sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Simbolismo do Quatro

Zodíaco de Barthelemy, l'Anglais, 
França, Le Mans, séc. XV
 A idéia do quatro aparece quase sem exceção na mitologia, na religião e na arte das diversas culturas: seja o tempo (as quatro estações) ou seja o espaço (os pontos cardeais), inclusive as alegorias (os quatro rios do Paraíso). A organização do mundo é essencialmente quaternária. 
O nosso tempo é sempre medido em quatro etapas:
o dia e suas quatro referências: aurora, meio-dia, pôr-do-sol e meia noite; o mês lunar e suas quatro fases, Lua Nova, Crescente, Cheia e Minguante; o ano e as quatro estações: primavera, verão, outono e inverno.

O quaternário fala da ordem terrestre e da organização racional. Ele "tem um fundamento estatístico: o quadrado é a forma mais utilizada pelo homem", diz Cirlot.
Os quatro elementos, na linguagem dos antigos ensinamentos, constituem o conjunto básico da materialidade com a qual se constrói o universo. Fogo, Terra, Ar e Água, combinados com as três forças primordiais, compõem o os doze signos do zodíaco.
Na simbologia dos números, vemos claramente a marca do quaternário nas duas operações elementares que pode realizar com o ternário:
4 + 3 = 7 (os dias da semana, os planetas tradicionais da astrologia)
4 x 3 = 12 (meses, signos zodiacais, tribos de Israel, apóstolos de Cristo)
4 – 3 = 1, ou seja, por subtração, retorna à unidade.

Os quatro elementos
Ilustração: www.homepage.mac.com/antallan/
    Para os gregos e para a maior parte das tradições ocidentais, os elementos são em número de quatro: água, ar, fogo e terra. Eles não são irredutíveis entre si; transformam-se uns nos outros.

Nos ensinamentos da tradição grega, os quatro elementos, 
fogo, terra, água e ar, resultam da combinação 
das quatro qualidade primordiais: quente, seco, frio e úmido.
No plano interior e espiritual, há também um atributo próprio a cada elemento. O fogo (e vale para o naipe de Paus) é considerado como o elemento motor, que anima, transforma, que faz evoluir de um para outro os três estados da matéria: sólido (terra), líquido (água) e gasoso (ar). 
O ser de fogo, por exemplo, simboliza o agente de toda evolução. Em outros contextos simbólicos, a imagem do ar (naipe de Espadas) está na base de uma psicologia ascensional, evolutiva, que tem seu sentido no alçar vôo e na queda. 
Cada elemento pode ainda ser associado a um conjunto de condições dadas à vida, numa visão evolutiva, na qual o desenrolar do ciclo tem início com o primeiro elemento (Água, naipe de Copas), para terminar com o último (Terra, naipe de Ouros), passando pelos termos intermediários (Ar e Fogo, naipes de Espadas e Paus).
Tem-se, assim, uma ordem quaternária na:
natureza: inverno, primavera, verão e outono; meia noite, nascer do dia, meio dia, pôr-do-sol; temperamentos: linfático, sangüíneo, bilioso, nervoso;
tipos junguianos: sentimento, pensamento, sensação, intuição;
etapas da vida humana: infância, juventude, maturidade e velhice, etc.


    Na iniciação maçônica, começa-se por sair da Terra (naipe de Ouros), passando-se a seguir por purificações pelo Ar (naipe de Espadas), pela Água (naipe de Copas) e pelo Fogo (naipe de Paus). Liberta-se, passo a passo, da vida material, da Filosofia e da Religião para finalmente alcançar a Iniciação pura.
    Na mística sufi, as etapas de evolução são apresentadas numa relação exatamente oposta: deve-se deixar a realidade ilusória (ar), queimar dentro de si as imagens (fogo), apreender a divina realidade no que ela tem de mais fluido e impreciso (água) e finalmente fundir-se na total e única realidade, divina, verdadeiramente sólida (terra).

Resumos
São apresentados, abaixo, alguns quadros que ajudam a dar uma visão de conjunto das relações do quaternário em diferentes linguagens simbólicas.

