sábado, 2 de outubro de 2010

A cruz

A gente vê a cruz e mecanicamente já a associa ao Cristianismo, à figura de Cristo torturado, e perde a amplitude e profundidade do seu significado oculto, esotérico, que transcende o tempo (essa palavra esotérico está tão avacalhada, não? Uma pena.). Contudo, a cruz estava presente em todas as tradições genuínas de busca interior do planeta, todas. Uma delas é a tradição dos índios Oglala-Sioux americanos, bem como todas as outras tribos que conheciam, respeitavam e utilizavam a cruz em seus rituais tradicionais e mágicos.O símbolo da cruz é anterior a Cristo e se perde nos tempos imemoriais da Humanidade.
Havia uma cerimônia xamânica índia sioux chamada Implorar por uma Visão (cry for a vision). Nela o guerreiro deveria fazer um jejum de três dias para fazer contato com Wakan-Tanka, o grande espírito simbolizado pelo touro, outro símbolo presente na maioria das tradições. O guerreiro ficava nu no alto de uma montanha, ao lado de um mastro, seu eixo vertical, sua coluna, andando de sol a chuva em cima do desenho oculto de uma cruz cardeal no solo, atento à respiração e orando mantras para limpar o diálogo interno do mental, e ... bingo! Tinha uma visão. Então ele via o arco da velha, o impensável, com os olhos de vidente que se abriam para ele. Era a iniciação do xamã.
Os livros Os sete Ritos dos Oglala-Sioux, e Black Elk Speaks (Alce Negro Fala - acho que não existe versão em português) são duas pérolas esquecidas de busca interior, um escrito por Joseph Epes Brown, pesquisador do Smithsonian Institute,  que entrevistou o chefe índio-xamã e homem santo nos seus últimos dias nos anos 40, outro por J. G. Neihardt, escritor. Neles há a cerimônia de iniciação feminina na primeira menstruação, ciclo considerado sagrado, mágico e poderoso, e não impuro e detestado como a TPM hoje.
Os aborígenes americanos cultuavam o símbolo da cruz muitos séculos antes de Cristo e foram massacrados pelos protestantes cristãos em sua própria terra em nome d’Ele porque não eram cristãos, seriam ignorantes, atrasados e não tinham títulos legais das terras.
Os quakers ingleses, acompanhados dos degredados das prisões, que juntos colonizaram os EUA, sequer perceberam que estavam massacrando uma cultura e tradição superior e “mais cristã” que eles...
A cruz é um dos símbolos mais fortes da magia interior porque mostra a encruzilhada presente no fato de a gente ser humano. A vítima, ou seja, aquele que tem de passar por, deve viver o braço horizontal da cruz, o dia a dia da luta pela sobrevivência, da relação com o outro, a sogra, o filho, o chefe, subordinado, credor, devedor, os pequenos tiranos. Ao mesmo tempo, deve viver o braço vertical, o chamado do Espírito, a Escada de Jacó. Este é o significado oculto de ser crucificado, viver os dois chamados ao mesmo tempo, senão não vale, senão uma hora eu medito tranqüilo em posição de lótus e na outra encho de palavrão ou porrada o cara que me fechou no trânsito. Ser crucificado é outra coisa. É administrar mansamente o conflito.
O desenho clássico de Da Vinci de um ser humano com os braços abertos deixa claro que o centro da cruz é o plexo solar, nosso centro emocional e cardíaco. É onde dói.
Se preferir e gostar de Astrologia, a cruz de plantão hoje é o atual Cardinal Climax (veja no Google, mas sem catastrofismo). É a cruz dos signos cardeais que significa o começo tenso de um processo de mudança que vem por aí. Vai doer na humanidade, segundo alguns astrólogos, até o final de 2010. A partir daí começa a produzir os frutos por um longo tempo. Fique atento, “Sempre alerta!”, como dizem os escoteiros, ou “Vigiai e orai” como nas Escrituras...

2 comentários:

  1. Ilham disse : li primeiro o texto sobre Ulisses que me remeteu a este aqui. Minha intenção é ler todos os textos postados. Com toda a certeza, já iniciei-- talvez timidamente, minha busca espiritual--, mas é difícil. Não consigo filiar-me a nenhuma religião. Acho mesmo, que só consigo o que quero frequentando blogs como o seu( que por sinal, é muito bom)

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  2. Tá certo. Não tem que se filiar a nenhuma. É só ter, como dizia Don Juan,um intento inlexível, cumpadre

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