domingo, 1 de junho de 2014

Como É "O Outro Lado"?

Sri Yuktéswar e Yogananda
Em postagens anteriores como O Segredo da Vida Equilibrada e também O Roubo da Couve Flor, ambas de uma qualidade, graça e simplicidade imperdíveis, falamos desta figura ímpar que foi Sri Yuktéswar, mestre de Yogananda que é também outra grande figura conhecida, yogue e autor de livros, entre eles Auto Biografia de um Yogue Contemporâneo.
Após sua morte, Yuktéswar materializou-se para seu discípulo Yogananda e respondeu-lhe todas as perguntas sobre o destino do homem após a “morte”. Um relato raríssimo sobre o “outro lado” como você nunca ouviu antes. Uma das descrições mais completas e detalhadas sobre  as diversas dimensões pelas quais a alma  humana viaja rumo ao Infinito. É uma jóia rara esse texto de Yogananda. Vamos lá: 

"Sentado em meu leito no hotel de Bombaim, às três horas da tarde de 19 de junho de 1936 - uma semana após a visão de Krishna, fui interrompido em minha meditação por uma luz beatífica. Ante Meus olhos abertos e atônitos, o quarto inteiro transformou-se num mundo estranho; a luz do sol transmutava-se num esplendor sobrenatural. Sentindo-me arrebatado em ondas de êxtase, contemplei a figura dele Sri Yuktéswar, em carne e osso! 
- Meu filho! - exclamou o Mestre com ternura e um sorriso de anjo sedutor.
Pela primeira vez em minha vida não me ajoelhei a seus pés para saudá-lo, mas avancei no mesmo instante para apertá-lo em meus braços, avidamente. Momento divino! A angústia dos meses anteriores extinguiu-se, fez-se imponderável se comparada à beatitude torrencial que me inundou então.
- Mestre meu, bem-amado de meu coração, por que me deixou? - atribuo esta incoerência ao meu excesso de alegria. - Por que permitiu que eu fosse a Kumbha Mela? Com que amargura venho me recriminando por me haver afastado de sua presença! 
- Eu não quis interferir, você era feliz em sua expectativa de conhecer o local de peregrinação onde encontrei Babaji pela primeira vez. Deixei-o apenas por breve momento; não estou com você de novo? 
- Mas é o senhor de verdade, Mestre, o mesmo Leão de Deus? Está usando um corpo igual ao que enterrei sob as cruéis areias de Puri? 
- Sim, meu filho, sou eu mesmo. Este é um corpo de carne e osso. Embora eu o veja como etéreo, para a sua vista é físico. Com os átomos cósmicos, criei uma forma inteiramente nova, exatamente igual ao corpo-físico-de-sonho-cósmico que você depositou sob as areias-de-sonho de Puri, em seu mundo-de-sonho. Em verdade, ressuscitei - não na Terra, mas num planeta astral. Seus habitantes estão melhor capacitados que a humanidade terrena para seguir os meus elevados padrões espirituais. Você e seus entes queridos, os que alcançaram o êxtase, para lá irão algum dia; estaremos todos juntos.
- Imortal guru, conte-me ainda mais! 
O Mestre teve um riso breve, cheio de jovialidade. 
- Por favor, querido - disse ele. - Não quer afrouxar um pouco o seu abraço? - Só um pouquinho! 
Eu o estivera abraçando com uma pressão de polvo. Percebi o mesmo débil, aromático e natural odor que fora característico de seu corpo terreno. O emocionante contato de sua carne divina ainda persiste nas faces internas de meus braços e nas palmas das mãos, sempre que relembro aquelas horas gloriosas.
- Como os profetas são enviados à Terra para ajudar os homens a esgotarem seu carma físico, assim Deus me enviou a um planeta astral com a missão de salvador - explicou Sri Yuktéswar. - Esse globo chama-se Hiranyaloka ou “Planeta Astral Iluminado”. Lá estou auxiliando seres adiantados a se desembaraçarem de seu carma astral e a se libertarem, portanto, dos renascimentos astrais. Os residentes em Hiranyaloka têm elevado desenvolvimento espiritual; todos adquiriram, em sua última encarnação terrestre, o poder, conferido pela meditação, de abandonar conscientemente o corpo na hora da morte. Ninguém poderá entrar em Hiranyaloka se não tiver experimentado na Terra, não apenas savikalpa samadhi (dissolução da Consciência em Brahma) mas também o estado superior de êxtase, nirvikalpa samadhi (não dualidade, e unidade com O Todo).
