quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Castaneda, "Ver", Poder Pessoal, O Sonho, A Morte, Os Animais...

Esta é uma transcrição de um encontro de 1972, que Carlos Castaneda concedeu para a revista Psychology Today. Ela saiu a partir da publicação de Viagem a Ixtlan, um dos seus livros mais incríveis.  Castaneda estava procurando fugir da imagem de guru-ícone da droga psicodélica com a qual foi rotulado a partir da publicação dos primeiros livros, e que lhe custou problemas com o FBI. Eu me lembro perfeitamente de como a moçada fazia essa ligação equivocada entre ele, os livros e as drogas na época. O entrevistador, Sam Keen, talvez tenha sido o entrevistador mais competente na formulação de perguntas. Sua formação em filosofia e teologia em Harvard e Princeton o fazem buscar paralelos entre os ensinamentos e as tradições ocidentais e orientais já conhecidas, coisa que não era muito frequente na época. Aparece aqui uma curiosa afirmação de Don Juan a respeito do filósofo austríaco Wittgenstein. Vamos lá:

Sam Keen:
Como eu acompanhei Don Juan através de seus três livros, suspeitei, que ele era uma criação sua. Ele é bom demais para ser verdade . Um índio velho e sábio cujo conhecimento da natureza do humano é superior ao de quase todo mundo.
Carlos Castaneda:
A idéia de que eu forjei uma pessoa como Don Juan não é convincente. Ele dificilmente seria o tipo de figura que minha  intelectualidade de
tradição da Europa levaria a conceber. A verdade é sempre algo muito estranho. Eu não estava sequer preparado para fazer as mudanças na minha vida que a minha associação com Don Juan requisitou.
SK:
Como você encontrou Don Juan e tornou-se seu aprendiz?
CC:
Eu estava terminando meu trabalho de conclusão na UCLA e planejando ir para a graduação em antropologia. Estava interessado em me tornar professor e pensei que poderia começar de maneira apropriada publicando um ensaio curto sobre plantas medicinais. Não podia ter me importado menos por encontrar um esquisitão como Don Juan. Eu estava em uma estação de ônibus no Arizona com um amigo do tempo do colégio. Ele apontou um velho índio yaqui e disse que ele tinha conhecimento sobre peiote e plantas medicinais. Fiz a melhor cara que pude e me apresentei a Don Juan dizendo: Entendo que você sabe muito acerca do peiote. Eu sou um especialista em peiote (Eu tinha lido o livro de Weston La Barre's, O ritual do peiote) e pode ser gratificante para você almoçar e passar um tempo comigo.. Bem, ele apenas me lançou um olhar e minha audácia dissolveu-se.
Fiquei completamente tímido e paralizado. Eu normalmente era muito vigoroso e falante, e foi um negócio sério ser silenciado com um olhar. Depois disso, comecei a visitá-lo e cerca de um ano depois ele disse-me que gostaria de me repassar o conhecimento da feitiçaria que tinha obtido com seu mestre.
SK:
Don Juan não é um fenômeno isolado, mas faz parte de um grupo de feiticeiros que compartilham um conhecimento secreto?
CC:
Certamente. Conheço três feiticeiros e sete aprendizes e existem muitos mais. Se você pesquisar a história da conquista espanhola no México, encontrará que os inquisidores católicos tentaram acabar com a feitiçaria porque a consideraram como uma coisa do demônio. Ela tem estado por aí há muitos milhares de anos. A maioria das técnicas que Don Juan me ensinou é muito antiga.
SK:
Algumas das técnicas que os feiticeiros usam é amplamente usada também por outros grupos secretos. As pessoas às vezes usam os sonhos para encontrar objetos perdidos, e vão para jornadas fora-do-corpo durante seu sono. Mas quando você diz como Don Juan e seu amigo Don Genaro fizeram o carro desaparecer durante a plena luz do dia, eu poderia apenas coçar a cabeça. Eu sei que um hipnotista pode criar a ilusão de presença ou ausência de um objeto. Você acredita que foi hipnotizado?
CC:
Talvez, alguma coisa deste tipo. Mas temos que começar por perceber, como diz Don Juan, que existe muito mais no universo do que normalmente confessamos conhecer. Nossas expectativas usuais acerca da realidade são criadas por um consenso social. Nos ensinam como ver e perceber o mundo. A truque da socialização consiste em nos convencer que as descrições que estamos de acordo definem os limites do mundo real. O que chamamos de realidade é apenas um modo de ver o mundo, um modo que é sustentando pelo consenso social.
SK:
Então um feiticeiro ou xamã, como um hipnólogo, cria um mundo alternativo construindo diferentes expectativas e fornecendo pistas premeditadas para produzir um consenso social.
CC:
Exatamente. Eu comecei a entender feitiçaria nos termos da idéia de interpretação [gloss] de Talcott Parsons. Uma interpretação é um sistema completo de percepção e linguagem. Por exemplo, esta sala e é uma interpretação. Nós reunimos juntos uma série de percepções isoladas "chão, teto, janela, luzes, tapete, etc" para compor uma totalidade. Mas nós temos que ser ensinados a dispor o mundo junto desta forma. Uma criança experimenta o mundo com poucos pré-conceitos até que é ensinada a vê-lo de uma forma que corresponde à descrição que todos compartilham. O sistema de interpretações parece um pouco com caminhar. Nós temos que aprender a caminhar, mas uma vez que aprendemos ficamos sujeitos à sintaxe da linguagem e ao modo de percepção que ela contém.
SK:
Então a feitiçaria, assim como a arte, ensina um novo sistema de anotações. Quando, por exemplo, Van Gogh rompe com a tradição artística e pinta O Céu Estrelado, ele estava efetivamente dizendo: aqui está uma nova maneira de ver as coisas. As estrelas estão vivas e rodam em volta de seus campos energéticos.
CC:
De uma certa forma. Mas existe uma diferença. Um artista normalmente apenas rearranja as velhas anotações que são apropriadas para seu grupo.
SK:
Don Juan estava lhe dessocializando ou ressocializando? Ele estava lhe ensinando um novo sistema de significados ou apenas um método para esvaziar o antigo sistema para que assim você pudesse ver o mundo como uma criança fascinada?
CC:
Dom Juan e eu discordamos quanto a isto. Eu digo que ele está me reinterpretando. Ensinando-me feitiçaria me deu um novo conjunto de interpretações, uma nova linguagem e uma nova maneira de ver o mundo. Uma vez eu li um pouco da filosofia da linguagem de Ludwig Wittgenstein e ele riu e disse "Seu amigo Wittgenstein amarrou o nó com muita força em torno de próprio pescoço, assim ele não pode ir muito longe"...
SK:
Wittgenstein é um dos poucos filósofos que poderia ter entendido Don Juan. Sua noção de que existem muitos tipos diferentes de jogos de linguagem ciência, política, poesia, religião, metafísica, cada um com sua própria sintaxe e regras, poderia ter permitido a ele entender a feitiçaria como um sistema alternativo de percepção e entendimento.
CC:
Mas Don Juan pensa que o que ele chama de "ver" é apreender o mundo sem nenhuma interpretação. Este é o fim almejado pela feitiçaria. Para quebrar a certeza do mundo que sempre lhe foi ensinado, você deve aprender uma nova descrição do mundo, ou feitiçaria e então manter a velha e a nova juntas. Então você percebe que nenhuma das duas é final. No momento que você desliza entre as descrições; você para o mundo e . Você é deixado com o assombro, o verdadeiro assombro de ver o mundo sem nenhuma interpretação.
SK:
Você pensa que é possível ultrapassar as interpretações usando drogas psicodélicas?
CC:
Eu penso que não. Está é minha briga com gente como Timothy Leary. Eu penso que ele estava improvisando dentro da sociedade européia e rearrumando meramente velhos sistemas de interpretação. Eu nunca tomei LSD, mas o que entendi dos ensinamentos de Don Juan é que os psicotrópicos são usados para interromper o fluxo das interpretações ordinárias, para aumentar as contradições dentro das interpretações e para romper as certezas. Mas somente as drogas não possibilitam você parar o mundo. Por isso que Don Juan teve de me ensinar feitiçaria.
SK:
Existe uma realidade normal que nós, ocidentais, pensamos que é "o" único mundo, e existe também a realidade à parte do feiticeiro. Quais as diferenças essenciais entre elas?
CC:
Na sociedade européia "o mundo é construído em grande parte pelo que os olhos informam à mente". Na feitiçaria "o corpo todo é usado como percebedor". Como europeus vemos o mundo ao redor de nós e falamos sobre ele. Nós estamos aqui e o mundo está lá. Os nossos olhos alimentam a razão e não temos conhecimento direto das coisas. De acordo com a feitiçaria esta sobrecarga dos olhos é desnecessária.
Nós percebemos com o corpo total.
SK:
Ocidentais partem do pressuposto que sujeito e objeto são separados. Nós existimos a parte do mundo e temos de cruzar o vácuo para chegar até ele. Para Don Juan e a tradição dos feiticeiros, o corpo já está no mundo. Nós estamos unidos ao mundo, e não alienados dele.
CC:
Isso mesmo. A feitiçaria tem uma teoria diferente de personificação. O problema da feitiçaria é o de harmonizar e arrumar seu corpo para ser um bom receptor. Os europeus lidam com seus corpos como se eles fossem um objeto. Nós os enchemos de álcool, comida ruim e inquietações. Se alguma coisa está errada nós pensamos que germes de fora invadiram o corpo e então importamos algum medicamento para curá-lo. A doença não é parte de nós. Don Juan não acreditava nisso. Para ele a doença é a desarmonia entre um homem e seu mundo. O corpo é consciente e deve ser tratado impecavelmente.
SK:
Isto parece similar à idéia de Norman O. Brown's onde as crianças, esquizofrênicos e aqueles com loucura  divina da consciência  dionisíaca estão cientes das coisas e das outras pessoas como extensões de seu corpo. Don Juan sugere algo do tipo quando diz que os homens de conhecimento têm fibras de luz que conectam seu plexo solar ao mundo.
CC:
Minha conversa com o coiote é um bom exemplo das diferentes teorias de personificação. Quando ele chegou para mim eu disse: "Olá, pequeno coiote Como você está?". E ele respondeu de volta: "Estou bem. E você?". Aqui eu não escutei as palavras da forma normal. Mas meu corpo sabia que o coiote estava dizendo alguma coisa e eu traduzi isto em um diálogo. Como um intelectual, minha relação com o diálogo é tão profunda que meu corpo automaticamente transpôs para palavras o sentimento que o animal estava comunicando a mim. Nós sempre vemos o desconhecido nos termos do conhecido.
SK:
Quando você estava no modo mágico de consciência onde os coiotes falam e tudo é adequado e entendido parece que o mundo todo está vivo e o ser humano está em comunicações que incluem animais e plantas. Se abandonarmos nossas concepções arrogantes de que somos a única forma de vida que conhece e comunica talvez conseguíssemos perceber toda a sorte de coisas se comunicando conosco. John Lilly falava com os golfinhos. Talvez nos sentíssemos menos alienados se pudéssemos acreditar que não somos a única forma inteligente de vida.
CC:
Nós podemos nos tornar capazes de falar com qualquer animal. Para Don Juan e os outros feiticeiros não havia nada de estranho na minha conversa com o coiote. Na verdade eles disseram que eu deveria ter pegado um animal mais confiável para amigo.Coiotes são trapaceiros e não pode se confiar neles.