Os Quatro Elementos: Tarô e Astrologia
Elemento
Naipe
Figura
Signo Fixo
Fogo
Paus
Rei
Leão
Água
Copas
Dama
Escorpião
Ar
Espadas
Cavaleiro
Aquário
Terra
Ouro
Valete
Touro

Os Quatro Elementos: Esoterismo cristão
Elemento
Signo
Evangelista
Atributos
Fogo
Leão
Marcos
"Seu evangelho inicia com
as palavras daquele que
clama no deserto, João Batista".
Água
Escorpião (Águia)
João
"É mais marcante nele
o vôo do espírito rumo
às esferas superiores".
Ar
Aquário
(Homem alado)
Mateus
"Seu relato tem início
quando Cristo
vem ao mundo"
.
Terra
Touro
Lucas
"Nele se coloca
a questão de Zacarias,
o sacrificador de animais".
Nota: Os atributos acima, são palavras de S. Jerônimo (348-420) sobre os Evangelistas.

  
Fogo-Paus: energia irradiante, excitável. Exuberância e entusiasmo. Vigor. Autoconfiança e identidade. Direção consciente do poder da vontade. Liberdade de expressão e ingenuidade. 
(-) Turbulência, exagero, imprudência, auto-indulgência.
Tipo: intuição. Temperamento: colérico (bilioso). 
Gênios: as salamandras, que podem ser controlados pela serenidade.


Terra-Ouros: energia de provisão e sustentação. As formas, os sentidos físicos e a realidade concreta. Paciência, disciplina e eficiência. Aquisição, retenção e autoproteção. 
(-) apego à rotina, materialismo, imobilidade.
Tipo: sensação ou percepção. Temperamento: melancólico.
Gênios: os gnomos, que podem ser controlados pela generosidade jovial.


Ar-Espadas: mundo das idéias arquetípicas e das relações. Pensamentos e teorias. Descobertas e invenções. Racionalidade e imparcialidade. Cooperação, flexibilidade. Penetração, respiração, "prana". 
(-) excentricidade, instabilidade, superficialidade.
Tipo: pensamento. Temperamento: sangüíneo. 
Gênios: os silfos e sílfides, que podem ser controlados pela constância.


Água-Copas: Energia de preservação, proteção e segurança. Emoções e sentimentos. Intuição e sensibilidade psíquica. Empatia e ajuda. Imaginação. Absorção. Percepção dos anseios da alma. 
(-) ressentimento, desconfiança, timidez. 
Tipo: sentimento. Temperamento: fleumático (linfático). 
Gênios: as ondinas, que podem ser controladas pela firmeza.


Compilação de Constantino K. Riemma - www.clubedotaro.com.br 


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Deus segundo Spinoza


 SPINOZA (1632 – 1677), nasceu em Amsterdã na Holanda sob o signo de Peixes (sensibilidade), mas com o Sol em conjunção com Mercúrio (razão) como um bom teólogo, filósofo e racionalista. Era de uma família judaica de origem portuguesa fugida da "Santa Inquisição" naquele país ibérico. Ser judeu naquela época em Portugal só não era pior que na Alemanha dos anos 40.
Foi um dos pais da filosofia moderna acompanhado por Descartes e Leibnitz. Seus interesses tocavam a Ética, Metafísica, Teologia, Lógica e por aí afora. Estudioso dos livros cristãos, judaicos, islâmicos, Platão, Sócrates e outros, ganhou fama por duas razões: primeiro pelas suas posições opostas à superstição (ele dizia em latim “Deus sive natura...”, ou, “Deus, ou seja, a Natureza...”, um conceito filosófico-teológico insuportável naquelas coordenadas europeias de tempo e espaço), e em segundo lugar devido ao fato da sua ética ter sido escrita sob a forma de postulados e definições, como se fosse um tratado de geometria. Enfim, razão somada à sensibilidade.
Curiosamente,  o texto abaixo soa familiar aos nossos ouvidos hoje, nesse tempo de contradições, terremotos físicos, religiosos e mentais, apocalipse e renovação. Acredite, essas palavras foram ditas em pleno Século XVII. É como se Deus, segundo a concepção de Spinoza, estivesse falando para você:

