sábado, 4 de maio de 2019

Parar o Mundo

O texto abaixo não é ficção. Ocorreu de fato na UCLA - Universidade da California em Los Angeles e foi relatado por Carlos Castaneda no seu último livro "O Lado Ativo do Infinito" na fase final de seu contato com o "feiticeiro e nagual" dom Juan. É uma porrada na testa. Revela um nó da condição humana, apresentado que é sem anestesia, ao contrário do que é comum nestes tempos de "politicamente correto".
Não é preciso acreditar, mas se você já desconfiava é um bom começo. Já falamos disso em pelo menos duas postagens anteriores, Os Voadores e O Centro para Decisões - Visão Tolteca. Mas nunca é demais, já que a nossa lição de casa nesta vida é resolver este "imbroglio". Antes de morrer, não se esqueçam hein?!.
Outra fonte que mostrou isso de forma contundente em sua obra foi Gurdjieff. Há tradições orientais como o Budismo que tocam no tema mas não de forma tão aguda.
Mas vamos lá ao texto de Castaneda:

"Fui um dia a pé do Haines Hall, onde ficava o departamento de antropologia, até a lanchonete para almoçar.
De repente fui acometido por um tremor estranho. Pensei que estava desmaiando, e me sentei em uns degraus de tijolo. Vi pontos amarelos em frente aos meus olhos. Tive a sensação de que eu estava girando. Estava certo de que iria vomitar. Minha visão ficou embaçada, e finalmente não conseguia enxergar nada. Meu desconforto físico era tamanho e tão intenso que não tinha espaço nem para um único pensamento. Senti só as sensações físicas de medo e ansiedade misturadas com euforia, e uma antecipação estranha de que estava no limiar de um evento gigantesco. Eram sensações sem a contrapartida do pensamento. A um dado momento, não mais sabia se estava sentado ou em pé. Estava cercado pela escuridão mais impenetrável que se pode imaginar, e depois vi a energia enquanto ela fluía no universo.
Vi uma sucessão de esferas luminosas vindo em minha direção ou se afastando de mim. Vi uma por vez, como Dom Juan sempre disse que são vistas. Sabia que eram indivíduos diferentes porque eram de tamanhos diferentes. Examinei os detalhes de suas estruturas. Sua luminosidade e sua forma redonda eram feitas de fibras que pareciam estar presas umas às outras. Eram fibras finas ou grossas. Cada uma daquelas figuras luminosas tinha uma cobertura grossa e áspera. Pareciam como animais estranhos, luminosos, peludos, ou insetos redondos gigantescos cobertos por pelos luminosos.
A coisa mais chocante para mim foi perceber que eu vira aqueles insetos peludos toda a minha vida. Cada ocasião que Dom Juan me fizera deliberadamente vê-los parecia naquele momento ser como um desvio que eu tomava com ele. Lembrei de cada situação que ele me ajudara a "ver pessoas como esferas luminosas", e todas aquelas situações estavam separadas da capacidade de "ver", que agora eu estava tendo acesso. Soube então, sem sombra de dúvida, por mim mesmo e sem a ajuda de ninguém, que toda a minha vida eu percebera "a energia como ela flui no universo".
Essa realização foi surpreendente para mim. Senti-me infinitamente vulnerável, frágil. Precisava buscar um abrigo, me esconder em algum lugar. Era exatamente como o sonho que a maioria de nós parece ter em algum momento, em que nos encontramos nus e não sabemos o que fazer. Senti-me mais do que nu; senti-me desprotegido, fraco e com medo de voltar ao meu estado normal. De uma maneira vaga, senti que estava deitado. Concentrei-me para voltar à normalidade. Concebi a ideia de que iria me encontrar deitado na calçada, contorcendo-me convulsivamente, cercado por todo um grupo de espectadores.
A sensação que eu estava deitado se tornou mais e mais acentuada. Senti que eu podia mover os olhos. Podia ver luz através de minhas pálpebras cerradas, mas estava com medo de abri-las. O mais estranho foi que eu não ouvia nenhuma das pessoas que eu imaginava à minha volta. Não ouvia nenhum som. Finalmente me aventurei em abrir os olhos. Estava na minha cama no meu apartamento-escritório na esquina dos bulevares Wilshire e Westwood (Los Angeles)!