SK:
Quais animais são os melhores para serem amigos?
CC:
Cobras são amigos estupendos.
SK:
Uma vez conversei com uma cobra. Uma noite sonhei que havia uma cobra no sótão da casa onde eu vivia quando era criança. Peguei um pau e tentei matá-la. De manhã falei sobre o sonho a um amigo e ela me disse que não era uma coisa boa matar cobras, mesmo se elas estivessem no sótão em um sonho. Ela me sugeriu que na próxima vez que aparecesse uma cobra em sonho eu deveria alimentá-la ou fazer alguma coisa para atrair sua amizade. Cerca de uma hora depois eu estava dirigindo meu patinete motorizado numa estrada pouco usada e lá, esperando por mim, estava uma cobra de quatro pés, estirada no seu banho de sol. Eu a contornei e ela não se mexeu Depois de nos olharmos um nos outros por um tempo eu pensei que deveria fazer algum gesto para mostrar que estava arrependido de ter matado seu irmão em meu sonho. Eu cheguei perto e toquei sua cauda. Ela se enrolou mostrando que eu havia invadido sua intimidade. Então eu voltei e fiquei apenas olhando. Cinco minutos depois lá se foi ela atrás dos arbustos.
CC:
Você não a espetou?
SK:
Não.
CC:
Era uma amiga muito boa. Um homem pode aprender a chamar as serpentes. Mas você precisa estar em excelente forma, calmo, controlado, com um humor amigável, sem nenhuma dúvida ou assuntos pendentes.
SK:
A cobra me ensinou que eu sempre tinha pensamentos paranóicos em relação à natureza. Eu considerava animais e cobras perigosos. Após meu encontro jamais mataria outra cobra e começou a ser mais plausível para mim que nós possamos ter uma espécie de conexão viva. Nosso ecossistema pode muito bem incluir comunicações com outras formas de vida.
CC:
Don Juan tinha uma teoria muito interessante acerca disso. As plantas, assim como os animais, sempre afetam você. Ele dizia que se você não pedisse desculpas para as plantas por colhê-las você provavelmente ficaria doente ou sofreria um acidente.
SK:
Os índios americanos tem crenças similares sobre os animais que eles matam. Se você não agradece o animal por dar a vida para que você possa viver, seu espírito pode lhe causar problemas.
CC:
Nós temos uma associação com toda forma de vida. Alguma coisa se altera toda vez que machucamos a vida vegetal ou animal. Nós tiramos a vida para sobreviver mas devemos querer abrir mão de nossa própria vida sem ressentimentos quando chegar nossa vez. Nós somos tão importantes e nos levamos tão a sério que esquecemos que o mundo é um grande mistério que pode nos ensinar se escutarmos.
SK:
Talvez as drogas psicodélicas momentaneamente limpem o ego isolado e permitam uma fusão mítica com a natureza. A maior parte das culturas que conservam um senso de união entre o homem e a natureza também fez uso cerimonial das drogas psicodélicas. Você estava usando peiote quando falou com o coiote?
CC:
Não, de maneira alguma.
SK:
Esta experiência foi mais intensa das que teve quando Don Juan lhe ministrou plantas psicotrópicas?
CC:
Muito mais intensa. Todas as vezes que eu tomei plantas psicotrópicas eu sabia que havia ingerido algo e sempre podia questionar-me acerca da validade das minhas experiências. Mas quando o coiote falou comigo eu não tinha desculpas. Não podia explicar isso. Eu realmente parei o mundo e, saí completamente do meu sistema de interpretações europeu.
SK:
Você acredita que Don Juan vive neste estado de atenção a maior parte do tempo?
CC:
Sim, ele vive num tempo mágico e ocasionalmente volta para o tempo normal. Eu vivo no tempo normal e ocasionalmente entro no tempo mágico.
SK:
Qualquer um que tenha viajado tão longe além do desgastado consenso deve ser alguém muito solitário.
CC:
Penso que sim. Don Juan vive num mundo impressionante e deixou as pessoas rotineiras bem longe. Uma vez eu estava junto com Don Juan e seu amigo Don Genaro e vi a solidão que eles dividiam e sua tristeza em deixar para trás os enfeites e pontos de referência da sociedade normal. Penso que Don Juan transformou sua solidão em arte. Ele contém e controla seu poder, mistério e solidão e os transforma em arte. Sua arte é o caminho metafórico em que ele vive. É por causa disso que seus ensinamentos tem tanta carga dramática e unidade. Ele deliberadamente constrói sua arte e sua maneira de ensinar. 
SK:
Por exemplo, quando Don Juan levou-o às montanhas para caçar animais estava conscientemente encenando uma alegoria?
CC:
Sim. Ele não estava interessado em caçar por esporte ou por comida. Há 10 anos  que o conheço, e o vi matar apenas quatro animais, e apenas nas vezes em que ele viu que suas mortes eram um presente para ele, assim como sua própria morte um dia será um presente para alguma coisa. Uma vez apanhamos um coelho numa armadilha, ficamos imóveis e Don Juan achou que eu devia matá-lo, pois seu tempo havia acabado. Fiquei desesperado porque eu tinha a sensação de que eu mesmo era o coelho. Eu tentei libertá-lo mas não conseguia abrir a armadilha. Então eu pisei na armadilha e quebrei acidentalmente o pescoço do coelho. Don Juan estava tentando me ensinar a assumir a responsabilidade por estar neste mundo maravilhoso. Ele inclinou-se e sussurrou no meu ouvido: "Eu lhe disse que este coelho não tinha mais tempo para vagar por este lindo deserto". Ele conscientemente construiu a metáfora para me ensinar sobre os caminhos de um guerreiro. Um guerreiro é alguém que caça e acumula poder pessoal. Para fazer isto ele deve desenvolver a paciência e se mover deliberadamente sobre o mundo. Don Juan usou a situação dramática da caçada para me ensinar porque estava se dirigindo diretamente ao meu corpo.
SK:
Em seu livro mais recente, Viagem a Ixtlan, você revê a impressão dada nos primeiros livros de que o uso de plantas psicotrópicas era o método principal usado por Don Juan no intuito de ensiná-lo sobre a feitiçaria. Como você vê agora o lugar dos psicotrópicos em seus ensinamentos?
CC:
Don Juan usou plantas psicotrópicas no período intermediário do meu aprendizado porque eu era muito estúpido, sofisticado e arrogante. Eu me agarrava à minha descrição do mundo como se ela fosse a única verdade. Os psicotrópicos criaram um vácuo no meu sistema de interpretações. Eles destruíram minha certeza dogmática. Mas eu paguei um enorme preço. Quando a cola que segurava meu mundo unido foi dissolvida, meu corpo estava fraco e eu demorei meses para me recuperar. Eu fiquei ansioso e funcionava a um nível muito baixo.
SK:
Don Juan usa drogas psicotrópicas regularmente para parar o mundo?
CC:
Não. Ele pode agora mesmo pará-lo com a sua vontade. Ele me disse que para mim a tentativa de ver sem a ajuda das plantas seria inútil. Mas se eu me comportasse como um guerreiro e assumisse a responsabilidade não precisaria delas; elas apenas enfraqueceriam meu corpo.
SK:
Isso pode soar um pouco chocante para vários admiradores seus. Você é uma espécie de santo patrono da revolução psicodélica.
CC:
Eu tenho seguidores e eles têm idéias estranhas a respeito de mim. Eu estava andando para dar uma palestra no Califórnia State, em Long Beach, outro dia e um rapaz que me conhecia me apontou para uma garota e disse "Ei, esse é o Castaneda". Ela não acreditou nele porque tinha a idéia de que eu deveria parecer muito sobrenatural. Um amigo estava reunindo algumas das histórias que circulavam sobre mim. O consenso era que eu havia feito uma façanha mística.
SK:
Façanha mística?
CC:
Sim, que eu andava de pés descalços como Jesus e não tinha calos. As pessoas acham que devo estar doidão a maior parte do tempo. Eu também cometi suicídio e morri em vários lugares diferentes. Um colega de departamento quase fez um escândalo quando eu comecei a falar sobre fenomenologia e sociedade e explorar o conceito de percepção e socialização. Eles queriam que eu falasse pausadamente, os deixasse altos e fizesse suas cabeças. Mas para mim o entendimento é importante.
SK:
Os rumores voam no vácuo de informações. Sabemos alguma coisa de Don Juan e muito pouco de Castaneda.
CC:
Isto é uma parte proposital da vida do guerreiro. Para escapulir dentro e fora de diferentes mundos você deve permanecer discreto. Quanto mais você ser conhecido e identificado, mais sua liberdade vai ser reduzida. Quando as pessoas tiverem idéias definitivas sobre quem é você e como você vai agir, você não poderá mais se mexer. Uma das primeiras coisas que Don Juan me ensinou foi que eu tinha que apagar minha história pessoal. Se aos poucos você criar uma névoa em torno de si então você não vai ser tomado como garantia e você tem mais espaço para se mexer. É por causa disso que eu impeço gravações de áudio e fotografias quando dou palestras.
SK:
Talvez possamos ser pessoais sem sermos históricos. Você agora minimizou a importância da experiência psicodélica em relação ao seu aprendizado. E você não parece sair por aí fazendo o tipo de truques disponíveis no estoque dos feiticeiros. Que elementos dos ensinamentos de Don Juan são importantes para você? Você foi mudado por eles?
CC:
Para mim as idéias de ser um guerreiro e um homem de conhecimento, com a esperança de eventualmente parar o mundo e ver, têm sido as mais adequadas. Elas tem me dado paz e confiança na minha capacidade de controlar minha vida. Na época que encontrei Don Juan eu tinha muito pouco poder pessoal. Minha vida havia sido muito errática. Eu percorri um longo caminho desde o local do meu nascimento no Brasil. Exteriormente eu era agressivo e arrogante, mas interiormente era indeciso e incerto acerca de mim. Estava sempre forjando desculpas para mim mesmo. Don Juan uma vez me acusou de ser uma criança profissional porque eu estava cheio de auto-piedade. Eu me sentia como uma folha ao vento. Como com a maioria dos intelectuais, minhas costas estavam contra o muro. Eu não tinha lugar para ir. Eu não podia perceber nenhuma forma de vida que realmente me excitasse. Eu pensei que tudo o que poderia fazer era uma acomodação amadurecida para uma vida de tédio ou encontrar formas mais complexas de entretenimento como usar drogas psicodélicas, maconha e ter aventuras sexuais. Tudo isso era aumentado pelo meu hábito de ser introspectivo. Eu estava sempre olhando para dentro de mim e falando comigo mesmo. O diálogo interno raramente parava.
Don Juan abriu meus olhos para o exterior e ensinou-me a acumular poder pessoal.
Não creio que haja outro pode de vida para alguém que queira estar cheio de energia.
SK:
Parece que ele fisgou você com o velho truque dos filósofos de segurar a morte diante dos seus olhos. Eu estava impressionado em perceber quão clássica a abordagem de Don Juan é. Eu ouvia ecos da idéia de Platão de que um filósofo deve estudar a morte antes que possa ganhar acesso ao mundo real e da definição de Martin Heidegger de um homem como um ser-para-a-morte.
CC:
Sim, mas a abordagem de Don Juan tem um aspecto diferente, que vem da tradição da feitiçaria, que é o de considerar a morte como uma presença física que pode ser sentida e vista. Uma das interpretações da feitiçaria é: a morte está à sua esquerda, à distância de um braço. A morte é um juiz imparcial que lhe dirá a verdade e lhe dará conselhos precisos.  Afinal, a morte não está com pressa. Ela lhe pegará em um dia, uma semana, ou 50 anos. Não faz diferença para ela. No momento que você pensa que eventualmente deve morrer está reduzindo o lado direito, o controlador.
Eu acho que ainda não tornei esta idéia vívida o bastante. A interpretação "A morte está a sua esquerda" não é uma questão intelectual na feitiçaria, é percepção. Quando seu corpo está adequadamente sintonizado com o mundo e você vira os olhos para  a esquerda, você pode testemunhar um evento extraordinário, a presença sombria da morte.
SK:
Na tradição existencial, as discussões sobre responsabilidade geralmente se seguem às discussões sobre a morte.
CC:
Então Don Juan é um bom existencialista. Se não há como saber se eu tenho apenas mais minuto de vida, devo agir como se cada instante fosse o último. Cada ato é a última batalha do guerreiro. Então tudo deve ser feito impecavelmente. Nada pode ser deixado pendente. Esta idéia foi muito libertadora para mim. Eu estou aqui falando com você e talvez nunca volte para Los Angeles. Mas não importa porque eu cuidei de tudo antes de vir para cá.
SK:
Este caminho de morte e determinação é distante da utopia psicodélica na qual a percepção do final do tempo destrói a qualidade trágica da escolha.
CC:
Quando a morte permanece à sua esquerda você deve criar o mundo a partir de uma série de decisões.
Não existem grandes ou pequenas, apenas decisões que devem ser tomadas agora. E não há tempo para dúvidas ou remorsos. Se eu passar o meu tempo lamentando o que fiz ontem eu evito as decisões que tenho de tomar hoje.
SK:
Como Don Juan lhe ensinou a ser determinado?
CC:
Ele falou com meu corpo através de atos. Meu modo antigo de ser deixava tudo pendente e nunca decidia nada. Para mim, tomar decisões era algo feio. Parecia injusto para um homem sensível ter de decidir. Um dia Don Juan me perguntou: "Você acha que você e eu somos iguais?" Eu era um estudante universitário e um intelectual e ele era um velho índio, mas eu fui condescendente e disse: "Claro que somos iguais". Ele disse: "Eu não acho que somos. Eu sou um caçador e um guerreiro e você é um frouxo. Eu estou pronto a abreviar minha vida a qualquer instante. Seu mundo débil de indecisão e tristeza não é igual ao meu".  Eu fiquei muito insultado e teria voltado, mas nós estávamos no meio do nada. Então eu sentei e fiquei absorvido nas armadilhas do meu ego. Eu ia esperar até ele decidir voltar. Após várias horas percebi que Don Juan ficaria ali para sempre se precisasse. Por que não? Para um homem sem assuntos pendentes este é o seu poder. Eu finalmente percebi que este homem não era como meu pai, que podia tomar 20 resoluções de ano-novo e não cumprir nenhuma. As decisões de Don Juan eram irrevogáveis enquanto durasse seu interesse. Elas podiam ser canceladas apenas por outras decisões. Então cheguei perto e o toquei, ele desistiu e voltamos para casa. O impacto deste ato foi tremendo. Ele me convenceu de que o caminho do guerreiro é um modo de vida poderoso e vigoroso.
SK:
O conteúdo da decisão não é tão importante quanto o ato de ser determinado.
CC:
Isto é o que Don Juan entende por fazer um gesto. Um gesto é um ato deliberado que é responsável pelo poder que advém de tomar uma decisão. Por exemplo, se um guerreiro encontra uma cobra que está dormente e fria, ele pode esforçar-se por levar a cobra para um lugar quente sem ser mordida. O guerreiro pode decidir fazer um gesto sem nenhum motivo. Mas ele vai fazê-lo perfeitamente.
SK:
Parecem existir muitos paralelos entre a filosofia existencialista e os ensinamentos de Don Juan.
O que você disse sobre decisões e gestos sugere que Don Juan, como Nietzsche e Sartre, acredita que a vontade, ao invés da razão, é a faculdade mais fundamental do homem.
CC:
Acho que sim. Deixe-me falar por mim mesmo. O que eu quero fazer, e talvez consiga executar, é superar o controle da minha razão. Minha mente tem estado no controle a minha vida toda e ela preferiria me matar a abandonar este controle. Em um dado ponto de meu aprendizado, eu fiquei profundamente deprimido. Eu estava cheio de medo, obscuridade e pensamento sobre suicídio. Então Don Juan me alertou que este é um dos truques da razão para manter o controle. Ele disse que minha razão estava fazendo meu corpo sentir que não havia sentido na vida. Uma vez que minha mente travou esta última batalha e perdeu, a razão começou a assumir o local apropriado de ser apenas uma ferramenta do corpo.
SK:"O coração tem razões que a própria razão desconhece", e também o resto do corpo.
CC:
Este é o ponto. O corpo tem vontade própria. Ou melhor, a vontade é a voz do corpo. Este é o motivo de Don Juan consistentemente colocar suas lições em uma forma dramática. Meu intelecto poderia facilmente descartar o mundo da feitiçaria como sem sentido. Mas meu corpo foi atraído por este mundo e este modo de vida.
E quando o corpo toma o controle, um reino novo e mais saudável se estabelece.
SK:
As técnicas de Don Juan para lidar com os sonhos me interessam porque ele sugeste a possibilidade de voluntariamente controlar as imagens do sonho. Dessa forma ele propõe estabelecer um observatório estável e permanente dentro do espaço interior. Fale-me sobre o treinamento de sonhos de Don Juan.
CC:
O truque nos sonhos é sustentar as imagens tempo o bastante para que possamos examiná-las cuidadosamente. Para adquirir este controle você deve escolher uma coisa antes e aprender a encontrá-la nos seus sonhos. Don Juan sugeriu que eu usasse minhas mãos como ponto fixo e alternasse entre elas e as imagens. Após alguns meses eu aprendi a usar minhas mãos e parar o sonho. Fiquei tão fascinado por esta técnica que espero ansioso pela hora de dormir.
SK:
Parar as imagens nos sonhos é parecido com parar o mundo?
CC:
É similar. Mas existem diferenças. Uma vez que você se torna capaz de achar suas mãos quando quiser, você percebe que isto é apenas uma técnica. O que você quer na verdade é o controle. Um homem de conhecimento deve acumular poder pessoal. Mas isto não é suficiente para parar o mundo. É necessário algum abandono. Você precisa parar a conversa que está ocorrendo internamente e render-se ao mundo exterior.
SK:
Das várias técnicas que Don Juan lhe ensinou para parar o mundo, qual você ainda pratica?
CC:
Minha maior técnica no momento está em romper as rotinas. Eu sempre fui uma pessoa muito rotineira. Eu comia e dormia sempre nos mesmos horários. Em 1965 comecei a mudar meus hábitos. Eu escrevia nas horas quietas da noite e dormia quando sentia necessidade. Agora eu desmantelei tanto meus hábitos usuais que posso me tornar imprevisível e surpreendente até mesmo para mim.
SK:
 Sua disciplina me lembrou de uma história Zen de dois discípulos vangloriando-se de feitos milagrosos. Um dos discípulos alegava que o fundador da seita a que pertencia podia ficar em uma das margens do rio e escrever Buda num pedaço de papel segurado por seu assistente do outro lado do rio. Um outro discípulo alegava que esse milagre não era muito impressionante. "Meu milagre", disse ele, "é que quando tenho fome, eu como, e quando tenho sede, eu bebo".
CC:
É este elemento de compromisso com o mundo que me mantém seguindo o caminho que Don Juan me mostrou. Não há necessidade de transcender o mundo. Tudo o que você precisa saber está aqui defronte nós, se prestarmos atenção. Se você entrar num estado de realidade extraordinária, como faz quando usa plantas psicotrópicas, está apenas usando a força que precisa para ver o caráter milagroso da realidade ordinária. Para mim o modo se viver o caminho com coração não é introspectivo ou de transcendência mística, mas a presença no mundo. Este mundo é o campo de caçada do guerreiro.
SK:
O mundo que você  e Don Juan pintaram é cheio de coiotes mágicos, corvos encantados, e magníficos guerreiros. É fácil de ver como ele pode lhe atrair. Mas, e em relação ao mundo de uma pessoa urbana moderna? Onde está a mágica nele? Se todos nós pudéssemos viver em montanhas talvez conseguíssemos manter o mistério vivo. Mas como poderemos fazer isso se estamos perto de uma estrada?
CC:
Uma vez formulei a mesma questão para Don Juan. Nós estávamos sentados em um café em Yuma e eu insinuei que eu poderia me tornar apto a parar o mundo e ver se pudesse viver no ermo junto com ele. Ele olhou para a janela, viu os carros passando e disse: "Ali, lá fora, é o seu mundo". Eu vivo em Los Angeles agora e sinto que posso usar o mundo para favorecer minhas necessidades. É um desafio viver sem rotinas em um mundo rotineiro. Mas é possível.
SK:
O nível do barulho e a pressão constante de massas de pessoas parecem destruir o silêncio e a solidão que poderiam ser essenciais para parar  o mundo.
CC:
Não de todo. Na verdade, o barulho pode ser usado. Você pode usar o barulho da buzina para treinar a si mesmo ouvir o mundo exterior. Quando paramos o mundo, o mundo que paramos geralmente é o que é mantido pelo diálogo interno. Uma vez que você para o blá-blá-blá interno você para de manter este mundo. A descrição entra em colapso. É quando começa nossa mudança de personalidade.
Quando você se concentra nos sons, percebe que é difícil para o cérebro categorizar todos os sons, e em pouco tempo você para de tentar. Não é como a percepção visual que nos mantém formando categorias e pensando. É tão revigorante quando você consegue parar de falar, categorizar e julgar.
SK:
O mundo interno muda, mas e em relação ao externo? Nós podemos revolucionar a consciência individual, mas ainda assim não conseguir tocar as estruturas sociais que criam nossa alienação. Existe um lugar para a reforma social e política no seu pensamento?
CC:
Eu vim da América Latina onde os intelectuais estão sempre falando sobre revolução política e social e onde um muitas bombas são lançadas. Mas a revolução não mudou muita coisa. Requer pouca coragem bombardear um prédio, mas para desistir de cigarros, parar de ser ansioso ou parar a tagarelice interna, você tem que reconstruir-se. É  aí que começa a verdadeira reforma. Don Juan e eu estávamos em Tucson não muito tempo atrás quando estava tendo a Semana da Terra. Alguns homens estavam palestrando sobre ecologia e os males da guerra do Vietnã. Enquanto isto, eles fumavam. Don Juan disse: "Não posso imaginar como eles podem se preocupar com os outros se eles não se gostam de si". Nossa primeira preocupação deve ser com nós mesmos. Eu posso gostar dos meus semelhantes apenas quando estiver no auge do meu vigor e sem depressão. Para estar nesta condição devo manter meu corpo preparado. Toda revolução deve começar aqui, neste corpo. Eu posso mudar minha cultura mas apenas através de um corpo impecavelmente sintonizado com este mundo estranho. Para mim, a verdadeira realização é a arte de ser um guerreiro, a qual, como diz Don Juan, é o único meio de balancear o terror de ser um homem com a maravilha de ser um homem.