“Pare de ficar rezando e batendo no peito! 
O que eu quero que você faça é que saia pelo mundo e desfrute de tua vida.
Eu quero que você goze, cante, divirta-se e que desfrute de tudo o que Eu fiz para você.
Pare de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que você mesmo construiu e que acredita ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por você.
Pare de me culpar da tua vida miserável:
Eu nunca disse que há algo mau em você ou que era um pecador, ou que sua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu dei e com o qual você pode expressar seu amor, seu êxtase, sua alegria.
Assim, não me culpe por tudo o que o fizeram crer. 
Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não pode me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de seus amigos, nos olhos de seu filhinho... não me encontrará em nenhum livro!
Confie em mim e deixe de me pedir. Você vai me dizer como fazer meu trabalho? 
Pare de ter tanto medo de mim. Eu não o julgo, nem o critico, nem me irrito, nem o incomodo, nem o castigo. 
Eu sou puro amor.
Pare de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Eu fiz você... 
Eu o enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso culpar você, se responde a algo que eu coloquei em você?
Como posso castigar por ser como você é, se Eu sou quem fez você?
Crê que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? 
Que tipo de Deus pode fazer isso? 
Esqueça qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para  manipular você, para controlar, que só geram culpa em você.
Respeite seu próximo e não faça o que não queira para você 
A única coisa que peço é que preste atenção à sua vida, que seu estado de alerta seja seu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que você precisa.
Eu fiz você absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. 
Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.
Você é absolutamente livre para fazer da sua vida um céu ou um inferno.
Não poderia dizer a você se há algo depois desta vida, mas posso dar um conselho. Viva como se não houvesse.
Como se esta fosse a sua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. 
Assim, se não há mais nada, terá aproveitado da oportunidade que eu dei. 
E se houver, tenha certeza que Eu não vou perguntar se foi comportado ou não. 
Eu vou perguntar se gostou, se se divertiu... Do que mais gostou? 
Pare de crer em mim. Crer é supor, adivinhar, imaginar. 
Eu não quero que acredite em mim. Quero que me sinta em você.
Quero que me sinta em você quando beija a sua amada, quando agasalha tua filhinha, quando acaricia o seu cachorro, quando toma banho no mar. 
Pare de me louvar! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Você se sente grato? Demonstre cuidando de você, de sua saúde, de suas relações, do mundo.
Você se sente olhado, surpreendido?... Expresse sua alegria! Esse é o jeito de me louvar. 
Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. 
A única certeza é que você está aqui, que está vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. 
Para que precisa de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procure fora! Não me achará. Procure-me dentro de você... aí é que estou." 

EINSTEIN, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe.”

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A Kabbalah e o Tarot

As 10 emanações luminosas

Cartas de paus - Tarô de Marselha
Para os menos exigentes, o título poderia ser "A Cabala e o Tarô", como aliás se escreve em Português. São duas tradições convergentes que começaram a ser casadas entre si por um grande estudioso, Eliphas Levy (Alphonse Louis Constant) como veremos adiante. É bom lembrar que o Tarô é composto de duas vertentes, Arcanos Maiores e Menores, e que a palavra Arcano significa segredo, mistério, oculto.
Segundo o mais completo e sério livro conhecido sobre Tarô, o “Meditações Sobre os 22  Arcanos Maiores do Tarô”,de autor voluntariamente anônimo, os Arcanos Maiores são 22 cartas, representações simbólicas de um conhecimento secreto sobre o Ser e o Universo.  Como tal, fala de arquétipos e princípios  místicos, gnósticos e mágicos. Já os Arcanos Menores, 56 cartas na forma primitiva do baralho de jogar, como é conhecido atualmente, fala de situações do cotidiano e portanto presta-se mais a atender à busca de respostas não conceituais, filosóficas e metafísicas mas sim aquelas práticas do tipo  “E agora? Como é que eu faço?”
Vamos lá:

“Atualmente, existem vários métodos para a leitura de Tarô. Muitos métodos modernos foram desenvolvidos e estão em uso revelando os segredos dos arcanos menores ou auxiliares. Estes variados métodos surgiram de diversas fontes, uma delas é a Kabbalah. Este artigo propõe discutir alguns aspectos básicos da origem e o modo de usar os arcanos menores através de princípios kabalísticos. Por serem princípios profundos é certo que, neste trabalho, o assunto não será tratado de forma completa. Se o leitor julga que entende de Kabbalah é possível que se surpreenda com o trabalho, mas se não entende, é um ótimo passo para começar. Mas o que é Kabbalah?

