quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fikar - O vai e vem da respiração

A atenção à sensação do corpo, à respiração, e mais o silêncio do mental são os três pilares da evolução interior, mobilizados pelo propósito do buscador. Esses três centros alinhados no Agora, o corpo, a emoção e a mente, são a pílula de que falam as as tradições autênticas para se atingir a liberdade.
 Conta-se, porém, que Buda iluminou-se com uma única e persistente técnica, a atenção na respiração, pois a respiração consciente traz para dentro de nós o Prana, ou Chi, ou a energia vital, enfim a Vida.
Para os que já se cansaram do vôo rasante atrás de tudo o que é fórmula para trabalhar interiormente aí vai:
A respiração é um vai-e-vem. Um balanço. Tudo o que você colocar nele vai embalar junto. Na tradição sufi persa isso chamava-se Fikar.
  •  Fikar não é uma prática de respiração. Não é necessário respirar de uma certa forma, diferente da respiração normal.
  • Fikar é tornar-se consciente do movimento natural da respiração. Isso é tudo.
  • Você pode também, visualizando a respiração como um balanço, colocar neste balanço um determinado pensamento, como um bebê num berço, e balançá-lo.
  • O balançar é uma atividade intencional por parte da pessoa que balança o berço.
  • No Fikar nenhum esforço deve ser feito para alterar ou regular o ritmo da respiração; a respiração deve ser abandonada ao seu ritmo normal, fluindo.
  • A respiração é rítmica por natureza e é a causa de o homem distinguir o ritmo fora dele.
  • O que é importante no Fikar não é o ritmo, mas a concentração sem esforço, sem apego, sem stress.
  • Fikar vai dar vida ao pensamento que é repetido e embalado com a respiração.
  • Do ritmo da respiração dependem a circulação sanguínea e a pulsação do coração e cabeça, o que significa que todo o mecanismo do corpo, inclusive a mente, é dirigido pelo ritmo da respiração. De novo, respiração é vida.
  • Quando um pensamento é anexado à respiração através da concentração, o efeito daquele pensamento alcança cada átomo da sua mente e corpo e corre com a circulação sanguínea através de cada veia e “é expandida para cada faceta da mente”.
  • Por isso o resultado do Fikar é a ressonância do mesmo pensamento expressando-se através do pensar, falar e agir da pessoa.
  • Com o tempo, o pensamento que se mantém no Fikar torna-se a realidade do seu Eu, do seu Si Mesmo, ou Self.
  • No Fikar, aquele que contempla O Ser Divino, com o passar do tempo chegará ao estado em que seu Eu se torna uno com  Ele. O Hinduismo chama esse estado abençoado de Ananda, ou Beatitude...

Esse texto foi traduzido e adaptado de: Hazrat Inayat Khan, The Sufi Message, Pasi Anfas – Gatha II – Fikar

7 comentários:

  1. Oí Preto,
    Queria comentar esta questão, não que a dúvida atrapalhe no todo..., pois o texto está riquíssimo. Mas quem sabe eu não esteja vendo alguma coisa aí. Veja:
    Nesse texto do Fikar, está como os três centros: o corpo, a emoção e a mente.
    Não entendo bem porque a emoção está aí.
    Não seria a Atenção, o corpo e a mente como já diz mais acima?
    Me parece que a emoção é uma conseqüência. Tipo assim:
    Não temos atenção nenhuma no corpo, a mente está no automático, logo as emoções surgem também sem controle. Sacô?
    Beijo Luara

    ResponderExcluir
  2. excelente esse conceito. nao conh~ço absolutamente nada das tradições sufis. mas, isso resume muito bem. porque, particularmente, me resulta muito penoso praticar posturas respiratórias. claro, faço um esforço pra respirar fundo, algumas, sovbretudo de manha. nao fazer o pranayana formal, mas, de acordo com as instruções do Dr. Jorge Adoum (Mago Jefa)respirar fundo pelo nariz, contando oito paplpitações, prendeno quatro palpitações, enfim, aquela velha coisa... isso é bom, mas, maois do que isso, começo por tiques nervosos (o faniquito elétrico): o nariz coça, o osso do joelho estala, coça as costas, vejo mosquitos imaginários, olha, cismo que preciso massagiar alguma parte corpo, ..portanto, nada como nao ter que fazer, e incosncientemente eu já venho fazendo isso, (..) e que bom que alguma tradição importante aprova isso. por que, sinceramente, eu já tinha desistido da coisa formal. (penso que exercícios regulares, sobretudo alongamentos de kung fu, que me parece sao tirados da yoga, proporcionam uma certa estabilidade (centro de força) para dominar as emoções y visualizações (os jogos-scripts através dos quais o Ego se expressa e nos achaca (acecha). isso: o Ego tbm se comporta como um Espreitador do Mal. ele nos espreita. livrar-se dele é um trabalho de contra-espionagem estratégica.

