domingo, 11 de março de 2012

O Mar Escuro da Consciência, Mundos Gêmeos, Seres Inorgânicos, a Morte, "y otras cositas más"


Se me perguntassem “qual o melhor livro que você leu na sua vida?” eu diria sem dúvida “16 livros da obra de Castaneda e discípulos” (rsrs).
Exagero? O editor do New York Times, um "jornalzinho lá da matriz", sério, e parcimonioso em distribuir elogios, disse em 2001, quando foi editado o 12º livro do autor, O Lado Ativo do Infinito: “Somos incrivelmente afortunados em ter os livros de Carlos Castaneda.Tomados em conjunto formam uma obra que está entre o melhor que a ciência da Antropologia já produziu.
Por essa você não esperava, né?...Eu acrescentaria: "e o melhor que a tradição do Xamanismo produziu, também".
Infelizmente há um porém: grande parte da compreensão da obra foi comprometida pelo trabalho de “tradutores-traidores” que juntaram o seu desconhecimento do tema à “marquetagem” oportunista das editoras. Quer um exemplo?: O 1º livro da obra, que em inglês chama-se “The Teachings of Don Juan” ou Os Ensinamentos de Don Juan, foi traduzido e publicado no Brasil como “A Erva do Diabo”, para linkar a obra às drogas e a cultura hippie dos anos 60, que dava mais dinheiro que chuchu na serra. Isso deu resultado comercial  imediato, mas comprometeu a divulgação da valiosa tradição dos videntes toltecas de conhecimento interior. Muita gente torce o nariz até hoje, achando que a obra é uma apologia das drogas e ervas alucinógenas, apesar das explicações claras de Don Juan. Mas isso é outra história...
Vamos ver então Don Juan falando a Castaneda dessa energia descomunal, incompreensível e eterna que os homens de conhecimento toltecas chamava o Mar Escuro da Consciência (outros chamam de Deus), e falando também de mundos gêmeos, seres inorgânicos, morte “y otras cositas”: 

