domingo, 14 de outubro de 2012

Busca Interior e Política


O Padre Eterno também vota (rsrs)
O título parece uma contradição: busca interior e política. Qual é a forma de conciliar a ação normal e corriqueira no mundo exterior, e a busca interior? Conciliar o Espirito e a chamada "concretude" do mundo? 
Há um grande leque de formas de se viver no mundo, desde o desapego do secreto Dzogchen, do qual falamos em O Sonho - Visão Budista e Corpo de Glória, Corpo de Arco-Iris, Terceira Atenção, que afirma que “não há que mudar nada no mundo, porque não vemos a verdadeira realidade, e o que chamamos de mundo é ilusório”, e no outro extremo o caminho transformador da ação, do guerreiro que arregaça as mangas e age.
As pessoas tem me perguntado com frequência sobre como, juntamente com a busca interior, encarar o mundo exterior nas miudezas concretas, esse palco do braço horizontal da cruz: como enfrentar os relacionamentos, o dinheìro, a vocação, família, amor, amigos, inimigos, mudanças, enfim as 12 casas terrenas do zodíaco. Viver o interior e o exterior com presença e atenção simultaneamenteé o grande nó do ser humano. Tenho resistido apesar  da vontade de falar sobre isso, mesmo porque gente muito mais  sábia, competente e capaz já falou, desde que o mundo é mundo. Só pra escolher um dentre milhões, quem já leu o livro “O Profeta” do Gibran Kalil Gibran? Simples e no alvo. Fala com propriedade e clareza desses temas exteriores e como se colocar interiormente frente a eles.
Nos últimos dias vários me perguntaram sobre como enfrentar, em termos concretos e práticos, como buscador da evolução do espírito, a política, os políticos, o voto, as escolhas... enfim, o lixão que está aí, como todos neste mundo estão vendo. Participar ou ignorar?  Perguntam, é claro, influenciados pelo fato de a política e políticos brasileiros estarem atualmente na berlinda,  estressados, e na mira da Justiça e da imprensa sérias, graças aos últimos acontecimentos do julgamento do chamado Mensalão, ou “compra de políticos da oposição pra obter apoio na votação dos temas importantes do partido que está no poder”. Como encarar isso interiormente? Então não resisti e vou colocar a boca no trombone, que também não sou de ferro, ora essa (rsrs). Mas tendo sempre como pano de fundo a visão das tradições autênticas do planeta, que formaram no ser humano responsável o que Gurdjieff chamava de consciência moral. Notem que eu não disse religiões, mas tradições. Há uma grande diferença qualitativa e de conteúdo entre as duas coisas . Tradição é o círculo mais esotérico e interior, religião é o mais exotérico e portanto exterior, secular e corriqueiro.
A rigor acho 99% da política, políticos e partidos, não confiáveis, mas antes de pensar em como se colocar frente ao tema político e qual é a melhor posição política num certo referencial, a primeira coisa que me ocorre claramente é considerar e avaliar um problema anterior, camuflado, aparentemente inocente e útil, de difícil solução e que poucos percebem, e que desafiou a humanidade toda desde as assim chamadas sociedades primitivas nas sua experimentação e escolhas: a representatividade. Ela é o X da questão, uma solução e um problema simultaneamente, à medida que a sociedade cresce e se sofistica. 
O rapaz índigo Matias de Stefano diz que a humanidade na Terra vem experimentando e resolvendo os problemas e contradições desde o início pelo método de tentativa e erro, e vai continuar fazendo isso e agregando conhecimento à aventura de viver neste planeta. Às vezes erra e retrocede, às vezes acerta e a gente avança, e vai ser assim sempre. Não há uma linha contínua ascendente, há só o experimentar, dentro das condições de espaço e tempo. Acho isso incrivelmente bem colocado, mas o grande problema nosso é o apego humano atávico e natural ao resultado da ação, ao sucesso. É isso que nos aprisiona, angustia e frequentemente nos faz tomar partido e sermos competitivos, opositores e agressivos . De fato como dizia Don Juan deveríamos, na experiência, agir por agir sem o olho na recompensa. Parecido com o Dzogchen. Não é fácil...
O grande pepino da representatividade é que quando eu, pelas razões que forem, dou a uma outra pessoa uma parcela ou todo o meu direito ou poder para que ela em meu nome o exerça por mim, o problema já começou. Eu junto os meus demônios com os do meu representante, e não as minhas virtudes com as dele. É só olhar para o que está aí à nossa volta. Não importa que o representante seja uma pessoa, uma entidade, o Estado. É sempre a mesma coisa. 
Não há formas de, ao dar a parcela do meu poder para alguém agir em meu nome, cobrar efetivamente que as suas decisões sejam como seriam as minhas. E se fossem, talvez fosse pior, falíveis que somos aos 7 pecados capitais. Mas voltando, as decisões dos representantes nunca serão as mesmas minhas pelo direito que lhe dei ao votar, pelo menos não totalmente. É uma questão de matemática, de estatística, de probabilidade: na melhor das hipóteses não há duas pessoas ou instituições que tenham as mesmas opiniões sobre tudo, como espelhos uma da outra. Mesmo que o representante seja honesto, ele pode concordar com você no item segurança, ou impostos, mas não no item educação ou transportes. Em se tratando de políticos e representados então, não há a menor possibilidade de representatividade. Esqueça. O político não tem ideais, só interesses. 99% deles só querem exercer o poder como resultado do apego natural do ser humano, do pecado capital do orgulho, e nós entramos na deles. Se elegeu, te esqueceu. A mola propulsora deles é o apego à auto imagem misturado ao do poder, do dinheiro... A gente pode encarar o mundo de uma forma zen, mas não é cego. No caso da política, vi há alguns anos a entrevista de um presidente de uma grande agência global de publicidade dizer sabiamente: “Os políticos só pensam em duas coisas: em si mesmos e nas próximas eleições”. Ponto. E não se iludam que as “plataformas ideárias dos partidos” resolvam isso para você, porque "os partidos são um degrau a mais de representatividade além do representante político, entre você e o mundo, como se já não bastasse" 