Kabbalah (que significa literalmente “receber” em hebraico) é uma filosofia de parte do Judaísmo Místico. Entretanto, para os kabalistas, a Kabbalah vem antes do Judaísmo e, na verdade, é a origem de todos os sistemas religiosos incluindo Judaísmo. Hoje em dia, é definida como uma tecnologia para alma que dá suporte aos sistemas religiosos, tradições e filosofias de vida. Dessa forma, a mesma não é caracterizada como religião, mas como suporte às religiões. Até pouco tempo atrás, muitos dos trabalhos escritos relacionavam este “receber” a transmissão oral de conhecimentos entre mestre e discípulo na tradição dos judeus kabalistas, pois por vários milênios a Kabbalah permaneceu restrita à somente homens de certa idade (normalmente acima dos 40). Na verdade, este “receber” é relativo à nossa natureza de receber em relação ao Criador e a forma como o mesmo criou o universo. O que é tema para outro artigo. Para entender a Kabbalah, é necessário beber da fonte, ou seja, buscar entender a linha de raciocínio de linhagens kabalistas e praticar.  Por quê?
Eliphas Levi (1810-75)

Segundo Nei Naiff (pesquisador brasileiro de História do Tarô) em seu “Curso Completo de Tarô” de 2001, Eliphas Levi (o maior ocultista do século XIX) foi o primeiro kabalista a associar Tarô com Kabbalah. Em seguida, vários autores e praticantes usaram métodos e princípios kabalísticos para desvendar o Tarô e diversos conceitos atuais tem sua origem em trabalhos de kabalistas europeus que eram também filósofos ocultistas. A questão é que o pensamento ocultista do século XIX tem influências fortes de outras culturas, como: helenismo, cristianismo, hermetismo e as descobertas deste mesmo século, por exemplo.
Sem dúvida, essa influência foi necessária, pois neste período muito do conhecimento profundo da Kabbalah era restrito a judeus kabalistas e não era de conhecimento geral. Seu jargão sempre foi particular e complexo. Em resumo, outros conhecimentos respondiam a questões que o entendimento kabalístico geral não respondia. A base do conhecimento kabalístico dos judeus místicos e dos filósofos ocultistas é bem diferente em cerne, o que não os faz menos kabalistas, pelo contrário, seus trabalhos são fantásticos. Hoje temos amplo acesso a esse conhecimento. Embora seja em partes ensinado nas ordens discretas como a Maçonaria, pode ser melhor entendido e praticado em escolas de linhagens kabalistas. 
Os arcanos menores ou auxiliares são divididos em quatro séries (naipes) de quatorze cartas. Dez representam números inteiros (1/Ás ao 10, como no baralho comum) e quatro representam estágios específicos da vida: adulto, adulta, jovem e criança ou médico, médica, médico residente e estudante, são alguns exemplos. Estes são chamados de “A Corte”.
A Corte pode ser usada para definir características de envolvidos no assunto da leitura: colegas de trabalho, filhos e filhas, esposo e esposa, chefes, autoridades
espirituais, autoridades temporais, funcionários e funcionárias, entre outros. Igualmente é possível descobrir o papel e comportamento do envolvido em relação ao assunto, como se vê nos estudos dos naipes.
Para os kabalistas europeus estes naipes seguem o padrão do mais poderoso nome de Deus, o Tetragrama (Tetragrammaton: YHVH –> Iud, Hey, Vav e Hey) e é um ponto de dúvidas interessantes.
Tetragrammaton - lê-se a partir da esquerda
Antes de observar os arcanos menores é importante entender o que é, de fato, o Tetragrama. Para os kabalistas, as letras hebraicas são representações de energias subatômicas que criaram o universo. São como sementes de enormes árvores, algo tão pequeno que tem potencial para gerar algo tão grande. Esta ideia é corroborada pelos mais importantes livros kabalísticos o Sefêr Yetzirá e o Zohar. As letras servem como pontos de conexão entre o finito (nossa realidade) e o infinito (o criador e sua realidade), já que para se conectar a essas energias é necessário ter algum canal (as mesmas) que permitisse compreensão (o finito compreender o infinito).
Essas energias atuam eternamente no universo e passam por vários filtros e processos que dão origem a diversidade de coisas que existem e conhecemos. A criação descrita na bíblia ocorre todos os dias. Dessa forma, o Tetragrama é considerado uma combinação de energias de altíssimo nível que descrevem a nossa realidade em nível subatômico e a modifica através de alguns processos. Este nome é usado de diversas formas, porém além do Tarô é tema para outro artigo.
Basicamente, o Tetragrama exprime:

Y (Yud): As grandes ideias, o potencial da semente, a energia que a faz germinar. Ainda sem manifestação. Uma força de compartilhar.

H (Hey): Normalmente, é associada à contraposição da ideia, a resistência. No entanto, é necessário ampliar a consciência e perceber em outra perspectiva. É o aviso, a preparação e amadurecimento da ideia, não uma resistência em si, é um receptor. Uma capacidade de receber. Um encaixe.

