domingo, 27 de janeiro de 2013

Cura Energética


Há tempos atrás editamos um vídeo de Gregg Braden neste blog, com uma experiência tocante de cura energética num hospital chinês que harmoniza a ciência ocidental com a oriental de uma forma tocante e aparentemente milagrosa. Na época não recebemos muitos comentários. Então decidimos publicar a transcrição das legendas originais do vídeo para o português, gentilmente cedida por uma amiga portuguesa de Lisboa, como uma forma de lembrar e motivar as pessoas a assistirem esse vídeo no blog ou no YouTube. É imperdível. Vamos lá:

"Quando nós temos um sentimento no nosso coração, nós estamos criando ondas eletromagnéticas dentro do nosso corpo, que se estendem para além do corpo, para o mundo que nos rodeia. E o interessante nisto é que a pesquisa mostra que essas ondas se estendem, não só um metro ou dois, mas muitos quilômetros para além de onde o nosso coração fisicamente reside.
Então agora, dentro desta sala... esta sala está tendo um efeito na Itália para além deste edifício! Para além destas paredes! E verão que quando muitas pessoas se juntam com um único sentimento, muitos corações se reúnem e expressam um único sentimento, isso pode mudar o mundo e vocês vão ver o quanto. Mas isto é um "milagre" só até nós entendermos a ciência. A partir daí deixa de ser um milagre e passa a ser uma Tecnologia. Uma poderosa tecnologia interna.
Então o filme... este filme foi feito num hospital “sem medicina” em Pequim, China. Nada de medicina nesse hospital. (Eu gosto desse hospital!) Este filme mostra uma mulher a quem lhe foi diagnosticado um câncer na bexiga. Um tumor com 7,6 cm de diâmetro na sua bexiga. E médicos ocidentais dizem que nada podem fazer. Eles dizem: Nós não a podemos ajudar.  Então ela foi para uma clínica na China, onde eles pensam de modo diferente, e eles aplicam a tecnologia da sabedoria antiga, que é a mesma da ciência que ainda agora vimos.
Então o que vocês irão ver será o seguinte: estão lá três terapeutas...três pessoas treinadas para sentirem justamente o sentimento certo, um preciso e correto sentimento nos seus corações. Eles criam o sentimento como se a mulher já estivesse curada. Nós agora vamos olhar dentro do corpo dela, através de um ultra-som. Através de ultra-sons, nós podemos olhar dentro do corpo dela, e podemos ver o seu câncer desaparecer em três minutos. Na presença da “linguagem que cura”  Isto está fazendo sentido? Estão acompanhando? Faz sentido? Gostariam de ver? Ok. Ainda bem! Então o que irão ver, é a mulher, está acordada, ela está consciente, ela não está anestesiada, ela acredita no processo, ela acredita no que está acontecendo. E estão lá três terapeutas, que estão treinados para criarem o sentimento no corpo deles, como se a mulher já estivesse curada. E no monitor do computador, nós iremos ver duas imagens: uma imagem é anterior ao tratamento e a outra imagem é em tempo efetivo, tempo real, para que possamos ver a cura acontecendo. E enquanto a cura está acontecendo, vocês ouvirão o canto dos praticantes. Uma palavra. E quero que saibam, que não há nenhuma magia na palavra. Podia ser uma palavra qualquer. Mas esta é a palavra que eles escolheram, que os reforça, que lhes dá o sentimento. Então eles combinaram, que esta seria a palavra, que iria fazê-los criar o sentimento. Mas poderia ser outra palavra qualquer (quero que saibam isso). Expliquei isto agora, e voltarei a explicar novamente à medida que formos avançando no filme.
Durante oito anos o Centro foi bem sucedido no tratamento de mais de 180 casos de doença incluindo o câncer da bexiga. Ela está acordada está consciente. Estão três terapeutas atrás dela. E aqui está o tumor, mesmo aqui. O preto é o vazio dentro da sua bexiga. Este é o tumor. E eles tiraram um instantâneo para referência. Um instantâneo agora.(lado esquerdo) Este é o tempo real (lado direito do monitor) Este é agora a referência. Este é o tempo efetivo. Ok. São 2 minutos e 40 segundos. 2 minutos e 40 segundos. Isto aqui do lado esquerdo é a referência do tumor. Do lado direito, o tumor desapareceu.