Os partidos não são necessários. Você nunca pensou nisso?  Pois é. É a força do hábito, cumpadre e cumadre. Sempre foi assim, né? Se pensar melhor, os partidos não deveriam existir. Eles são aglomerados confusos, indistintos, ávidos, mentirosos e perigosos  de “busca do poder a qualquer preço”, e são todos farinha do mesmo saco (veja o partido que nos governa e todos os outros), e como qualquer ser no universo, ao serem criados, os partidos não querem mais morrer, graças aos interesses e a energia dos seus criadores colocada neles, partidos. A carta 15 do Tarot fala exatamente disso. Veja a imagem dela lá no Tarot de Marselha: os dois seres humanos embaixo criaram algo que os acorrentou. Esse é o Diabo, the true, que passa a dirigi-los. A criação passa a dirigir o criador. Leiam sobre essa carta no livro Meditações Sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarot. É de uma sabedoria cristalina sobre a natureza mágica da criação dos seres, entidades, grupos, filosofias, idéias, anseios, desejos e o escambau. Nada que foi criado quer morrer, por pior que seja...
E tem mais: hoje com o desenvolvimento e a popularização da informática, o barateamento natural do computador, os projetos de acesso fácil a ele pelos pobres, os aplicativos incríveis, nem os políticos são necessários entre você e o que você gostaria para a sociedade. Fazer leis é uma coisa muito importante para ser deixada nas mãos de políticos. Deve ser deixada nas mãos da sociedade civil, assessorada por alguns doutos juristas. Chega de representantes. Basta um computador ou celular, e você pode votar lá da praia, da beira do rio pescando, ou de uma plataforma no espaço. E mais: pode votar uma vez por mês, ou por semana ou por dia, em alguns segundos, sobre uma diversidade incrível de temas importantes. Um plebiscito único a cada vez. O Brasil tem uma experiência única e campeã no mundo sobre o voto eletrônico que supera os países mais ricos inclusive os EUA cujo sistema  de voto, conteúdo e forma, é da idade da pedra. Então só falta o voto informático. Já pensou? Você poder votar toda semana sobre o que você deseja do Estado e Governo, nos níveis municipal, estadual, e federal, sobre a sua rua, cidade, país, em termos de temas como educação, segurança, economia, impostos, prioridades, etc. É isso aí. Queremos o PSIU – Plebiscito Semanal Informático Único!
Mas o problema não se restringe só à política. É estendido para outras áreas como a religião, associação de classes, os sindicatos, e a rigor para qualquer área do relacionamento humano desde o casamento até a torcida organizada de futebol. Qualquer tipo de representante,  religioso, político, sindical, é farinha do mesmo saco, apesar de os primeiros exibirem maneiras sacerdotais e seu ar sagrado, e os outros se mostrarem como salvadores imprescindíveis dos votantes. Com raras exceções de um mestre autêntico, eu passo o meu poder como uma bola redondinha ao líder religioso e ele o devolve a mim como uma bola quadrada, me castrando com a sua visão do mundo que sei lá de onde veio, e com os interesses mais obscuros e inconfessáveis por trás. É uma prisão com o meu consentimento. Vocês observaram ano a ano como os lideres religiosos, pastores, padres e outros estão ficando mais seculares, interesseiros e negociantes, perdendo a antiga compostura e dando opiniões nas amplas entrevistas na mídia, tentando conduzir o voto dos  fiéis sonsos, conforme os interesses mundanos das “plataformas religiosas” que seguem, tentando conduzir não só votos como as mentes? Só não perdem para os políticos que são mais agressivos, venais e corruptos  e buscam o poder descaradamente a qualquer preço. A religião quer voltar a se unir ao Estado ou governo, mas para comandá-lo. As duas instituições, quando perdem a eleição, tentam conduzir o rebanho que votou neles para outros políticos, sejam até do partido opositor, conforme os interesses dos partidos. Uma geléia geral. Tudo gado. Já pensou no que significa isso? É o ó do borogodó! 
Mas voltando: o representante religioso, sindical ou classista é também o mesmo Demônio da carta 15 do Tarot. Pau neles também.
Vejam os sindicatos, outra entidade que faz a mesma coisa. Você se sindicaliza e dá parte do seu poder a uma cúpula e um líder que, como os políticos, só quer o poder político a qualquer custo. Sindicalismo e política é a união da fome com a vontade de comer, um casamento explosivo e danoso entre gatos do mesmo saco. Você e os seus interesses profissionais ou de classe são irrelevantes para eles. É só olhar em volta e ver.
O sindicalismo sempre foi uma das maiores matrizes da corrupção no mundo. Nos EUA criaram e desenvolveram a máfia nos já poderosos setores portuário e de construção civil. Até na Polônia nos anos 70 e 80 o aparentemente austero e aplaudido sindicato socialista Solidariedade e seu líder Lech Walessa, que serviram de modelo aos líderes sindicais brasileiros em ascenção na época, foram pegos com a boca na botija. Um escândalo inacreditável naqueles anos mais ingênuos. Alta corrupção. Quem gosta de História que veja. Os sindicalistas brasileiros então, no embalo, juntando-se com a “Igreja Progressista”, líderes estudantis (hoje ex-ministros corruptos) e os “intelectuais de esquerda” (eu não entendo como um intelectual pode ser de esquerda ou direita) fundaram o Partido dos Trabalhadores, cuja bandeira era a honestidade. Uma vestal incorruptível, ao contrário dos outros partidos que, sabemos, eram corruptos também, mas não se fingiam de honestos, daí o desencanto de muitas figuras sérias que deixaram o partido. O resto você já sabe. O ex-ministro mais forte dele, condenado por corrupção, sempre se declarou stalinista, porém (pasmem) "um arauto da Democracia". É possível? Aos que não sabem, Stalin sempre foi historicamente conhecido como um genocida, culpado da morte de 4 a 10milhões de pessoas, em grande parte russos. Te'sconjuro, sô!
Uma pena, para um partido que realmente fez algo bom em termos de resgate econômico da classe pobre e sem cultura no Brasil, se bem que de forma clientelista, do tipo “toma lá, dá cá”: eu dou uma Bolsa-Qualquer em dinheiro e você, pobre, dá o seu voto. Não precisava disso.... Mas fica a perguntinha incômoda: o verdadeiro chefão não sabia de nada? Novamente? O Ministério Público parece que vai dar uma olhadinha nisso... Se fosse um diretor de uma empresa, já estaria demitido ou preso, no mínimo por não saber de nada.
Então você, que é esperto pergunta:  “Como resolver o problema enganador e perigoso da representatividade?” Eu não sei. Dei umas idéias acima, mas acho que temos que começar a experimentar as soluções como a humanidade tem feito até hoje, como disse o Matias de Estefano. Mas mesmo que você se envolva nisso para tentar fazer mudanças, aja como no Dzogchen, sem apego ao resultado, “agindo só por agir”, porque além de tudo ser ilusório, o resultado da ação pode não acontecer do jeito que você gostaria, ou pode demorar mais que a sua vida, já que é uma experiência no tempo. Conselho: apesar do possível empenho ou entusiasmo na ação, não se pode deixar arranhar pelo apego ao resultado. O apego emocional faz mal ao fígado, rins e coração, no mínimo...