 “Os habitantes de Hiranyaloka já ultrapassaram as esferas astrais ordinárias para onde quase todas as pessoas da Terra devem ir ao morrer; nelas destruíram muitas sementes cármicas relativas a suas ações passadas no mundo astral. Apenas devotos adiantados realizam com eficiência esse trabalho redentor nas esferas astrais. Então, o fim de livrarem inteiramente sua alma de todos os traços de carma astral, a lei cósmica impeliu estas criaturas de aspiração mais alta a renascerem em novos corpos astrais em Hiranyaloka, o céu ou sol astral, onde me encontro para ajudá-los. Vivem também em Hiranyaloka seres quase perfeitos vindos do mundo causal superior.”
Minha mente encontrava-se, a essa altura, em tão perfeita sintonização com a de meu guru, que ele me comunicava suas imagens-palavras, em parte através da linguagem e em parte pela transmissão de pensamento. Assim eu recebia, rapidamente, seus tablóides de ideias.
- Você leu nas Escrituras - continuou o Mestre - que Deus encerrou a alma humana em três corpos, sucessivamente: o corpo causal ou de ideias; o sutil corpo astral, sede das naturezas mental e emocional do homem; e o grosseiro corpo material. Na Terra, o homem está equipado com os sentidos físicos. Um ser astral age através de sua consciência e sentimentos, e de um corpo feito de vitatrons. Um ser em corpo causal paira no beatifico reino das ideias. Meu trabalho relaciona-se com aqueles seres astrais que estão se preparando para entrar no mundo causal.
- Mestre adorável, por favor, fale-me ainda mais sobre o cosmos astral. 
Embora eu tivesse afrouxado um pouco o meu abraço a pedido de Sri Yuktéswar, meus braços ainda continuavam a rodeá-lo. Tesouro acima de todos os tesouros, meu guru se rira da Morte para chegar até mim! 
- Existe uma infinidade de esferas astrais, fervilhantes de seres, começou o Mestre. - Seus habitantes usam veículos astrais, ou massas de luz, para viajar de um a outro planeta - mais depressa que as energias elétricas ou radioativas.
“O universo astral, composto de diversas vibrações sutis de luz e calor, é centenas de vezes maior que o cosmos material. A criação física inteira, como sólida barquinha, está dependurada do gigantesco aeróstato luminoso que é a esfera astral. Assim como numerosos sóis e estrelas físicas vagam pelo espaço, existem também, no astral, incontáveis sistemas solares e estelares. Seus planetas contam com sóis e luas mais belos que os físicos.
Os luminares astrais se parecem com as auroras boreais - a aurora do sol astral deslumbra mais que os tênues raios do despontar da lua astral. E dias e noites são muito mais longos que os da Terra.
"O universo astral é, pois, infinitamente belo, limpo, puro e ordenado.
Não existem planetas mortos nem terrenos estéreis. Os defeitos, lamentados na Terra, lá estão ausentes: ervas daninhas, bactérias, insetos, serpentes.
Ao contrário das estações e climas variáveis do globo terrestre, os planetas astrais mantêm uma temperatura uniforme de eterna primavera, caindo, às vezes, neve de luminosa alvura e chuvas de luz multicolorida. Lá, sobejam lagos opalinos, mares rebrilhantes, e rios com os matizes do arco-íris.
“O universo astral ordinário - não o céu sutilíssimo de Hiranyaloka - é povoado por milhões de seres astrais, vindos, mais ou menos recentemente, da Terra; e também por miríades de fadas, sereias, peixes, animais, duendes, gnomos, semideuses e espíritos, todos residindo em diferentes planetas astrais de acordo com suas qualificações cármicas. Reservam-se várias moradas planetárias ou regiões vibratórias para espíritos bons e para espíritos maus. Os bons podem viajar livremente, mas as entidades prejudiciais estão confinadas a zonas restritas. Aqui, os seres humanos vivem na superfície da terra, os vermes no interior do solo, os peixes na água e os pássaros no ar; lá, também, os seres astrais se encaminham a regiões vibratórias adequadas a seus diferentes estágios de evolução.
“Entre sombrios anjos caídos, expulsos de outros mundos, surgem atritos e declaram-se guerras com bombas “vitatrônicas” ou raios vibratórios da mente, mântricos. Estes marginais habitam regiões de trevas densas, no cosmo astral inferior, saldando as dívidas de seu mau carma.