No pensamento ocidental, a ciência moderna diz que isto é um milagre. Porque eles não compreendem o campo que conecta tudo. E eles não entendem a linguagem que comunica através desses campos. A partir do momento que a entendemos, isto deixa de ser um milagre. Isto é uma tecnologia. Ouçam o canto... "oah-sa sa sa sa..." A palavra que eles estão usando, traduzida significa "já aconteceu", "já está feito". Nas sua mentes e nos seus corações, eles estão vindo do local onde a cura já aconteceu. Não é que vá acontecer... nem que está prestes a acontecer... ou que é um longo e lento acontecimento... mas JÁ ACONTECEU! E isto é importante, porque o campo energético, que estamos prestes a discutir, é um espelho. Um espelho que reflete os nossos sentimentos acerca do que estamos experienciando no momento. Então, se a nossa crença que a cura "está prestes a acontecer" ou que "qualquer dia" teremos uma relação perfeita, ou que a nossa riqueza no banco acontecerá "qualquer dia", o campo ficará refletindo "qualquer dia", "qualquer dia", "qualquer dia"... porque é uma incógnita, não há uma saída, não há uma conclusão.
Isto é um modo muito subtil e poderoso de compreendermos como este campo funciona. Este campo que iremos discutir agora: a Matrix Divina, é um campo que espelha o "agora". Não no futuro, não no passado, mas ESTE momento. Então o que escolhermos para experimentar na nossa vida temos em primeiro lugar que o sentir no coração, como se já tivesse acontecido. E isto é uma coisa que acontece a todo o instante, nesta parte do Mundo. Não é só durante uma cura. Eles fazem isto o tempo todo. Mas quando a ciência ocidental vê isto, isto deixa de fazer sentido, porque a ciência ocidental diz que as nossas crenças, os nossos sentimentos e as nossas emoções não têm qualquer efeito no mundo exterior aos nossos corpos.
Mas nós sabemos que isso não é verdade. As experiências que mostramos antes do intervalo, as três experiências... o que elas mostraram é que o DNA humano tem efeito direto no nosso mundo físico; Segundo: eles mostraram que as emoções humanas mudam o DNA, e que por sua vez mudam o mundo físico. E está acontecendo porque há um campo que está ligando tudo. A Experiência sugere que a Matrix de Max Planck, esta Matrix, é o conduto.
A idéia de que tudo está conectado, é uma idéia muito antiga. Até na ciência, em finais de 1800, se acreditava que havia uma invisível teia de energia que conectava tudo. Isto nos anos 1800! Os cientistas estavam muito envolvidos neste debate, extremamente controverso, sobre a existência ou não deste campo. Houve uma experiência que se tornou muito famosa, que foi conduzida para determinar se o campo, chamado de campo etérico, realmente existia.
No ano 1887, a famosa experiência de Michelson-Marley foi concebida para desvendar de uma vez por todas se o campo etérico está aqui, ou não. Sim ou não? O campo existe ou não existe? Na minha opinião foi uma boa experiência, contudo, foi mal interpretada. Por uma centena de anos, a nossa ciência tem-se baseado numa crença que está incorreta! Agora (isto é muito interessante), 100 anos depois, em 1986 a força aérea dos Estados Unidos repetiu aquela experiência.
Em 1986 a força aérea dos Estados Unidos replicou a experiência de Michelson e Marley, e publicaram o resultado na prestigiosa revista Nature, a revista científica Nature. O que eles descobriram foi isto: Repetiram a experiência com bom equipamento, bem mais avançado. A conclusão foi que o campo existe! Eles descobriram que o campo está efetivamente lá! Isto foi publicado em Agosto 1986, revista Nature - volume 322. Eles disseram: “ah... o campo está lá!!!” E não só o campo etérico está lá, como tem as medidas exatas que Michelson e Marley previram 100 anos antes. Eles só não tinham o equipamento para desvendar isto. Agora pergunto - porque é que nós não temos conhecimento disto? Isto deveria ter sido capa em todas as grandes revistas e jornais. Isto deveria ter sido manchete no noticiário da CNN ou do Sky! Mas isto muda tudo para os cientistas, pois todos os manuais dizem que o campo etérico não está lá. Carreiras inteiras estão baseadas na inexistência deste campo. E agora o campo está lá!!