    ResponderExcluir
  3. Oi Luara
    É preciso ter cuidado com a linguagem, pois se ela não for calcada na experiência comum adquirida na prática entre os dois, fica uma conversa de surdos. Na linguagem gurdjieffiana a visão é assim: a partir do meu propósito eu aciono a atenção em mim e ela se dirige para o “corpo de sensação”, tentando sempre, é claro, manter o vazio interior. A atenção é esse mistério que conhecemos. Atenção na sensação é o ponto crucial. A sensação do corpo engoba os três “centros”:
    • corpo (na altura do chacra do umbigo, e engloba 3 centros num só, sexo,movimento,e instintivo, ou orgânico - este último por sua vez controla circulação, digestão, etc;
    • emocional (na altura do plexo solar + cardíaco);
    • mente (na altura da cabeça, ou do chacra do "terceiro olho"). Você percebe isso na prática na calma, pois quando foca a atenção no corpo de sensação aparecem sensações no corpo (comichões, coceiras, dores), emoções e sentimentos (nós do passado e preocupações com o futuro), e finalmente pensamentos (esses frequentemente mobilizados pelas emoções ou vice-versa. É a própria“zona interior” .
    Todos os três conduzem e formulam coisas para você sair do estado de vazio (isso é um piloto automático da miserável condição humana, que você já conhece pelo Castaneda, instalado no alto da cabeça . O Sogyal Rinpoche, que aliás vai estar neste mês no Brasil, diz que o objetivo da meditação é "trazer a mente para casa", o corpo. Tirar a mente desse “loop” diabólico em que ela está por causa do “bug” que foi colocado no software do ser humano por alguma razão desconhecida... Quando isso acontece, ou seja, “eu trago a mente para casa”, eu anulo o efeito de “macaco louco” e dispersivo da mente comum (não é o conceito amplo da mente do Budismo)e no estado de calma eu contemplo as sensações passando no corpo, emoção e mente, como um vídeo, sem interferir...grande barato, simples mas trabalhoso...só requer energia e dedicação do guerreiro.

    ResponderExcluir
  4. Oi Matheus
    Quando a gente se dispõe a contemplar, ou meditar, desperta os demônios dentro da gente. Não há nada a fazer a não ser olhar o vazio. A prática é "não-fazer". Só contemplar. Não é para "fazer" a prática. Nada de respiração forçada, contada, contabilizada. O livro que melhor me explicou isso é o Livro Tibetano do viver e do morrer, do grande Sogyal Rinpoche (que vem este mês ao Brasil). No trecho ente as páginas 89 e 105, chamado "trazendo a mente para casa" ou seja, o corpo, você vai se encantar com a simplicidade da coisa. É um livro escrito por um monge tibetano para ocidentais. Beleza pura.

    ResponderExcluir
  5. oi, Preto.
    eu vou dar uma olhada no Livro do Tibetano. mas o que quis dizer, é nao ocnseguia fazer exercicios respiratorios. quanto à meditação mística, em forma de estrela flamígera, é outra história (é uma técnica ocultista gnóstica, pelo menos eu acho, foi nessa tradição que encontrei a técnica, nos livros do Samael Aun Weor, sobretudo o Kundalini Yoga); mas mesmo antes, já ensaiava algo parecido, misturando a recapitulçaão do Casteneda com técnicas de médicos q trabalhavam com auto-hipnose, sobretudo os que meu falecido avô tem até hoje na biblioteca, são orelaxamento progressivo do Dr. Jacobson, e outros. mas expeimentei um avanço sem igual com a coisa da estrela flamígera; nao sou, por assim dizer, um especialista nos assuntos livrescos. me interesso mais pelos resultados praticos, pela chave-trina, pelo samadhy (nem sei se é assim q escreve.
    uma vez ou outra leio alguma coisa q acho na net. mas, ordinariamente, só leio o jornal O Globo.

    e às vezes, compro a folha de sao paulo.

    no mais, é isso. que vou ali pingar o meu colírio alucinógeno

    ResponderExcluir
  6. É , a tua linguagem é de quem leu muitos livros e é tudo bem explicadinho. Isso é bom.
    Realmente vc distrinchou melhor a colocação da emoção. De qualquer forma na pratica ‘na calma’ dá para localizar exatamente isso e quem pratica a observação vai pegando a mãnha de lidar com os pensamentos que geram as emoções e vice versa. Como vc disse ali para o Matheus, quando a gente se dispõem a contemplar, desperta os demônios dentro. E muitos de nós não quer encontrar com eles e desiste de meditar.
    Gosto muito dessa observação lida nos livros de CCastaneda.
    “Em essência estamos todos sozinhos diante do infinito.
    Se somos ou não capazes de alcançarmos nossos limites,
    precisa ser respondido pessoalmente”.

    Brigada Preto. Ta muito gostoso e estimulante esse blog.
    Luara

    ResponderExcluir
  7. "...E muitos de nós não quer encontrar com eles e desiste de meditar"... ou se escondem atrás de teorias e explanações intermináveis...

    Cuidado gente...

    ResponderExcluir