domingo, 19 de agosto de 2012

O Quadrado Mágico


O Quadrado Mágico é um  mistééério! Existe nas antigas tradições da China, Índia, Pérsia, Arábia, e Europa, como instrumento para se entender o que rege a diversidade dos tipos humanos e também como oráculo. Como sempre acontece nas tradições chinesas, o Quadrado Mágico chinês é o mais simples. Conta a lenda de Lo Shu (O rolar do rio Lo) que neste rio surgiu um dia uma tartaruga em cujo casco inferior viam-se desenhados 9 números em 3 colunas de 3 números cada, formando um quadrado.
A característica aparente mais bizarra do quadrado é que se somarmos  os números de cada linha, ou coluna ou diagonal, o resultado é sempre 15, que é a quantidade de dias de cada um dos 24 ciclos do ano solar chinês. O quadrado Mágico de Lo Shu é também chamado de Quadrado mágico de Saturno. Como qualquer aprendiz de bruxo ou astrólogo sabe, Saturno, que na Mitologia Grega chama-se Chronos (o Tempo) controla os ciclos do tempo. Essa é a materialidade que une presente e passado no Agora. Ela se presta a desvendar os mistérios de quem somos e o destino que aguarda a cada um de nós com o passar do tempo, de acordo com a nossa natureza individual. Como vocês vêem, são as duas perguntas que toda gente faz: Quem sou eu, e O que vem por aí? e que é a explicação de toda a diversidade de tipos humanos, e também o tema dos oráculos. Hoje vamos falar da primeira.