V (Vav): É a manifestação da ideia em potencial. O palpável da ideia se manifestando por encontro da força de compartilhar com a capacidade de receber. Pode ser o processo ou a manifestação direta.

H (Hey): Trata-se da colheita dos frutos, a capacidade de uso, o destino final do que foi concluído.

Entre os kabalistas a associação com os naipes variam, mas é o comum encontrar: Paus (Yud), Copas (primeiro Hey), Espadas (Vav) e Ouros (segundo Hey). Por que duas letras Hey? Em linhas gerais, as letras hebraicas são  vibrações  que representam as múltiplas energias da criação e a primeira difere da segunda sutilmente em profundidade (energias diferentes). As letras hebraicas possuem múltiplas facetas e diversos livros que a descrevem. Também é tema para outro artigo. 
Neste caso, as cartas do naipe de Paus podem representar as possibilidades, a ideia em nível de semente. O que se busca, o desejo em si, a forma de compartilhar, a intenção do desejo, a conexão com o todo. Já as cartas de Copas a recepção dessa intenção ou desejo, a interação dessa ideia com a capacidade de se manifestar e todo contexto em volta. Nessa perspectiva, as cartas de Espadas demonstram a manifestação dessas ideias, o labor e o processo para a manifestação das mesmas, a luta para concretizar o desejo, a execução de um plano, por exemplo. Enfim, as cartas de Ouros representam os frutos colhidos após a conclusão da ideia. Como aproveitar a colheita? Como dar direção ou continuidade ao que foi concluído? Qual a forma correta de compartilhar? São alguns exemplos.
Finalmente, sobre as cartas numeradas. Os dígitos para os kabalistas são fundamentais, não existe Kabbalah sem os números. Entretanto, nesse caso em específico os kabalistas europeus associaram as cartas dos arcanos menores ao diagrama da Árvore da Vida ou as Dez Emanações Luminosas (do hebraico: Etz Chaim).  Outro ponto de dúvidas interessantes.
Em termos gerais, a Árvore da Vida dos kabalistas é um diagrama de múltiplas interpretações e paradigmas que descreve todas as energias, as relações entre as mesmas. Fala de nossa realidade e de outras realidades. Basicamente, para os kabalistas, o Criador é uma infinita força de compartilhar plenitude e nós infinita força de receber. O que é compartilhado entre essas força é chamado de Luz no jargão kabalístico (porque seus conceitos se assemelham aos conceitos da luz física), Luz Espiritual. As emanações luminosas (cada círculo no diagrama) são filtros que modificam a luz e acabam afetando a percepção dela por nós. Nós somos o último círculo em baixo (Malchut, Reino). Na realidade, a Árvore da Vida dos kabalistas é algo realmente muito complexo.
Existem muitos artigos sobre As Dez Emanações Luminosas. Obviamente, esse diagrama é a ponta do iceberg. Este é outro conhecimento que dentro da filosofia oculta teve muita influência de outras culturas perdendo um pouco de seus conceitos originais. O diagrama em si pode se tornar apenas um conjunto de conceitos pouco práticos em algumas perspectivas. Ao fundo desse diagrama existem ao menos 125 Partzufim (formas espirituais) profundas que requerem imenso estudo e prática que duram vidas. O proposito da Kabbalah é nos conectar com a realidade da Árvore da Vida. Os dez dígitos são esses dez filtros/véus de luz representados pelos círculos do diagrama. No Tarô, esses círculos correspondem às quatro séries (tetragrama) de dez cartas (emanações) dos arcanos menores.

Então, para usar este diagrama no caso do Tarô:

1 (Emanação da Coroa - Kéter): Para os kabalistas a resposta vem antes da pergunta (na realidade além dos nossos sentidos convencionais). Essa emanação é um filtro com o desejo divino de compartilhar. O poder equilibrador maior. Pode ser interpretada como: desejo divino ou universal, o desejo de nossa alma, a resposta principal, o êxito total, mesmo quando não estamos conscientes do todo.

2 (Emanação da Sabedoria - Chochmá): É a emanação de luz almejada pelos kabalistas em todo o processo. Segundo algumas linhagens, é o máximo que podemos alcançar de luz divina, mas nem todas concordam sobre. Pode ser interpretada, como: a necessidade de prudência, ampliação de consciência, descoberta de novas possibilidades, flexibilidade nos conceitos, busca por mudanças e novas opções, busca por aquilo que está além do nosso alcance e foco nas atividades difíceis, por exemplo.