domingo, 20 de janeiro de 2013

Nossa Situação - 1

As pessoas acham que o maior problema do ser humano no planeta é circunstancial: são as guerras, os políticos, a violência, a superpopulação, a camada de ozônio, o lixo, a contaminação, as mudanças climáticas, a água, as erupções solares, e por aí a fora. Tudo coisa desse mundo externo. Sei não... Parece que não é bem assim. É bem mais para dentro. Nem é no corpo, na matéria física. É um defeito de fabricação na estrutura não física, na energia. Os antigos homens de conhecimento tinham uma visão da coisa, mas ninguém gostava muito de falar no assunto, como se fosse um inexplicável erro da Criação.
Os mestres do quarto caminho, os videntes toltecasos mestres budistas, e muitas outras tradições autênticas sempre enfatizaram o mau funcionamento, o método, o porquê, e os efeitos maléficos desse sono do ser humano, e todos concordaram na necessidade de escapar desse sutil, disfarçadamente inocente e prosaico, mas desastroso defeito de fabricação. Vamos lá:

"Pegue um relógio e olhe para o ponteiro grande tentando manter a consciência de si próprio e concentrar-se neste pensamento: "Eu sou Fulano e estou aqui neste momento." Tente pensar apenas nisto, siga os movimentos do ponteiro grande mantendo a própria consciência do seu nome, da sua existência e do local onde se encontra." 

Ao princípio, isto parecia simples e até um pouco ridículo. Evidentemente que posso manter presente no espírito a ideia de que me chamo Fulano e de que estou aqui, neste momento a ver deslocar-se muito lentamente o ponteiro grande do meu relógio. Depois percebo que esta ideia não se mantém muito tempo imóvel em mim, que começa a tomar mil formas e a correr em todos os sentidos, como os objetos que Salvador Dali pintava, transformados em lama movediça. Mas tenho ainda de reconhecer que não me pedem que mantenha viva e fixa uma ideia, mas uma percepção. Não me pedem apenas que pense que existo, mas que saiba, que tenha desse fato um conhecimento absoluto. Ora eu sinto que isso é possível e que poderia produzir-se em mim, trazendo-me qualquer coisa de novo e importante. Descubro na experiência que mil pensamentos ou sombras de pensamentos, mil sensações, imagens e associações de ideias perfeitamente estranhas ao objeto do meu esforço me assaltam sem cessar e me desviam do esforço que faço. Por vezes é o ponteiro que prende toda a minha atenção e, ao olhá-lo, perco-me de vista. Por vezes é o meu corpo, uma crispação da perna, um pequeno movimento na barriga que me faz deixar o ponteiro e ao mesmo tempo a minha própria pessoa. Por vezes ainda creio ter feito parar o meu pequeno cinema interior, eliminado o mundo exterior, mas apercebo-me então que acabo de mergulhar numa espécie de sono do qual o ponteiro desapareceu, do qual eu próprio desapareci e durante o qual as imagens continuam a sobrepor-se umas às outras, assim como as sensações, as ideias, como que atrás de um véu, como num sonho que se desbobina por sua conta enquanto eu durmo. Por vezes, finalmente, por uma fração de segundo, sou eu próprio a olhar esse ponteiro, sou totalmente, completamente. Mas, na mesma fração de segundo, felicito-me por o ter conseguido; se assim posso dizer, o meu espírito aplaude, e imediatamente a minha inteligência, apossando-se da vitória para dela se congratular, compromete-a irremediavelmente. Finalmente despeitado mas sobretudo esgotado, fujo à experiência com precipitação, pois parece-me que acabo de viver os minutos mais difíceis da minha existência, que acabo de ser privado de ar até ao limite da resistência. Como aquilo me pareceu longo! Ora não se passaram mais de dois minutos e, em dois minutos, só tive uma verdadeira percepção de mim próprio durante três ou quatro súbitas e imperceptíveis revelações. Eu devia portanto admitir que nós quase nunca estamos conscientes de nós próprios e que quase nunca temos consciência da dificuldade de ser consciente. O estado de consciência, diziam-nos, é antes de mais o estado do homem que sabe enfim que não está quase nunca consciente e que, portanto, aprende pouco a pouco quais são os obstáculos que se opõem, nele próprio, aos esforços que faz. À luz daquele pequenino exercício sabem agora que um homem pode ler uma obra, por exemplo, aprovar, aborrecer-se, protestar ou entusiasmar-se, sem ter a mínima consciência do fato, e portanto sem que nada da leitura se dirija verdadeiramente a ele próprio. A sua leitura é um sonho acrescentado aos seus próprios sonhos, um desbobinamento no perpétuo desbobinar do inconsciente. Pois a nossa verdadeira consciência pode estar e está quase sempre completamente ausente de tudo o que fazemos, pensamos, queremos, imaginamos
Compreendo então que há muito pouca diferença entre o estado em que estamos durante o sono e aquele em que nos encontramos no estado de vigília vulgar, quando falamos, agimos, etc. Os nossos sonhos tornaram-se invisíveis, como as estrelas quando o dia nasce, mas continuam presentes e nós continuamos a viver sob a sua influência. Nós apenas adquirimos, após o despertar, uma atitude crítica para com as nossas próprias sensações, pensamentos mais ordenados, ações mais disciplinadas, maior vivacidade de impressão, de sentimentos, de desejos, mas continuamos na não-consciência. Não se trata do verdadeiro despertar, mas do "sono desperto", e é nesse estado de "sono desperto" que se desenrola toda a nossa vida. Ensinavam-nos que era possível despertarmos completamente, adquirir o estado de consciência de nós próprios. Nesse estado, como o entrevi durante o exercício com o relógio, era-me possível ter, a respeito do funcionamento do meu pensamento, do desenrolar das imagens, ideias e sensações, dos sentimentos e dos desejos, um conhecimento objetivo. Nesse estado, eu podia tentar e desenvolver um esforço real para examinar, suspender de tempos a tempos e alterar esse desenrolar. E esse próprio esforço, diziam-me, criava em mim uma certa subsistência. Esse próprio esforço não chegava aqui ou ali. Bastava-lhe ser para que se criasse e acumulasse em mim a própria subsistência do meu ser. Era-me dito que poderia então, possuindo um ser fixo, alcançar a "consciência objetiva" e ter assim, não apenas de mim próprio, mas dos outros homens, das coisas e do Mundo inteiro, um conhecimento totalmente objetivo, um conhecimento absoluto. 

