sábado, 4 de janeiro de 2014

O Ego e A Queda

Todas as tradições ancestrais falam de uma época em que o ser humano estava conectado com o Universo: O Jardim do Éden, A Idade de Ouro, e outros nomes. Tudo era mais fácil e o ser humano estava ligado naturalmente com as energias do Universo. Falam também de um estranho evento ou período a partir qual a existência do ser humano foi sendo tingida por dificuldades de toda ordem desde o parto até a morte, passando por uma existência difícil de dores, sofrimento, doenças guerras, violência, e por aí afora. Ele está até hoje afastado da Fonte. É só olhar a História e constatar.
Como já dissemos em publicações anteriores todas as tradições autênticas se detiveram sobre esse fato, dando uma visão e explicação sobre o que teria acontecido. Castaneda dá a visão tolteca de "uma instalação forânea" colocada no centro da cabeça correspondente ao centro mental, Gurdjieff dá a visão oriental das tradições onde aprendeu, e fala de um órgão implantado no ser humano chamado "kundabuffer" que era temporário e ficou definitivo. O budismo e o hinduismo também tocam no assunto.
Tolle, como sempre, dá uma perspectiva iluminada, coerente e sóbria sobre esses temas e acrescenta  o fato de que essa fase é necessária para a evolução humana, que tudo tenha sido como foi. Esse texto é uma transcrição de uma palestra de Eckhart Tolle onde fica claro que estamos no limiar de um degrau previsto na evolução e que temos que passar por isso.
Vamos lá:

"O Universo cometeu um erro com o Ego?
...Sim...é... embora sobre um certa perspectiva pode parecer bastante insano, sob uma perspectiva mais elevada ele é normal e é parte do processo evolutivo das espécies. É um estágio na evolução.
Como estamos nos aproximando de um novo estágio na evolução, estamos começando a ver que o Ego esta perdendo completamente sua utilidade.
Mas ele tinha sua utilidade. E só agora começamos a ver que ele é insano, porque estamos nos aproximando de um novo estágio na evolução humana.
Antes ninguém podia ver que o ego era insano, exceto os muitos raros grandes mestres.
Buda disse: “Ele é uma ilusão” .Jesus disse: “Negue-se a si mesmo”;  o que significa: “Reconheça a irrealidade do ego”. Mas não muitas pessoas entenderam o que eles disseram.
Eles eram um tipo de precursores do próximo passo. Estavam apontando para isso antes de realmente surgir um verdadeiro despertar no planeta.
Então sob a nossa presente perspectiva, no fim  de um estágio evolucionário, o ego parece ser totalmente absurdo uma vez que vemos o que ele é e quanto estrago tem feito. Mas sob uma perspectiva mais elevada, ele é parte da evolução humana
e não poderia haver, por fim, nenhuma iluminação e nenhum despertar sem ele. Então, esta bem.
Você pode ver isso em sua própria vida, o como que você tem que passar através da ignorância em sua própria vida - eu não estou me referindo aqui à ignorância como falta de educação, mas a ignorância espiritual - sabendo essencialmente quem você é, fazendo tantos erros com base na identidade ilusória do ego. E agora você pode vê-lo e você tem que passar através disso.
Parece ter acontecido que a humanidade uma vez ainda não tinha ego. O que é conhecido na base de diferentes e não conectadas  culturas como o mito da “Idade de Ouro”. Era quando os homens viviam em harmonia um com os outros e com a natureza e que a vida era fácil.
Isso aponta para o fato que há muitos e muitos anos atrás o homem viveu um momento com um senso de unidade com a natureza, quando o ego ainda não tinha se desenvolvido.
A memória disso provavelmente depois sobreviveu como o mito da “Idade de Ouro”. No Velho Testamento aparece como o “Paraíso”, que é um aspecto do mito da “Idade do Ouro”, quando o vida era fácil.
E então algo aconteceu! A “Queda” ou como a queira chamar. E isso sem dúvida foi o início da habilidade humana de pensar. E foi como algo milagroso. 
O pensamento surgiu subitamente. Alguns antropólogos nos dizem - e eu acredito que eles estão certos - que quando o pensamento surgiu nos homens eles ficaram muito surpresos e acharam que Deus estava lhes falando em sua cabeça, o que foi parte do desenvolvimento da linguagem, e a linguagem começou a aparecer na cabeça das pessoas. Quem está falando...!
E quando o pensamento vinha então eles agiam...
Mate esse homem... os inimigos, a outra tribo, eles não eram humanos... E o que a voz esta me dizendo...
Então a voz na cabeça, a linguagem internalizada,
que eles pensavam ser milagrosa, pois tornou muitas coisas possíveis que não poderiam sê-lo  sem ela.
O conhecimento surgindo... você podia transmitir conhecimento. Toda civilização como a conhecemos não poderia acontecer sem isso.
Toda a forma de transmissão de conhecimento:
arquitetura, filosofia, matemática, todas as coisas conceituais surgindo. Coisas milagrosas, coisas estranhas.
No decorrer de um milênio a voz se tornou tão penetrante que tomou conta do senso de identidade das pessoas. 
Provavelmente por muito tempo antes do surgimento do pensamento os homens ainda tinham o senso natural de arraigamento na profundidade de seu ser,
o que foi, gradualmente, pelo milênio, deslocado, mais e mais, para dentro do modo de pensamento na cabeça.
Então todo o senso de identidade não estava mais arraigado no profundo sentido do ser, mas na voz dentro da cabeça. Mas isso tornou muita coisa possível.
Agora, o próximo passo na evolução é um retorno ao estado de pré-ego, mas com a dimensão adicional de se saber, conscientemente, de sua conexão como o UM.
No estado anterior essa conexão não era auto sabida, mas sim um estado natural de conexão.
Mas agora, quando for para além do ego, você intencionalmente retorna, conscientemente, ao UM.
Essa é a próxima etapa. Então não é um regressar.
De certo modo você volta para a “Idade do Ouro”, mas  agora com Conhecimento.
E isso é expresso na antiga parábola bíblica que fala no “Filho Pródigo”. 
O filho deixa a casa do pai, pede-lhe para lhe dar sua parte na herança e vai para um “país distante” onde esbanja todos os seus bens e se torna destituído.
Então recebe a mensagem de seu pai por um mensageiro: “Volte para casa, volte para mim”.
Então o filho começa a se lembrar de quem ele é e começa o caminho de volta para a “Casa do Pai”.
E a parábola diz que então ele é amado mais profundamente do que era.
Primeiro você O perdeu – não completamente, porque isso não é possível pois sem ele você não existiria –
e quando você volta a Ele, Lhe está ainda mais profundamente ligado. E a isso é aonde nós estamos destinados ir.
Então quando você percebe isso, você fica realmente agradecido ao ego porque ele é parte dessa jornada.
Sim, muito obrigado.
Parte do surgimento e da dominação do ego é a ilusão de se ser uma entidade separada, não conectada a outros humanos, ao Todo mesmo, à natureza ou, mais fundamentalmente, não conectada com a Fonte da Vida que algumas vezes chamamos Deus.
Essa é uma ilusão muito disseminada na maioria dos humanos que vivem agora no planeta atraídos na ilusão da separatividade.
Por exemplo, a humanidade pode dizer que ela existe no Universo.
É como você tivesse sido posto no Universo: aqui estou eu e lá está o resto do Universo e as outras pessoas. A verdade é sem dúvida que você não esta NO Universo, mas você É o Universo.
Você é uma parte intrínseca da totalidade. Você não esta nele, porque se você pensa que esta nele você esta separado. Então você é ele. Você não esta nele.
O Universo esta despertando e você é, sem dúvida, uma pequenina parte, mas uma parte essencial, desse despertar do Universo.
Isso significa que a consciência esta vindo a essa dimensão a partir do “sem tempo”, onde não há nenhuma evolução.
Esse “sem tempo” é o Ser e você não pode nem mesmo alcança-lo com palavras ou pensamentos.
O “sem tempo” então começa a brilhar dentro do mundo do tempo – nossa dimensão.
E a isso podemos chamar do despertar através das formas de vida, e as formas de vida se tornam mais ajustadas ao despertar do Universo.
Você é parte disso, e você é, e eu sou e, por fim, sem duvida, todo o Eu. Então o Eu está despertando, você é o Eu, então você esta despertando para fora da ilusão de ser uma entidade separada.
E sem dúvida essa ilusão surgiu porque você esta completamente identificado com o senso de “self” (si mesmo) elaborado pela mente, criando assim a ilusão da separatividade.
O simples fato de olhar outro ser humano sem a interferência do pensamento conceitual - somente um ver sem notar - remove a ilusão da separatividade entre você e o outro. É somente quando surge o julgamento sobre o outro é que o outro se torna “o outro”.
O que o ego mais gosta é de enfatizar e fazer mais forte o senso de separação do outro. E ele faz isso criticando, julgando, se queixando dos outros, dizendo quão maus eles são...
As pessoas fazem isso coletivamente. Quando uma tribo fala de outra tribo fala deles como não sendo humanos mas demônios. E a outra tribo faz o mesmo com essa tribo. As nações fazem isso também.
Talvez um pouco menos agora, mas se você olhar para a primeira metade do sec. XX com as duas guerras mundiais, foi até politicamente aceitável fazer de outras nações demônios: japoneses fizeram dos americanos demônios....
Eu não estou dizendo que a profundidade da inconsciência é maior em certas nações que em outras. O que é sem dúvida verdade. Mas demonizar o outro é sem dúvida ego, ego coletivo. E a propaganda ...
Podemos ter isso no nível pessoal e no nível coletivo.
O ego gosta de enfatizar a separação do outro e isso tudo é parte da ilusão.
Então, voltando a uma coisa muito prática, olhar um outro ser humano sem a interferência do pensamento
é uma coisa bela e uma maravilhosa prática espiritual até que não venha a ser  mais uma prática espiritual,
mas um modo natural de interação com outro ser humano sem a interferência de rotular, julgar , sem o que eu quero de você, sem o que você pode fazer pra mim... Tão somente olhar, dar atenção... Não há mais o senso de separatividade.
Isso é o que o Dalai Lama chama de “gentileza” que é em realidade uma gentileza amorosa que desponta subitamente. Porque para a gentileza amorosa estar lá a ilusão de se ser uma totalmente separada entidade precisa ir. Porque a totalmente separada entidade não pode ter gentileza amorosa.
Ela pode até tentar ter a gentileza amorosa, mas não por muito tempo.
Então essa é a beleza disso.
Então você é uma parte essencial do Universo despertando. Então quando eu desperto o Universo ao meu redor esta também despertando e tudo em que estou envolvida também.
Sim, sim.
Não somente as mudanças em seu redor, mas também porque todos os seres humanos estão em conexão profunda, tal que uma transformação de consciência num ser humano afeta os outros, mesmo que não tenham conexão direta com você.
Porque isso é parte da consciência coletiva da humanidade.
Obrigado!

Transcrito por Paulo Azambuja, de palestra de Eckhart Tolle



2 comentários:

  1. Muito bom este texto... me surpreende que ninguém tenha postado nenhum comentário... seguramente porque ainda não despertaram.... Obrigado, Mario Jorge

    ResponderExcluir