“Em vastos reinos acima da lúgubre penitenciária astral, tudo é resplandecente e formoso. O cosmo sutil, por sua natureza, acha-se mais sintonizado com a vontade de Deus e com Seu plano de perfeição que a Terra. Todo objeto astral manifesta-se primordialmente pela vontade declarada dos seres astrais. Estes possuem o poder de modificar ou realçar a graça e a forma de qualquer objeto já criado pelo Senhor. A Seus filhos astrais, Ele deu a liberdade e o privilégio de modificarem ou aperfeiçoarem à vontade o cosmo astral. Na Terra, para transformar um sólido em líquido ou alterar-lhe a forma, é preciso submetê-lo a processos físicos ou químicos, enquanto os sólidos astrais são convertidos em líquidos astrais, gases astrais ou energia atômica astral, apenas e instantaneamente, pela vontade de seus habitantes.
"A Terra mergulha nas sombras das guerras e dos assassínios, rios, continentes, nos mares e no ar - continuou meu guru. - Nos domínios astrais, porém, observa-se uma igualdade e harmonia felizes. Os seres astrais desmaterializam suas formas e voltam a materializá-las, à vontade. Flores, peixes ou outros animais podem se metamorfosear temporariamente em homens astrais. Todos os seres do astral são livres para assumir qualquer forma e podem facilmente conversar entre si. Nenhuma lei natural, fixa, definitiva, os limita: a qualquer árvore astral se pode pedir, por exemplo, que produza mangas astrais, flores ou, separadamente, qualquer outro objeto, com êxito. Existem certas restrições cármicas mas nenhuma distinção se faz, no mundo astral, quanto ao desejo de possuir esta ou aquela forma. Tudo vibra com a luz criadora de Deus.
Ninguém nasce a partir de uma mulher; seres astrais, por meio de sua vontade cósmica, materializam sua prole em formas expressivamente esculpidas, astralmente condensadas. Quem recentemente desencarnou no mundo físico integra-se numa família astral por convite, atraída por tendências mentais e espirituais semelhantes.
“O corpo astral não está sujeito ao frio e ao calor, ou a outras condições da natureza. Sua anatomia inclui um cérebro astral ou o “lótus de mil pétalas de luz”e seis centros despertos no sushumna ou eixo astral-cérebro-espinal. Do cérebro astral, o coração retira energia cósmica e luz, enviando-as aos nervos astrais e às células do corpo astral ou “vitatrons”. Os seres astrais podem alterar suas formas por energia “vitatrônica” ou por santas vibrações mântricas.
“Em muitos casos, o corpo astral é uma cópia exata da última forma física. A face e a figura de uma pessoa astral assemelham-se aos que possuía durante a mocidade em sua última jornada terrena. Às vezes, alguém, como eu, prefere conservar a aparência que tinha em sua velhice”. - O Mestre, a quintessência da juventude, riu jovialmente.
“Ao contrário do mundo físico tridimensional, só conhecido por meio dos cinco sentidos, as esferas astrais são perceptíveis ao sexto sentido, a intuição, que inclui os demais. Os seres astrais veem, escutam, cheiram, saboreiam e apalpam por meio da multisciente sensação intuitiva. Possuem três olhos, dois dos quais parcialmente fechados. O terceiro e principal olho, verticalmente colocado na testa, está aberto. Os seres astrais têm todos os órgãos externos dos sentidos - olhos, ouvidos, nariz, língua e pele - mas empregam o sentido da intuição para experimentar sensações através de qualquer parte do corpo; podem ver por meio do ouvido, do nariz ou da pele, escutar pelos olhos ou pela língua, saborear através dos ouvidos ou da pele, e assim por diante. 
"O corpo físico do homem encontra-se exposto a inúmeros perigos e facilmente se machuca ou se mutila; o etéreo corpo astral pode, às vezes, ser cortado ou esmagado, mas cura-se instantaneamente por mera expressão da vontade.
- Gurudeva, todas as pessoas astrais são belas? 
- A beleza no mundo astral é uma qualidade do espírito e não se aquilata pela conformação exterior - respondeu Sri Yuktéswar. - Os seres astrais, por isso, atribuem pouca importância às feições. Eles têm o privilégio, entretanto, de se revestirem, à vontade, de corpos astralmente materializados, novos e coloridos. Assim como os homens mundanos envergam novo traje para acontecimentos de gala, também as pessoas etéreas encontram oportunidade de se adornar com formas esculturais.