Atrás de todas as coisas complicadas há sempre algo muito simples. Para os chineses, a simplicidade máxima está na alternância das duas qualidades básicas e inseparáveis da energia - chamadas 

genericamente de yin e yang e particularmente de
sombra e luz, repouso e atividade, expansão e contração, feminino e masculino, etc. Uma não existe sem a outra, uma sempre precede a outra, uma sempre condiciona a outra, assim como tudo o que tem uma frente tem um dorso e a frente é sempre proporcional ao dorso. Trocando em miúdos, não há noite sem dia, verão sem inverno, fora sem dentro, etc.
Além disso, os processos da energia são cíclicos: nada se repete, mas tudo funciona sempre do mesmo jeito, e perceber isso observando o passar do tempo é muito fácil. O nascer do sol é diferente a cada dia, mas a cada dia acontece, sobe, atinge o meio do céu, desce e invariavelmente desaparece. A lua tem fases que duram sete dias e se sucedem na mesma ordem - crescente, cheia, minguante, nova. Os brotinhos de uma primavera são diferentes dos brotinhos da outra, mas a maneira como surgem e o próprio fato de todo ano haver uma primavera são iguais; e depois de uma primavera vem o verão, o outono, o inverno e novamente a primavera. Assim tudo vai se modificando ao longo dos ciclos do dia, do mês e do ano.
Compreender o ciclo e a alternância é o primeiro passo para chegar ao simples e ao fácil; é esticar as antenas, abrir bem os ouvidos e estar com os pés prontos para dançar conforme a música no bailes da vida.
O Quadrado Mágico mostra como cada um de nós é ligado aos ciclos e as alternâncias de energia. 
   
1 - É ÁGUA, NORTE, FRIO, VEGA, MERCÚRIO
2 - É TERRA, SUDOESTE, PONTO DE TRANSIÇÃO YIN
3 E 4 - SÃO MADEIRA, LESTE, PRIMAVERA, JÚPITER
5 - É TERRA, CENTRO, NEUTRALIDADE, SATURNO
6 E 7- SÃO METAL, OESTE, OUTONO, VÊNUS
8 - É TERRA, NORDESTE, PONTO DE TRANSIÇÃO YANG
9 - É FOGO, SUL, CALOR, POLARIS, MARTE
               
Mágico por quê? Porque qualquer linha que você somar, em qualquer direção, dá 15.
Sim, herói, mas não é só isso. Este quadrado apareceu magicamente às margens do rio Lo, afluente do Rio Amarelo, no centro da China, cinco mil anos atrás; inscrito no osso peitoral de uma tartaruga, que é quadrado; e foi interpretado como revelação da geometria secreta do universo. Ali estavam representadas uma estrutura e uma forma que os chineses acataram como realidade e adotaram como um padrão para orientar a arquitetura, a arte, a filosofia, as guerras, o governo e, claro, os oráculos.
Um desses oráculos é o I Ching, em que oito conjuntos de três linhas cada um - os trigramas - são a base para a formação de sessenta e quatro hexagramas que têm resposta para todas as perguntas. Essas linhas são abertas, yin, ou fechadas, yang, e isso basta para criar uma linguagem simbólica, própria do inconsciente, em vez de nos dar
palavras, próprias do consciente. Cada um dos oito trigramas básicos é ligado a um número do Quadrado Mágico; o 5, que está no centro, não tem trigrama.
Outro oráculo é o próprio Quadrado Mágico. Para encontrar o seu trigrama e consultar o Quadrado Mágico, você só precisa da data de nascimento. Digamos que foi em 1947. Aí você pega a dezena (47), soma um algarismo com o outro (4 + 7 = 11), soma de novo (1 + 1 = 2) e subtrai de 10 (10-2 = 8). Pronto.
8 é o número do seu ano natal, um ano Terra.
Importante: o ano chinês só começa dia 4 de fevereiro, portanto se você é de janeiro de 47 conte como 46. Mas considere que alguém nascido perto da virada do ano pode ter características de ambos os anos.
Outra coisa, agora sobre os séculos: dentro deste, que começa em 1901, fazemos a última operação subtraindo de 10, não é? Mas se for para achar uma data de 1800 vamos subtrair de 11. E a partir do ano 2000, vamos subtrair de 18.
Se achou complicado, vá de tabelinha, que seguro morreu de velho.
     

                           TABELA DOS ANOS 

9
8
7
6
5
4
 3
2
1
FOGO
TERRA
METAL
METAL
TERRA
MAD.
MAD.
TERRA
ÁGUA
1883
1884
1885
1886
1887
1888
1889
1890
1891
1892
1893
1894
1895
1896
1897
1898
1899
1900
1901
1902
1903
1904
1905
1906
1907
1908
1909
1910
1911
1912
1913
1914
1915
1916
1917
1918
1919
1920
1921
1922
1923
1924
1925
1926
1927
1928
1929
1930
1931
1932
1933
1934
1935
1936
1937
1938
1939
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
19'6
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023
2024
2025
2026

 Mas é só o ano que interessa? Não, também existem os meses. Lá vai outra tabelinha.
Procure à esquerda o dia e o mês do seu nascimento; siga a linha e veja em que coluna você cai - de acordo com o número do seu ano natal, a sua coluna será a primeira, a segunda ou a terceira. Digamos que a sua data é 18 de dezembro, e já vimos que o seu primeiro número é 8; portanto você vai encontrar 1 na segunda coluna, e este será seu segundo número.

                       TABELA DOS MESES
 

ANO
ANO
ANO
DIA E MÊS
1/4/7
2/5/8
3/6/9
4 DE FEVEREIRO A 5 DE MARÇO
8
2
5
6 DE MARÇO A 4 DE ABRIL
7
1
4
5 DE ABRIL A 5 DE MAIO
6
9
3
6 DE MAIO A 5 DEJUNHO
5
8
2
6 DEJUNHO A 7 DEJULHO
4
7
1
8 DE JULHO A 7 DE AGOSTO
3
6
9
8 DE AGOSTO A 7 DE SETEMBRO
2
5
8
8 DE SETEMBRO A 8 DE OUTUBRO
1
4
7
9 DE OUTUBRO A 7 DE NOVEMBRO
9
3
6
8 DE NOVEMBRO A 7 DE DEZEMBRO
8
2
5
8 DE DEZEMBRO A 5 DE JANEIRO
7
1
4
6 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO
6
9
3
      
 Que significam estes seus dois números, herói? O que corresponde ao ano mostra uma forma de ser para o mundo (como o ascendente), o que corresponde ao mês revela um forma mais íntima de ser (como o signo). Enquanto vivemos com nossos pais desenvolvemos mais a personalidade íntima;
quando temos que enfrentar o mundo, é que a outra mostra a que veio. E às vezes passamos a vida inteira achando que somos incoerentes. que temos ambigüidades, que sentimos uma coisa e fazemos outra; vai ver, a explicação tá lá na data de nascimento.
Mas não temos só duas faces. Ao longo de ciclos de nove meses e de nove anos vamos passar por todas as casas e agir como todos os números. É assim que crescemos e nos transformamos, experimentando todos os contrastes. Nosso caminho se abre em dire-
ção à universalidade, de forma a podermos viver tudo, e ser todos em um, sem perder nossas qualidades originais.
Ah...os números dos anos natais do seu pai e da senhora sua mãe também revelam muita coisa sobre você, herói. Dele costumam vir as características de sistema nervoso e de pensamento, dela as características de saúde física, preferências alimentares, sistemas digestivo e reprodutor.
Além disso, a dinâmica das cinco modalidades de energia também funciona nas famílias. Imaginemos logo o pior: um pai de Água tende a inibir um filho de Fogo, que por sua vez pode ameaçar demais o irmão de Metal, que não deixará a irmãzinha de Madeira se desenvolver à vontade, e ela esgotará a paciência da mãe de Terra, que absorverá inteiramente o pai de Água. Credo.