Fiquei muito histérico ao me ver na minha cama. Mas por algum motivo fora de meu alcance, quase que imediatamente me tranquilizei. Minha histeria foi substituída por uma indiferença corporal, ou por um estado de satisfação corporal, algo como o que se sente depois de uma boa refeição. Entretanto. não conseguia aquietar minha mente. Para mim, tinha sido a coisa mais chocante que se podia imaginar, entender que "durante toda a minha vida eu havia percebido a energia diretamente". Como, no mundo, isso pôde ser possível sem que eu soubesse? O que me impedia de ter acesso a essa faceta de meu ser? Dom Juan disse que todo ser humano tem o potencial de ver energia diretamente. O que ele não disse era que todo ser humano já vê energia diretamente, mas não sabe...
Coloquei a pergunta para um amigo psiquiatra. Ele não conseguiu esclarecer o meu dilema. Pensou que minha reação fosse o resultado de cansaço ou super-estímulo. Receitou-me Valium e me disse para descansar.
Não tive coragem de dizer para ninguém que acordei em minha cama sem ser capaz de explicar como tinha chegado lá. Portanto, minha pressa em ver Dom Juan era mais do que justificada. Voei para a cidade do México logo que pude, aluguei um carro e fui até onde ele morava.
- Você já fez tudo isso antes! - Dom Juan disse rindo, quando eu lhe contei a minha experiência inusitada. - Só duas coisas são novas. Uma é que você agora percebeu energia por si só. O que você fez foi 'parar o mundo', e então você percebeu que sempre viu a energia fluindo no universo, como todo ser humano percebe mas sem se dar conta disso deliberadamente! A outra coisa nova é que você viajou sozinho, a partir do seu silêncio interior.
- Você sabe, sem eu precisar lhe dizer, que qualquer coisa é possível se uma pessoa parte do silêncio interior. Dessa vez o seu medo e sua vulnerabilidade tornaram possível para você terminar na sua cama, que não é realmente muito longe do campus da UCLA (Universidade da Califórnia). Se você não tivesse se entregado à sua surpresa, teria percebido que o que você fez não é nada. nada extraordinário para um "guerreiro-viajante". 
Mas a questão que é da maior importância não é saber que você sempre percebeu a energia diretamente, ou sua viagem a partir do silêncio interior, mas, mais precisamente, uma questão dupla. 
Primeiro, você experimentou algo que os feiticeiros do México antigo chamavam de visão clara, ou perder a forma humana: a ocasião em que a mesquinhez humana desaparece, como se tivesse sido um pedaço de névoa surgindo sobre nós, uma névoa que lentamente aclara e se dissipa. Mas sob nenhuma circunstância você deve acreditar que esse é um fato consumado. O mundo dos feiticeiros não é um mundo imutável, como o mundo da vida cotidiana, onde eles lhe dizem que uma vez que você atinja uma meta, permanecerá vencedor para sempre. No mundo dos feiticeiros, chegar a certas metas significa que você simplesmente adquiriu as ferramentas mais eficientes para continuar a sua luta, que, a propósito, nunca cessará.
A segunda parte desse assunto duplo é que você experimentou a questão mais enlouquecedora para o coração dos seres humanos. Você mesmo expressou-a quando se perguntou: Como, no mundo, isso pôde ser possível sem que eu soubesse que durante toda a minha vida eu havia percebido a energia diretamente? 
O que me impedia normalmente de ter acesso a essa faceta de meu ser?"

E vocês que estão lendo, durmam com um barulho desses... Nós todos funcionamos assim. Há poucos lugares e épocas onde se fala ou se falou seriamente sobre isso. Este blog é um deles.
Mas tem muito mais mistério encadeado neste, e que o ser humano, adormecido que é, não se dá conta. Só tem suspeitas...
É um plano nos manter adormecidos? De quem? Porque? Como funciona? Temos saída? Qual é ela? Alguém já conseguiu? Por que o Google não fala nada sobre isso? rsrs.
Só rindo, pra não chorar...



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