“Festas de regozijo nos planetas astrais superiores, como Hiranyaloka, ocorrem quando um ser, por seu adiantamento espiritual, liberta-se do mundo astral e acha-se preparado assim para ingressar no céu do mundo causal. Nessas ocasiões, o Pai Celestial Invisível e os santos n'Ele imersos, materializam-se em corpos de Sua própria escolha e participam das celebrações astrais. Para agradar a Seu devoto bem-amado, o Senhor assume a forma sob a qual este mais O adora. A quem O cultuou com devoção, Deus aparece como Divina Mãe. Para Jesus, o aspecto de Pai Infinito sobrepassava todas as demais concepções. A individualidade conferida pelo Criador a cada uma de Suas criaturas faz que todo tipo de demanda, concebível ou inconcebível, ponha à mostra a versatilidade do Senhor! “ - Meu guru e eu rimos felizes.
“Amigos de vidas passadas facilmente se reconhecem uns aos outros no mundo astral - continuou Sri Yuktéswar, em sua encantadora voz de flauta. Rejubilando-se com o caráter imortal da amizade, eles experimentam a indestrutibilidade do amor, de que tantas vezes se duvidou, na hora das tristes e ilusórias separações na Terra.
“A intuição dos seres astrais perfura o véu e observa as atividades humanas na Terra; o homem, ao contrário, não pode ver o mundo astral, a menos que seu sexto sentido esteja desenvolvido. Milhares de habitantes da Terra vislumbraram momentaneamente um ser astral ou um mundo astral. Os residentes adiantados de Hiranyaloka permanecem, em geral, despertos em êxtase durante os longos dias e noites astrais, ajudando a resolver problemas intricados de governo cósmico e de redenção de filhos pródigos, almas apegadas à Terra. Quando os seres de Hiranyaloka dormem têm, às vezes, visões astrais semelhantes ao sonho. Suas mentes, como de hábito, estão absortas no estado consciente da mais elevada beatitude - nirbikalpa.
“Os habitantes de todas as regiões dos mundos astrais ainda estão sujeitos a agonias mentais. As mentes hipersensíveis dos seres mais adiantados, em planetas como Hiranyaloka, sentem dor aguda se algum erro é cometido, de percepção da verdade ou de conduta. Estes seres mais evoluídos esforçam-se para harmonizar cada um de seus pensamentos e atos com a perfeição da lei espiritual.
As comunicações entre os habitantes astrais efetuam-se inteiramente por telepatia e por tele-visão astrais. Lá se desconhecem a confusão e a incompreensão oriundas da palavra oral e escrita, que os moradores da Terra estão obrigados a suportar. Exatamente como os homens numa tela de cinema parecem mover-se e participar de atividades ao longo de uma série de cenas luminosas, sem respirar de verdade, também os habitantes do mundo astral andam e trabalham como imagens de luz inteligentemente guiadas e coordenadas, sem necessidade de retirar forças do oxigênio. O homem depende de sólidos, líquidos, gases e energia para a sua subsistência; os moradores do astral alimentam-se principalmente de luz cósmica.”
- Mestre meu, os seres astrais comem alguma outra substância? Eu sorvia seus maravilhosos esclarecimentos com a receptividade de todas as minhas faculdades - mente, coração e alma. "As percepções superconscientes da verdade são permanentemente reais e imutáveis, enquanto as experiências e impressões fugazes dos sentidos são apenas temporária e relativamente verdadeiras; a memória que delas o homem conserva logo perde a vivacidade". As palavras de meu guru imprimiram-se de modo tão indelével no pergaminho de meu ser que, a qualquer momento, transferindo minha mente para o estado de superconsciência, posso reviver com nitidez a divina experiência.
“Legumes de textura luminosa são abundantes nos solos astrais - respondeu ele. - Os moradores do mundo astral consomem vegetais e bebem o néctar que jorra de gloriosas fontes de luz e que flui nos regatos e rios astrais. Exatamente como na Terra é possível extrair do éter as imagens invisíveis dos homens, torná-las visíveis por meio de um aparelho de tele-visão e, posteriormente, dissolvê-las de novo no espaço, assim também os invisíveis projetos estruturais de plantas e legumes, criados por Deus e flutuantes no éter, condensam-se num planeta astral pela vontade de seus habitantes. Do mesmo modo, nascidos da fantasia insubmissa destes seres, jardins inteiros de perfumada flora materializam-se para retornar mais tarde à invisibilidade etérea. Se os moradores de planetas celestiais, como Hiranyaloka, estão quase livres da necessidade de comer, ainda mais excelsa é a existência incondicionada de almas quase completamente livres no mundo causal, cujo único alimento é o maná da bem-aventurança.