3 (Emanação do Entendimento – Biná): Esta emanação de luz é a que, em parte (somente parte desse filtro conduz esse trabalho), faz a conexão entre o desejo de compartilhar de Deus com nosso desejo de Receber no nível mais alto. Este nível é alcançado quando nos corrigimos. É a consciência profunda. Pode ser interpretada, como: a resolução de um problema, o profundo entendimento sobre uma solução, a invenção de algo importante, conexão profunda com a espiritualidade ou conexão profunda com o Criador, por exemplo.

4 (Emanação de Misericórdia – Chéssed): A ideia de amor incondicional permeia todas as sabedorias espirituais. Dizem os kabalistas que Deus primeiro criou nosso universo com a energia de Julgamento, mas sentindo que as coisas não iam bem adicionou a energia da Misericórdia que é a única luz capaz de comportar a luz da Sabedoria (Chochmá). Pode ser interpretada, como: amor incondicional, amor profundo, compreensão, desejo de melhorar, capacidade de ajudar restringindo o desejo de receber somente para si mesmo, foco no outro e melhora intensa. São alguns exemplos.

5 (Emanação de Julgamento – Gevurá): Esta luz é uma das energias mais comuns em nossa vida. A energia e rigor do Julgamento são essenciais para nossa realidade, mas quando nos focamos demais na mesma desiquilibramos nossa vida e a dos demais atraindo reações rápidas e brutais para o nosso dia-a-dia. Pode ser interpretada, como: necessidade de movimento, rigor, necessidade de controle, decisões importantes, rigidez de raciocínio, inflexibilidade e impulso para realizações, por exemplo.
6 (Emanação de Beleza – Tiféret): A emanação de luz da beleza no diagrama está na coluna central indicando a beleza do equilíbrio. A beleza, alegria, frequência na percepção das boas coisas, ampliação de consciência nos permitem remover cascas (proteções que atrapalham a percepção da Luz Espiritual). Pode ser interpretada, como: a beleza, a consciência ampliando, a verdade aparecendo, a capacidade de remover o stress e a capacidade de não se prender a problemas, evitar fofocas e falar mal das pessoas etc.

7 (Emanação de Vitória – Nêtzach): Esta emanação luminosa é referente à capacidade de perseverar diante dos obstáculos, força para vencer, coragem para mudar, estímulo para transformar suas próprias negatividades em Luz Espiritual. Pode ser interpretada, como: a luta, perseverança exigida para alcançar os objetivos, a rigidez necessária para alguns casos, vitórias que vem de lutas difíceis.

8 (Emanação de Esplendor/Glória – Hôd): Esta luz está associada à capacidade do ser humano de perceber o todo (o que está além dos seus sentidos convencionais ou a percepção de tempo, espaço e movimento) e a capacidade de espiritualizar-se. Pode ser interpretada, como: o êxito na situação, percepções inovadoras, perfeição e harmonia em certa situação, caminho correto e Luz Espiritual. São alguns exemplos. 

9 (Emanação de Fundação – Yessód): Essa emanação luminosa é a base de conexão entre os seres humanos e a Luz Espiritual é o primeiro passo fora da realidade convencional. Pode ser interpretada, como: a necessidade de compartilhar ou manifestar-se, integrar-se socialmente, auxiliar as pessoas, rever conceitos, espiritualizar-se e desenvolver a consciência de unidade, por exemplo.  

10 (Emanação do Reino – Malchut): Essa emanação representa a Luz que chega a nossa realidade. Pode ser interpretada, como a ordem na nossa realidade que reflete realidades superiores, a pergunta, a percepção atual da situação, como a situação surgiu e foco da situação etc. 

Obviamente, todas as interpretações nos exemplos são exemplos para fixar o conteúdo do artigo, existem inúmeras outras possibilidades. É extremamente importante considerar as cartas relacionadas em jogo e suas combinações para uma interpretação próxima das necessidades do consulente. Embora, as interpretações estejam separadas (Corte, Naipes e Números) fica para o leitor explorar mais cada ideia, combinar, transformar as abstrações do mundo das emanações para informações práticas do mundo da ação. Funciona perfeitamente com adivinhação, embora esta interpretação seja indicada para exercícios filosóficos e estudo pessoal.
Normalmente, os autores recentes procuram separar a Kabbalah dos estudos do Tarô por questões simbólicas. Inicialmente, é o ideal. Entretanto, a Kabbalah está relacionada ao Tarô    independentemente dos seus símbolos porque sua conexão é com toda a criação em si. As influências da Kabbalah na História do Tarô não param por aqui.  Em próximos artigos serão explicados alguns segredos sobre a conexão dos arcanos maiores e a Kabbalah." 