AS  9 PERSONALIDADES

A PERSONALIDADE ÁGUA 1 

Corresponde ao trigrama O Abismal do I Ching.
o que se pode imaginar de quem nasce sob a influência de Água? Que tenha um modo de ser fluido, deslizante, envolvente, que não carregue limites, seja flexível, adaptável, transparente; mas também que tenha um quê de mistério, como a semente que guarda em si o vir-a-ser até o momento adequado. Isto descreve uma personalidade bem mercuriana, que internaliza completamente suas vontades, emoções e reações e quase nunca mostra aos outros o que está pensando ou sentindo, por discrição e também para evitar críticas e interpretações incorretas.
Essa combinação de transparência e segredo pode fazer o herói de Água parecer muito zen a olhos astutos ou muito astuto a olhos zen. Porque dentro dele vão fermentando imperceptivelmente idéias e trajetos, e de repente brota algo muito bem elaborado que ninguém esperava. Traição? Esperteza? Jamais. Nada foi omitido de propósito. Ele é assim mesmo, muito aberto e muito fechado até para si próprio, e grande parte de seus processos criativos se dá no inconsciente.
Acrescente-se que não suporta ser dominado. Também não gosta de dominar, porque isso o obrigaria a alterar seu fluxo. E detesta que os outros interfiram no que está fazendo, sentindo ou pensando. Conclusão: tende a viver e trabalhar sozinho, no seu próprio ritmo, reservando-se a iniciativa de procurar as pessoas quando tem vontade.
Suas dificuldades de ordem prática podem ser enormes, exatamente pela falta de limites, daí a necessidade de estar só para se concentrar e talvez encontrar uma forma, uma disciplina, um objetivo claro. Sem construir apoios desse tipo, o herói de Água pode acabar desperdiçando sua energia em frustrações e desatinos.
Você tem um filho de Água? Então não perca tempo sonhando para ele medalhas nas Olimpíadas, carreira no Banco do Brasil, bolsas de doutorado e coisas assim, porque este pode ser ativo e esforçado mas detesta situações onde existam regras, princípios,
dogmas, parâmetros, competições.
Você namora alguém de Água? Ele tem fases como a lua: numa está a fim de intensa vida social, noutra só quer sossego, tempo para si mesmo, espaço para se mexer e privacidade.
Dentro de um grupo a pessoa de Água é excelente mediadora de conflitos, tendo muita receptividade e cabeça fria para ouvir todos os argumentos e colocar as coisas no devido lugar.
Sua sexualidade é muito receptiva e ligada a significados profundos, de modo que Água 1 pode ser do tipo que pensa muito antes de se envolver sexualmente. Isso porque uma boa parceria vai satisfazer também seu lado espiritual, enquanto relações sem maior densidade o deixarão vazio e decepcionado. A mulher de Água em geral é de uma feminilidade completamente sedutora; o homem de Água é muito sensível e se retrai com facilidade, embora saiba disfarçar isso muito bem.
Pela lei das mutações, quando está em dificuldades Água pode se transformar temporariamente em Fogo, escondendo sua verdadeira natureza para se proteger. Aí aparecem nele características mais ativas, calorosas, sentimentais, extrovertidas. Tudo bem,
desde que isso não se prolongue indefinidamente, nem aconteça com muita freqüência, porque Fogo ferve e faz Água evaporar - ou seja, a verdadeira natureza do herói vai para o brejo e ele passa a viver angustiado.

A PERSONALIDADE TERRA 2
Corresponde ao trigrama O Receptivo do I Ching. 
Terra tem três números - 8, 5 e 2. Este é o mais feminino e flexível, o que nutre, o que zela; planeta Terra, o Receptivo, a mãe. E muitos homens são 2 e são mães, tendendo acima de tudo a cuidar e compreender. 2 tem o yin que vem de Água; sendo Terra trata de estabilizar essa energia, de lhe dar um centro, um repouso, um chão; mas ainda assim a qualidade yin é forte, por isso Terra 2 precisa do yang daqueles a quem se dedica. Isso não quer dizer que goste especialmente dos outros - na verdade, herói, o 2 pode achar todo mundo muito chato ou insensível. Por isso é comum encontrar um 2 mergulhando em práticas espirituais, filosóficas e artesanais como forma de transcender o dia a dia e se integrar ao cosmos.
É a mais social das três personalidades de Terra, a mais criativa e a que tem mais chances de se tornar popular. Dois aspectos, porém, precisam ser trabalhados: de um lado sua extrema paciência, que pode se transformar em total passividade diante de questões práticas e resultar em frustração para todos os que estão em volta; de outro, a obsessão pelo detalhe atrapalhando a visão do todo. Se você tem um 2 por perto é bom se preparar para contrabalançar esses traços. Mesmo porque seu caráter modesto e sóbrio deixa entrever que ele não é assim porque quer, mas porque não tem outro jeito.
Sexualmente o 2 pode ser pouco expressivo; mas sente prazer nas relações, sobretudo se for com alguém que tenha bastante yang. É que no fundo não se liga muito em sexo, podendo até viver sem ele desde que tenha a quem se dedicar. Procura mais satisfação emocional do que sexual, daí sua facilidade em levar uma vida de características mais espirituais.
Sob pressão, Terra 2 costuma se transformar-se em Metal 6 - o pai, a autoridade; deixa de ser Terra, o Receptivo, e passa a personificar Céu, o Criativo. Só que não nasceu para isso, então encontra dificuldade em manter a coerência e acaba tiranizando, arranja mais problemas do que tinha antes e sufoca inteiramente sua personalidade.
"O Criativo é o que há de mais forte no mundo. A expressão de sua natureza é invariavelmente o fácil, para assim poder dominar o que é perigoso. O Receptivo é o que há de mais abnegado no mundo. A expressão de sua natureza é invariavelmente o simples, para poder assim dominar os obstáculos." (I Ching )
 
A PERSONALIDADE MADEIRA 3
Corresponde ao trigrama O Incitar do I Ching. 
Aquele broto de samambaia que não estava aqui ontem e hoje surgiu, enorme, se abrindo mais que depressa em folha e espalhando seu verde ao redor: assim é Madeira 3. Espontâneo, musical, bem-humorado, inteligente, otimista, rápido, inspirado, criativo, bem falante, generoso, capaz. Um artista, freqüentemente brilhante, cheio de versatilidade e talento. Do tipo que carrega a juventude até o fim de seus dias, desenvolvendo-se
em todas as direções com enorme independência e agilidade física, abrindo caminho para as gerações seguintes, desempenhando ativamente suas funções no mundo.
Pode chamar de aventureiro: está sempre em movimento, seguindo impulsos e ampliando horizontes. Seu planeta é Júpiter, que lhe dá uma autoconfiança ilimitada, por isso o herói tipo 3 se sente à vontade para fazer muitas coisas ao mesmo tempo, interessado num monte de assuntos, penetrando no místico e no esotérico, dando vazão ao ímpeto de crescer em todas as direções. E não só em causa própria: seu exemplo faz os outros
crescerem também, nem que seja através do que ele tem para contar. Devido a isso tudo, seu comportamento é muito imprevisível. Quase nunca pensa em termos práticos. Quando as coisas correm mal tende a ficar irritado, raivoso. É completamente instável nas paixões mas está sempre entrando em alguma, tanto por outra pessoa quanto por si mesmo ou por idéias e ideais. Adora viver na natureza; contato com o verde ajuda Madeira a saber quem é. Também tem necessidade de muito espaço para se expandir fisicamente sem incomodar ninguém. É exigente, embora não suporte as exigências alheias e tenha certa dificuldade em modificar comportamentos; defende graciosamente, mas com unhas e dentes, o direito de ser dono de seu nariz. Sua ligação prioritária não é com pessoas nem com o mundo, mas com a natureza e o cosmos.
Madeira 3 desfruta de uma energia sexual intensa, ativa, própria da primavera. Para as mulheres pode ser terrível ter essa energia reprimida por princípios morais ou sociais muito rígidos.
Quando fica muito descontente com as coisas em volta, Madeira 3 utiliza o princípio da mutação para ganhar características de Madeira 4, que é mais popular, mais receptiva, mais influente, mais doce. Descuidando das conseqüências, assume compromissos que o deixarão na pior situação possível para um 3: sem liberdade.
 
