segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Amor e mistério no metrô

A maioria quase absoluta dos seres humanos sobre o planeta não se dá conta do Mistério. Diz o povo por aí que cada um de nós é uma ilha. Mas, então, o que é o mar que nos cerca, hein?
- É mistééério, o mundo que nos cerca é só mistééério.
Hoje pela manhã, no metrô cheio, eu discretamente olhava as pessoas enquanto fazia uma das práticas que O Invisível me ensinou, e de que aprendi a gostar. É da milenar tradição havaiana chamada Ho’ oponopono, que na língua havaiana significa consertar o que está torto. Discretamente eu tentava amar as pessoas... é isso mesmo que você ouviu: amar as pessoas. Pedreira pura. Principalmente as que me “travavam” interiormente, mesmo sem explicação aparente, a moça sisuda, o executivo de nariz empinado, o menino colocando um papelzinho no meu colo pedindo esmola...  demora um bocado, mas é uma coisa indescritível. O poeta Rilke traduziu muito bem, “Só o que é difícil nos interessa..”.
Então baixou uma compreensão da armadilha, da pressão dos afazeres da vida, combinada com o ego automatizado controlador de tudo, que impede cada um, e portanto a humanidade toda, de ver e amar o outro, de trabalhar sobre si, evoluir. E eu, praticando, quase chegava no ponto crucial: o outro sou eu!
Eu via. As pessoas estavam sem exceção falando consigo mesmas, mesmo sem os head-phones no ouvido, reagindo mecanicamente e padronizadas a qualquer estímulo, desde um esbarrão ou um choro de criança. Não há possibilidade de um recuo interior, abrir um espaço que permita à vítima, que somos cada um de nós, uma perspectiva aberta e ampla de sentir, sentir qualquer coisa que passe pela tela dos sentidos do corpo. É assim, não há espaço para o mistério. Atenção na respiração? Nem pensar. Acalmar o mental? Vixe...
Se a gente não produzir um destacamento da realidade que nos cerca para poder contemplá-la, sem fugir dela, nem querer interpretá-la,  não há escapatória para nós.
A saída real não é pensar sobre o assunto, é só contemplar no mesmo instante em que a gente sentiu o fato no agora. É fazer um gesto interior concreto e manso de amar o próximo, independente dele mesmo, como a gente ouviu dizer no primeiro mandamento. No início a gente não aceita nem a idéia, quanto mais iniciar a prática. Insista. O mistério aparece. Nem vou dizer qual é, não adianta.
Em algum lugar do mistério de Ser está plantada esta semente compassiva de amar o próximo. Temos de cavoucar isso dentro de nós e começar a usar, por mais bobo, carola e difícil que possa parecer à primeira vista. O metrô é um bom lugar para começar, a gente não conhece ninguém, mesmo...
Mas depois, aumentando o nível da dificuldade, a gente pode tentar no trabalho, com o colega, o concorrente, o chato, o chefe, o subordinado. Depois na família, com a sogra, cunhado, filhos adolescentes... mas na surdina. Eles não devem saber de nada, never.
Um amigo disse outro dia, desanimado com o desafio, “Amar o próximo? Eu não faço a menor idéia de o que é isso. Não sei amar nem a mim mesmo.”
Pois é... Boa hora para começar a aprender.

17 comentários:

  1. Qual é o livro que você menciona aqui: "Há alguns anos, caiu nas minhas mãos um livro dado pelo Luiz..."

    Achei bem interessante o assunto e gostaria de ler também.

    Abs,

    tom (amigo da Morena)

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  2. Pois é, a rapadura é doce mas...

    ficou bem legal o blog, parabéns para sua talentosa filha-editora.

    abs

    jose santos

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  3. tu sabe alguma coisa sobre o ponto de aglutinação ou ponto de encaixe?

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  4. Estou há cerca de 20 minutos refletindo sobre este texto... Acabo de me dar conta de que a grande dificuldade de amar o próximo é aceitar que ele é como eu, cheio de defeitos, de manias, de neuras... O mistério de amar o próximo deve ser exatamente descobrir como é difícil amar a si mesmo. E conquistar esse desafio é a salvação para a alma, para a sanidade. Obrigada pelo exercício reflexivo e desafiador!

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  5. viver concretamente o divino no dia-a-dia normal, corriqueiro, e procurar evoluir... afinal é pra isso que estamos aqui.
    Beleza Luiz, tô nessa.
    Abração .. Luara

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  6. Oi Tom
    O livro é "A Sabedoria do xamã" do Hank Wesselman. Veja no Google ou então ele falando no Youtube.
    Forte abraço
    Preto

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  7. Oi José Santos
    É dureza cumpadre...
    A Morena deu uma força total na coisa
    Abraço

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  8. Oi Anônimo
    Logo logo vou postar sobre vários conceitos dos toltecas, via Castaneda e Don Juan. Certamente sobre o ponto de aglutinação. Aqui entre nós essa expressão é um dos muitos erros de traducões e conceitos da obra no Brasil. É o ponto fora do corpo, na superfície do "ovo luminoso" onde se dá a percepção do ser humano Em espanhol é "punto de encaje" muito melhor...
    Fique em contato
    Abraço

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  9. Valew preto! Manda brasa no blog que tá massa.