Monsieur Gurdjieff, Paris, 1954 - por Luis Pauwels


domingo, 13 de janeiro de 2013

Viver e Morrer

Sogyal Rinpoche - autor do Livro Tibetano do Viver e do Morrer
Por que não realizamos em vida as práticas específicas que nos preparam para o momento da morte? O que mais temos medo na hora de morrer? O que nos conforta? E qual a melhor maneira de ajudar aqueles que estão morrendo? Aqui, Sogyal Rinpoche responde a essas e outras questões numa entrevista para a revista Bodisatva feita durante a sua estada no Brasil em novembro de 2010.
Bodisatva:
Por que temos tanto medo da morte?
Sogyal Rinpoche:
Porque por trás do medo da morte está o medo de encarar a si mesmo. O instante da morte é o momento da verdade. Ela é como um espelho, no qual o verdadeiro sentido da vida está refletido. Na tradição monástica cristã há uma expressão em latim, memento mori, que significa lembre-se da morte, ou mais especificamente, lembre-se de que vai morrer. Se você se lembrar da morte, vai entender o que é a vida. A morte é a fundação e o verdadeiro coração do caminho espiritual. Se você se recordar de que vai morrer, vai se lembrar da preciosidade da vida – e essa verdade está presente em todas as grandes tradições: budismo, cristianismo, hinduísmo… Pensar na morte é o cerne do caminho espiritual. Milarepa, o grande santo e poeta que inspirou milhões de seres, disse: Aterrorizado pela morte, refugiei-me nas montanhas, meditei muitas e muitas vezes sobre a incerteza da hora da morte. Mas ao conquistar a fortaleza da natureza da mente infinita e imortal, todo o medo acabou para sempre. É por isso que o meu livro fala tanto dessa contemplação da hora da morte. Existe também uma citação de Maomé. Quando perguntaram a ele como você faz para polir o coração, como você se livra da ferrugem, das aparas do coração? Maomé respondeu: Pela lembrança de Deus e por muito pensar na morte. De fato, pensar na morte é muito próximo de se pensar em Deus, porque a morte traz para você o que Deus é. Mas infelizmente, na vida contemporânea as pessoas não veem a vida e a morte como um todo. Com isso ficam muito apegadas à vida e rejeitam e renegam a morte. Hoje em dia as pessoas também pensam na morte como um tipo de derrota ou de perda. Mas do ponto de vista espiritual, a morte não é uma tragédia a ser temida, mas uma oportunidade preciosa para a transformação.
Bodisatva:
Só que nos esquecemos de lembrar da morte durante a vida, estamos ocupados demais para isso.
Sogyal Rinpoche:
Sim, nos mantemos muito atarefados o tempo todo: é uma preguiça ativa (risos). A morte, por sua vez, nos diz que é preciso parar de nos enganar – quando você acertar as contas com a morte você acerta as contas com sua vida. A morte é o sinônimo da vida, o seu prolongamento; na verdade, ela é a parte mais importante da existência, por isso é que ela acontece no final! (risos). É a morte que vai nos apresentar a conta. Tem uma expressão em francês que diz: Agora, a dolorosa, por favor! (risos). Mas com frequência, só começamos a pensar na morte quando estamos para morrer. Não é um pouco tarde demais? Os ensinamentos nos mostram que deveríamos nos preparar para morrer agora, quando estamos bem, com estado mental feliz, principalmente nos momentos em que você está inspirado, predisposto à introspecção, quando começamos a ver a vida e a morte de uma maneira mais profunda.
Bodisatva:
O que dizer ou fazer quando se está ao lado de uma pessoa que vai morrer?
Sogyal rinpoche:
Sempre que você estiver com uma pessoa que está morrendo, enfatize o que ela realizou de bom durante a vida, o que ela fez bem. Ajude-a a se sentir tão construtiva e feliz quanto possível com relação à existência dela. Concentre- se nas suas virtudes e não nos seus defeitos. A pessoa que está morrendo fica muito vulnerável à culpa, ao remorso e à depressão. Permita que ela expresse isso livremente, ouça-a e escute o que ela diz. Mas, ao mesmo tempo, se o momento for apropriado, não deixe de lembrá-la da sua natureza búdica e encorajá-la a repousar na natureza da mente. Em especial, lembre à pessoa que a dor e o sofrimento não são tudo o que ela é. Encontre a maneira mais hábil e sensível de inspirá- la e dar-lhe esperança, ao invés de enfatizar seus erros. Assim ela poderá morrer num estado mental mais pacífico.
Bodisatva:
Qual a melhor maneira de estar ao lado de quem vai morrer?
Sogyal Rinpoche:
Acho muito importante dizer isso: quando você ajudar alguém nessa condição, o mais importante não é o que você diz, mas o que você é, a sua presença. E a sua presença é especialmente importante se você for um praticante que tem a realização da natureza da mente e puder permanecer nesse estado de realização na presença daquele que está morrendo. Isso é extremamente poderoso. Vejo isso por mim mesmo: nessa presença, o amor que é sustentado pela natureza da mente é o amor apoiado pelos budas. Você se torna como um embaixador deles. O amor inspirado pela natureza da mente é tão poderoso que pode eliminar o medo do desconhecido. Se você puder introduzir essa paz – sentindo muita paz, vendo a natureza da mente se manifestando de uma forma muito poderosa, como uma radiação quente – se você conseguir isso será extraordinariamente poderoso e benéfico.
Bodisatva:
O que mais pode contribuir para que a pessoa sinta um maior conforto psicológico e espiritual nesse momento?
Sogyal Rinpoche:
A pessoa que está morrendo precisa ter a coragem de perceber que esse é o tempo da reconciliação com amigos e parentes, e assim eliminar do coração todo ódio e ressentimento. Nem todos creem numa religião formal, mas acho que quase todos acreditam no perdão, e você pode ser de incomensurável utilidade para a pessoa que vai morrer ajudando-a a ver a aproximação da morte como o tempo perfeito para reconciliação e a avaliação de uma vida. Todas as religiões dão ênfase ao poder do perdão, que nunca é tão necessário e tão profundamente sentido como no momento da morte. Por meio do perdoar e do ser perdoado, nos purificamos da escuridão gerada por aquilo que fizemos e nos preparamos para a jornada através da morte. Com base na sua prática espiritual, você pode transformar o ambiente e inspirar sentimentos sagrados como amor, compaixão e devoção na mente da pessoa que está morrendo, no momento da sua morte.
Bodisatva:
E como ajudar uma pessoa assustada que não tem nenhuma crença espiritual?
Sogyal Rinpoche:
Um conselho simples é: olhe nos seus olhos com amor e confiança, seja claro, invoque a presença dos Budas ou de Cristo e dê-lhes o ensinamento essencial porque no momento da morte eles vão estar abertos a isso, particularmente se você for genuíno e autêntico e não estiver pregando. Outra coisa importante quando formos ajudar alguém que está morrendo é dar o nosso amor, com todo o coração, sem quaisquer condições, tão livres quanto possível de apego, sem medo, destemidamente, amar.
Bodisatva:
E se a pessoa não quiser falar sobre a morte ou não aceitar que está morrendo?
Sogyal Rinpoche:
Você ainda pode amá-la, dizer coisas amorosas sem mencionar a morte. Se entramos em contato com a natureza da nossa mente, se a estabilizamos através da nossa prática espiritual e a integramos às nossas vidas, então o amor que temos para dar só pode ser profundo, porque vem de uma fonte mais profunda, do nosso ser mais interno, que é o coração da nossa natureza iluminada. Esse coração tem um poder especial de libertar a nós mesmos ou a alguém que esteja morrendo. Esse tipo de amor, que é o amor além de todo apego, é como o amor divino de que se fala tanto no cristianismo quanto no hinduísmo; é o amor de todos os budas. Nesse estado sem fabricação, mesmo sem pensar, podemos sentir a presença de Buda sem esforço. É como se tivéssemos nos tornado o representante dele, com nosso amor apoiado pelo seu amor e infundido com a sua bênção e compaixão. O amor que brota verdadeiramente da natureza da mente é tão abençoado que tem o poder de dissipar o medo do desconhecido, de dar refúgio à ansiedade e de dar serenidade, paz e, além disso, trazer inspiração na morte e além dela. E descobriremos por nós mesmos que quanto mais conseguirmos purificar nossa prática espiritual, mais natural e mais eficaz será a ajuda espiritual que daremos para os que estão necessitados, porque o modo como nós somos, o nosso ser, a nossa presença é muito mais importante do que o que dizemos ou fazemos. E quando você ajuda desta forma, é extraordinário, não só para a pessoa que está morrendo, mas também para a família.
Bodisatva:
Existe algum treinamento para quem quiser se aperfeiçoar nessa prática?
Sogyal Rinpoche:
Sim. Você pode desenvolver um treinamento chamado cuidado espiritual com elementos emocionais e práticos. São empregados elementos da espiritualidade, mas sempre relacionado à religião da pessoa. Até agora já treinamos cerca de 30 mil pessoas, entre enfermeiros e médicos, sobre como dar esse cuidado espiritual no momento da morte.
Bodisatva:
Além de estar na natureza da mente, para quem tem essa realização, o que mais pode ser feito nesse momento? Como podemos nós mesmos nos preparar para morrer e qual a maneira mais simples de se realizar o phowa?
Sogyal Rinpoche:
Outro ponto essencial é unir a sua mente com a mente iluminada dos budas – é a prática mais importante nesse momento, e é a que eu vou expor agora. Phowa, em tibetano, quer dizer “transferência da consciência”. A prática do phowa é mais poderosa e valiosa no momento da morte de todas que eu já encontrei. Eu vejo um grande número de pessoas praticando-a com entusiasmo durante a vida. E gostaria de enfatizar que qualquer um pode fazer essa prática. Ela é simples, mas é a prática mais essencial que podemos fazer para nos prepararmos para nossa própria morte, e é também a prática principal que eu ensino aos meus alunos para ajudarem os seus amigos e parentes que estejam morrendo.