“Um ser astral liberto da Terra encontra-se com uma multidão de parentes, pais, mães, esposas, maridos e amigos, havidos em diferentes encarnações na Terra, à medida que essas criaturas regressam, de tempos em tempos, a várias regiões do cosmo astral. Por isso, sente-se confuso ao tentar saber a quem amar especialmente; aprende assim a dedicar amor divino e igual a todos, como filhos e expressões individualizadas de Deus. Embora a aparência externa dos seres queridos possa haver mudado, menos ou mais, de acordo com o desenvolvimento de novas qualidades na última vida, o ser astral emprega sua infalível intuição para reconhecer todos aqueles que uma vez conheceu em outros planos dá existência, e para recebê-los com alegria ao chegarem a seu novo lar astral.
Em virtude de cada átomo na criação estar dotado de individualidade inextinguível, um amigo astral será reconhecido, seja qual for o traje de que se revista, assim como na Terra se descobre, observando-se atentamente, a identidade de um ator, apesar da caracterização que o disfarça.
“O espaço de tempo em que um ser se demora no mundo astral é mais longo que na Terra. Em média, o período de vida de um ser astral adiantado é de quinhentos a mil anos, medido segundo os padrões de tempo terreno.
Determinadas sequóias sobrevivem à maioria das árvores durante milênios; certos jogues vivem várias centenas de anos embora a maior parte faleça aos sessenta anos; alguns seres astrais ultrapassam o período médio de vida astral. Os visitantes do mundo astral nele residem por períodos mais curtos ou mais prolongados de acordo com o peso de seu carma físico, que os atrai de regresso à Terra dentro de um prazo específico.
“O ser astral não tem de lutar dolorosamente contra a morte, no momento de desprender-se de seu corpo luminoso. Muitos, não obstante, sentem-se um pouco nervosos à ideia de se despojarem do invólucro astral para continuarmos apenas com o mais sutil, o causal. O mundo astral acha-se livre da morte, da doença e da velhice indesejável - três pavores que são a maldição da Terra, onde o homem permitiu à sua consciência identificar-se quase inteiramente com um frágil corpo físico, exigindo o socorro constante do ar, do alimento e do sono a fim de subsistir.
“A morte física caracteriza-se pelo desaparecimento da respiração e pela desintegração das células orgânicas. A morte astral consiste na dispersão dos vitatrons, unidades de energia de que depende a vida dos seres astrais. Na morte física, o homem perde consciência carnal e torna-se cônscio de seu corpo sutil no mundo astral. Experimentando a morte astral, a seu devido tempo, um ser passa, da consciência de nascimento e morte astrais, à de nascimento e morte físicos. Estes ciclos periódicos de alojamentos astrais e físicos constituem o destino inelutável de todos os seres não-fluiníriados. Conceitos de céu e inferno, -nas Escrituras, às, vezes despertam no homem memórias de sua longa série de experiências no agradável reino astral e no decepcionante mundo terrestre, revolvendo arquivos mais profundos que a subconsciência. “
- Bem-amado Mestre - supliquei - pode descrever com maiores detalhes a diferença entre renascimento na Terra e renascimento nas esferas astrais e causais? 
"O homem, enquanto alma individualizada, tem um corpo essencialmente causal - explicou Sri Yuktéswar. - Esse corpo é a matriz das 35 ideias concebidas por Deus, forças de pensamento causal, fundamentais para que, delas, Ele pudesse formar posteriormente o sutil corpo astral, de 19 elementos, e o denso corpo físico, de 16.
“Os 19 integrantes do corpo astral são mentais, emocionais e vitatrônicos.
São eles: inteligência; ego; sentimento; mente (consciência dos sentidos); mais cinco instrumentos de conhecimento, réplicas sutis dos sentidos da visão, audição, olfato, paladar e tato; mais cinco instrumentos de ação, correspondentes mentais das capacidades executivas de procriar, excretar, falar, caminhar e executar atividade manual; e mais cinco instrumentos de força vital, com poder de realizar as funções orgânicas de cristalização, assimilação, eliminação, metabolismo e circulação do sangue. Este sutil envoltório astral de 19 elementos sobrevive à morte do corpo físico, composto de 16 elementos metálicos e não-metálicos.