Os xamãs videntes toltecas "viam" essa energia como A Águia, uma incomensurável fonte de energia eterna, que estava ligada a cada esfera individual de Consciência humana ou de qualquer ser senciente no Universo , pois ela empresta Vida a todos os seres e no final da vida pede a consciência adquirida de volta. Muito aqui entre nós, os videntes, através de um processo chamado Recapitulação, faziam uma cópia da Consciência que adquiriram na vida, entregavam-na à Águia na hora da morte e mantinham a sua consciência individual depois da morte. E diziam que qualquer um poderia fazer isso (com muito trabalho, claro. Quer moleza?). Ops, contei o final do filme...
Vamos lá:
“- Enquanto estavam no auge de seus poderes de percepção, os videntes toltecas viam algo que os fazia tremer nas calças, se estivessem vestindo uma. Viam que o Mar Escuro da Consciência é responsável não só pela consciência dos organismos, mas também pela consciência das entidades que não têm um organismo.
- O que é isso, Dom Juan, seres sem um organismo, e que têm consciência? - perguntei, surpreso, pois ele nunca mencionara essa idéia antes.
- Os xamãs antigos descobriram que todo o universo é composto de forças gêmeas - ele começou -, forças que são ao mesmo tempo opostas e complementares entre si. É inevitável que o nosso mundo seja um mundo gêmeo. Seu mundo oposto e complementar é habitado por seres que têm consciência, mas não um organismo. Por essa razão, os xamãs antigos os chamam de seres inorgânicos.
- E onde está esse mundo, Dom Juan?
- Aqui, onde você e eu estamos sentados - respondeu com naturalidade, mas rindo abertamente de meu nervosismo. - Eu disse a você que esse era o nosso mundo gêmeo, portanto está intimamente relacionado a nós. Os feiticeiros do México antigo não pensavam como você pensa em termos de espaço e tempo. Pensavam exclusivamente em termos de consciência. Dois tipos de consciência coexistem sem nunca colidir uma com a outra, pois cada tipo é completamente diferente do outro. Os xamãs antigos enfrentavam esse problema de coexistência sem se preocuparem com tempo e espaço. Raciocinavam que o grau de consciência dos seres orgânicos e o grau de consciência dos seres inorgânicos eram tão diferentes que ambos poderiam coexistir com o mínimo possível de interferência.
- Nós podemos perceber esses seres inorgânicos, Dom Juan? - perguntei.
- Com certeza - respondeu ele. - Os feiticeiros os percebem quando querem. As pessoas comuns fazem isso, mas não se dão conta que o fazem porque não são conscientes da existência do mundo gêmeo. Quando pensam em um mundo gêmeo, entram em todo tipo de masturbação mental, mas nunca lhes ocorre que as suas fantasias têm sua origem num conhecimento subliminar que todos nós temos: que não estamos sós.
Fiquei preso às palavras de Dom Juan.
- A dificuldade de se perceber as coisas em termos de tempo e espaço - continuou ele - é que você só nota se alguma coisa desembarcou no tempo e no espaço que está à sua disposição, e isso é muito limitado. Os feiticeiros, por outro lado, possuem um vasto campo onde podem notar se algo estranho desembarcou. Muitas entidades do universo como um todo, entidades que possuem consciência mas não um organismo, desembarcam no campo de consciência de nosso mundo, ou no campo de consciência de seu mundo gêmeo, sem que um ser humano comum jamais os perceba. As entidades que desembarcam em nosso campo de consciência, ou no campo de consciência de nosso mundo gêmeo, pertencem a outros mundos que existem além do nosso mundo e de seu gêmeo. O universo como um todo está abarrotado até a borda de mundos de consciência, orgânicos e inorgânicos.”
Curiosamente, aqui entre nós (mais a Dona Dolores e os meninos da escola) a “ciência de plantão” fala hoje nos Discovery, NatGeo e outros, de mundos gêmeos não mais como “coisa pseudo-científica inventada” mas como “coisa da vanguarda do conhecimento”. Os índios toltecas falavam do assunto já há milhares de anos em volta da fogueira. É mole?  A história do verdadeiro conhecimento da humanidade precisa ser reescrita.
“Dom Juan continuou falando e disse que aqueles feiticeiros sabiam quando a consciência inorgânica dos outros mundos além de nosso mundo gêmeo tinha desembarcado nos seus campos de consciência. Disse que, como todos os seres humanos nessa terra fariam, aqueles xamãs faziam intermináveis classificações dos diferentes tipos dessa energia que possui consciência. Elas eram conhecidas pelo termo genérico de seres inorgânicos.
- Esses seres inorgânicos têm vida como a nossa vida? perguntei.
- Se você pensa que Vida é ter Consciência, então eles têm vida - disse ele. - Suponho que seria correto dizer que se a vida pode ser medida pela intensidade, pela agudeza, pela duração daquela consciência, posso sinceramente dizer que eles são mais vivos do que você e eu.
- Esses seres inorgânicos morrem, Dom Juan? - perguntei. Dom Juan deu um risinho antes de responder.