A PERSONALIDADE MADEIRA 4
Corresponde ao trigrama A Suavidade do I Ching. 
Aqui está a árvore mais velha, copada, de tronco grosso, cheia de bem-te-vis e orquídeas em seus galhos. Embora possua tanta sensibilidade quanto Madeira 3 para as artes e os sentidos, não tem nada de aventureira: é pessoa de bom senso, dá ótimos conselhos e faz avaliações maduras graças a uma invejável força mental. É menos intuitiva e mais intelectual. Pode parecer dominadora, sobretudo porque tem muita força nos olhos - que afinal são os órgãos sensíveis de Madeira - e algumas pessoas têm medo desse olhar; mas não há nada a temer. Simples e sincera, julga os outros por si e acaba levando na cabeça quando lida com heróis menos honestos.
Madeira 4 é mais prática e persistente do que Madeira 3. Percebe logo o ambiente em que está e suas possibilidades de atuação. Também é mais carismática, mais empática e geralmente muito mais tagarela, sujeita a cansar os ouvidos alheios se não tomar cuidado. Assim como 3, tem múltiplos talentos para artes em geral e detesta rotinas e detalhes, mas sabe cuidar melhor da vida profissional. Trabalha feito um pé-de-boi, dedicando-se a uma coisa de cada vez, por isso tem muitas chances de dar certo naquilo
que escolheu e deixar uma bela marca de sua passagem pelo mundo.
Mas atenção, herói: sua fragilidade está na raiz. Pode tombar mais facilmente que Madeira 3, por isso é necessário que tente de fato se aprofundar naquilo que lhe garante força e vitalidade. Contato freqüente com natureza e terra é vital, e a presença de pedras e cristais por peno também vai ter efeitos benéficos.
No amor é pessoa completamente romântica e ingênua, idealizando uma parceria perfeita onde o sexo signifique uma esplendorosa comunhão entre deuses. Em busca disso, Madeira 4 tanto pode ter aventuras ligeiras quanto paixões desenfreadas das quais não consegue sair, nem mesmo depois de perceber que a pessoa não satisfaz.
Quando quer se proteger ou ser muito incisiva, Madeira 4 se transforma em Madeira 3. Perde a suavidade, a doçura e o carisma, fica excessiva; aí se arrepende de ter forçado as coisas e corrige novamente o rumo.

A PERSONALIDADE TERRA 5
Entre 1 e 9, exatamente no meio, fica o 5, eixo em torno do qual os outros gravitam.
Seu planeta é Saturno, que segundo a astronomia chinesa concentra e distribui para os outros planetas a energia que recebe das nove estrelas que formam o portão de entrada da corrente cósmica - Vega (da constelação Lira), Polaris (a estrela do norte) e
as sete estrelas da Ursa Maior.
A personalidade de Terra 5, por isso, é muito especial - tem características de todas as outras, mas enquanto elas são mais yang ou mais yin, Terra 5 pode ser ambas. Um coringa, que substitui qualquer outra carta? Às vezes. E às vezes, uma confusão que
ninguém entende, uma pessoa ao mesmo tempo autônoma e dependente: autônoma na sua completude e capacidade de transformação constante, dependente dos pontos de referência cotidianos que só os outros podem dar.
Sua base material é sólida, seus projetos são bem-sucedidos e ninguém é melhor do que Terra 5 para se envolver num trabalho importante que precise de mão firme e olhar atento. Tem idéias práticas e dá boas sugestões para melhorar qualquer coisa em qual
quer área; consegue clarear situações que todos os outros acham muito confusas; tem um coração enorme e está sempre com disposição de ajudar.
Talvez seja a mais produtiva e confiável de todas as personalidades. Por estar no centro, para ela não há mistério em equilibrar os extremos. O problema é que Terra 5, em sua timidez, tem a maior dificuldade em construir amizades sinceras. Acha que intimidade é um poço escuro e sem fundo. Então, por mais que seja amorosa e até carente de afeto, quase sempre passa uma imagem fria e calculista - ainda mais porque é capaz de fazer tremendos desaforos e irritar outras pessoas sem sequer se dar conta. Também
não é muito chegada à autocrítica; de vez em quando pode mostrar um ego enorme que precisa de todo espaço, atenção e consideração disponíveis no universo.
Tende a ser a mais materialista entre todas, a mais controladora, a mais perseverante, a que dá de si quase a ponto de se esgotar. Seu grande conflito é entre a imagem de força e auto-suficiência que transmite e a fragilidade que sente no plano emocional, por isso às vezes precisa ficar doente para se sentir cuidada.
A vida sexual de Terra 5 costuma tocar os extremos, indo do contato puramente físico ao envolvimento profundo. Tem propensão a transar sexo de forma egoísta, embora possa também se revelar boa amante se estiver muito atraída. Gosta sobretudo de se divertir.
Seduz os outros sem nenhum esforço ou intenção, e seu pior desempenho sexual pode acontecer justamente quando encontra alguém que parece ideal e ... casa.
Em períodos difíceis, o 5 pode assumir características de Terra 2 e Terra 8 ou mudar para seus opostos, Metal 7 e 6. Se você encontrar um Terra 5 com características de Metal, herói, pode saber que ali está uma pessoa com sérias dificuldades de levar sua vida adiante.
Como se trata de um número completamente neutro, você só fica sabendo se ele é mais ativo ou mais receptivo pelo número correspondente ao mês do nascimento. Se for 1, 3, 6 ou 8 revela características ativas; se for 2, 4, 7 ou 9 revela características receptivas.

A PERSONALIDADE METAL 6
Corresponde ao trigrama O Criativo do I Ching. 
6 é o Céu, o Criativo. Metal, cristal, rocha, petróleo: tudo o que é forte, denso, profundo. Metal 6 é o pai - aquele que inspira respeito e proporciona ordem e segurança aos que nele confiam.
Sua personalidade tem virtudes que não acabam mais: é forte, intuitiva, reservada, conservadora, honesta, serena, tira de letra as questões do dia a dia, tem senso de justiça e uma enorme vitalidade. É paciente e previdente, do tipo que guarda tudo o que possa vir a ser útil um dia. Sempre sabe o que fazer em relação a qualquer coisa e não tem a menor preguiça de discutir o que quer que seja. Metal 6: o mundo pode ter segredos,
mas não para ele. Porque ele também não tem. Seu padrão de conduta e pensamento é muito bem definido. Transparente, até. Tanto que é incapaz de modificar alguma coisa em sua vida sem que todo mundo note a diferença.
Seu trabalho tanto pode ser físico quanto mental. Responsável e perfeccionista, geralmente se supera no que faz. E faz sozinho: não consegue trabalhar com ninguém, e vice-versa. Não admite erros e dificilmente erra. Talvez por isso tenha a maior resistência a ouvir conselhos e críticas e a modificar comportamentos que porventura não sejam lá grande coisa. Confia muito em sua intuição e sempre acha que tudo vai dar certo - como, aliás, acaba dando. Tem tudo para se tornar um pilar da comunidade, especialmente no sentido moral e espiritual, devido a seu caráter aparentemente altruísta e voltado para causas nobres. Mas tem um porém, herói, muito aqui entre nós: Metal 6 nem sempre é tão generoso quanto gosta de parecer, sabe? Freqüentemente não dá o que promete, e toma de volta, ou cobra, aquilo que já deu. Talvez já fique satisfeito com a idéia de dar, não é?
Ele tende a ser muito. conservador em matéria de sexo, querendo tudo perfeito, em seu lugar, numa determinada ordem, e se possível com uma determinada finalidade. Faz muita questão de detalhes. Isso às vezes tolhe sua espontaneidade e exclui o lado lúdico da relação, embora não o impeça de ser um amante devotado, fiel e atencioso quando acha que está tudo como deve. É possível ainda que goste de beber um pouco para se soltar, ou que desenvolva uma vida paralela em ambientes menos respeitáveis que o lar.
Quando Metal 6 se sente cansado da autoridade, solitário e pouco seguro do amor dos outros, pode se transformar em Terra 2, a mãe. Só que vai estar se forçando uma falsa postura de receptividade e tolerância; isso pode conduzir a um sentimentalismo bobo que enfraquece sua própria natureza, e além do mais não convence ninguém. É típico do pai que dá uma bronca de pôr a casa abaixo e depois chora no ombro dos filhos pedindo perdão.