“Deus concebeu diferentes ideias dentro de Si Mesmo, e na tela de Seus sonhos fez a projeção delas. Assim nasceu Ma
ya, a Sonhadora Cósmica, gigantesca e interminavelmente ataviada com seus ornamentos de relatividade.
“As 35 categorias ideativas do corpo causal encerram, elaboradas por Deus, todas as complexidades de suas 19 réplicas astrais e 16 físicas. Pela condensação de forças vibratórias, a princípio sutis e depois grosseiras, Ele produziu o corpo astral e finalmente a forma física do homem. De acordo com a lei da relatividade, segundo a qual a Simplicidade Prístina veio a ser desconcertante multiplicidade, o cosmo causal e o corpo causal são diferentes do cosmo astral e do corpo astral; o cosmo físico e o corpo físico, igualmente, diferem, em suas características, daquelas outras formas de criação.
“O corpo carnal é feito de sonhos materializados, solidificados, do Criador. Dualidades sempre caracterizam a vida na Terra: saúde e doença, prazer e dor, ganho e perda. Os seres humanos encontram limitação e resistência na matéria tridimensional. Quando a doença ou causas diversas abalam severamente o desejo de viver, intervém a morte; cai ao chão, temporariamente, o pesado sobretudo da carne. A alma, porem, continua aprisionada nos corpos astral e causal. A força de coesão que mantém unidos os três corpos é o desejo. O poder dos desejos irrealizados é a raiz de toda a escravidão do homem.
“Desejos físicos radicam-se no egoísmo e nos prazeres dos sentidos. A compulsão ou a tentação da experiência sensorial é mais poderosa que a força do desejo referente a apegos astrais e percepções causais.
“Desejos astrais concentram-se em prazeres de tipo vibratório. Os seres astrais deliciam-se com a etérea música das esferas e extasiam-se com a visão do universo inteiro criado como expressão inesgotável de luz cambiante. Também cheiram, saboreiam e tocam a luz. Assim, seus desejos relacionam-se com seu poder de condensar todos os objetos e experiências em formas de luz ou em pensamentos condensados ou sonhos.
“Desejos causais são realizações do intelecto. Os seres quase livres, alojados apenas no corpo causal, vêem o cosmo inteiro como projeções das ideias - sonhos de Deus; tudo experimentam em puríssimo pensamento.
Consideram o gozo de sensações físicas e deleites astrais, por isso, grosseiros e sufocantes para a requintada sensibilidade da alma. Os seres causais realizam seus desejos, materializando-os instantaneamente. As almas que se cobrem somente com o delicado véu do corpo causal, podem materializar universos, à semelhança do Criador. Tendo todos os mundos uma só textura, a do sonho cósmico, uma alma, na diáfana veste causal, tem vastos poderes de realização.
“Sendo invisível por natureza, a alma só pode ser percebida pela presença de seu corpo ou corpos. A mera presença de um corpo significa que sua existência se tornou possível devido a desejos irrealizados.
“Enquanto a alma do homem se encontra encerrada em um, dois, ou três frascos corporais, tampados hermeticamente com as rolhas da ignorância e dos desejos, não pode mergulhar no oceano do Espírito.
Destruído o denso receptáculo físico pelo martelo da morte, seus dois outros invólucros - o astral e o causal - ainda persistem e impedem que a alma se una, com absoluta consciência, à Vida Onipresente. Quando se alcança, através da sabedoria, a ausência do desejos, seu poder desintegra os dois vasos remanescentes. A diminuta alma do homem emerge, livre afinal, unificada com a Amplidão Imensurável.”
Pedi a meu divino guru que me desse maiores esclarecimentos sobre a superior e misteriosa esfera causal.
“- O mundo causal é indescritivelmente sutil - respondeu ele. Para entendê-lo, o homem teria de possuir poderes de concentração tão extraordinários que o habilitariam a fechar os olhos e visualizar, como se existissem unicamente em ideias, os cosmos astral e físico em toda a sua vastidão: o aeróstato luminoso com sua sólida barquinha. Se, por meio desta concentração sobre-humana, ele pudesse reconverter em ideias puras esses dois cosmos, com todas as suas complexidades, alcançaria então o mundo causal: a fronteira de fusão entre a mente e a matéria. Ali, percebem-se todas as coisas criadas - sólidos, líquidos, gases, eletricidade, energia, os seres todos: deuses, homens, animais, plantas, bactérias, como formas de consciência; exatamente como um homem, ao fechar os olhos, percebe que ele existe, apesar de seu corpo ser invisível aos seus olhos físicos, uma presença mental, uma ideia apenas.