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  10. Valew Preto, manda brasa no blog que tá massa!

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  11. Oi Dani!
    Amar o próximo é o mistério do mistério...Eu tenho tentado agora só o que é difícil senão não vale. É uma aventura muito gratificante. Se puder leia sobre o Ho'oponopono, Hunas, Kahunas. Vou postar logo um artigo sobre um mestre vivo dessa tradição o Doutor Ihaleakala Hew Len. Cê qie é curadora do sofrimento alheio vai cair dura. Aliás se puder compre o livro "O corpo tem suas razões" da Thérèze Bertherat, uma mulher incrível, na sua área específica. Entre no site www.estantevirtual.com.br que tem um monte deles, e bem baratinho. Beijão

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  12. Realmente Luiz, amar o próximo mesmo que este não demonstre a mínima pra você não é nada fácil, mas é necessário para vivermos melhor.
    Vou exercitar mais.
    Beijos e parabéns pelo blog, é muito legal. Adoro este assunto.

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  13. Oi Tom
    Obrigado pela força...
    Forte abraço

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  14. Oi Ana
    É como dizia o poeta: só o que é difícil interessa...gostei de falar com você. Se gostar mesmo do blog, mande o endereço pros amigos.
    Forte abraço

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  15. Luiz ou Preto.
    Sempre te chamei de Luiz Arnaldo! rs. Voce é guerreiro, um batalhador.
    Estou recomendando o blog a buscadores ainda em início de busca e a outros mais veteranos.
    Torço pelo sucesso do espaço.
    Abraços .. do parceiro do Rui, do Antonho, da Pati, do Clauss, e de muitos outros na trilha.

    lant.cxp

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  16. Caro Lant.cxp
    Cê vê que a frase que me fisgou estava no livro que você me deu, companheiro. Obrigado.
    Abraço no Rui, Antonho, Pati, Clauss e todos outros na trilha do Intento. Diga a eles pra mandar o meu blog para os amici deles, pra eu ficar famoso (Hê...Hê...Hê...)
    Saudade

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  17. Tem um filme chamado Revolver, do Guy Ritchie, que eu vi e não gostei, mas ainda assim, o filme trás uma reflexão sobre o ego bem interessante. Exemplos:

    Há algo sobre você mesmo que você não sabe. Algo que você nega existir. Até ser tarde demais para fazer alguma coisa a respeito. É o único motivo pelo qual você levanta toda manhã. O único motivo pelo qual você aguenta o chefe intragável, o sangue, o suor e as lágrimas. É o porque você quer que as pessoas saibam o quanto você é bom, atraente, generoso, engraçado, maluco e inteligente. Tenha medo de mim ou me reverencie. Mas por favor, me considere especial. Compartilhamos um vício: a necessidade de aprovação. Todos nós queremos um tapinha nas costas e o relógio de ouro, o grito da torcida. Olha só o garoto inteligente com o brasão polindo o troféu. Continue brilhando diamante maluco! Afinal somos macacos de terno, implorando pela aprovação dos outros. Se soubéssemos disso, não faríamos isso tudo. Alguém está escondendo isto da gente e, se tivéssemos uma segunda chance, você perguntaria: por quê?

    O ego é o pior dos trapaceiros em que podemos pensar, em que podemos imaginar, porque você não o vê.

    O problema é que o ego se esconde no último lugar em que você procuraria: em si mesmo!

    Ele disfarça os pensamentos dele com os seus pensamentos e os sentimentos dele com os seus sentimentos. Você acha que é você.

    As necessidades das pessoas de proteger seus próprios egos não conhece limite. Elas mentem, roubam, enganam, matam, fazem o que for preciso para manter o que chamamos de fronteiras do ego.

    As pessoas não têm idéia de que estão numa prisão, não sabem que há um ego, não conhecem a diferença.

    Primeiro, é muito difícil para a mente aceitar que há algo além dela mesma. Algo mais valioso e mais capaz de discernir a verdade em si.

    Na religião, o ego se manifesta como o demônio e, é claro, ninguém percebe o quanto o ego é esperto porque, ele criou o demônio para que você culpe o outro.
    Ao criarmos este inimigo externo imaginário, criamos um inimigo de verdade para nós mesmos e isto se torna uma ameaça real para o ego, mas isso é também criação do ego.
    Não existe nenhum inimigo externo, não importa o que a voz na sua cabeça diga. Toda a percepção do inimigo é a projeção do ego como inimigo.

    O seu maior inimigo, é a sua própria percepção, sua ignorância, o seu ego.

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