A PERSONALIDADE METAL 7
Corresponde ao trigrama A Alegria do I Ching.
Metal 7, herói, tem muitas semelhanças com Metal 6: autoridade, intuição, senso de justiça e de responsabilidade, espírito de liderança, etc, mas exerce isso com mais abertura, tolerância, sociabilidade, sinceridade, humor, carisma. Onde o 6 é masculino, 7 é feminino; onde 6 age com severidade, 7 entra com diplomacia. Pisa macio, sabe escolher o tom, não parece que está mandando e consegue tudo o que quer. É menos intelectual, mais prático. Fala com fluência e clareza, seus argumentos são convincentes, tem um vasto leque de assuntos e experiências interessantes para comer. Sabe dar conselhos sem se meter demais na vida alheia, e geralmente sua força interior permite que mantenha os pés firmes no chão enquanto abre a cabeça para as vibrações mais sutis.
Mostra um apetite extraordinário por qualquer coisa - comida, bebida, sensações físicas, emoções, conhecimentos, acontecimentos; está sempre procurando curtições, novidades, energias novas; seu instinto é apaixonado e Metal 7 geralmente se deixa levar por ele. Afinal, seu planeta é Vênus, o que significa prazer, sensualidade, beleza, sentimentos, doçura, muita energia para ir atrás do que lhe agrada. E depois que se satisfaz, herói, ah!, sente uma preguiça mortal até de ir ao banheiro. Essa mistura de paixão e indolência, contrastando com o fato de que é uma pessoa disciplinada e constante
para trabalhar no que gosta, pode imprimir um estilo bem anárquico à vida de Metal 7.
Detesta rotinas, agendas. compromissos chatos. Está sempre de olho em sua liberdade, que tanto pode trazer semanas e meses de efervescente alegria quanto longos períodos de pura contemplação. Aliás, Metal 7 é o que se pode chamar de pessoa antenada. Usa de fato a intuição que possui, de um modo reflexivo e sereno, para captar influências numa esfera mais sutil.
Vive de bem com o mundo. Não gosta de perder tempo com fofoquinhas, brigas e discussões. Quando sai do sério pode ficar exibicionista; pode também defender ardorosamente critérios ou idéias que fogem inteiramente ao bom senso; pode inda prometer
coisas impossíveis só para ganhar o amor dos outros.
Se você anda querendo alguma coisa com um Metal 7, é bom saber que ele gosta de controlar disfarçadamente a situação e que é mais fácil você se adaptar a ele do que ele a você. O esforço pode valer a pena. Esses tipos costumam ser charmosos, sensuais, estimulantes mesmo, e com eles o sexo é mais que experiência física: é uma forma de
redimensionar a esfera sensorial da vida. Principalmente porque Metal 7 tem grande prazer em dar prazer ao outro (e geralmente consegue), sobretudo porque adora se sentir amado (e geralmente é).
Em momentos adversos, em que o carisma fica bloqueado, Metal 7 pode se transformar em Terra 8 como defesa. Isso traz uma atividade mental exagerada, cheia de racionalizações e impertinências que podem ser frutíferas em Terra 8 mas ficam antipáticas em Metal 7. E quanto tempo Metal 7 agüenta sem o carinho e a simpatia dos outros?
Metal é a energia predominante entre os nossos políticos.

A PERSONALIDADE TERRA 8    
Corresponde ao trigrama A Quietude do I Ching. 
Terra é centro e estabilidade. Terra 2 é um signo yin, feminino, materno, nutritivo; Terra 5 é feminino ou masculino, umbigo geral, eixo; Terra 8 é um signo yang, masculino, em que sobressai um grande poder mental voltado para a articulação de idéias, opiniões e pensamentos. Gosta de ir ao fundo dos fatos, conseguir dados concretos, examinar detalhes de que se lembrará fielmente depois. Sua cabeça, muito ágil, é tipo arquivo. Isso pode dar a Terra 8 uma aparência de racionalidade e rigidez que esconde um interior suave, receptivo, voltado para a contemplação.
Plantado no chão como uma montanha, cujo atributo principal é a quietude, Terra 8 tem necessidade daquilo que se move, portanto de atividades variadas e pessoas estimulantes ao seu redor. Gosta de sentir que pertence a alguma coisa ou a alguém. Como bom caçula, é manhoso e se dá ao luxo de ser impulsivo, irreverente, teimoso, egocêntrico, perdulário. Não tem um padrão linear de conduta, apesar de saber muito bem seu objetivo - conquistar um lugar ao sol para mostrar aos outros quem é e o que faz.
Freqüentemente age de modo inesperado, por ímpeto, dando uma paradinha em seguida para ver o que aconteceu. Esse processo de reavaliação constante permite que mude de idéia à vontade e é uma chave de seu caráter. Muitos vão achá-lo volúvel, inconstante, inconsistente; quem quiser conviver com ele tem que estar disposto a compreender sua personalidade, honesta mas movida a paixão.
Seu principal sintoma é racionalizar demais e fazer tempestade em copo d'água. Isto pode aparecer enfatizado nas questões de saúde: hipocondria, dietas rígidas, terapias revolucionárias o fascinam. Tais características podem torná-lo um solitário, que tem
as necessidades normais de dar e receber afeto mas se recolhe à concha para não se expor a críticas.
Sexo, para ele, tende a ser cheio de energia e por isso um instrumento de poder pessoal.
Mas às vezes tem dificuldade de encontrar o canal certo para se expressar sexualmente, ou não consegue ficar inteiramente à vontade com seus parceiros; por isso sua identidade sexual pode permanecer obscura durante muito tempo. Se você anda paquerando algum Terra 8, herói, certifique-se de que a sua própria identidade sexual é bem estabelecida e de que está disposto a ter paciência com as questões emocionais que essa imprevisível pessoa pode levar para a cama.
Sob pressão, principalmente diante de oportunidades de realização social, Terra 8 cede à tentação de usar a máscara de Metal 7 para obter mais carisma, sociabilidade, popularidade, e finge estar em busca do prazer contínuo. Como não tem talento nenhum para isso, acaba entrando em conflito com os outros e desgastando sua energia mental.

A PERSONALIDADE FOGO 9
Corresponde ao trigrama O Aderir do I Ching. 
Esta pessoa nasceu sob influência de Marte e Fogo, daí seu altíssimo pique energético, vivo e contagiante, digno representante das forças do sol. Chama a atenção de todos, espalha calor e alegria em volta. Sabe atrair e envolver os outros e se deixa atrair e envolver por eles ou por qualquer situação interessante. É cheia de força e impulso, está sem-
pre ativa e tem necessidade de emoções interpessoais para se equilibrar. Adora expressar o que conhece e o que sente, em linguagem simples, clara, direta. De vez em quando se deixa levar pela euforia e aí o discurso fica atrapalhado, mas tudo bem, os outros
perdoam. Quem não a conhece pode achar que está diante de uma mentalidade simplista, superficial e padronizada, embora convincente; quem a conhece sabe que ali está alguém com uma percepção agudíssima da realidade que logo se transforma em
conteúdo de consciência.
Sua espiritualidade é quase concreta, parte integrante do dia a dia, sem nada de místico ou nebuloso, e inclui uma generosidade que perdoa facilmente e não guarda ressentimentos. Freqüentemente cede à influência de personalidades fortes, tanto positivas
quanto negativas, custando a perceber quem é realmente amigo e quem não é; isso talvez se deva a um excesso de extroversão e de atividades que não deixam espaço interno para reflexão e avaliações. Gosta de fazer milhares de coisas ao mesmo tempo, é exigente consigo e se atira com prazer ao trabalho.
Costuma ser uma pessoa extremamente amorosa, chegada a ligações profundas mas que nem sempre duram muito. Ajuda seus parceiros a enxergar com mais clareza devido à maneira descomplicada de abordar as questões. Para a pessoa de Fogo 9, o sexo é a celebração da vida. Aí se juntam todo o prazer sensorial e os melhores sentimentos possíveis. Fisicamente, sabe direitinho o que quer e como deve conseguir; costuma falar com tranqüilidade sobre assuntos de cama, sem se dar conta de que o tema pode ser tabu para os outros, e atrai parceiros sem fazer força, inclusive quem não interessa. Gosta
da estabilidade que uma relação profunda pode proporcionar; por isso tende ao casamento, do qual participa com paixão.
Por ser o nível mais alto e ativo da energia, Fogo consegue ver os outros de camarote.
Sua presença num grupo se caracteriza pela capacidade de fazer as ligações entre as pessoas, clareando as questões e mantendo um clima de calor humano. Seu sentimento se manifesta com facilidade, mesmo que seja superficial. Sua aptidão para ouvir e falar faz com que os outros se sintam num bom relacionamento; nisso Fogo tem grande afinidade com Água, que faz a mesma coisa a seu modo. 1 e 9, cada um em seu extremo, formam uma dupla imbatível em se tratando de encontrar o caminho do meio.
Quando se sente inferiorizada e opaca, a pessoa 9 tende a se transformar em 1 e mergulhar em profundo recolhimento. Mas é claro que não consegue se adaptar em Água, que é fria, solitária e filosófica; assim, depois de esfriar a cabeça retoma ao calor, ao
brilho, aos outros. 
(Texto adaptado do livro Manual do Herói - da grande Sonia Hirsch)