NOTA: Segue comentário recebido 12 horas após a postagem, de uma leitora lá das Gerais: 
"Oi Arnaldo,
Incrível o seu texto e a sincronicidade!
Pela primeira vez tive que fazer um trabalho de assessoria de imprensa para uma campanha municipal e fiquei muito abalada fisica e mentalmente com as pessoas que convivi, com as situações, e muitas vezes fiquei me perguntando: - meu Deus, por que estou passando por isso?
Parece que minha vida é estar no meio de pessoas adormecidas. Foi um trabalho muito cansativo, por todos esses motivos que você citou no texto e por minha descrença no "segmento".
Foi um desafio me manter equânime, sem me deixar levar pelo furacão. Ainda estou me recuperando...
Sempre maravilhoso te ler, amigo Arnaldo!
Abraços

Flor"

Ela está falando da corja que toca a nossa política. Se as pessoas sérias não ocuparem esses lugares, eles continuarão lá!


Um comentário:

  1. Oi Arnaldo,
    Incrível o seu texto e a sincronicidade!
    Pela primeira vez tive que fazer um trabalho de assessoria de imprensa para uma campanha municipal e fiquei muito abalada fisica e mentalmente com as pessoas que convivi, com as situações, e muitas vezes fiquei me perguntando: - meu deus, por que estou passando por isso?
    Parece que minha vida é estar no meio de pessoas adormecidas. Foi um trabalho muito cansativo, por todos esses motivos que você citou no texto e por minha descrença no "segmento".

    Foi um desafio me manter equânime, sem me deixar levar pelo furacão. Ainda estou me recuperando...

    Sempre maravilhoso te ler, amigo Arnaldo!
    Abraços,
    Flor

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