Na primeira fase o Capitalismo começou produzindo o que as pessoas necessitavam, e os produtos duravam muito. Lembro-me de uma geladeira de casa, quando era criança (geladeira era como a gente chamava os refrigeradores) que durou 40 anos e terminou seus dias na casa da praia, toda enferrujada e foi para o lixo. A próxima durou só 10 anos.
E foi assim com alguns produtos como o "fusca", o modelo de carro "besouro" alemão (aliás desenhado por Ferdinand Porsche para Hitler, para atuar na guerra do deserto do norte da África), e outros como o Ford ano 51, o avião DC3 que voa até hoje desde 1935. Mas eram exceções.
Na segunda fase o que as empresas capitalistas queriam era mais venda adicional, aproveitando-se da força da vaidade, da inveja e ganância da natureza humana.
Na terceira fase acrescentaram-se conceitos novos e já se produzia baseado no conceito de que "só o novo é bom", ou ainda "só o novo diferencia você dos outros". Então só os novos modelos de tudo o que existe seriam os desejáveis por esse código.
Mas não parou por aí. As grandes empresas queriam mais lucro e desenvolveram as "estratégias de marketing" para descobrir as brechas na mente e emoções do consumidor, inclusive atingindo o público infantil através da publicidade. E tome venda.
No dia de Natal de 1924 em Genebra na Suiça, as grandes empresas do mundo formando um cartel, combinaram um jogo esperto: vamos diminuir o ciclo de vida dos produtos e fazer o povão ignaro (nós) comprar mais (veja o vídeo abaixo). Essa é a obsolescência planejada, ou seja, as coisas acabam mais cedo e vende-se tudo de novo. E o que ficou "velho" vai para o lixo. E dane-se o meio ambiente com o excesso de lixo indesejável.
Ao reduzir a vida útil de um produto, a indústria não apenas nos incentiva a consumir mais, mas também nos incentiva a degradar mais...
O principal objetivo das campanhas publicitárias não é convencer o consumidor a comprar, mas convencê-lo de que comprar é o seu motivo existencial...
Quando a indústria do entretenimento, voltada para o público infantil, criou centenas de filmes para promover seus produtos, um novo mercado passou a existir. A ideia de criar fantasias completas na forma de heróis, em desenho animado, era grandiosa e fantástica, e se desse certo, teriam pela frente um mercado que antes era quase ignorado. E deu certo.
A abordagem era simples: Primeiro criariam as séries em filmes de desenho animados, um tipo de mídia com grande poder sobre as crianças, e estas seriam distribuídas às estações de televisão de todo o mundo, a custos tão incrivelmente baixos, que seria quase impossível a recusa em tê-los, e o mais importante, exibi-los. O argumento para a promoção de tais seriados, era passar a ideia de que teriam um conteúdo educativo, ou edificante, para as crianças do mundo inteiro.
Mas havia um problema, pois ainda, nas televisões do mundo afora, não havia a cultura dos programas infantis diários, com os apresentadores infantis e todo o circo em sua volta, como vemos hoje, e que serviria de pano de fundo, de veículo, ou palco, para a exibição desses filmes.
E eles não apenas distribuíram os modelos de funcionamento de tais programas mundo afora, como também financiaram muitos deles, tornando viável sua exibição, e assim puderam distribuir seus desenhos, suas vitrines animadas para promover uma indústria milionária que estava prestes a surgir.
Não estavam sozinhos, pois logo outros segmentos viram naquela iniciativa, a oportunidade da criação de novos nichos de mercado, como o de produtos alimentícios, roupas, e itens de consumo, que as crianças jamais imaginaram que seria possível, um dia, possuir. Assim, a criança ganhou um perfil, status, que antes, no mundo corporativo do consumo, pertencia apenas aos adultos.
Brinquedos, alimentos, roupas, publicações especiais, colônias de férias, pacotes de viagens, linhas especiais de cartões de crédito, poupança programada, fundos de investimentos para financiar estudos no futuro, aparelhos eletrônicos especialmente projetados para o público infantil, enfim, uma oferta de produtos tão vasta, como nunca se viu antes.