“Tudo o que um ser humano apenas imagina, um ser causal converte em realidade. Um homem dotado de grande imaginação e inteligência é capaz - em sua mente, apenas - de saltar de planeta em planeta, de deixar-se cair interminavelmente num abismo de eternidade, de subir como um foguete ao pálio de galáxias, e de incidir como um holofote sobre as vias-lácteas e os espaços constelados, Os seres do mundo causal, porém, gozam de liberdade muito maior: projetam seus pensamentos, objetivando-os instantaneamente, em esforço, sem qualquer obstrução material ou astral, e sem limitação cármica.
“Os seres causais sabem, por experiência própria, que o cosmo físico não se compõe primordialmente de elétrons, nem o cosmo astral se constitui basicamente de vitatrons, mas, em realidade, ambos se originam de diminutas partículas do pensamento de Deus, fendidas e fragmentadas por maya, a lei da relatividade que intervém para separar, aparentemente, a criação de seu Criador.
“No mundo causal, as almas se reconhecem umas às outras como fragmentos individualizados do Espírito beatífico; seus objetos pensados são os únicos que as rodeiam. Os seres causais percebem que a diferença entre seus corpos e pensamentos é uma ideia, simplesmente. Assim como o homem, fechando os olhos, pode visualizar uma ofuscante luz branca ou uma névoa azul desbotada, os seres causais também, por intermédio exclusivo de seu pensamento, enxergam, ouvem, cheiram, saboreiam e apalpam; eles criam tudo, ou tudo dissolvem, pelo poder de sua mente cósmica.
“Tanto a morte como o renascimento no mundo causal ocorrem em pensamento. O alimento delicioso dos seres causais é um só, a ambrosia do conhecimento eternamente novo. Bebem dos mananciais de paz, vagam pelo solo sem trilhas das percepções, nadam no oceano sem praias da beatitude. Oh, contemple! Seus brilhantes corpos-pensamentos passam zunindo vertiginosamente por trilhões de planetas criados pelo Espírito, por recentes borbulhas de universos, por moradas estelares de sábios, e por sonhos espectrais de áureas nebulosas, no seio azul-celeste do Infinito! “Muitos seres permanecem durante milhares de anos no cosmo causal.
Então, depois de êxtases progressivamente mais profundos, a alma se libera do pequeno corpo causal e incorpora-se à imensidão do cosmo causal.
Todos os estanques remoinhos de ideias, as ondas particularizadas de poder, amor, vontade, alegria, paz, intuição, calma, autodomínio e concentração, fundem-se no inesgotável Oceano de Beatitude. Não mais a alma fruirá sua ventura como onda individualizada de consciência; agora mergulha no Oceano Cósmico único, na totalidade das ondas - e é riso eterno, comoção, pulsação perene.
“Quando uma alma rompe o casulo dos três corpos, escapa para sempre à lei da relatividade, e converte-se no inefável Sempre-Existente.
Eis, a borboleta da Onipresença, com estrelas e luas e sóis rebrilhando em suas asas! A alma expandida no Espírito paira sozinha na região da luz sem luz, da treva sem treva, do pensamento sem pensamento; inebriada com seu êxtase beatífico, imersa no mesmo sonho de Deus, o da criação cósmica.”
Uma alma livre! - exclamei com reverência.
Quando uma alma se livra, finalmente, das três ânforas de ilusões corpóreas - prosseguiu o Mestre - unifica-se com o Infinito sem qualquer perda de individualidade. Cristo conquistara sua liberdade derradeira, antes mesmo de nascer como Jesus. Em três etapas de seu passado, simbolizadas aqui na Terra pelos três dias de morte e ressurreição, ele alcançara o poder absoluto de subir aos céus em Espírito.