Bodisatva:
O senhor poderia descrevê-la?
Sogyal Rinpoche:
Sim. No céu à sua frente, você invoca a corporificação de qualquer verdade em que você crê sob a forma de uma luz radiante. Escolha qualquer ser divino ou santo de quem você se sinta próximo: para os cristãos pode ser Deus ou Cristo, para os budistas pode ser Amitaba, que é o Buda de luz ilimitada e a deidade mais associada com o momento da morte. Se você não se sente conectado com nenhuma figura em especial, simplesmente imagine uma forma em pura luz dourada no céu diante de você. O ponto importante é que considere que o ser que você está visualizando ou que sente presente, seja a corporificação da verdade, sabedoria e da compaixão de todos os budas, mestres, santos e seres iluminados. Não se preocupe se você não conseguir visualizá- los claramente; apenas sinta-os em seu coração, preencha o coração com a sua presença e tenha confiança de que eles estão ali. Na segunda parte dessa prática, foque sua mente, seu coração e sua alma nessa presença que você invocou. Reze a ela que por meio de suas bênçãos, graça e orientação, por meio do poder da luz que flui dela para você, que todo o carma negativo dos seus pecados, emoções destrutivas e bloqueios sejam purificados e removidos. Peça para ser perdoado por todo o dano que possa ter pensado ou causado. E que possa realizar essa prática profunda de phowa, da transferência de consciência, e que possa morrer de uma forma boa e pacífica. E por meio do triunfo de sua morte, que você seja capaz de beneficiar todos os seres, vivos ou mortos. Essa é a oração. Na terceira parte, você imagina que a presença de luz que você invocou ficou tão comovida com sua oração sincera que responderá com um sorriso amoroso e emanará compaixão e amor na forma de raios de luz que saem do seu coração. À medida que esses raios de luz tocam e penetram você, eles eliminam todo o seu carma negativo, as suas emoções negativas que são a causa do seu sofrimento. Você vê e sente que está completamente imerso em luz e amor. Em quarto lugar, você sente nesse momento que está completamente purificado e curado pela luz que fluiu daquela presença. Considere agora que seu próprio corpo, criado pelo carma, se dissolve em luz. Esse corpo de luz que você agora é voa até o céu e se funde inseparavelmente com a presença bem aventurada daquela luz. Permaneça nesse estado de união com a presença pelo maior tempo possível.
Bodisatva:
Como podemos fazer o phowa para quem está morrendo?
Sogyal Rinpoche:
O princípio e a sequência dessa prática para ajudar alguém que morre são exatamente os mesmos. A única diferença é que você visualiza o Buda ou o ser espiritual acima da cabeça de quem está morrendo. Você imagina que raios de luz emanam em direção a essa pessoa e que purificam todo o ser dela. Aí a pessoa se dissolve em luz e se funde nessa presença espiritual. Você pode fazer essa prática durante a doença de um ente querido e, particularmente mais importante, quando a pessoa estiver dando o seu último suspiro, no momento exato da morte ou imediatamente após a respiração ter parado, antes que alguém toque o corpo, antes dele ser tocado ou perturbado de qualquer forma. Se a pessoa que está morrendo sabe que você está fazendo essa prática para ela e sabe qual é a prática, isso é uma grande fonte de inspiração e de conforto.
Bodisatva:
E o que não deve ser feito quando nos preparamos para a morte?
Sogyal Rinpoche:
O grande mestre Dzogchen Dodrubchen Jigme Tenpe Nyima, que foi mestre do meu mestre, deu o seguinte ensinamento: “Não se sinta nervoso ou apreensivo a respeito da morte, ao contrário, tente elevar o seu espírito e cultivar um sentimento de clara alegria trazendo à mente todas as coisas positivas e virtuosas que você fez no passado. E sem sentir qualquer traço de orgulho ou arrogância, celebre as suas realizações uma por uma”. O principal é o seguinte: no momento da morte, abra mão de apego e aversão. Mantenha coração e mente puros. E se você é um praticante espiritual, se reconheceu a natureza da mente e praticou em sua vida, no momento da morte, lembre- se da luminosidade básica e da clara luz surgindo. Na verdade, quando um grande praticante morre é isso que se diz a ele. Para os meus alunos que estão no momento da morte, é esse o conselho que eu dou: lembrem- se da natureza da mente, da clara luz. Fiz um dvd sobre isso, que também pode ser mostrado para o praticante que está próximo do processo de morrer. É como se eu estivesse ao seu lado, presente. Pensem em mim e eu estarei ali.


