sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Simbolismo do Quatro

Zodíaco de Barthelemy, l'Anglais, 
França, Le Mans, séc. XV
 A idéia do quatro aparece quase sem exceção na mitologia, na religião e na arte das diversas culturas: seja o tempo (as quatro estações) ou seja o espaço (os pontos cardeais), inclusive as alegorias (os quatro rios do Paraíso). A organização do mundo é essencialmente quaternária. 
O nosso tempo é sempre medido em quatro etapas:
o dia e suas quatro referências: aurora, meio-dia, pôr-do-sol e meia noite; o mês lunar e suas quatro fases, Lua Nova, Crescente, Cheia e Minguante; o ano e as quatro estações: primavera, verão, outono e inverno.

O quaternário fala da ordem terrestre e da organização racional. Ele "tem um fundamento estatístico: o quadrado é a forma mais utilizada pelo homem", diz Cirlot.
Os quatro elementos, na linguagem dos antigos ensinamentos, constituem o conjunto básico da materialidade com a qual se constrói o universo. Fogo, Terra, Ar e Água, combinados com as três forças primordiais, compõem o os doze signos do zodíaco.
Na simbologia dos números, vemos claramente a marca do quaternário nas duas operações elementares que pode realizar com o ternário:
4 + 3 = 7 (os dias da semana, os planetas tradicionais da astrologia)
4 x 3 = 12 (meses, signos zodiacais, tribos de Israel, apóstolos de Cristo)
4 – 3 = 1, ou seja, por subtração, retorna à unidade.

Os quatro elementos
Ilustração: www.homepage.mac.com/antallan/
    Para os gregos e para a maior parte das tradições ocidentais, os elementos são em número de quatro: água, ar, fogo e terra. Eles não são irredutíveis entre si; transformam-se uns nos outros.

Nos ensinamentos da tradição grega, os quatro elementos, 
fogo, terra, água e ar, resultam da combinação 
das quatro qualidade primordiais: quente, seco, frio e úmido.
No plano interior e espiritual, há também um atributo próprio a cada elemento. O fogo (e vale para o naipe de Paus) é considerado como o elemento motor, que anima, transforma, que faz evoluir de um para outro os três estados da matéria: sólido (terra), líquido (água) e gasoso (ar). 
O ser de fogo, por exemplo, simboliza o agente de toda evolução. Em outros contextos simbólicos, a imagem do ar (naipe de Espadas) está na base de uma psicologia ascensional, evolutiva, que tem seu sentido no alçar vôo e na queda. 
Cada elemento pode ainda ser associado a um conjunto de condições dadas à vida, numa visão evolutiva, na qual o desenrolar do ciclo tem início com o primeiro elemento (Água, naipe de Copas), para terminar com o último (Terra, naipe de Ouros), passando pelos termos intermediários (Ar e Fogo, naipes de Espadas e Paus).
Tem-se, assim, uma ordem quaternária na:
natureza: inverno, primavera, verão e outono; meia noite, nascer do dia, meio dia, pôr-do-sol; temperamentos: linfático, sangüíneo, bilioso, nervoso;
tipos junguianos: sentimento, pensamento, sensação, intuição;
etapas da vida humana: infância, juventude, maturidade e velhice, etc.


    Na iniciação maçônica, começa-se por sair da Terra (naipe de Ouros), passando-se a seguir por purificações pelo Ar (naipe de Espadas), pela Água (naipe de Copas) e pelo Fogo (naipe de Paus). Liberta-se, passo a passo, da vida material, da Filosofia e da Religião para finalmente alcançar a Iniciação pura.
    Na mística sufi, as etapas de evolução são apresentadas numa relação exatamente oposta: deve-se deixar a realidade ilusória (ar), queimar dentro de si as imagens (fogo), apreender a divina realidade no que ela tem de mais fluido e impreciso (água) e finalmente fundir-se na total e única realidade, divina, verdadeiramente sólida (terra).

Resumos
São apresentados, abaixo, alguns quadros que ajudam a dar uma visão de conjunto das relações do quaternário em diferentes linguagens simbólicas.

Os Quatro Elementos: Tarô e Astrologia
Elemento
Naipe
Figura
Signo Fixo
Fogo
Paus
Rei
Leão
Água
Copas
Dama
Escorpião
Ar
Espadas
Cavaleiro
Aquário
Terra
Ouro
Valete
Touro

Os Quatro Elementos: Esoterismo cristão
Elemento
Signo
Evangelista
Atributos
Fogo
Leão
Marcos
"Seu evangelho inicia com
as palavras daquele que
clama no deserto, João Batista".
Água
Escorpião (Águia)
João
"É mais marcante nele
o vôo do espírito rumo
às esferas superiores".
Ar
Aquário
(Homem alado)
Mateus
"Seu relato tem início
quando Cristo
vem ao mundo"
.
Terra
Touro
Lucas
"Nele se coloca
a questão de Zacarias,
o sacrificador de animais".
Nota: Os atributos acima, são palavras de S. Jerônimo (348-420) sobre os Evangelistas.

  
Fogo-Paus: energia irradiante, excitável. Exuberância e entusiasmo. Vigor. Autoconfiança e identidade. Direção consciente do poder da vontade. Liberdade de expressão e ingenuidade. 
(-) Turbulência, exagero, imprudência, auto-indulgência.
Tipo: intuição. Temperamento: colérico (bilioso). 
Gênios: as salamandras, que podem ser controlados pela serenidade.


Terra-Ouros: energia de provisão e sustentação. As formas, os sentidos físicos e a realidade concreta. Paciência, disciplina e eficiência. Aquisição, retenção e autoproteção. 
(-) apego à rotina, materialismo, imobilidade.
Tipo: sensação ou percepção. Temperamento: melancólico.
Gênios: os gnomos, que podem ser controlados pela generosidade jovial.


Ar-Espadas: mundo das idéias arquetípicas e das relações. Pensamentos e teorias. Descobertas e invenções. Racionalidade e imparcialidade. Cooperação, flexibilidade. Penetração, respiração, "prana". 
(-) excentricidade, instabilidade, superficialidade.
Tipo: pensamento. Temperamento: sangüíneo. 
Gênios: os silfos e sílfides, que podem ser controlados pela constância.


Água-Copas: Energia de preservação, proteção e segurança. Emoções e sentimentos. Intuição e sensibilidade psíquica. Empatia e ajuda. Imaginação. Absorção. Percepção dos anseios da alma. 
(-) ressentimento, desconfiança, timidez. 
Tipo: sentimento. Temperamento: fleumático (linfático). 
Gênios: as ondinas, que podem ser controladas pela firmeza.


Compilação de Constantino K. Riemma - www.clubedotaro.com.br 


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