“O homem não desenvolvido submete-se a incontáveis encarnações terrestres, astrais e causais, a fim de desprender-se de seus três corpos. Um mestre que conquista a liberdade final pode escolher, se há de voltar à Terra como profeta, para ajudar outros seres humanos a regressarem a Deus, ou se, como eu, há de residir no cosmo astral. Lá, um redentor carrega, em parte, o peso do carma dos habitantes e assim os ajuda a abreviar seu ciclo de reencarnações no cosmo astral, a fim de partirem definitivamente para as esferas causais  Ou, então, uma alma liberada pode entrar no mundo causal para ajudar seus habitantes a encurtarem seu prazo no corpo causal e assim conquistarem a Liberdade Absoluta.”
- Mestre ressurrecto, quero saber mais a respeito do carma que obriga as almas a regressarem aos três mundos. - Eu poderia ouvir meu Mestre onisciente, pensei, por toda a eternidade. Nunca em sua vida terrena eu fora capaz, em tão pouco tempo, de assimilar tanto de sua sabedoria. Agora, pela primeira vez, eu obtinha percepção clara e definitiva das casas enigmáticas no tabuleiro de xadrez da vida e da morte.
“- O carma físico, ou seja, os desejos do homem, devem ser completamente esgotados antes que se torne possível sua residência permanente nos mundos astrais - esclareceu meu guru com sua voz emocionante. - Dois tipos de moradores vivem nas esferas astrais. Os que ainda possuem carma físico insatisfeito e devem, por isso, reabitar um corpo denso a fim de saldar suas dívidas cármicas, classificam-se, após a morte física, mais como visitantes temporários do mundo astral que seus moradores permanentes.
“Após a morte astral, seres que não expiaram seu carma físico, não têm permissão de entrar na excelsa esfera causal das ideias cósmicas, mas estão obrigados a viagens de ida e volta entre os mundos astrais e físicos, alternativamente conscientes de seu corpo físico de 16 elementos grosseiros e de seu corpo astral de 19 elementos sutis. Contudo, uma criatura não-desenvolvida, depois de cada perda de seu corpo terreno, permanece a maior parte do tempo no profundo estupor do sono da morte e dificilmente tem consciência do formoso reino astral. Terminado o descanso astral, regressa ao plano físico para novas lições, acostumando-se gradualmente, através de repetidas viagens, aos mundos de sutil textura astral.
“Ao contrário, residentes normais, isto é, há longo tempo no universo astral, livres para sempre de todos os anseios materiais, já não precisam regressar às vibrações grosseiras da Terra. Eles só têm carma astral ou causal para esgotar. Na morte astral, transferem-se para o mundo causal infinitamente mais sutil e delicado. No fim de certo prazo, determinado pela lei cósmica, estes seres evoluídos voltam, então, a Hiranyaloka ou a um planeta astral de idêntica elevação onde renascem em novo corpo etéreo para redimir os remanescentes de seu carma astral.
“Meu filho, agora você pode compreender melhor que ressuscitei, por decreto divino - continuou Sri Yuktéswar - como um redentor de almas reencarnadas no astral, especialmente das que baixam da esfera causal e não das que sobem da Terra. Estas últimas, se ainda conservam vestígios de carma físico, não sobem aos mais altos planetas astrais como Hiranyaloka.
“Muitos habitantes terrestres não aprenderam, através do olho desenvolvido pela meditação, a apreciar as alegrias e vantagens superiores da existência astral e, por isso, após a morte, desejam regressar aos prazeres limitados e imperfeitos da Terra; assim também muitos seres astrais, durante a normal desintegração de seus corpos sutis, não chegam a vislumbrar o excelso estado de alegria espiritual no mundo das ideias; demorando-se em recordar a felicidade astral mais grosseira e de vistosos adornos, eles anseiam revisitar o paraíso astral. Esses seres devem redimir-se do pesado carma astral que possam obter, após a morte astral, residência permanente no mundo causal, o das ideias, este, aliás, tão superficialmente secionado de sua origem, o Criador.
“Só quando um ser não deseja mais experiências no cosmo astral, tão agradável à vista, e já não sente a tentação de voltar a ele, é que permanece no mundo causal. Completando ali a obra de redimir-se do carma causal ou sementes dos desejos passados, a alma aprisionada faz saltar a última das três rolhas da ignorância e, emergindo da derradeira ânfora do corpo causal, mistura-se ao Eterno.”

Do livro: Autobiografia de um Yogue Contemporâneo- Paramahansa Yogananda 

Um comentário:

  1. Intrigantes essas informações sobre os mundos além do plano físico. São muitas as indagações que temos em nossa mente. Estes textos nos esclarecem várias delas. Ajudam-nos a expandir nossas idéias e concepções.

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