planos predeterminados.
Quando a meditação se aprofunda, não há necessidade de fixá-la, melhorá-la ou aperfeiçoa-la. Não há necessidade de progredir, visto que tudo se move no estado natural da realidade.
Uma vez que somos capazes de vivenciar essa percepção imediata, não há nada entre a nossa mente e a meditação. A experiência é sempre nova, inédita, clara e bela. Se bem esteja além do nosso senso comum de tempo, ainda há continuidade. Tudo é exatamente "como é", sem que nada lhe seja acrescentado nem subtraído.
Se, na nossa meditação, pudermos ficar em nosso momento presente, é possível experimentar esse estado mais elevado de percepção. Mas quando nos agarramos às projeções mentais ou tentamos recordar instruções específicas ou certos processos, apenas continuamos a seguir os movimentos da mente no nível da consciência. Podemos estudar e praticar durante anos num nível conceitual, executar inúmeras ações positivas e reunir uma grande quantidade de informações mas, ainda assim, não chegar muito mais perto da verdadeira compreensão. Portanto, é necessário expandir a percepção para fora do domínio do diálogo interior, alargar-nos e abrir-nos o mais que pudermos, e ficarmos muito silenciosos. Estes ainda são apenas conceitos; porém, mais tarde, com a prática, podemos passar, além dessas idéias e padrões conceituais, a um estado de todo destituído de um centro, porque todas as limitações que exigem um centro se dissolveram - e isso é meditação.
À proporção que desenvolvemos a meditação, já não precisamos apoiar-nos em explicações intelectuais para justificar quem somos, pois a nossa auto-identidade redutora se dissipa, como o nevoeiro tocado pela luz do sol. Depois que tivermos compreendido isso, não precisamos lutar com o nosso ego e nossas emoções negativas - ou com discriminações entre o bem e o mal, o positivo e o negativo, o caminho espiritual ou a ação habitual. Dentro da experiência da meditação, a percepção espontânea surge por si mesma, e os conflitos emocionais e os problemas começam a perder seu domínio e tornam-se muito enevoados. Depois que deixamos de alimentar nossos problemas, eles desaparecem dentro da própria percepção. Durante todo esse tempo, podemos ver efetivamente que toda a natureza da mente é a nossa meditação. E, através disso, a nossa mente se torna iluminada de uma energia poderosa e preciosa, e nós vivenciamos diretamente uma compreensão indescritível e onisciente."

Do livro "GESTOS DE EQUILÍBRIO" de Tarthang Tulku

domingo, 2 de março de 2014

A Prática do Silêncio

A totalidade dos caminhos e técnicas que conduzem ao estado de despertar, que é a vocação do ser humano, falam da mesma coisa de formas diferentes: “calar a mente”. As palavras é que variam, desde silêncio mental, acalmar a mente, presença, atenção, e por aí afora. Vimos isso em Eckhart Tolle, Gurdjieff, Castaneda, mestres budistas, taoistas, etc., e é curiosa a diversidade de caminhos usando o mesmo conceito com técnicas diferentes.
O texto abaixo é de Armando Torres. Poucas pessoas o conhecem, um índio mexicano, xamã e escritor que foi aprendiz de Carlos Castaneda. Em seu livro Encontros Com o Nagual, editado por seu amigo Juan Yoliliztli, de quem fiquei amigo, Armando fala de uma série de temas caros ao buscadores da verdade. Um deles é como praticar o silêncio. O texto é seco como um índio do deserto, mas é no ponto. Cada frase pode ser uma reflexão. Vamos lá:

"Como base para o silêncio mental, Carlos me sugeriu que lutasse contra o que chamou minha "condição doméstica", quer dizer, o fato de que pertenço a um meio social. Referiu-se a isso como um primeiro passo para a liberdade."
"Pôr em relevo nossas interações significa analisar de novo uma grande quantidade de coisas que nós sempre demos por certo, começando por nossos hábitos sexuais, e terminando pelos compromissos familiares, religiosos e cívicos que costumamos contrair. Não se trata de julgar ou subverter nada, mas de observar. A observação, por si mesma, tem um efeito sobre as coisas".
 Eu lhe pedi que explicasse como o ato passivo de observar pode modificar as coisas.
Respondeu que a atenção nunca é passiva por mais tênue que seja, porque é formada da mesma matéria que forma o universo. O simples ato de exercitá-la implica uma transferência de energia.
"É como a velocidade que, ao ser aplicada a um objeto, aumenta sua massa. Similarmente, o enfoque da atenção acrescenta realidade às coisas, e essa realidade tem um limite depois do qual o mundo que conhecemos se desintegra.
"O segredo dos prodígios dos bruxos é a canalização da atenção. Não importa como a apliquem, seja para bem ou para o mal, o que difere é a intenção, não a força do enfoque. Para os novos videntes, a magia da bruxaria não está nos seus resultados, mas nos modos como chegamos a eles. Então, seu melhor intento como aprendiz é calar sua mente".
Quando eu o vi novamente, admiti que embora já levasse um bom tempo tentando seguir seu conselho, ainda não notava  nenhum avanço significativo quanto à realização de um estado de silêncio interior. Pelo contrário, tinha notado que meus pensamentos estavam mais agitados e confusos do que nunca.
Explicou que essa sensação era uma conseqüência normal da prática.
"Como todo novato, você está tentando classificar o silêncio como um elemento a mais de seu inventário de crenças.
"O objetivo de seu inventário foi de fazer com que se desse conta do peso que têm os nossos preconceitos. Usamos quase toda a energia disponível para sustentar um esquema do mundo, e conseguimos isso por meio de sugestões conscientes ou inconscientes.
"Quando um aprendiz é liberado dessa prisão, a sensação que tem é que caiu em um oceano de paz e silêncio. Não importa que fale, cante, chore ou medite, essa sensação permanece.
"Nas primeiras fases do caminho é muito difícil de encarar o silêncio como prática, pois assim que nós descobrimos a ausência de pensamentos, surge uma voz travessa que nos felicita pelo logro. Isso automaticamente rompe o estado.
"O problema ocorre porque você confunde o objetivo dos bruxos com um ideal. O conceito de 'silêncio' é demasiado tênue para uma mente como a sua, acostumada às classificações. É óbvio que você pensou no exercício em termos auditivos, como falta de som. Mas não é assim.
"O que os bruxos querem é algo mais simples. Eles tentam resistir às sugestões, só isso. Se você pode ser o dono de sua mente e pensar corretamente, sem preconceitos nem falsas convicções, você poderá cancelar a parte doméstica de sua natureza. Uma realização suprema.
Caso contrário, você nem mesmo vai entender o que é o exercício.
"Uma vez que aprendemos a eliminá-los, sem nos batermos com eles, nem prestar-lhes qualquer tipo de atenção, os comandos da mente ficarão em nosso interior durante algum  tempo e depois partirão. Assim, não se trata de 'tirá-los' dali, mas de matá-los de aborrecimento.
"Para alcançar esse estado você tem que sacudir seu “inventário de ideias”. Eu pedi que você começasse por suas crenças, mas teria funcionado igual se, por exemplo, você listasse todas as suas relações e afetos, ou os elementos mais atrativos de sua história pessoal, ou suas esperanças, objetivos e preocupações, ou seu gostos, preferências e aversões. O importante é que você se dê conta de seus esquemas de pensamento.
"A magia de todo o inventário está baseado na ordem de seus componentes. Quando nós sacudimos essa ordem, quando falta alguma das peças que nós sempre damos por certo, todo o esquema começa a desmoronar. Assim se dá com as rotinas da mente; você muda um parâmetro e de repente há uma porta aberta onde deveria ter uma parede, e isso muda tudo. A mente se estremece!
"Isso é o que você tem experimentado como uma ativação extraordinária de seu diálogo interior. Antes você nem mesmo o notava, mas agora você sabe que está aí'. Algum dia essa presença será tão pesada que você fará algo a esse respeito. Nesse dia você deixará de ser um homem comum e normal e se tornará um bruxo".

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