- Se você chama morte o término da consciência, sim, eles morrem. Sua consciência acaba. Sua morte é como a morte de um ser humano e, ao mesmo tempo, não é, porque a morte dos seres humanos tem uma opção oculta. É algo como uma cláusula num documento legal, uma cláusula que é escrita em letras muito pequenas que mal se consegue enxergar. Você precisa usar uma lente de aumento para ler, porém é a cláusula mais importante do documento.
- Qual é a opção oculta, Dom Juan?
- A opção oculta para a morte é exclusiva dos feiticeiros. Eles são os únicos, que eu saiba, que leram as letrinhas. Para eles, a opção é pertinente e funcional. Para os seres humanos comuns, morte significa o fim de sua consciência, o fim de seu organismo. Para os seres inorgânicos, morte significa o mesmo: o fim de sua consciência. Em ambos os casos, o impacto da morte é o ato de ser sugado para o Mar Escuro da Consciência. As suas consciências individuais, carregadas com as suas experiências de vida, quebram as suas fronteiras, e a consciência enquanto energia se perde no Mar Escuro da Consciência.
- Mas o que é a opção oculta da morte que somente os feiticeiros captam, Dom Juan? - perguntei.
- Para um feiticeiro, a morte é um fator unificador. Em vez de desintegrar o organismo, como comumente acontece, a morte o unifica.
- Como pode a morte unificar alguma coisa? - protestei.
- A morte para um feiticeiro - disse ele - termina o reino dos temperamentos individuais no corpo. Os feiticeiros antigos acreditavam que era o domínio de diferentes partes do corpo que regia os temperamentos e as ações do corpo total; partes que se tornaram disfuncionais arrastavam o resto do corpo para o caos, como, por exemplo, quando você fica doente por comer porcaria. Nesse caso, o estado do seu estômago afeta todo o resto. A morte erradica o domínio dessas partes individuais. Ela unifica a sua consciência em uma única unidade.
- Você quer dizer que depois que os feiticeiros morrem ainda são conscientes? - perguntei.
- Para os feiticeiros, a morte é um ato de unificação que emprega cada parte da energia deles. Você está pensando na morte como um cadáver à sua frente, um corpo que começa a se decompor. Para os feiticeiros, quando o ato de unificação ocorre, não há cadáver. Não há decomposição. Seus corpos, na sua totalidade, se transformaram em energia, e a energia que possui consciência não é fragmentada. Os limites que são causados pelo organismo são interrompidos pela morte e ainda estão funcionando no caso dos feiticeiros, apesar de não serem mais visíveis a olho nu.
"Sei que você está morrendo de vontade de me perguntar - continuou ele com um amplo sorriso - se o que eu estou descrevendo é a alma que vai para o céu ou para o inferno. Não, não é a alma. O que acontece com os feiticeiros, quando eles escolhem essa opção oculta da morte, é que eles se tornam seres inorgânicos, muito especializados, seres inorgânicos de alta velocidade, seres capazes de manobras estupendas de percepção. Os feiticeiros entram então no que os xamãs do México antigo chamavam de sua viagem definitiva. O infinito se torna o seu reino de ação."
- Você quer dizer com isso, Dom Juan, que eles se tornam eternos?
- Minha sobriedade como um feiticeiro me diz - disse ele - que a consciência deles terminará da maneira como a consciência dos seres inorgânicos termina, mas eu não vi isso acontecer. Não tenho um conhecimento de primeira mão sobre isso. Os feiticeiros antigos acreditavam que a consciência desse tipo de ser inorgânico duraria o tempo que a Terra estiver viva. A Terra é a matriz deles. Enquanto ela prevalecer, sua consciência continua. Para mim, essa é uma afirmação bem razoável.
A continuidade e a ordem da explicação de Dom Juan tinham sido, para mim, magníficas. Eu não tinha mais nada a contribuir. Ele me deixou com uma sensação de mistério e expectativas não expressas a serem preenchidas.”

É interessante o paralelo entre e a visão tolteca e a visão de Gurdjieff sobre a imortalidade, colhida em suas andanças misteriosas pela Europa oriental e Ásia. Ele dizia naquele seu estilo obscuro, que  "o ser humano poderia atingir a  imortalidade, mas dentro dos
limites do sistema solar".

3 comentários:

  1. Vocês andam se combinando, hein?

    http://pistasdocaminho.blogspot.com/2012/03/o-mar-escuro-da-consciencia-pela-fisica.html

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  2. Alta sincronicidade, E ele postou dois dias antes de mim.
    Mas não se engane, a energia escura da física, por mais misteriosa que seja, tem apenas um nome parecido, O Mar Escuro da Consciência é algo do Incognoscível, e não do Desconhecido.
    Valeu cumpadre. Abraço

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  3. Afinal; a Águia ou o predador devora a consciência?

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