segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Big Bang e a Sintaxe



SINTAXE
Olhando fixamente as suas equações,
um homem disse que o universo teve um começo.
Houve uma explosão, ele disse.
Uma cadeia de estrondos, e o universo nasceu.
E está se expandindo, ele disse.
Até calculou a extensão de sua vida:
dez bilhões de voltas da Terra em torno do Sol.
E todo o planeta aplaudiu;
Concluíram que os seus cálculos eram ciência.
Ninguém se deu conta de que ao colocar um começo no universo, o homem apenas refletiu a sintaxe de sua língua materna; uma sintaxe que para validar qualquer fato
exige começo, como o nascimento,
continuação, como a maturidade,
e fim, como a morte.
O universo começou,
e está envelhecendo, garantiu o homem,
e morrerá, como tudo morre.
Como ele mesmo morreu, depois de confirmar matematicamente a sintaxe de sua língua materna.

A OUTRA SINTAXE

Terá o universo um começo?
Será o big-bang uma explicação?
Essas não são perguntas, embora pareçam ser.
Começo, meio e fim como condição para validar qualquer fato é a única sintaxe possível?
Eis a verdadeira pergunta.
Outras sintaxes existem.
Há uma, entre outras, que permite tomar como fatos as variações de intensidade.
Nessa sintaxe, nada começa e nada tem fim;
assim, nascimento não é um fato claro e bem definido,
mas um tipo específico de intensidade,
assim como a maturidade e assim como a morte.
O homem dessa sintaxe, ao olhar suas equações,
percebe ter calculado variações de intensidade suficientes para afirmar com autoridade
que o universo nunca começou
e nunca terá um fim,
mas que passou, passa e passará
por intermináveis flutuações de intensidade.
Este homem pode bem concluir
que o próprio universo é o veículo de intensidade,
no qual se pode embarcar
numa viagem de mudanças sem fim.
Concluirá tudo isso e muito mais,
Quem sabe sem nunca perceber
Que estará simplesmente confirmando
A sintaxe da sua língua materna

Introdução do livro O Lado Ativo do Infinito – Carlos Castaneda (sic)

Nenhum comentário:

Postar um comentário