Sogyal Rinpoche – O mestre que nos ensina a viver e a morrer - Bodisatva 
 Por Liane Alves



sábado, 5 de janeiro de 2013

Quem escreveu as Bíblias?

Nós que vivemos no século 21 temos o raro privilégio de discutir livremente sobre a autenticidade da Bíblia e continuarmos vivos. Na Europa Ocidental cristã há alguns séculos atrás essa discussão era impensável. Havia risco de morte. 
As perguntas são muitas: há uma só Bíblia ou várias? Quem as escreveu? Quem decidiu quais delas eram autênticas? Eles tinham autoridade para isso? Dada por quem? As variantes religiosas do próprio Cristianismo, sem falar de outras religiões, concordam ou discordam sobre a autenticidade dos textos bíblicos? A história, a arqueologia e os ramos da ciência em geral confirmam cientificamente as afirmações dos religiosos? Houve inspiração divina nos textos? Quem atesta isso? Aliás quem atesta a existência da própria divindade? Os fiéis? Qual é o conceito da autenticidade? Porque as religiões brigam tanto entre si, se a história do nascimento, origem e percurso das vidas dos chamados "filhos de deus" tem tanta coisa em comum? Há na História das religiões da humanidade pelo menos 15 desses "filhos de Deus" declarados, além de Cristo, com histórias quase idênticas, discutindo o privilégio de ser o único e verdadeiro "salvador da Humanidade". A impressão que dá é que existe um arquétipo do salvador que vive nas profundezas da alma humana e então cada religião de uma forma apegada e egoista elege o seu salvador determinando que ele é o único e o verdadeiro. Isso contribui para a discórdia entre elas.
Aliás a religião é um assunto espinhoso que curiosamente em pleno século 21 continua aceso, gerando controvérsia, mortes e guerras ao invés de acolhimento, compaixão, generosidade e o amor que apregoam . Cerca de 80% ou mais das guerras da história humana são de origem religiosa. No segundo momento após a criação de uma religião, as facções formadas entre os fiéis começam a se romper as cabeças. Cânones rígidos provocam mortes até por causa da forma diferente com que se pronuncia o nome do Deus entre os fiéis. 
Mas vamos ao texto recente de Aldo Pereira, 80 anos, jornalista da Folha de São Paulo, lançando algumas luzes sobre o assunto da inspiração divina dos textos bíblicos. 