Criaram até um estilo de vida próprio para cada faixa etária infantil, determinando como deveriam se vestir, o que deveriam consumir, e tantos outros modelos de comportamento que deveriam adotar. E a intenção de tudo isso? Escoarem seus produtos, os novos e os velhos com cara de novos.
Há uma transformação evidente nas formas de consumo, e o tempo de duração de cada produto que chega ao mercado, tem o firme propósito de preparar o caminho para o seu sucessor. Já chega às prateleiras das lojas, com o dia do seu fim decretado. Isso não significa o fim de sua utilidade, mas a data a partir da qual seus possuidores deverão ser alertados para a necessidade de troca.
É uma abordagem psicológica, e mesmo que o objeto esteja em perfeitas condições de uso, psicologicamente, a máquina de vendas irá se encarregar de torná-lo indesejado na mente do consumidor, tornando-o sumariamente obsoleto, ultrapassado. É uma obsolescência planejada, e um produto abrirá caminho para os muitos modelos que virão no seu lastro.
A cor da moda, se antes se limitava à indústria do vestuário feminino, há muito tempo seu domínio se estendeu às outras áreas. Os objetos mudam de cor de acordo com as estações do ano. E quando meia dúzia de consultores, os principais acionistas por trás dessa gigantesca indústria de criar novas manias de consumo, se reúnem para decidir o que é ou não estético no modo de vida das pessoas, ali também já fica acertado quanto tempo essa nova tendência, a ideia, o comportamento programado, deverá permanecer em atividade na mente do público.
Desse ponto em diante, os criadores de tendências e reprogramadores do consciente e inconsciente coletivo, deverão entrar em cena com suas abordagens “mágicas”, cuidando de deixar o caminho aberto para os novos lançamentos.
Mas um produto não precisa ser de fato novo para tornar um outro obsoleto, e de fato a maioria não o é. Basta a inclusão de um pequeno detalhe no design, uma mudança dos padrões de cores, no nome, a inclusão de um item desnecessário, e depois a máquina de marketing irá se encarregar de convencer seus cativos que de fato se tornarão infelizes, caso insistam em continuar com o modelo antigo.
A euforia coletiva parece ser o caminho mais curto para a rápida disseminação de uma ideia, que é a força motriz para que os novos produtos, chegando ao mercado, ganhem a preferência do público. Eles promovem uma ideia, ou um conceito abstrato em forma de produto, com tamanha eficiência que, o infeliz consumidor adquire alguma coisa, totalmente convicto de que aquela magia, que é a mensagem promocional do novo produto, irá transformar sua vida.
As abordagens promocionais são claras e promovem a ideia do êxito fácil, e há uma intenção deliberada de incutir na mente do indivíduo, que a simples identificação do mesmo com aquele produto, ideia ou corporação, é uma espécie de chave, ou símbolo mágico, capaz de torná-lo importante, superior, diferenciado dentre os demais.
No entanto, o maior trunfo dessa máquina de convencer pessoas a comprar, está em criar novos hábitos antes inexistentes. E, depois de criada a dependência, abre-se o caminho para futuras e sempre constantes atualizações. Assim, o consumidor não compra apenas um produto, ele acaba sendo convencido de que está levando para casa muito mais que um simples objeto ou utilitário. É a estratégia do condicionamento mental, através da indução uma calculada postura psicológica, que acaba por se tornar um importante valor agregado ao produto.
E a compra de um bem para uso diário é convenientemente, eufemisticamente, rotulada de investimento, uma conquista social, um status, algo que proporcionará ao seu feliz possuidor, vantagens que extrapolam, que vão muito além, daquelas que parecem óbvias.
Dê uma olhada neste vídeo interessante sobre como os grandes cartéis combinaram a portas fechadas a estratégia de tornar os produtos obsoletos. Eles contam com você e as suas fraquezas para que tudo dê certo:
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