O artigo foi transcrito, e pode ser consultado, no site www.clubedotaro.com.br, do grande amigo Constantino. Para saber mais sobre Tarô, Kabbalah, Budismo, Maçonaria e Espiritualidade acesse também o blog do autor, Pedro Henrique,  em www.pedrohenriquepost.wordpress.com





domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Centro para Decisões - Visão Tolteca



O Livro Passes Mágicos, do xamanismo tolteca de Castaneda é uma compilação de práticas corporais para equilibrar as energias do praticante. Ele pressupõe a existências de seis principais, entre milhares de vórtices de energia no corpo, que podem ser manipulados e estimulados. Um deles é o centro para decisões.

"O tópico mais importante para os xamãs que viveram no México em tempos antigos e para todos os xamãs da linhagem de Dom Juan era o centro para decisões. Através dos resultados práticos dos seus esforços, os xamãs estão convencidos de que existe um ponto no corpo humano responsável pela tomada de decisão, o ponto V - a área na crista do esterno na base do pescoço onde as clavículas se encontram para formar a letra V. É um centro no qual a energia é refinada a ponto de ficar tremendamente sutil e que armazena um tipo específico de energia que os xamãs são incapazes de definir. Entretanto eles têm absoluta certeza de que podem sentir a presença dessa energia e os seus efeitos. Os xamãs acreditam que essa energia especial é sempre expulsa daquele centro bem no início da vida dos seres humanos e que ela nunca retorna para lá, privando os seres humanos de algo talvez mais importante do que toda a energia combinada dos outros centros: a capacidade de tomar decisões.
Em relação ao tema de tomar decisões, Dom Juan expressava a severa opinião dos feiticeiros da sua linhagem. Através dos séculos, suas observações os tinham levado a concluir que os seres humanos são incapazes de tomar decisões e que, por essa razão, criaram a ordem social: instituições gigantescas que assumem a responsabilidade pela tomada de decisões. Deixam essas instituições gigantescas decidirem por eles e simplesmente cumprem as decisões já tomadas em seu benefício.
Para os xamãs, o ponto V na base do pescoço era um local de tal importância que eles raramente o tocavam com as mãos. Se fosse tocado, o toque era ritualístico e sempre realizado por uma outra pessoa com a ajuda de um objeto. Eles usavam peças altamente polidas de madeira resistente ou ossos polidos de animais e utilizavam a parte arredondada do -osso para ter um objeto de contorno perfeito, do tamanho do ponto côncavo no pescoço. Pressionariam com aqueles ossos ou peças de madeira para criar pressão nas bordas daquele ponto côncavo. Embora raramente, esses objetos também eram usados para auto massagem ou para o que, nos dias de hoje, conhecemos como acupressura.
- Como eles vieram a descobrir que aquele ponto côncavo é o centro para decisões? - perguntei um dia a Dom Juan.
- Cada centro de energia no corpo - respondeu ele - mostra uma concentração de energia; uma espécie de vórtice de energia, como um funil, que, da perspectiva do vidente, parece realmente girar no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. A força de um determinado centro depende do vigor do movimento. Se ele mal se move, o centro fica exaurido, esvaziado de energia.
"Quando os feiticeiros dos tempos antigos estavam examinando minuciosamente o corpo com os seus olhos de videntes, notaram a presença desses vórtices. Ficaram muito curiosos a esse respeito e fizeram um mapa deles.”
- Existem muitos de tais centros no corpo, Dom Juan? - perguntei.
- Existem centenas deles - respondeu ele - se não milhares! Pode-se dizer que um ser humano não é mais que um conglomerado de milhares de vórtices giratórios, alguns deles tão minúsculos que são, vamos dizer, como furinhos de alfinete, mas furinhos muito importantes. A maioria dos vórtices são vórtices de energia. A energia flui livremente através deles ou fica presa neles. No entanto existem seis tão enormes que merecem tratamento especial. São centros de vida e vitalidade. Neles a energia nunca fica presa, mas às vezes o suprimento de energia é tão escasso que o centro mal gira.
