Kiran Bedi |
Hoje vamos mostrar um processo com resultados semelhantes aplicado em um presídio da Índia mas proveniente de uma outra tradição oriental, o budismo. É chamado Vipassana e trata-se de uma meditação que orienta os presidiários, em grandes grupos, a ficarem de frente, na meditação, com seus demônios durante 10 dias inicialmente. Depois disso a prática torna-se regular. O resultado foi tão efetivo que é aplicado hoje em dia em muitos presídios e está revolucionando o sistema prisional indiano habitualmente agressivo, cruel e corrupto tanto ou mais que os outros países do mundo.
Vipassana, que significa “ver as coisas como realmente são”, é uma das mais antigas técnicas de meditação da Índia. Foi redescoberta por Gautama Buda há mais de 2500 anos e ensinada por ele como um remédio universal para males universais, uma “Arte de Viver”.
Essa técnica visa a total erradicação das impurezas mentais e a resultante suprema felicidade da liberação completa. A cura, não a mera cura de doenças, mas a cura essencial do sofrimento humano, é o seu propósito.
Vipassana é um caminho de auto-transformação que utiliza a auto-observação. Foca a profunda interconexão entre mente e corpo, que pode ser experimentada diretamente pela atenção disciplinada às sensações físicas, que, por sua vez, constituem a vida do corpo e continuamente se interconectam e permitem a vida da mente. É essa jornada de autoconhecimento baseada na observação — que objetiva a raiz comum da mente e do corpo — a responsável pela dissolução das impurezas mentais, resultando numa mente em equilíbrio, cheia de amor e compaixão.
As leis científicas que regulam os pensamentos, sentimentos, julgamentos e sensações se tornam claras. Pela experiência direta, compreende-se a natureza de como se progride ou regride, como se produz ou se liberta do sofrimento. A vida começa a se caracterizar por consciência, libertação de ilusões, autocontrole e paz cada vez maiores.
É o mais ambicioso projeto na historia do sistema carcerário indiano. Isso pode modificar todo sistema prisional do planeta. É a primeira oportunidade onde Vipassana é usado no sistema penitenciário e mostrou grande resultado. O curso leva 10 dias. 10 dias é o básico, é a mínima quantidade de tempo necessário para obter a faísca que irá acender a vela, e algumas vezes aquela faísca não acende; necessita mais algumas vezes e aos poucos aparece uma pequena chama que acaba se expandindo. Os detentos se modificaram visivelmente. Há um reconhecimento de porque estão ali na prisão, porque eles mesmos causaram isso a si mesmos. Os sentimentos de raiva, de vingança, diminuem aos poucos até desaparecerem. Toda mudança leva tempo. Podem ser chamados de monges em vez de prisioneiros, que eram. Não é fácil. As regras do Vipassana são mais rígidas que as regras da prisão. Inicialmente os presos não estão receptivos para esse curso Mas agora o governo central encoraja a prática do Vipassana em todas as penitenciarias na índia. As pessoas que estão sendo libertadas não mais voltam, porque não está havendo retrocesso. A técnica é eficiente, e será eficiente em qualquer lugar do mundo. Nos presídios no ocidente e no oriente, os seres humanos são iguais. As tradições, as culturas são diferentes mas o ser humano não é diferente. Suas atitudes são as mesmas.
O projeto Vipassana continua se expandindo nos presídios de toda índia. Agora são mantidos cursos nas penitenciárias em Taiwan e nos Estados Unidos com resultados impressionantes
A iniciadora do processo foi uma mulher indiana, Kiran Bedi, ativista social, ex-tenista e ex-policial, e administradora de um presídio. Frente à dificuldade de resolver os problemas, ela não teve medo de aplicar uma mescla de criatividade, bom senso e tradição a esse dilema mundial que é a aplicação de penas aos criminosos com vistas à recuperação para que não continuem a delinqüir seja na prisão ou quando voltarem à liberdade após o cumprimento das penas. Esse “não delinqüir” está ligado não só à segurança da sociedade que se quer proteger, mas principalmente à recuperação individual de cada um destes seres para interromper o karma inevitável gerado por suas ações no Samsara, esse difícil mundo de sofrimento contínuo e circular em que todos vivemos. Essa é a vantagem de se nascer em um país de tradição milenar como a Índia, apesar dos contrastes.
Optamos por pouco texto e mais imagem na publicação. É a imagem de um filme fascinante, instrutivo e cheio de compaixão como vocês poderão ver. Vamos lá:
Recomendamos aos interessados a consulta do termo Vipassana no Google ou outro mecanismo de pesquisa.
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