“Sempre se aponta a inspiração divina dos textos. Aí começa a dificuldade. Há contradições, expurgos posteriores de textos e discórdia sobre autenticidade. 
Judeus devotos talvez respondam: quem escreveu a Bíblia foram antigos hebreus inspirados por Deus ou de quem receberam revelações em encontros pessoais. Cristãos devotos acrescentariam que homens do credo judaico reformado por Jesus também contribuíram com outros textos inspirados por Deus. 
Elemento comum nessas respostas é a ideia de inspiração divina dos textos bíblicos. Dela deriva toda a autoridade sacra da Bíblia. Bíblias cristãs explicitam na segunda Epístola a Timóteo 3:16: "Toda escritura é inspirada por Deus (...)". 
Aí começam as dificuldades. 
Alguns arqueólogos, paleógrafos e outros especialistas pigarreiam: Paulo deve ter escrito, sim, sete das treze cartas atribuídas a ele, mas três das outras seis, hum..., são de autoria duvidosa e as demais são decididamente não paulinas, inclusive as duas cartas a Timóteo. 
Pareceres como esse indicam ceticismo quanto à autoria dos textos compilados como "livros" da Bíblia. 
Em 2 Macabeus 2:13-14, se lê que Neemias (século 5 a.C) e Judas Macabeus (século 2 a.C.) compilaram textos presumivelmente bíblicos. Mas até hoje a arqueologia não recuperou nenhum texto original desses: apenas cópias de cópias, todas posteriores ao século 15ª a.C. Datação de carbono atesta que os mais antigos dos manuscritos do mar Morto, descobertos de 1947a 1956, são cópias escritas no século 5 a.C. 
Nem todo o material do Velho Testamento é originalmente hebraico. A narrativa do dilúvio, por exemplo, reconta episódio da epopéia de Gilgamesh, poema sumério escrito séculos antes de haver menção histórica a hebreus. 
Em Gênesis 2: 7 -22, Deus cria o homem depois de transcorridos os sete dias da criação. Em seguida, cria o Éden e seus rios, ouro e pedras preciosas; só então anestesia o homem para lhe efetuar ressecção duma costela e com esta criar a mulher. 
Mas no capítulo anterior, 1:27, Deus cria do pó o homem e a mulher, juntos, no sexto dia da criação. Ocorre pois, nos dois capítulos, clara colagem de documentos diferentes; as duas narrativas provêm de fontes distintas. Outra evidência de montagem são abundantes redundâncias e contradições, quer no mesmo livro, quer de um livro para outro. 
A Bíblia cristã já foi bem diferente. Antes do século 13, nenhum livro dela se dividia em capítulos como hoje; a numeração dos versículos é invenção do século 16. Ao longo da era cristã, a Bíblia passou por acréscimos de livros e expurgo de outros, tidos como "apócrifos". Este eufemismo conota faltar ao texto a tal inspiração divina. Bíblias protestantes excluem como apócrifos treze livros da Bíblia católica, inclusive os dois Macabeus. 
Autenticar inspiração de cada livro abrangeu discórdia furiosa, tortura, hereges à fogueira, até guerras, disputas que remontam a indicações aceitas ou rejeitadas, por votação, em sínodos e concílios (assembleias de bispos). De cada um deles resultava um cânone, coleção de material atestado como autêntico; isto é, de inspiração divina. 
Bispos dos primeiros séculos da era cristã montaram cânones segundo arbítrios pessoais, mas decisões colegiadas subsequentes reformariam tais seleções. Teólogos como o próprio Martinho Lutero (1483- 1546) teriam preferido excluir, se pudessem, livros como Cântico dos Cânticos, Ester, várias epístolas e o Apocalipse. "A história de Jonas é tão monstruosa a ponto de ser absolutamente incrível", escreveu Lutero em "Colóquios Familiares". 
Hoje, católicos, protestantes, cristãos ortodoxos e judeus creem na inspiração divina do Pentateuco (ou Torá). Quanto aos demais livros, não há consenso.”