Dom Juan explicava que esses enormes centros de vitalidade estavam localizados em seis áreas do corpo. Ele os enumerava segundo a importância que os xamãs lhes concederam. O primeiro, na área do fígado e da vesícula biliar; o segundo, na área do pâncreas e do baço; o terceiro, na área dos rins e das glândulas supra-renais; e o quarto, no ponto côncavo na base do pescoço na parte frontal do corpo. O quinto, ao redor do útero, e o sexto, no topo da cabeça.
De acordo com o que Dom Juan dizia, o quinto centro, pertinente apenas às mulheres, tinha um tipo especial de energia que dava aos feiticeiros a impressão de liquidez. Era uma característica que somente algumas mulheres tinham. Parecia servir como um filtro natural que peneirava as influências supérfluas.
Dom Juan descrevia o sexto centro, localizado no topo da cabeça, como algo mais do que uma anormalidade e abstinha-se totalmente de ter alguma coisa a ver com isso. Retratava-o como possuindo não um vórtice circular de energia, como os outros, mas um movimento de um lado para o outro, como um pêndulo, que, de certo modo, lembra a pulsação de um coração.
- Por que a energia desse centro é tão diferente, Dom Juan? perguntei.
- Esse sexto centro de energia - disse ele - não pertence inteiramente ao homem. Entenda, nós seres humanos estamos, por assim dizer, sob estado de sítio. Esse centro foi assumido por um invasor, um predador invisível. E a única maneira de dominar esse predador é fortificando todos os outros centros.
- Não é um tanto paranóico achar que estamos sob estado de sítio, Dom Juan? - perguntei.
- Bem, talvez para você, mas certamente não para mim - respondeu ele. - Eu vejo a energia e vejo que a energia sobre o centro no topo da cabeça não flutua como a energia dos outros centros. Ela tem um movimento de um lado para o outro muito desagradável e muito estranho. Também vejo que, em um feiticeiro que foi capaz de dominar a mente, que os feiticeiros chamam de uma instalação alienígena, a flutuação desse centro torna-se exatamente como a flutuação de todos os outros.
Durante os anos do meu aprendizado Dom Juan recusou-se sistematicamente a conversar sobre o sexto centro. Na ocasião em que estava me falando sobre os centros de vitalidade, desprezou rudemente minhas frenéticas indagações e começou a falar sobre o quarto centro, o centro para decisões.
- O quarto centro - disse ele - tem um tipo especial de energia que aparece ao olho do vidente como possuindo uma extraordinária transparência, algo que poderia ser descrito como semelhante à água: energia tão fluida que parece líquida. A aparência líquida dessa energia especial é a marca de uma qualidade do próprio centro para decisões parecida com um filtro que peneira qualquer energia que chega até ele e extrai dela apenas o seu aspecto que é parecido com líquido. Essa qualidade de liquidez é uma característica uniforme e consistente desse centro. Os feiticeiros também o chamam de o centro aquoso.
A rotação da energia no centro para decisões é a mais fraca de todas elas. É por essa razão que o homem raramente decide alguma coisa. Os feiticeiros vêem que, após praticarem determinados passes mágicos, esse centro torna-se ativo e eles podem, com certeza, tomar decisões que satisfaçam os seus corações, enquanto que, antes, não conseguiam sequer dar um primeiro passo.
Dom Juan era bastante enfático sobre o fato de que os xamãs do antigo México tinham uma aversão, que beirava a fobia, com relação a tocarem em seus próprios pontos côncavos na base do pescoço. A única maneira pela qual eles aceitavam qualquer interferência que fosse naquele ponto era através do uso dos seus passes mágicos que reforçam aquele centro trazendo para ele a energia dispersa e, desse modo, impedindo, na tomada de decisão, qualquer hesitação nascida da dispersão natural de energia ocasionada pelo desgaste da vida cotidiana.
- Um ser humano - dizia Dom Juan -, percebido como um conglomerado de campos de energia, é uma unidade completa e lacrada na qual nenhuma energia pode ser injetada e da qual nenhuma energia pode escapar. A sensação de perder energia, que todos nós experimentamos de vez em quando, é o resultado da energia sendo afugentada, dispersada dos cinco enormes centros naturais de vida e vitalidade. Qualquer sensação de obtenção de energia é devida à redistribuição da energia previamente dispersada daqueles centros, isto é, a energia é recolocada naqueles cinco centros de vida e vitalidade."

Do livro Passes Mágicos - Carlos Castaneda